Crítica: Elysium

poster_br_elysium-580x851O futuro que reflete o passado ou um museu de grandes novidades?

Definitivamente 2013 foi o ano das ficções científicas – pelo menos dos últimos tempos. Digo isso porque, até dezembro, somaremos pouco mais que 13 grandes produções do gênero. É curioso também perceber que, até o momento, a qualidade destas já lançadas – como, por exemplo: Depois da Terra, Homem de Ferro 3, A Hospedeira e A Fuga do Planeta Terra –, não foi assim tão atrativa. Até os bons destaques – títulos como: Além da Escuridão - Star Trek, Oblivion, O Homem de Aço e Círculo de Fogo – tiveram seus brilhos ofuscados por opiniões divididas apontarem certa falta de originalidade.

Contudo, em Elysium residia à esperança que algo, enfim, pudesse ficar marcado como o sci-fi definitivo, dentre toda essa recente leva. Já que, em 2009, o cineasta sul-africano Neill Blomkamp surpreendeu a todos com o seu genuíno Distrito 9, obra que recebeu inúmeros prêmios, rendendo até algumas indicações ao Oscar como a de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Efeitos Especiais. Atraindo, dessa forma, a atenção de todos para Blomkamp, e criando a expectativa sobre qual seria o seu próximo trabalho. O que, geralmente, não acaba sendo algo saudável.

Felizmente Elysium não entra na primeira lista que citei, já que é detentor de alguns tópicos interessantes. Por outro lado podemos constatar que este passa longe de ser algo louvável e merecedor de maior destaque dos que foram referidos na segunda. Diria que é até menos original que todos. Não há nada que já não tenhamos visto por aqui. E mesmo que possamos apontar alguns de seus atributos prosaicos, é irrefutável que o título será esquecido com o tempo, ou muito menos será lembrado como uma grande obra do estilo. O fato é que o roteiro de Blomkamp tinha um grande potencial, mas foi deixado de lado por escolhas equivocadas.

Ambientado no ano de 2159, temos um planeta Terra em ruínas, que de tanto ser explorado estruturalmente, está à beira de um colapso. Com escassez de água e falta de oxigênio limpo, o governo e a classe alta não tem alternativa, senão criar um plano B: uma espécie de satélite gigante chamado de Elysium (parecidíssimo ao visto em 2001: Uma Odisseia no Espaço), fora do planeta, mas na mesma órbita cheia de ar puro e muito verde, que abriga uma população diferenciada e extremamente evoluída, do ponto de vista científico – possuindo até máquinas capazes de curar qualquer tipo de doença. Já os remanescentes terráqueos, digamos assim, sofrem numa vida miserável, repleta de patologias, e que tentam, com a ajuda de uma organização (como Resistência de O Exterminador do Futuro), exaustivamente irem até Elysium para sanarem os seus males. Mas que nunca surtem efeito, já que são simplesmente conflagrados por um governo ditador e comandados pela intragável Delacourt (Jodie Foster), que aceita apenas ricos e poderosos naquele espaço restrito.

Dentre esses menos favorecidos, está o nosso protagonista, Max, interpretado por Matt Damon, que novamente faz um excelente trabalho e segura toda barra. Max se junta ao líder da organização, o estranho Spider – que ganha vida com um caricato Wagner Moura, fazendo sua estreia em filmes estrangeiros, e se saindo muito bem, obrigado. O sujeito nunca esteve tão à vontade em tela. –, para sequestrarem um dos influentes do governo, e descobrirem informações, armazenadas num banco de dados acoplado ao cérebro do magnata, no intuito de, enfim, acharem um meio de entrar em Elysium. O que os levarão a travar uma dura batalha com o implacável Kruger, vivido por Sharlto Copley, ator que já tinha protagonizado o próprio Distrito 9. E que aqui cumpre muitíssimo bem o papel designado.

Só por essa plot percebemos que muito poderia ter sido explorado e colocado em pauta, para uma discussão mais aprofundada, sendo ela bem dosada, sem que soasse pretensiosa. Encaixando e mesclando, ao mesmo tempo, a aventura com um plano de fundo interessante e complexo. Temas como política e desigualdade social são assuntos extremamente pungentes e que se fossem eles abordados de forma mais pontual, o sucesso seria total. Porém, Neill Blomkamp deixa claro, logo no início do segundo ato, que o filme tem mesmo uma proposta simplória e assumidamente escapista. O que não é de todo ruim, mas que diminui em grande escala, do ponto vista artístico, o seu projeto. Não podemos reclamar das tomadas de ação e as cenas de batalhas engendradas. De forte impacto e violência explícita, a fita tem espaço até para o gore. Assim como o trabalho anterior do diretor, vemos, constantemente, corpos e membros explodindo ou sendo estilhaçados. E só com esses momentos a catarse é impetrada de fato. Mesmo que a fita ande organicamente em todo seu tempo de exibição, sem cansar o espectador, aguardamos impacientemente mais entraves, já que a história é tola e pueril.

Os efeitos visuais são realmente um show a parte. Robôs, naves e armas modernas são enxergados de forma crível e palpável. Também pela construção de uma atmosfera caótica e apocalíptica da direção de arte assinada por Nancy Anna Brown, que é minimalista ao retratar um mundo imundo repleto de destroços e desgastado pelo tempo. E que ganha mais vida com a fotografia de Trent Opaloch, já parceiro do diretor, que através de lentes claras, confere uma estética nítida e fulgente, no intuito de despontar, ainda mais, os detalhes das degradações nas cidades terráqueas e o aspecto futurista e límpido de Elysium. E até na trilha apoteótica do estreante Ryan Amon, que com seus sons e tons eletrônicos robóticos, imprime e adiciona um ar moderno e elegante ao conto.

Entretanto, terminamos a sessão com aquele pensamento de que o longa poderia dar mais frutos. É um bom filme, claro, mas deixa a desejar por não ambicionar o chamado algo mais. O que me preocupa. Porque muitos dos títulos citados aqui tinham asas para alçarem voos mais altos, porém, talvez por receio, não saem da zona de conforto e acabam sendo apenas mais um, em meio a tantos outros. Esperamos que os próximos a serem lançados sejam um pouco mais ousados e nos surpreendam, pois, mais do mesmo, cansa em exaustão.

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Comentários

4 comments

  1. Avatar
    @rubensdacunha 24 setembro, 2013 at 22:11 Responder

    Tive a mesma sensação. É bom, mas poderia ser tão melhor se não fosse o covarde sistemão hollywoodiano nivelando por baixo… Esse é mais um exemplar da crise que o cinema comercial americano está passando: tenta ser politizado, globalizado, mas não consegue chegar ao fundo das importantes questões que o filme apenas levanta, mas não sustenta.

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