Crítica: Gravidade

21023259_20130729194021309.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxTensão e intimismo caminham juntos, numa luta de sobrevivência no desconhecido.

Vindo de uma sequência incrível de ótimos trabalhos, como Grandes Esperanças (1998), E Sua Mãe Também (2001), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004) e Filhos da Esperança (2006), o cineasta mexicano Alfonso Cuarón retorna, depois de sete anos, com o longa-metragem Sci-Fi, Gravidade, que se mostra extremamente ousado, no melhor sentido da palavra, tanto do ponto vista estético quanto narrativo. E, sim, acredito que tenha impetrado eficácia, em quase todos os sentidos.

Numa premissa ligeiramente simplória, somos, imediatamente, transportados para o espaço, onde uma equipe americana de astronautas, conduzida por Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney), está numa missão de restauração ao telescópio Hubble. Quando, de repente, ambos são surpreendidos por uma chuva de destroços, decorrente da destruição de um satélite, atingido por um míssil russo. Mesmo avisados sobre o caso, não há tempo necessário para que retornem a sua estação, que por sua vez também foi destruída, fazendo com que fiquem perdidos no ambiente mais hostil que se tem notícia: o universo.

Quando digo que fomos, de pronto, levados para o espaço, me refiro à façanha de Cuarón, através de um gigantesco, mas orgânico, plano sequência, nos fazer embarcar e acreditar piamente que estamos na mesma situação daquelas pessoas, vivendo um momento angustiante. Não bastasse apenas estarem jogados no meio do nada, sem ouvir ou sentir qualquer coisa, senão o pânico, a cosmonauta Ryan Stone, vê seu oxigênio se esvaindo, assim como sua vida, em questão de minutos. A escolha de não usar cortes nessas cenas iniciais foi fundamental para que o espectador pudesse sentir, em tempo real e sem chance de descanso, o drama dos protagonistas, mantendo obrigatoriamente seus olhos grudados na tela.

A consequência dessa sensação se dá também na veracidade dos impressionantes efeitos visuais, que através da fotografia do sempre excelente Emmanuel Lubezki (A Árvore da Vida), aufere uma plástica frígida incomum, de chocante realismo, nos fazendo crer que estamos diante de uma janela ligada ao espaço. E com uma profundidade de campo bastante aguda, o diretor confere, ainda mais, a impressão de amplitude daquele cenário. Assim, completamente fisgados, acompanhamos as aventuras de Ryan, pelo espaço, e sua luta desesperada pela sobrevivência.

Detentor de planos e enquadramentos magníficos, em que muitos deles poderiam facilmente ser emoldurados e colocados numa exposição temática, o trabalho de linguagem visual fala mais que diálogos ou pensamentos soltos, que certamente seriam utilizados por outros profissionais da área. Mas vê-se que Cuarón tem mesmo o domínio de direção cinematográfica, quando, em nenhum momento, se rende ao melodrama ou maniqueísmo barato. Mas diferente de 2001: Uma Odisseia no Espaço, o filme, de certo modo, não tem funções filosóficas tão pontuais, para com a história, em cima de suas imagens. É algo tão direto que, em alguns momentos, torna-se piegas por empregar conceitos utilizados em exaustão – o que não o deixa menos interessante.

Falemos também da interpretação de Sandra Bullock, que se entrega por inteira ao papel e realiza um trabalho, de fato, impecável. Detalhes como sua respiração oscilada e movimentos corporais bastante compenetrados, passando a ideia de exaustão física, são fatores importantes para a credibilidade da figura dramática. O mesmo se dá a sucessiva serenidade do personagem de George Clooney. Conferindo um ar de sobriedade e elegância ao seu Matt, que está ali como uma espécie de sidekick reconfortante para Ryan – onde num momento de delírio, mas decisivo para sua protagonista, acredito que Alfonso tenha bolado uma pegadinha, que fará alguns espectadores gritarem por algo tão absurdo e amador estar acontecendo. Mas tenha calma, não vá embora ainda, espere a conclusão da cena. Nisso, acredito também que algum estudioso da NASA, possa apontar defeitos, em relação à abordagem espacial, mas para o filme isto pouco importa, por não ter função didática pontual dentro do tema proposto.

Tenso e angustiante do início ao fim, a película ainda tem espaço para tomadas recheadas de muita aventura, já que Ryan parece ter o dom de se meter em encrenca. Aonde vai, algo tem que acontecer: ora é novamente atacada por uma chuva espacial de entulhos, ora por uma estação pegando fogo. O que até pode parecer forçado, mas logo esquecemos por as cenas de entraves serem empolgantes, e bem auxiliadas pela eficiente montagem do próprio Alfonso Cuarón e Mark Sanger, que dá um ritmo preciso ao filme. E, mesmo que o roteiro, também assinado pelo cineasta e seu filho Jonás Cuarón, não tenha lá grandes diálogos, muito dele está no argumento criado para com as ideias visuais.

Assim, num ano onde o gênero de ficção cientifica foi bastante explorado, Gravidade surge como um diamante em meio às pedras escuras. É de longe o mais interessante dentre as produções semelhantes e aparece como forte candidato na disputa para o melhor filme da temporada. Consegue ser intimista e, ao mesmo tempo, eletrizante. Balanceando e dosando bem suas várias vertentes temáticas implantadas.

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