Crítica: Oblivion

cartaz-oficial-em-portugues-do-filme-oblivion-estrelado-por-tom-cruise---poster-oficial-1361900355339_736x1080“Não chega a ser complexo, mas traz um ritmo chocante e possui ideias interessantes.”

Joseph Kosinski, que antes fazia comerciais, destacando-se pelo uso da computação gráfica, teve o seu nome conhecido na indústria cinematográfica por, em 2010, realizar o ótimo Tron: O Legado. O filme, que ainda jazia dentro de sua área, foi um sucesso nas bilheterias e bastante apreciado pelos fãs do gênero, além de ser muito bem quisto pela crítica mundial. Abrindo, dessa maneira, as portas para o novo cineasta poder realizar, futuramente, seus projetos mais pessoais e ambiciosos.

De tal modo, em meados de 2007, Kosinski desenvolveu um interessante conto sci-fi, de 12 páginas, chamado Oblivion que, pouco tempo depois, foi publicado em forma de graphic novel pela Radical Publishing. Sendo elogiado pelos que puderam conferi-lo, gerando certo interesse. Assim, depois de expandir sua ideia, com a ajuda de Karl Gajdusek (Reféns) e Michael Arndt (Toy Story 3), apresentou o roteiro ampliado para sua produtora que aceitou na hora e decidiu investir alto no projeto. Além da caríssima produção, foram contratadas estelas consagradas como Tom Cruise e Morgan Freeman para integrar o elenco. E, só pelo trailer divulgado, poderíamos notar o quão audacioso seria essa nova empreitada.

Para melhor situá-los na aventura, a história se passa em 2077, quando o planeta Terra teve sua superfície destruída, devido a confrontos com uma possível raça alienígena. Restando a humanidade viver numa colônia lunar, enquanto o Jack Harper (Cruise) é designando, junto a sua parceira Victoria (Riseborough), a cuidar da manutenção dos equipamentos de segurança. Titulados como Drones, responsáveis por exterminar qualquer habitante que ainda resida naquele orbe, chamados de “saqueadores”. Sendo, o casal, comandado, através de chamadas de videoconferência  por uma estranha mulher de nome Sally - isso pelo comportamento demasiadamente afável para aquelas circunstâncias. E mais tarde, depois de várias aventuras e lembranças que fazem Jack querer respostas mais concretas do que, de fato, aconteceu naquele mundo, onde, numa dessas missões, o mesmo resgata uma astronauta que pode mudar completamente o rumo da sua vida, por saber segredos do seu passado.

Talvez, não acreditando na capacidade do seu público, a fita começa com uma introdução da conjuntura atual do planeta, que soa extremamente expositiva e desnecessária. Já que, em vários diálogos, as mesmas informações são passadas novamente. No entanto, o diretor prende totalmente a atenção do espectador no momento seguinte, por apresentar, através de planos totalmente abertos, o seu devastado mundo pós-apocalíptico e, ao mesmo tempo, futurista. A imensidão deserta, cercada por montanhas enormes, imprime perfeitamente a solidão e a ameaça que ali residem. Fazendo com que de imediato a plateia já fique curiosa, atrás das respostas de todo aquele suspense aludido.

O diretor conta novamente com sua equipe de peso, de Tron: O Legado, no intuito de transformar seu romance original num épico, que seja comparado, não intencionalmente, à suas obras de referência, em filmes como A Última Esperança da Terra, Blade Runner - O Caçador de Androides e 2001 - Uma Odisseia no Espaço; no clássico literário de Dan Simmons, Hyperion, ou mesmo em seriados de TV como Além da Imaginação. O grupo é formado pelo diretor de fotografia, e ganhador do Oscar, Claudio Miranda (As Aventuras de Pi) que aqui realiza mais um trabalho impecável em sua brilhante carreira. Com lentes bastante claras e que dão total destaque aos impressionantes efeitos visuais de Eric Barba (O Curioso Caso de Benjamin Button). Cada vez mais me espanto com o nível tecnológico que estamos.

A montagem de Richard Francis-Bruce (Harry Potter e a Pedra Filosofal) já não se mostra tão eficiente quanto os outros quesitos apontados. Mesmo sendo ela linear, acaba soando meio confusa, tendo que utilizar o velho recurso dos flashbacks, que aqui não funcionam de maneira orgânica. Já a direção de arte, assinada por Darren Gilford (Idiocracia), é minimalista e impetra com êxito sua intenção de cunhar todo aquele abissal universo e o tornar crível. Assim como a trilha sonora da dupla Anthony Gonzalez e M83, que com passagens oitentistas, é moderna, mas também nos remete a uma época antiga, muito peculiar e que marcou uma geração.

O roteiro, apesar de ser bastante abrangente, do ponto vista temático, é de certo modo raso, por não conferir grandes debates filosóficos e possui alguns furos que incomodam e prejudicam o envolvimento do espectador, em relação à história. Até mesmo no processo de identificação de personagem, por torná-lo quase um homem indestrutível, já que Jack Harper é jogado de um lado para outro, cai em abismos, pula de naves, troca tiros e sofre apenas alguns arranhões, excluindo toda e qualquer fragilidade física. Somente a emocional é bem trabalhada; o que não tira o mérito de Tom Cruise, já um cinquentão, esbanjar carisma e energia, e mais uma vez dominar a tela. O sujeito sabe viver um agente.

Os problemas mais graves do texto de Kosinski, estão, justamente, na principal sacada do longa. - Talvez esses comentários a seguir possam relevar alguns spoilers, então, se você se incomoda com essas pontuações, indico que pule para o próximo e último parágrafo. – Mais tarde descobrimos que a tal Sally é na verdade uma máquina de extrema inteligência artificial - totalmente influenciada pela ideia do HALL 9000 - que se rebelou contra os humanos e com a ajuda dos Drones dominou o planeta. Porém, durante todo filme, somos surpreendidos com situações tolas, que Jack utiliza para despistar o robô do seu real objetivo. Como permitir que ele trafegue, normalmente, em seus veículos, integralmente controladas pelo computador, e os use contra a própria máquina. O cúmulo acontece na conclusão do conto, quando ele bola o plano mais ingênuo possível: de fingir se entregar e entrar com uma bomba na sua central, para explodi-la. É algo de amargar e que compromete todo um trabalho, pintando mais pedestre do que já é.

Porém, se formos analisar de um modo geral, reparando não só na sua parte artística, mas também nos conceitos mais técnicos, podemos perceber que os prós são muito maiores que os contras. Com o título, detentor de um visual maravilhoso e recheado de referências aos clássicos do gênero ou mesmo de obras contemporâneas como Lunar, Kosinski nos proporciona, outra vez, um trabalho sofisticado, do ponto de vista estético. Que mantém um ritmo eletrizante e que, mesmo com todos os defeitos encontrados no script, não ofende de forma alguma. Pelo contrário, é visto e reconhecido todo esforço de um conto interessante que, antes de tudo, tem pretensão de entreter, sem querer se vender como Kubrickiano.

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Comentários

3 comments

  1. Avatar
    Erika_Schmeiske 15 abril, 2013 at 15:11 Responder

    Achei o filme muito bom! Um visual muito bem elaborado. Só discordo da crítica quanto ao final do filme. Pode ter sido raso, mas era importante para o personagem do Morgan Freeman. Pra mim valeu, e terminou sem ser dramático nem babaca,

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