Pulse: a versão plastificada de Kairo ou como não fazer uma adaptação de terror japonês

Pulse: a versão plastificada de Kairo ou como não fazer uma adaptação de terror japonêsPulse é a versão estadunidense de Kairo, a clássica obra de horror japonesa criada por Kiyoshi Kurosawa. A produção dirigida por Jim Sonzero se inicia com um hacker liberando um código de computador que causa uma estranha reação em quem tem acesso a ele, resultando em mortes estranhas e até em suicídios. O quadro se agrava claro pelo fato dos vitimados serem jovens.

O texto é adaptado pelo roteirista Ray Wright conhecido por A Epidemia e Obsessão e pelo mestre do terror Wes Craven, criador de A Hora do Pesadelo e condutor de Pânico. Com esses dois profissionais escrevendo, o que se vê são personagens adolescentes estereotipados, tolos, burros e bonitos, além de muito mais velhos em comparação com a idade de seus pares em tela.

Após a morte de Josh (Jonathan Tucker), seus amigos ficam preocupados com os motivos, uma vez que ele parece ter cometido suicídio. O grupo vai atrás de pistas e rastros que expliquem como e por que ele faleceu, dentro dessa busca eles investigam o computador que ele usava, estabelecendo a partir daí um efeito dominó, pois o "código maldito" é visto por eles, e fatos estranhos acompanham cada um deles.

Há alguns momentos genuinamente assustadores, especialmente quando se explora os sintomas do contato com essa "entidade", mas a maior parte do filme se baseia em seus atores, entre eles, Kristen Bell.

Pulse: a versão plastificada de Kairo ou como não fazer uma adaptação de terror japonês

Manchas escuras aparecem na pele das vítimas, fato que ajuda a compor uma imagem assustadora para as vítimas, no entanto, os bons tentos não vão além de pequenas questões cosméticas.

Há alguns de sustos bem construídos, especialmente quando se explora o gore oriundo das ações sobrenaturais. Há restos humanos sujando as paredes, trechos de homens derretendo de modo bizarro, e esse é o ponto mais positivo nesta versão.

O elenco é repleto de atores que ganharam notoriedade, além de Bell no papel da protagonista Mattie, há coadjuvantes como Octavia Spencer, Ian Somerhalder e Samm Levine, e participações pequenas como Brad Dourif, que faz um velho conspiracionista, que mesmo sem grande tempo de tela, acaba sendo um dos mais notáveis dentro da trama simples apresentada.

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Sonzero era conhecido por dirigir clipes, como Can't Let Go de Mariah Carey, um curta que tem personalidade própria, que primava por uma abordagem bem diferente do cinema. Surpreende que tenham pensado nele como alguém que combine com a criação ideal para um filme de horror.

Depois desse Pulse ele trabalhou tanto no cinema, dirigiu algumas cenas para o videogame Killzone 3, e basicamente foi só isso. A falta de convites não é à toa, uma vez que sua abordagem aqui carece de uma boa atmosfera, e empobrece a visão japonesa do que é cinema de horror.

O "monstro" não é ruim, mas destoa bastante do imaginário relacionado a suicídio, não tem grande impacto, parece algo genérico. O CGI também não acerta, é artificial e não se encaixa de modo algum. Todas as cenas de fundo verde soam falsas, a fotografia de Mark Plummer não disfarça as interferências digitais, e a trama pós apocalíptica soa confusa.

Pulse não se salva entre as adaptações do terror japonês feitas no ocidente, perde demais em comparação com o original, que mesmo em sua simplicidade, consegue fazer refletir sobre depressão e sobre a epidemia de suicídios que se espalha pelo globo durante o século XXI. Nessa versão faltou sutileza e cuidado para lidar com questões tão potentes e importantes, sobrando o vazio de discussão.

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