Quando os primeiros vídeos de divulgação de Os Três Mosqueteiros começaram a aparecer, a impressão é que o público iria encarar mais uma adaptação de obra literária influente, porém baseada na ação sem sentido e em explosões. Aconteceu com Sherlock Holmes, no filme com Robert Downey Jr, e parecia muito que iria acontecer com a obra de Alexandre Dumas. O resultado final acaba surpreendendo por não ser a heresia prometida pelos trailers, e o melhor, não cair nas mesmas armadilhas que o último Piratas do Caribe caiu, sendo assim, mais divertido do que entediante, mesmo com um final irregular.
A trama central é a mesma que todos conhecem. O jovem D'artagnan (Logan Lerman) sai de sua vida no campo para seguir os passos de seu pai e se tornar um Mosqueteiro do Rei Louis (Freddie Fox). O problema é que o jovem monarca serve apenas de fachada, pois quem governa, mesmo que por baixo dos panos, é o maquiavélico Cardeal Richelieu, interpretado aqui pelo sempre divertido Christoph Waltz. O representante da igreja acabou com a guarda de Mosqueteiros e instituiu a sua própria, capitaneada pelo vilanesco Rochefort (Mads Mikkelsen). Restaram apenas três, que por terem a simpatia do Rei, acabam se safando dos problemas em que vivem se metendo. Athos, Porthos e Aramis (Matthew Macfadyen, Ray Stevenson e Luke Evans) são soldados sem causa, e acabam se encontrando com D’artagnan, que serve como catalisador para fazê-los voltar à ativa. O fio condutor é basicamente esse, porém, o roteiro de Alex Litvak e Andrew Davies toma algumas liberdades na adaptação. Por exemplo, tira a culpa da Rainha vivida por Juno Temple, que no original tinha mesmo um caso com Buckingham (Orlando Bloom). Talvez, num filme família, tenham identificado como politicamente incorreto ter os heróis ajudando uma adúltera a manter seu relacionamento em segredo. Se esse foi o motivo, não levaram em conta que a ação acontece pra salvar a França à qualquer custo. Não incomoda quem não conhece a trama, mas pode fazer os fãs da obra se contorcerem. Porém, não chega a ser um fator para estragar a diversão, que é, na realidade a intenção primordial do diretor, Paul W.S. Anderson. E Os Três Mosqueteirosdiverte com suas pirotecnias e acrobacias impossíveis, principalmente as protagonizadas por Milla Jovovich, no papel de uma agente dupla, responsável por trair o trio de heróis, logo no começo da fita.
Sem grandes inovações, Anderson ainda conta com o 3D, cuja maior função é estabelecer a grandiosidade da monarquia francesa. As tomadas mostrando o pátio do palácio e seus interiores são de cair o queixo. Obviamente, os efeitos em terceira dimensão também incluem objetos atirados para a tela, mas sem exageros.
Outro trunfo do longa é incluir na trama, elementos steampunk, coisa que parecia absurda nos trailers, mas que acaba entrando na história de forma orgânica. O dirigível, um navio de guerra flutuante, é responsável por bons momentos, como a batalha aérea entre nuvens de tempestade, ainda que seja totalmente inspirada na famosa luta na nebulosa entre a Enterprise e a nave de Kahn em Jornada nas Estrelas II – A Ira de Kahn.
Agrada também, o texto não ter alterado muito as principais características dos Mosqueteiros, que os fazem ser os personagens fascinantes que são. Depois de tantas adaptações, essa nova versão veio acompanhada do medo da obra acabar completamente deturpada, apenas para agradar uma audiência que os estúdios teimam em tomar como imbecil. Pode não ser o filme que o livro de Dumas merecia, mas está longe de ser o lixo que poderia ter se tornado.
A grande falha, no entanto, está em seu desfecho. Mesmo que a vontade de começar uma nova franquia seja tentadora, jogar isso na cara do espectador e criar um gancho desnecessário por pura falta de habilidade em amarrar as pontas soltas do terceiro ato é desrespeitoso e praticamente um tiro no pé. Como agora, pra história terminar, a bilheteria se torna fator principal, sai o sorriso do rosto, que acompanha toda boa aventura de sessão da tarde, e fica uma expressão de desgosto.
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