Se alguém dissesse, em 2001, que Velozes e Furiosos se tornaria uma franquia rentável e quinze anos depois estaria em seu sétimo filme, essa pessoa provavelmente não seria levada muito a sério. A verdade é que depois do segundo, em 2003, essa possibilidade parecia ainda mais remota. Mas, foi com o terceiro longa, que trouxe Justin Lin como diretor e Chris Morgan como roteirista, que a cinessérie começou a tomar forma. Os dois realizadores renovaram a “marca” e aproveitaram para, nos outros três filmes que produziram, reunir praticamente todo o elenco anterior, criando histórias que iam muito além das meras corridas clandestinas e traficantes de drogas. A saída de Lin parecia um prenúncio de que Velozes e Furiosos talvez não durasse mais além do anunciado novo exemplar e a prematura morte de Paul Walker também soava como outro mau presságio. Mas, sob o comando de James Wan, o sétimo filme mostra que ainda tem muito óleo para queimar e muita estrada pela frente.
A trama agora acompanha o caminho de vingança percorrido por Deckard Shaw (Jason Statham), irmão do antagonista vivido por Luke Evans no episódio passado, que parte para o ataque à Dom Toretto (Vin Diesel) e sua família, de sangue ou não. Como um mero acerto de contas seria pouco para fazer jus ao que a franquia se tornou em seus dois últimos exemplares, o roteiro de Morgan inclui uma investida da equipe de heróis para recuperar um software poderoso de vigilância, subplot que apesar de fazer referência ao clima de “filme de assalto” de Velozes 5 e 6, transforma o novo longa em uma espécie de Missão: Impossível anabolizado e com muito mais testosterona. Mas isso não importa, já que o filme inteiro é uma desculpa, um pouco longa, de certa forma, para cenas deliciosamente absurdas e personagens exibindo habilidades super-humanas dignas de qualquer franquia de adaptação de quadrinhos.
Usando como tagline a frase “One Last Ride”, referência óbvia às origens como aventura automobilística, este sétimo longa também parece vestir de vez a camisa de atração de parque de diversão, já que “ride” é uma palavra recorrente quando se fala em montanhas russas ou outro tipo de brinquedos do gênero. Com uma cena de ação mais improvável que a outra, todas muito bem dirigidas, diga-se de passagem, o longa parece, a todo instante, querer compensar pelas bobagens do roteiro, como os furos e as atitudes sem sentido dos protagonistas, que vivem tendo ideias suicidas para saírem de situações impossíveis (deixando até um dos vilões incrédulo e curioso para saber o resultado). Adquirindo dos filmes de espionagem a narrativa que salta de um canto do mundo para outro a fim de proporcionar cenários exóticos para que Dom e sua turma garantam explosões e destruições que não se tornam repetitivas, a fita se mantém em movimento constante, corrigindo algumas barrigas encontradas em seu antecessor, que perdia tempo com os personagens testando soluções simplesmente para abandoná-las logo em seguida. Até mesmo o alívio cômico criado para Tyrese Gibson e Ludacris não deixam o humor fugir de proporção e ainda lembram constantemente o espectador que tudo aquilo não passa de uma enorme brincadeira. E se a história poderia se tornar inchada com a inclusão do antagonista vivido por Djimon Hounsou, o filme trata logo de corrigir a situação da maneira mais óbvia, mas que funciona, pois oferece um nível de ameaça maior aos protagonistas aparentemente invencíveis.
O texto de Morgan também parece cada vez menos preocupado com a lógica e, em uma decisão quase metalinguística, coloca o elenco fazendo perguntas que desafiam a própria trama. Em determinado momento, por exemplo, Letty (Michelle Rodriguez) parece não acreditar que a hacker vivida por Nathalie Emmanuel exiba tanta confiança em pessoas que ela acabara de conhecer. É o questionamento que qualquer espectador atento faria e sempre que isso ocorre, a resposta vem para lembrá-lo que Velozes e Furiosos não é algo para ser levado a sério e qualquer pergunta quanto à coerência do roteiro soa descabida. É ótimo que o longa se posicione dessa forma, consciente de seus absurdos, caso contrário poderia soar como zombaria à inteligência do público.
Ainda que retrate seu universo pensando primordialmente na audiência masculina (o que não deixa de ser honesto por parte de seus realizadores), o filme sofre com o mesmo machismo imposto pelos anteriores e James Wan parece não se conter apenas com a ideia de Hobbs (Dwayne Johnson) chamando as personagens femininas de “mulher” e não por seus nomes. O novo diretor usa e abusa de takes em ângulo baixo exaltando as curvas de figurantes que parecem ter saído diretamente de um desfile de lingerie. Para reforçar ainda mais a ideia, Wan mostra as moças em slow motion, no que parece ter sido uma decisão de pós-produção, já que o efeito de câmera lenta é incluído de forma artificial e não com a técnica correta, ou seja, colocando a câmera para gravar em alta taxa de quadros. Até a luta entre Rodriguez e Ronda Rousey é apresentada de forma muito mais fetichista do que aquela da primeira contra Gina Carano em Velozes 6.
Mesmo correndo o risco de soar piegas, o filme não sente vergonha de tocar no drama de alguns personagens (com a "profundidade" de um folhetim barato) e, principalmente, na bela homenagem à Paul Walker em seus momentos finais. Executada de forma digna e respeitosa, surge como a declaração de amizade definitiva do elenco por seu parceiro, que morreu de forma trágica em um acidente de automóvel em 2013. E o peso da situação permeando toda a projeção não se torna algo que chama atenção mais do que a própria obra, graças à forma como o longa se posiciona, jamais deixando de lado o fator que ainda move a franquia, o da diversão. Com previsões dizendo que este pode ser o exemplar mais rentável até agora, não há, pelo menos por parte do estúdio, a menor vontade dar a cinessérie por encerrada. Aliás, se alguém disser, hoje, que Velozes e Furiosos acaba agora, essa pessoa provavelmente não será levada muito a sério.
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boa crítica alexandre
rip paul walker.