Toda história sobre heróis com identidade secreta acaba usando, uma hora ou outra, um elemento manjado: o alter ego é preso e acusado de ser o vigilante e precisa provar o contrário. Batman já passou por isso e sempre tem algum membro de sua “bat-família” pronto para assumir seu manto, fazer uma aparição pública e livrar Bruce Wayne de qualquer suspeita. Zorro, em suas inúmeras séries de TV, já viu sua identidade secreta ameaçada e como Don Diego sempre teve seu fiel ajudante Bernardo ao seu lado, é justamente ele quem veste a máscara negra para despistar os militares que o perseguem. Não foi por acaso, portanto, que Oliver Queen decidiu, no episódio anterior, revelar sua identidade ao seu guarda-costas, Diggle. E, quando em determinado momento, o jovem bilionário diz que ser preso é parte de seu plano, a trama apresenta ao espectador um Arqueiro Verde ainda mais semelhante ao Homem-Morcego, seu colega de editora: um herói sempre a um passo à frente de todos ao seu redor.
Damaged não teme o uso desse recurso de roteiro citado no parágrafo anterior. E faz isso com a certeza que momentos assim agradam o fã de quadrinhos, que até espera da série, algo do tipo. E se funciona tão bem é por conta da interação com o personagem de David Ramsey. Diggle passa a ser a voz da razão, a consciência do Arqueiro, a cada diálogo. É uma espécie de Alfred misturado com Obi-Wan e uma dose de Ricardito. Aliás, não é a toa que suas roupas começam a exibir detalhes em vermelho, como a gravata que usa. Mas este quinto episódio ganha força mesmo por aprofundar ainda mais na mente de Oliver. Desta vez, os flashbacks foram muito melhor utilizados, até mesmo que no piloto, pois refletem o que o protagonista passa enquanto está sendo acusado de ser o Arqueiro (sem os fatos apresentados em suas memórias, não seria possível a aceitação de suas habilidades em resistir ao polígrafo, por exemplo). Além, é claro, das lembranças garantirem a primeira aparição na série do vilão Exterminador (Jeffrey C. Robinson) que, à julgar pelo vislumbre de sua máscara no primeiro episódio, não deve ser a última. Não foi exatamente a caracterização que os fãs de quadrinhos esperavam, embora visualmente tenha ficado fiel. O que incomodou foi o fato de ser mostrado como um capanga. Aos poucos, os roteiristas vão apresentando também o misterioso chinês interpretado por Byron Mann, responsável por boa parte do treinamento do jovem em seu período perdido.
O que também começa a ter mais destaque é a atuação do vilão vivido por John Barrowman. Em doses pequenas, a trama vai mostrando o quanto é poderoso. Quem é ele (e isso inclui seu nome) ainda deve estar longe de ser revelado. Seria um grande antagonista saído direto dos quadrinhos? O ator consegue transmitir um ar cafajeste bem apropriado e suas aparições devem aumentar nas próximas semanas. Já o subplot envolvendo Walter Steele e Moira Queen começa a se desenrolar mais rápido. Os segredos que a mãe de Oliver guarda não devem durar muito tempo, com seu marido substituto bisbilhotando sua vida.
Para os espectadores mais jovens (ou seja, boa parte do público do CW), houve um momento mais íntimo entre Laurel e Oliver (com uma boa referência ao uniforme da Canário Negro quando a jovem advogada fala sobre a roupa que usava na última vez que esteve no quarto do rapaz). Esse romance mal resolvido entre os dois ainda deve durar por um bom tempo, uma vez que é característica do canal. É o tipo de coisa que não adianta reclamar. Além do mais se for bem desenvolvido (e até agora não incomodou) não há nem motivos para não gostar. Apenas o triângulo formado com Merlyn é desnecessário, tanto que some e aparece na trama sem mais nem menos.
E se semana passada houve uma queda na qualidade da ação, desta vez capricharam. Mesmo não havendo muito tempo para cenas agitadas, as que aconteceram foram muito bem coreografadas. A luta contra o Exterminador e a sequência final se destacam e estão entre as melhores até o momento.
Com este quinto episódio, que se encerra mais fechado, sem um cliffhanger como nos anteriores, a impressão é de que uma segunda fase dessa temporada está pra começar. O Arqueiro precisa aprender a lidar com a criminalidade em sua cidade ao invés de perseguir essa jornada pessoal contra os poderosos da lista. Aos poucos essa preocupação começa a ser demonstrada, como em seu empenho em pegar o traficante de armas. Há também a formação da dupla com Diggle. Sua participação será fundamental para a transformação de Oliver no herói que ele pode ser e não no vigilante que ele se tornou quando chegou à Starling City.
Excelente review como sempre Alex. E gostei muito do episódio dessa semana, melhor definição para o Diggle desde já: "É uma espécie de Alfred misturado com Obi-Wan e uma dose de Ricardito". As sequências de ação voltaram a despontar como um dos melhores pontos e o romance entre Laurel e Olie tá tendo espaço na medida certa (sou shipper de carteirinha, portanto não vou reclamar nem tão cedo).
P.S.: Valeu pelos easter egg´s novamente, nem tinha me ligado na referência a roupa da Canário.