Review: Arrow S04E07 - Brotherhood

Se a ficção científica permite a série do Flash se destacar por seus efeitos visuais, em Arrow são as cenas de ação e coreografias de artes marciais que sempre chamaram atenção. Graças a uma equipe de dublês extremamente competentes e o comando de James Bamford, as aventuras do Arqueiro sempre tiveram momentos impressionantes envolvendo proezas durante as sequências de pancadaria. Assim, quando anunciado como diretor deste episódio, Bamford trouxe muita expectativa pois poderia elevar ainda mais a qualidade técnica dessas cenas. E, de fato, seu comando em Brotherhood é responsável por um sem número de takes estilosos e de tirar o fôlego. Mas, surpreendentemente, este sétimo episódio da temporada traz uma trama que privilegia o desenvolvimento de personagens, focando principalmente em Diggle.

Como deixado em aberto em episódios anteriores, é revelado em Brotherhood que Andy, irmão de John, está mesmo vivo e faz parte da gangue dos Fantasmas. Reagindo de forma incomum, o aliado mais antigo de Oliver não parece nada empolgado, uma vez que havia descoberto sobre a vida dupla daquele que, por muito tempo, considerou como herói. Por isso, a interpretação de David Ramsey se destaca, pois o ator consegue passar um misto de emoções que vão muito além do range dramático demonstrado em outras ocasiões. E, principalmente, em um episódio comandado por um diretor de dublês, a presença desse tipo de drama tão bem executado é mais do que bem-vinda.

A grande vantagem de Brotherhood é tentar, ao máximo, se distanciar da subtrama de Laurel, que também envolvia uma irmã morta voltando à vida (mesmo que em outras circunstâncias). O roteiro, inclusive, é inteligente o suficiente para se mostrar consciente desse fato em uma cena envolvendo um diálogo entre Diggle e a Canário Negro. São personagens diferentes, com reações diferentes a situações semelhantes. O texto também faz o personagem confrontar o quanto sua vida mudou em todo esse tempo, e o quanto isso mostrou que seu conhecimento de mundo e do que é possível ou impossível era limitado, usando até mesmo boas sacadas de humor para fazer referência ao que já se tornou comum na sua vida de justiceiro mascarado.

O que também ganha bastante destaque é a campanha eleitoral de Oliver. Desde sua decisão em concorrer para prefeito de Star City, a série ainda não havia lidado satisfatoriamente com a situação. Ora, se seu personagem central irá entrar para a política, as tramas precisam tocar nesse ponto em algum momento, discutindo, mesmo que superficialmente, inclinações ideológicas e atitudes que devem ser tomadas para trazer mudanças para a cidade. O episódio dá um grande foco para o processo de candidatura, trazendo a ameaça de Damien Darhk também para esta subtrama, o que provavelmente fará o protagonista enfrentar seu vilão em duas frentes: à noite, quando veste seu capuz e máscara, e em plena luz do dia, como o episódio até faz questão de dizer em duas oportunidades.

A subtrama dos flashbacks também sai um pouco da zona de conforto das últimas semanas, fazendo Oliver lidar com suas ações. Pouco a pouco o espectador acompanha a transformação do personagem naquele mostrado no início da primeira temporada. Enquanto no presente, seu relacionamento com Felicity deixa cada vez mais enfatizadas a mudança e evolução de sua personalidade. A química entre Stephen Amell e Emily Bett Rickards nessa temporada é para fazer esquecer todos os problemas que a anterior trouxe para a moça, em termos de desenvolvimento, quando parecia ter sofrido uma involução, de personagem forte a uma donzela constantemente em perigo. Agora, Felicity funciona como uma espécie de cola, que une a equipe de heróis, assumindo uma postura marcante e relevante para o seriado. E seu relacionamento com o Arqueiro traz o humor e leveza que faltavam ao protagonista, dando chances para que sejam trabalhadas camadas de sua personalidade ainda não exploradas. Amell se sai cada vez melhor quando se encontra desconcertado pelos argumentos de sua amada, algo que demonstra com a alteração de seu tom de voz. Novamente, vale destacar: o intérprete pode não ser um grande ator, mas a chance que o programa tem dado para que traga mais nuances ao seu personagem tem se revelado um acerto, mostrando-o como um artista menos limitado do que as temporadas anteriores deram a impressão.

O comando de Bamford trouxe realmente muito estilo para as sequências de ação, destacando a capacidade de sua equipe de coreografar lutas envolvendo vários personagens ao mesmo tempo. Para isso, o diretor opta por gravar longos takes que trazem vantagens e desvantagens. Se isso possibilita ao espectador conferir sequências de golpes sem os cortes rápidos tão comuns atualmente, também demonstra a fragilidade das coreografias. As intenções são as melhores possíveis e, para olhos menos atentos, funcionam. Infelizmente, quando analisadas mais a fundo, as cenas se tornam um tanto artificiais. Isso porque os golpes aplicados em momentos assim, sempre são coreografados com os cortes em mente, que irão disfarçar os socos e chutes que nunca encostam em seus alvos. Como tudo é mostrado em takes longos, os golpes deveriam ter sido concebidos pensando nesta situação, ou seja, precisariam ser desferidos com mais velocidade e em movimentos mais curtos. De qualquer forma, a câmera jamais se encontra estática, indo de um lado para o outro do cenário, acompanhando corpos caindo pelo chão conforme os membros dos Fantasmas são derrotados pela equipe de heróis. É algo diferente, e mesmo com os problemas mencionados, traz um dinamismo novo para o programa.

Brotherhood, talvez, seja o episódio mais completo desta temporada em Arrow: drama, ação, humor, sem jamais parecer inchado, com destaque para as interpretações do elenco. O roteiro também avança a trama central, já indicando o que deve ser um final de meia temporada bem movimentado. E a certeza de que a série ainda tem muito a oferecer, seja no que tange a sua própria história ou ao que consegue exibir tecnicamente como adaptação live action de quadrinhos.

Alexandre Luiz

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