Desde seu primeiro episódio, Arrow criou o mistério sobre o grupo liderado por Malcolm Merlyn, o plano reservado para o bairro Glades e o envolvimento da família Queen em tudo isso. Faltando apenas 3 semanas para o final de temporada, finalmente chegou a hora de respostas. The Undertaking ainda aproveita para fechar o arco envolvendo o desaparecimento de Walter Steele (Colin Salmon) em meio a flashbacks do período antes do naufrágio de Oliver.
Tudo que estava errado no capítulo anterior é corrigido neste, seja na evolução da trama ou em sua própria estrutura, com a plot principal em total harmonia com as secundárias, tornando a aventura da semana coesa não só em relação à série, mas principalmente funcionando como uma boa hora, um entretenimento digno dos melhores momentos da DC Comics em outras mídias fora dos quadrinhos.
Partindo dos acontecimentos mostrados em Home Invasion, Oliver começa a trama sem a ajuda da Diggle, algo que se mostra necessário em alguns momentos, como Felicity faz questão de lembrar. A loira, na falta de alguém mais experiente, acaba encarando uma missão de campo, tendo sua vida colocada em risco graças à rusga entre seu patrão e o guarda-costas/parceiro/mentor vivido por David Ramsey. A personagem finalmente consegue desempenhar a função que a fez unir forças com o vigilante de Starling City, descobrindo uma importante pista sobre o paradeiro de Walter.
Entre a investigação para descobrir o que aconteceu com o padrasto de Oliver, o episódio intercala importantes flashbacks mostrando a formação da ideia de Malcolm Merlyn para o Glades. Como já era esperado, graças a algumas dicas plantadas nos episódios anteriores, o bilionário percebeu que o perigoso bairro está além de qualquer salvação e a única solução é destruí-lo, junto com os moradores. É importante destacar como o roteiro deixa claro o perigo representado pelo vilão, com suas motivações que unem vingança, ganância e um patológico complexo de Deus. Merlyn, duas vezes, compara suas ações com "atos da natureza".
Fica também evidente que a família Queen entrou no grupo secreto de empresários com boas intenções. O arrependimento do pai de Oliver, mostrado em um dos primeiros episódios, é totalmente compreensível, graças aos eventos exibidos nesta semana. E é interessante como o Arqueiro, de certa forma, repete alguns erros de Robert, uma vez que sua jornada também é para salvar a cidade, mas cujos efeitos colaterais podem, no futuro, pesar em sua consciência. Já Moira tem motivações ainda mais sofridas. Corrigir os erros do marido, custe o que custar, e impedir o plano maquiavélico de Merlyn, mesmo que às custas de seu relacionamento com o filho. Oliver finalmente viu que sua mãe está ligada a tudo isso e o quanto esteve cego durante todo o tempo que ignorou os avisos de Diggle.
Por conta das lembranças pré-naufrágio, não houve nenhum flashback que continuasse o gancho da semana passada. Ainda bem, já que não caberia outra subtrama no episódio. Assim, apenas na semana que vem, o espectador deve saber como a traição de Yao Fei (se é que foi mesmo uma traição) irá se resolver. Graças à todas as revelações e surpresas, no entanto, o roteiro de Lana Cho e Jake Coburn consegue entregar ótimos momentos. Assim, não há necessidade de trabalhar este ponto do passado. Além disso, insere desdobramentos do romance entre Laurel e Tommy que soem forçados, levando inclusive a um bom diálogo entre a garota e Oliver, no final, e outro na metade com uma ótima referência à Casablanca.
Os fãs da DC também podem ficar tranquilos. Arrow continua entregando inúmeros easter eggs e esta semana há menções a Ted Kord (o Besouro Azul), Brion Markov (o vilão Geoforça, que deve desempenhar um papel maior no final da temporada), Ray Palmer (que o leitor de quadrinhos conhece como o herói Átomo) e sua esposa, Jean Lorring e uma rápida visita à Bludhaven, a cidade de atuação do Asa Noturna, que culmina em uma batalha espetacular do Arqueiro contra vários capangas, em uma sequência que parece ter saído de uma fase do jogo Arkham City. Aliás, as três cenas em que o herói coloca suas habilidades à mostra são todas empolgantes, revelando que esta característica do seriado jamais desaponta.
Com um gancho angustiante para os próximo episódio, Arrow parece caminhar para um final de temporada tão épico quanto os minutos finais de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Embora um pouco de coragem da série seria muito mais interessante, levando a uma quase-adaptação da saga Terremoto (também do Homem-Morcego) para ser desenvolvida no segundo ano. Por mais trágico que possa ser um final assim, seria gratificante acompanhar uma obra que não tem medo de mostrar o herói falhando, até porque, mesmo com todas suas habilidades, Oliver ainda tem muito que aprender.
Tá aí uma série que me surpreendeu. Não esperava muita coisa de uma série de um super-herói, mas ela foi ganhando consistência numa história bem bolada. Não acompanhava o quadrinho, nunca soube do que se tratava. Os personagens estão se desenvolvendo de uma maneira muito sólida, com algumas boas surpresas.
Espero que continue assim por muitas temporadas.