Robert Kirkman, o criador de The Walking Dead, nunca foi o gênio que costumam vender, porém uma coisa é certa, em dez anos de HQ e três de série, o cara soube construir e desconstruir personagens de uma forma bem pontual. Kirkman só peca por um adendo crucial: ele não consegue lidar com vários focos ao mesmo tempo. Logo, Isolation é um prato cheio para o quadrinista se provar um bom roteirista, já que o motivo comum – a falta de suprimentos para combater a infecção – que agora move todos os sobreviventes da prisão, agrega uma urgência comedida, mas que se mostra feroz ao abusar da máxima “os fins justificam os meios”. E é justo na necessidade de um foco que componha e entregue verdade aos dramas de cada uma daquelas pessoas, que Kirkman acha espaço para brilhar.
O misterioso assassinato de Karen e David desestruturou Tyresse completamente. Já falei que, até aqui, detesto a adaptação do personagem para a série e, sinceramente, minha impressão não mudou muito. Claro que a reação explosiva foi mais do que justificada, porém usaram a situação como uma desculpa cliché para moldar um Tyresse mais disposto a se arriscar. Tanto é que a reprodução de uma das sequências mais esperadas das HQ’s não surte efeito algum, a não ser o de comemorarmos com alívio o fato de Daryl e Michonne saírem ilesos da horda de walkers. Por falar nisto, eu achei o encontro na estrada fantástico, e ele nem precisou dos exageros que vimos no ataque do supermercado.
Enquanto a busca por suprimentos fora dos limites conhecidos pelos sobreviventes resultou também num estranho contato pelo rádio, na prisão as coisas só pioraram. Os limites para o contágio foram estabelecidos com mão de ferro pelo Conselho, numa rápida e triste cena protagonizada por Sasha, mas que se repetiu com vários personagens, incluindo Glenn. Gostei da evolução que deram a doença, pois o desenrolar me lembrou muito a propagação do “capitão viajante” no livro A Dança da Morte de Stephen King. A claustrofobia, o medo, a impotência, tudo foi magistralmente representado nas conversas sussurradas entre os que restaram com saúde, tendo Hershel e Carol como os maiores protagonistas aqui.
Hershel Greene já se provou a voz da razão na série, e aqui a história escolhida para dar corpo ao papel do fazendeiro na sociedade construída com Rick foi uma das mais bem escritas que vi em The Walking Dead. Sim, pode ter parecido burrice a falta de medo diante do contágio, porém foi assim que Hershel sobreviveu até aqui. Estar disposto a se arriscar por todas aquelas pessoas engrandece as motivações dele de uma forma genuína. Os Greene continuam sendo um deleite em tela, e até Maggie e Beth tiveram chances de brilhar. Quando eu elogiei o trabalho do Kirkman era a esta noção de foco que eu fazia referência.
Carol trilhou um caminho que até o minuto final do episódio, aparentava fazer rima as decisões de Hershel. O conserto solitário da bomba de água quase custou sua vida e foi ali que Rick compreendeu toda a passionalidade que agora rege as motivações dela. Nem por um momento eu cogitei a possibilidade de Carol ter matado Karen e David, e nem por um segundo eu consegui julgá-la após sua confissão. Nunca um simples “sim” disse tanto quanto aquele dito pela sobrevivente. The Walking Dead quando se faz de silêncios, toca uma profunda e sonora nota, a de que o fim da humanidade está no simples significado da palavra sobrevivência.
P.S.: Carl insuportável, mesmo dividindo a cena com grandes personagens. Até quando meu Deus, até quando?
P.S.2: Ei Carol, toma cuidado aí que senti a Michonne de olho no Daryl hein?
P.S.3: A bebê Judith está cada vez mais fofa e me lembra muito a bebê Holly de Breaking Bad.
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