Pânico 3: O encontro com o passado e a decadência da franquia

Pânico 3 é um filme que passou por alguns problemas até chegar aos cinemas e é considerado por muitos o capítulo menos inspirado entre os lançados até hoje. Seu início se dá em meio as filmagens de uma continuação da saga Stab, brincando com o conceito de trilogia, e traz o que restou do elenco original, novamente protagonizado por Sidney Prescott (Neve Campbell), que é obrigada a encarar questões do passado de sua mãe, Maureen.

Esse também é o primeiro filme sem a presença de Kevin Williamson como roteirista. Wes Craven segue dirigindo e texto ficou a cargo de Ehren Kruger que havia trabalhado em O Suspeito da Rua Arlington e hoje é conhecido por filmes mais blockbusters como Dumbo, Os Irmãos Grimm, O Chamado e Transformers 2: A Vingança dos Derrotados.

O motivo da não participação de Williamson - que aqui é creditado como produtor - foi uma fatalidade externa. Ele chegou a fazer um rascunho de roteiro onde fãs adolescentes de A Punhalada eram os assassinos, mas o caso de assassinatos em Columbine, em 1999, fizeram a Miramax optar por outro plot, já que se tornou algo obviamente inconveniente e de mal gosto explorar adolescentes se matando em pleno ano 2000. Curiosamente alguns desses elementos estão em Pânico 4, lançado já em 2010.

Como era de se esperar, o longa tem em seu início uma cena de assassinato com personagem secundário ou desconhecido, mostrando uma moça loira, sendo atacada por Ghostface.

Kelly Rutherford

Trata-se de Christine (Kelly Rutherford), a namorada de Cotton Weary (Liev Schreiber) que havia ganho fama após os eventos de Pânico 2, e essa serve para mostrar a aura de desespero e desesperança que os personagens terão de viver neste terceiro tomo da saga, sobretudo, a protagonista.

A vida aparentemente melhorou para os sobreviventes, Gale (Courteney Cox) foi para a função de âncora de telejornal, Dewey (David Arquette) seguia subindo degraus na polícia de Woodsboro, somente Sidney parecia estar mal, morando isolada em uma casa tão vigiada que lembra mais uma fortaleza do que um lar.

A moça trabalha como consultora de pessoas que sofreram ou sofrem abuso, mas esse serviço a distância, via telefone, usando seu testemunho para tentar ajudar terceiros, além é claro de dividir sua experiência com pessoas que como ela, foram perseguidas por gente assassina e malvada.

Stale Popcorn: Scream to Scream, Scene by Scene: SCENE 2 of Scream 3 (0:08:21-0:10:20)

O assassinato dá vez desperta na protagonista um sinal, faz questão de chamar a atenção dela, determinando que mais até do que nos filmes anteriores, a questão é pessoal. Sidney tem flashes do seu passado, lembra também de momentos com sua mãe, como se a mesma fosse um fantasma e o roteiro largou mão de ter qualquer sutileza, demonstrando rapidamente que havia uma ligação do psicopata da vez com o passado de Maureen Prescott, embora ainda demore para revelar a real identidade do sujeito.

A saída de parodiar os sets de filmagem de uma franquia de horror é uma ideia ótima. Há vários momentos dignos, como os personagens tentando se defender com armas dos ambientes cenográficos, mas também há exageros tolos, como o uso de uma tecnologia de disfarce de voz que imita o tom vocal de cada personagem. A tentativa de parecer esperto se torna então uma boba extrapolação de tecnobaboseira totalmente sem sentido.

Resenha/Crítica : Pânico 3

Por mais que o roteiro não seja um primor, a questão de denunciar os comuns abusos de Hollywood é uma atitude corajosa. Chega a ser irônico como um dos produtores executivos do filme, Harvey Wenstein, acabou sendo um dos principais alvos de campanhas de denúncia de abuso.

Por mais que não haja um grande aprofundamento, há boas ramificações desse passado, resultantes que podem soar forçadas, mas tem seu sentido.

Em comparação com Pânico 2, este soa repetitivo, pois os cenários de backstage lembram demais os bastidores das peças de teatro que a própria Sidney ensaiou peças e viveu seu drama no capítulo anterior.

As inteirações entre personagens e suas duplicatas soam forçadas, e é a isso que se resume ação de Gale e Dewey, tirando claro um trabalho de investigação bem mequetrefe que o casal faz, o aproveitamento baixo dos dois chega a dar pena, estão lá só para ser escada.

A sensação de que o elenco está lá basicamente para ser escada de Sidney é levemente aplacada pelo acréscimo de Roman Bridger, diretor de Stab 3 vivido por Scott Foley, e pelo policial bonitão Mark Kincaid de Patrick Dempsey, que além de ser um colírio para os olhos, parece perspicaz e digno de rivalizar com Sidney como ente mais esperto da trama.

Mais ainda assim a trama retorna quase sempre para as mãos de Prescott, que enquanto consegue ser exitosa em múltiplas tarefas, já que além de lutar contra um homem que quer matá-la, além de ter que lidar com seus traumas, ainda busca limpar o nome de sua mãe, tal qual fez no primeiro Pânico. É uma pena que o filme tropece em si mesmo, pois as boas ideias se perdem nesse texto claramente apressado.

Se Pânico 3 não tem as mesmas sacadas espertas ligadas a metalinguagem dos anteriores, ao menos fecha de maneira digna a história até aqui, com uma abordagem visualmente equilibrada, com menos matança desenfreada e uma crítica bem ácida a indústria do cinema. Sua virada de roteiro deixa a desejar, mas ao menos se acena novamente aos assassinos com obsessões familiares e cinéfilas, fato que faz sentido dentro desse microuniverso idealizado por Williamson e Craven.

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