Produção estadunidense-brazuca, Anaconda é lembrado por ser protagonizado por dois cantores e por John Voight

Anaconda é um filme de terror bastante curioso. Clássico absoluto dos anos 1990, é lembrado por se passar na floresta amazônica brasileira, por ser protagonizado por artistas pop e por ser uma espécie de imitação tardia de Tubarão, visto que saiu 22 anos depois do filme de Steven Spielberg.
Obra de horror baseado no tropo de animal gigante aterrorizando a humanidade, acaba versando sobre ganância e trucagem. O longa foi dirigido pelo peruano Lluis Losa e conta a historia clichê de uma equipe que mira filmar um documentário para o National Geographic.
Em meio a esse esforço, o grupo é capturado por um homem mau, que deseja capturar a serpente poderosíssima que dá nome ao filme e que é baseada na Sucuri da Amazônia.
Essa é uma co-produção entre Estados Unidos, Peru e Brasil, com roteiro de Hans Bauer, Jim Cash e Jack Epps Jr.
É dado que Mark Haskell Smith (A Partilha) foi responsável pelas reformulações do texto durante as filmagens, mas não recebeu créditos por seu trabalho.
São produtores Verna Harrah, Carole Little e Leonard Rabinowitz, Susan Ruskin é o produtor executivo.
Inspiração
Luis Llosa disse ter se inspirado no folclore sul-americano da Venezuela, Brasil e Colômbia, países onde a sucuri-verde é costumeiramente achada.
Nesses países, existem diferentes lendas e mitos que cercam essa espécie de serpente, que envolve o fato de ser considerada uma devoradora de homens e até uma divindade, por algumas tribos indígenas.
Normalmente se fala dessa lenda como "Cobra grande":

Representação "complicada"
Ao passo que se tenta respeitar as lendas locais, a forma como os nativos brasileiros são mostradas é extremamente caricata.
As pessoas que residem na Amazônia não parecem em nada gente do Brasil, seja de qual região for, especialmente o barqueiro Mateo, interpretado por Vincent Castellanos, ator cubano que mal tenta ostentar um sotaque terrível, com a pior pronúncia possível de um palavrão popular no Brasil.
Estreia e nomenclatura
Nos Estados Unidos, chegou aos cinemas em 11 de abril de 1997. Em abril do mesmo ano estreou em Hong Kong e em maio, Reino Unido.
Em terras brasileiras, chegou apenas em 22 de agosto de 1997.
O título original é Anaconda, com poucas variações ao redor do mundo.
Na Bulgária é Анаконда, já na Estônia, Finlândia, Grécia, Hungria, Latvia/Letônia é Anakonda. Na Grécia, é Ανακόντα.

Gravações
O filme foi rodado em maio de 1996 e agosto do mesmo ano.
Durante muito tempo, se propagou um boato de que esse foi rodado na República Dominicana, mas isso é simplesmente uma mentira.
A maior parte das cenas à beira da água foi filmada no Rio Negro, perto de Manaus. Essas filmagens foram ocasionalmente interrompidas pelo fato de vários membros do elenco terem pavor de cobras.
O restante foi filmado no Arboreto em Los Angeles. Na Califórnia, se filmou em Pasadena e Arcadia, além de Los Angeles County Arboretum & Botanic Garden - 301 N. Baldwin Avenue.
Estúdios
A obra é da Columbia Pictures que faz o presents. Também produzem a Cinema Line Film Corporation, a Iguana Producciones, a Middle Fork Productions, a Skylight Cinema Foto Art, a St. Tropez Films e a StudioCL Corp.
A distribuição é da Columbia TriStar Films no Reino Unido, da Sony Pictures Releasing nos EUA.
A National Broadcasting Company (NBC) lançou ele na tv estadunidense, a Mill Creek Entertainment lançou o longa em DVD e Blu-Ray em 2014. A Sony Pictures Home Entertainment lançou em Blu-Ray em 2009 e em 2025, no formato Ultra HD Blu-ray.
Quem Fez
Llosa dirigiu O Caçador do Futuro, Sniper: O Atirador, 800 Léguas Embaixo do Amazonas, Inferno Selvagem, O Especialista e O Ditador.

Ele também produziu séries como Trópico, Pobre Milionaria e El Dorado.
Jack Epps Jr. escreveu episódios de Havaí 5.0 e Kojak, depois escreveu Top Gun: Ases Indomáveis, Perigosamente Juntos, Uma Dupla Quase Perfeita, Dick Tracy, Os Flintstones em Viva Rock Vegas e Anaconda 2: A Caçada pela Orquídea Sangrenta.
Hans Bauer estreou como roteirista nesse, também escreveu Komodo, Titan A.E., Velozes e Mortais, Anaconda 2 e Justiça a Qualquer Preço. Produziu Milo e Titan A.E. Jim Cash escreveu todos esses filmes citados, junto a Epps Jr.
Leonard Rabinowitz foi produtor executivo em The End Of Innocence e produziu apenas esse.
Carole Little produziu só esse, trabalhou no figurino de em The End Of Innocence, também em Corpo e Alma, Paper Dolls, na série Jogo Duplo.
Verna Harrah produziu Who's Your Daddy?, Vacuums e Anaconda 2, foi produtora executiva na série American Masters e em The Canyon.
Elenco:
O filme também é lembrado por ter um elenco repleto de rostos famosos, como Jennifer Lopez, Ice Cube, Owen Wilson, John Voight, Eric Stoltz e outras figuras.

Entre as atrizes cogitadas para fazer Terri Flores - que quase se chamou Terri Porter - estiveram Gillian Anderson - que fez teste para o papel de Denise Kalberg -e Julianna Margulies. Ambas recusaram o papel. Também se pensou em Jennifer Aniston, Kate Beckinsale, Nicole Kidman, Juliette Binoche, Kim Basinger e Sandra Bullock .
Já com relação a Paul Serone, foram cogitados Sean Connery e Tommy Lee Jones, que recusaram o papel. Kirk Douglas, Harrison Ford, Mel Gibson, Liam Neeson, Jack Nicholson, John Malkovich, Jean Reno e Martin Sheen também foram considerados.
Além de ter aceito o papel, Jon Voight afirmou que se divertiu muito interpretando essa caracterização.
Também chama a atenção os olhos azuis do ator, que são muito incomuns no Paraguai, país de origem do personagem.

Já Warren Westridge teve nomes cogitados entre Tim Curry e F. Murray Abraham.
Chris Farley foi convidado para interpretar Danny Rich, mas não pôde aceitar devido a conflitos de agenda com a produção de Um Ninja da Pesada.
Ice Cube estrelou esse e Área de Risco, em 1997.
Foram cogitados Bill Murray, Will Smith, Martin Lawrence, Wesley Snipes, Ving Rhames, Albert Brooks e Keith David.
Dr. Cale teve nomes cogitados entre Billy Crystal, Michael J. Fox, Ben Stiller, Ray Romano, Dennis Quaid e Dave Foley.
Cameron Diaz, Gwyneth Paltrow, Teri Hatcher, Winona Ryder, Izabella Scorupco e Annette Bening foram consideradas para o papel de Denise Kalberg.
A cobra animatrônica
É curioso que esse não é só uma imitação de Tubarão no sentido narrativo, mas também na hora de filmar a cobra sucuri.
Na maior parte dos momentos, foi tudo filmado com efeito prático, com esses sendo comandados por Walt Conti, artista especializado em filmes com cenas aquáticos, especialmente Free Willy, Tormenta, Do Fundo do Mar, Mar em Fúria e Náufrago.
A pedido da Columbia foi feita a construção de uma anaconda que se comportasse como a criatura real.

A equipe de efeitos especiais criou uma versão animatrônica de 12 metros e 2.500 kg, com 60 vértebras controladas individualmente, mais de 64 quilômetros de fiação, mais de 70 microprocessadores e um sistema hidráulico de 3.400 kgf/cm² e de 5.000 psi, criado pela empresa de efeitos especiais Edge FX.
Essa versão teve olhos diferentes, amendoados e acinzentados e não arredondados, como as cobras reais. A ideia é que ela lembrasse mais Bruce, o animatrônico de Tubarão.
CGI e defeitos dos robôs
Também houveram inserções de cobras digitais, que tinha um alto custo, de US$ 100.000 por segundo, com inserções de efeitos visuais de John Nelson, responsável pelos efeitos em obras como Lobo, O Juiz e Gladiador.
Durante uma cena, os controles da anaconda animatrônica entraram em curto-circuito, algumas dessas filmagens foram incluídas no filme.
Os animatrônicos usados tinham os apelidos de "Rainha", que tinha 12 metros e 2.270 quilos e "Guerreiro" 7,6 metros e 680 quilos.
Uma réplica animatrônica estática da anaconda que aparece no filme estava em exibição na Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco.

A pele da cauda foi removida, revelando a estrutura esquelética da cobra e o funcionamento interno do animatrônico.
Anacondas verdes
As cobras que aparecem no filme não são especificamente. Normalmente, associam as anacondas verdes ou Eunectes murinus, a espécie de cobra mais pesada do mundo e uma das mais longas.
O termo sacaconda também se aplica a outras três espécies conhecidas de cobras: a sucuri-amarela ou Eunectes notaeus, a sucuri-de-manchas-escuras ou Eunectes deschauenseei e a sucuri-boliviana, ou Eunectes beniensis.
Os gritos da anaconda verde foram feitos pelo ator Frank Welker, internacionalmente conhecido por dublar Scooby-Doo e Fred Jones em diversas versões da série.
Tamanho
A maior anaconda verde do filme tem 12 metros de comprimento.
Na vida real, a maior anaconda conhecida media 5,21 metros.
O comprimento médio de uma anaconda fêmea adulta varia entre 4,6 e 5 metros. As sucuris machos são menores, com um comprimento médio de 3 metros.

As medidas das duas anacondas são maiores, ou seja, a fêmea de 7,6 m, já a segunda é um macho de 12 metros.
Assustadora
O filho de Ice Cube disse que a cobra animatrônica usada no filme era muito grande e que ficava descontrolada com frequência, jogando coisas para todos os lados.
Segundo relatos, ela destruía a área de alimentação do set. Algumas expressões que se vê nos rostos dos atores era medo genuíno.
Inclusive correu um boato de que a cobra animatrônica quase feriu gravemente J-Lo.
Cuidado com a movimentação
Os movimentos do animatrônico da anaconda verde são baseados nos movimentos reais desses animais durante a caça.
A produção queria que o animatrônico reproduzisse os movimentos o mais fielmente possível aos de uma anaconda verde de verdade.
Perspectiva de Tubarão
A emulação que Llosa faz do clássico spielberguiano também se vê no ponto de vista do animal/monstro, já que o modo de caça da sucuri verde homenageia o mesmo ângulo de visão do monstro de Tubarão de 1975.
É utilizado inclusive um efeito chamado de zoom dolly, conhecido também como zoom de Hitchcock ou zoom de Tubarão, é usado por volta dos 50 minutos de filme.
Os medos reais
Enquanto a equipe de filmagens corre os rios e a floresta, se menciona um medo local, no caso, um peixe, o pequeno bagre conhecido como candiru.

Esse também é conhecido como peixe-vampiro.
A ele é atribuída a condição de transitar/nadar dentro do corpo humano pela uretra em homens ou pela vagina em mulheres, se alojando em seus espinhos.
No entanto, isso não é tão comum quanto o filme sugere, há poucos casos registrados de homens atingidos dessa forma pelo pequeno bagre.
O caso mais famoso é de um home que foi "atacado" enquanto urinava em um rio, que entraram pela uretra do sujeito.
Sucuri real
Apesar de nas conversas seculares se chamar as jiboias das cobras não venenosas maiores do Brasil, são as sucuris as maiores serpentes do Brasil.
Entre elas, as sucuris-verdes são as mais pesadas, ainda assim, são bem menores do que as descritas no longa. Essas atacam outros animais grandes, como antas, veados, capivaras e jacarés, mas raramente atacam humanos.
Elas inclusive se atacam entre si, podem ser canibais e sabe-se que as fêmeas são maiores, normalmente. No filme, isso se inverte.
A sucuri/anaconda é a segunda cobra mais longa, a mais extensa é a "píton-reticulada" ou Malayopython reticulatus, nativa do sul e sudeste da Ásia.
Os olhos da cobra e rotina noturna
As pupilas das sucuris são diferentes das vistas no filme. A escolha de Llosa foi dar um formato oblíquo, e não redondos, como é na verdade.

A escolha por pupilas oblíquas serve para conferir uma aparência assustadora e vilanesca, semelhante ao monstro de Tubarão de Spielberg, cujos olhos permanecem pretos durante todo o horror.
Entre os hábitos diferentes entre versões, há o fato de que as sucuris-verdes são animais noturnos e passam a maior parte da vida na água.
Por motivos óbvios, se preferiu mudar ela para hábitos diurnos. Também se destaca que elas são nadadoras velozes, mas desajeitadas em terra".
Inclusive, no filme, é possível ver duas cenas com sucuris reais, a primeira cena é quando explodem a barreira que obstrui o rio, na explosão, em que várias das cobras que caem no barco são sucuris-verdes, e também é possível ver uma jiboia.
A segunda cena é quando Terri entra no ninho das sucuris, onde as cobras mostradas são sucuris reais.
Trilha sonora
Um dos objetivos do diretor Luis Llosa era que o compositor John Barry, com quem havia trabalhado em O Especialista compusesse a trilha sonora. No entanto o artista recusou o convite devido a uma grave doença.
Em seu lugar, Randy Edelman foi contratado, autor da trilha de obras como O Último dos Moicanos, O Máskara e Daylight.
A pedido do diretor, a música manteve o estilo característico de John Barry e apresentou semelhanças com os temas de O Búfalo Branco e King Kong de 1976, filmes para os quais Barry também compôs as trilhas sonoras.
O tema composto por Edelman foi lançado pela Edel Records. Nos Estados Unidos, a música estreou nos cinemas no mesmo dia que o filme Acerto de Contas também estrelado por Eric Stoltz, junto de James Spader.
Trailer sem a cobra digital
No primeiro trailer, os efeitos de CGI ainda não estavam acabados, portanto quando a cobra ataca Gary, a anaconda não havia sido inserida.
Pode se ver ele caindo para trás sem nada para segurá-lo.
Premiações
Esse está listado entre os 100 Filmes Mais Divertidos e Ruins de Todos os Tempos (100 Most Enjoyably Bad Movies Ever Made in Golden Raspberry Award) no livro The Official Razzie Movie Guide de John Wilson, fundador do Prêmio Framboesa de Ouro.
Além disso, é um dos filmes favoritos da atriz Helen Mirren.
Classificação indicativa
O estúdio decidiu adotar uma classificação PG-13, a fim de atrair um público mais amplo, portanto, foi necessário fazer dublagem para substituir várias falas em que os personagens diziam palavrões em inglês.
A linguagem forte foi alterada na fase de dublagem, trocando fucking por freaking.
As falas dubladas tem um som ligeiramente diferente do restante do diálogo, tanto que os lábios dos atores e atrizes não correspondem ao novo diálogo quando falam.
Curiosamente, os palavrões em português são ditos à plenos pulmões e de maneira mega artificial.
Bilheteria
Apesar dos prêmios Framboesa de Ouro e das críticas negativas, este filme foi um sucesso de bilheteria. Estreou em primeiro lugar arrecadando US$ 16 milhões no fim de semana de estreia.
Desbancou O Mentiroso com Jim Carrey para o segundo lugar após três semanas consecutivas em primeiro.
Narrativa
A trama segue após um letreiro, que tenta ambientar o espectador, de que as anacondas/sucuris, que eram veneradas por tribos indígenas na Amazônia e aparentemente existiam mesmo, podem chegar a 12 metros de cumprimento.
Como dito antes, o tamanho das sucuris foi aumentado para o filme ficar mais "dramático".
A música de Nelman tenta focar no mistério, facilitando a apreciação do cenário ermo, supostamente distante da civilização, onde é normal um homem cair diante de um monstro da natureza, como ocorre com o Poacher, de Danny Trejo, que além de ser dublado, acaba pondo fim a própria vida, antes de ser pego pelo predador.

Possivelmente Poacher tinha medo de ser devorado e evitou isso e o processo de regurgito, já que esse aparentemente é o método da cobra.
O animal é traiçoeiro, inteligente e encurrala sua presa, fazendo com que ela cometa o maior dos pecados. Parece mesmo ser um diabo.
A trama "real"
Da parte humana da narrativa - que é claramente a menos interessante - seguem os passos do doutor Steven Cale (Stoltz), que busca estudar sobre as tribos locais, embora também tenha interesse e conhecimento sobre cobras.
Antes de aparecer os humanos, a fachada do Ariau Hotel, que é de onde Cale e sua equipe saem. Ele contratou a diretora documentarista Terri Flores (Lopez) para filmar uma manifestação cultural indígena, numa tribo perdida no meio da Amazônia brasileira.
Aqui também fica claro uma coisa: a beleza e excitação dos personagens. Jennifer Lopez era uma figura conhecida por ser uma beldade, curiosamente é das personagens mais comedidas, já que todos os outros homens e mulheres à bordo da balsa parecem muito excitados.

Dessa forma, é possível encarar Anaconda como um assassino slasher.
Personagens rasos
A descrição de Flores pode parecer simplória, e parece porque de fato é.
No filme não se dá importância ou detalhamento sobre o motivo de documentar ou sobre o seu processo criativo, tudo que se sabe é que uma equipe de filmagens, que vem dos Estados Unidos e vai até a floresta, atrás de uma civilização sem contato com o mundo, e que tem essa jornada atravessada pelo perigo natural e pela ganância humana, cujo avatar é o personagem Paul Serone.
O restante dos personagens é bem genérico, são membros da produção, apresentados de forma expositiva e bizarra, com as funções sendo ditas da maneira mais artificial possível, exceto Mateo, o brasileiro vivido pelo cubano Castellanos.
Paul Serone
Quando Voight é apresentado, como o estranho náufrago cabeludo Sarone a música muda, parece suspeita, uma boa composição de Nelman, que antecipa o obvio de sua vilania.
Fica mais evidente com a expressão de Mateo...
Serone diz conhecer a tal tribo Shirishama, que é citada mas é pouco aprofundada, sendo tratada como mero pretexto para a trama seguir - de fato é isso mesmo.
Esse nome é possivelmente um corruptela da etnia Xirixana, um grupo indígena real da Amazônia brasileira, localizado no estado de Roraima.
O bote
Enquanto prepara seu ataque a embarcação, a cobra observa mata uma pantera negra - possivelmente, é uma onça pintada com melanoma, por isso tem a cor escura - até aguarda as discussões toscas da tripulação para enfim aparecer.
A sucuri é paciente, aguarda as discussões e flertes entre Flores e Cale, e até permite que Warren Westridge (Jonathan Hyde) pratique tacadas de golfe.
A serpente resolve agir depois que a embarcação passa por um totem de cobra na água. Serone resolve contar a lenda de um guardião animalesco, supostamente graças aos Shirishama, mas Cale o corrigi, conhece as historias, mas diz que é dos Maku.
Te(n)são
Mas nem a escuridão da floresta, um estranho visitante ou a possibilidade de bichos como mosquitos, insetos e afins consegue tirar o furor e o tesão do departamento de som, ja que Gary (Wilson) e Denise (Kari Wuhrer) decidem transar mesmo isolados, mesmo sendo consumidos por mosquitos.
Fingem que vão gravar o som ambiente e vão de bote para o meio da água na floresta, chegando até a terra firme, quase sendo atacados por um javali, que não é uma espécie típica do Brasil, mas aparece como invasora em fronteiras, especialmente nos estados de Roraima e Amazonas.
Os perigos reais demoram a aparecer, mas depois que o suíno surge, há um outro ataque, tão conveniente que parece orquestrado, com uma vespa que entra na garganta do idealizador do projeto, de forma que ele quase morre, envenenado
Um inseto sagaz
Duas coisas se mostram curiosas com esses eventos, a primeira, é que a vespa entrou na garganta do sujeito mesmo com ele na água, e cheio de material de mergulho.
Talvez ela fosse mágica...
A segunda coisa é que o estranho marinheiro é que salva o dia nas duas oportunidades, mostrando que ele está preparado para toda sorte de eventualidade.
O estilo do cinema de Llosa
Llosa fez vários filmes...peculiares, com David Carradine em O Caçador do Futuro de 88, ou O Especialista que une Sly e Sharon Stone e Sniper: O Atirador, com Tom Berenguer.
Assim como boa parte dos filmes do cineasta, esse se preocupa pouco, quase nada com pesquisa.
Caem dezenas de cobras diferentes no barco, e a pessoa que entende delas diz que não são peçonhentas, e que são todas filhotes.
Aí são duas mentiras, primeiro, nem todas são filhotes, e isso até é dito por um dos personagens, segundo, há algumas venenosas sim. Resta a dúvida se o sujeito mentiu, se não sabe a verdade ou se a pesquisa do filme deixou passar e fez besteira.
Desejo por uma cobra adulta
Por algum motivo, Serone não tem interesse em capturar filhotes, mesmo reconhecendo algumas no filme. Quer pegar uma adulta viva, o que não faz sentido, exceto se ele quiser fazer isso por uma específica ou por bravura.
O segundo caso, não parece existir de fato.

Na realidade, seria mais fácil capturar os filhotes da sucuri, já que após a época de acasalamento, as fêmeas dão à luz ninhadas de 20 a 40 filhotes.
Os filhotes crescem rapidamente e atingem a maturidade poucos anos após esse processo, não demoraria a chegar à maturidade.
Da parte da narrativa, é incrível como o barco é tão repleto de armas, com fuzis e metralhadoras demais. É curioso, por conta disso aproximar mais o longa do gênero da ação do que do terror.
O medo fica por conta dos ataques da cobra, que funciona especialmente quando é mostrado o animal mecânico.
Todos entram em pânico, e isso ajuda a inebriar a equipe, que não percebe o ardil graças ao pânico que o visitante levou até a embarcação.
Além disso, ele claramente está rumando para o ninho das cobras, ao invés de seguir para socorrer Cale.
No entanto, não há uma tensão real, jáque as atuações são canastronas e o roteiro é fraco, sem espaço para grandes elucubrações.
Mudança de rumos
Rapidamente o quadro muda, o vilão toma a liderança do grupo, arruma um auxiliar e vai para onde sempre quis.
Sobra lábia e sem-vergonhice, além de ameaças e uma auto estima infinita, que o faz acreditar ser mais esperto e poderoso que a cobra que dá nome ao filme.
A captura de Gary é um bom resumo do filme. Nela se percebe um personagem que erra e tenta se redimir, já que foi pego pelo monstro na tentativa de salvar Denise.
A moral que o script propaga é que cada um deve lutar apenas por si.
Os personagens estão em pânico e se nota uma grande inabilidade da equipe de efeitos digitais, que tentar enquadrar a cena de uma forma aceitável, mas não consegue.
Um vilão com camadas
Mesmo caricato, Serone acaba sendo a coisa mais charmosa do filme uma vez que todos os outros personagens estão aquém, não conseguem soar importantes ou humanos.
Todos os outros são fracos tolos, quando fazem armadilhas não pensam nas consequências, e tomam uma virada do próprio Serone, basicamente por terem deixado ele vivo.
Já as suas linhas de diálogo não convencem, com frases de efeito tão ruins que dão a volta e conferem carisma ao pai de Angelina Jolie.
Ele se benze antes matar uma mulher que tenta se vingar dele, e deixa ela na dúvida se deve ou não matá-lo.
Um ser malvado
Há poucos momentos com o monstro animalesco e os poucos que que aliás parece ser maquiavélico, já que ele mata as pessoas sem necessidade ou sem fome.

Ao menos o animatrônico é bem feito, e há boas cenas dela, sobretudo quando sangra. O senso de urgência e de sobrevivência dela é agudo, e isso talvez justifique atacar os homens mesmo sem fome, na meia hora final. Aparentemente ela é mais humana que os sobreviventes Terri e Danny, que mal choram seus amigos mortos.
Como bons predadores que são, os humanos invadem o espaço onde os ovos do animal estão, mesmo que algumas boas intenções estivessem ali presentes.
Paul esperava por eles, e ele faz uma boa armadilha, jogando sangue de macaco neles, para atrair o bicho.
É curioso aliás, o método que ele utiliza, visto que o mesmo havia dito que anacondas se atraem por presas vivas e que se mexem, graças ao sistema sensorial do monstro.
Essa questão é tosca não por perverter a realidade. Há diversas licenças poéticas, algumas até boas, como o hábito de vomitar as vítima para depois comê-la - anacondas só quebram os ossos e engolem - mas entrar em contradição com a própria mitologia é irritante, assim como os retornos inesperados, que beiram o Deus Ex-Machina, como quando o personagem de Stoltz retorna, só para salvar os amigos e voltar a dormir.
Sobre o macaco
Após o término das filmagens, Jon Voight quis ficar com o macaco cenográfico que havia baleado e usado como isca.
Ele ainda possui o macaco até hoje, mantido em um "local não divulgado".
Desfecho e perspectivas forçadas
A realidade é que Anaconda é fruto do seu tempo, um autêntico produto da década de 1990, e tem que terminar abraçando os mocinhos, dando uma lição de moral no vilão humano.
A sequência da segunda cobra comendo Lenore é ótima, com um boneco de Voight, meio artificial, mas o efeito e a câmera vindo do interior do animal é muito bem executado.

Até dá para perdoar o fato dela se mover livremente mesmo tendo consumido um homem adulto inteiro, visto que esse parece ser um super animal.
A obra funciona justamente quando não se leva a sério. Quando é dessa forma, funciona bem, sendo quase uma paródia do gênero de filme de horror com animal gigante.
Por mais tosco que tenha soado, há muitos bons momentos, e é uma diversão escapista considerável.
Anaconda não é um clássico trash à toa, possui um roteiro capenga, péssimas atuações e uma conveniência atroz para matar o monstro, e ainda pontua bem com os heróis recompensados, achando os Shirishama, em uma das várias grandes conveniências que o roteiro proporciona ao público,
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