Documentário e especial do National Geographic promete descortinar novos segredos do clássico spielberguiano
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Tubarão é um clássico atemporal, libelo do cinema de horror, o primeiro entre os filmes arrasa-quarteirão, o pioneiro blockbuster, sem dúvida alguma. Há muita literatura sobre ele, documentários e making-offs e entre esses, o recente 50 anos de tubarão: A história definitiva dos bastidores se destaca bastante.
Longa-metragem documental de Laurent Bouzereau, esse é um material que esteve na versão do lançamento do Blu-Ray e 4K comemorativo ao jubileu da obra, mas também está disponível no catálogo da Disney +.
O especial é produzido por Markus Keith, Darryl Frank, Laura A. Bowling, Wendy Benchley e Laurent Bouzereau. Foram produtores executivos Ted Duvall e Justin Falvey.
Estreia
Houve uma exibição na principal locação do filme, em 20 de junho desse ano, uma premiere em Martha's Vineyard.
Em julho, passou no México, nos Estados Unidos, Argentina e Brasil na internet.
O título original é Jaws @ 50: The Definitive Inside Story. Na Argentina é Tiburón: La historia de un clásico, na Finlândia é Tappajahai: 50 vuotta kauhua, na França é Les Dents de la mer: les secrets d'un film culte.
Na Alemanha é Der weiße Hai: Die Geschichte hinter dem Blockbuster, na Itália é Jaws @ 50: The Definitive Inside Story.
Os estúdios que fizeram ele foram a Amblin Entertainment, National Geographic e a Nedland Media.
A distribuição foi da Disney+ para o VOD na maior parte do mundo e na Hulu nos EUA. A National Geographic Channel (NGC)
lançou o documentário na tv dos Estados Unidos e em alguns países, como a Holanda.
Relação com Spielberg
O diretor Laurent Bouzereau tem uma longa relação com Spielberg.
Ele fez documentários de bastidores sobre a produção de vários de seus filmes.
Isso se mostrou bastante útil, visto que Spielberg se recusa a incluir comentários em áudio em seus filmes.

Para esse, Laurent Bouzereau passou três horas entrevistando o realizador de ET, Jurassic Park e Caçadores da Arca Perdida.
Intenção do diretor
Em uma entrevista de 2025 para o Awards Focus, Laurent Bouzereau falou sobre o que ele esperava que fosse uma nova lição aprendida com a história da produção de Tubarão.
Ele disse:
Percebi rapidamente que um aspecto do filme que não era comentado é o lado humano. É fácil rir e sorrir das dificuldades enfrentadas durante a produção do filme.
Ele mirava se colocar no lugar de Steven Spielberg naquela época, relembrando que depois de um início de carreira muito promissor e bem-sucedido, tudo poderia minguar, caso Tubarão não desse certo.
Ele disse que em suas conversas com o amigo, ele consegui mostrar o que essa ansiedade de um realizador tão famoso e celebrado significava e como, de certa forma, ela ainda o acompanha.
Ele buscava tornar a sua obra alvo de inspiração para as pessoas.
Quem fez
Bouzereau tem mais de 300 créditos de direção. Seus principais filmes são Heróis Lendários: Indiana Jones e Harrison Ford, Faye:Entre Luzes e Sombras e A Música de John Williams.
Durante a época que trabalhava esse, fez os documentários sobre Dunaway e Williams, além de escrever um livro sobre Brian De Palma.
Daryl Frank foi produtor em A Música de John Williams Bodyguard of Lies, produtor executivo em Halo, Gremlins: Segredos dos Mogwai e Resident Alien.
Bowling produziu apenas esse.
Keith tem especialização em docs sobre obras de Spielberg. Ele foi produtor executivo em The Stories of West Side Story the Steven Spielberg Film, West Side Story: A New Generation, 40 Years of E.T. The Extra-Terrestrial, The Fabelmans: A Family in Film. Todos esses, foram juntos a Bouzereau .
Também fez Faye: Entre Luzes e Sombras, TORNANDO-SE HITCHCOCK: O LEGADO DE BLACKMAIL e A Música de John Williams, todos nessa mesma função.
Narrativa
A história começa mostrando Spielberg chegando aos cinemas de Nova York com Albert Brooks e James Meslin. Ele diz que viu uma fila imensa, dobrando os quarteirões.
As entrevistas incluem vários realizadores, como Steven Soderbergh, Guillermo Del Toro, Cameron Crowe, James Cameron, Jordan Peele, Quentin Tarantino, Robert Zemeckis, Greg Nicotero etc.
Também fala com Wendy Benchley especialista em oceanografia e viúva do escritor Peter Benchley, autor do livro Jaws original, que faleceu em 2006. Ela admitiu em entrevistas que ainda visita regularmente Martha's Vineyard, onde o filme foi rodado.
Receio de demissão e início de carreira
Na entrevista, Spielberg fala abertamente que tinha medo de ser mandado embora. Ele tinha 27 anos, era um novato, havia feito alguns filmes para televisão, não era o homem dos blockbusters e sucessos garantidos que é hoje.

Sid Sheinberg da Universal diz que sempre acreditou no potencial do diretor.
Nessa época ele já era cercado das pessoas que se tornariam célebres, inclusive de gente da Nova Hollywood. George Lucas, por exemplo, disse que o conheceu no departamento de cinema da USC, a universidade do sul da Califórnia.
Segundo o relato do criador de Star Wars, o jovem artista sempre procurava cinematografistas para seus trabalhos. Em sua fala, destaca que se impressionou com Encurralado, telefilme que também encantou Del Toro, já que o filme foi exibido no cinema, no México.
O Livro
Spielberg enfim achou a base para o seu próximo trabalho, assim que leu o livro Jaws, de Peter Benchley.
Ele queria fazer algo mais popular, após ter feito o alternativo Sugarland Express, lançado um ano antes de Tubarão. Pensou em fazer um filme de UFO, mas não tinha maturidade para Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ainda.
Quando ele viu a impressão do script de Tubarão e achou aquilo parecido com o seu Duel/O Encurralado, o filme dele, onde um caminhão fazia as vezes de figura amedrontadora, tal qual Bruce, o Tubarão desse.

Atração
O realizador disse que se sentiu atraído pelo livro. Ao ler o roteiro, achou que ele seria atraente em qualquer momento de sua vida, mas naquele específico, seria um momento ainda mais diferenciado.
O documentário resgata falas do escritor, fala com sua filha Tracy Benchley Turner, resgata o nascimento dele na ilha Nantucket. A localidade foi a base para a escrita do livro, que se tornou famoso após a tradução para o cinema.
A equipe de filmagem conversa com várias pessoas da família, mas a maior parte das boas falas partem de gravações de Peter, que obviamente, já não estava vivo na época de gravações.
O escritor cita o documentário Morte Branca em Água Azul, de 1971, que serviu de inspiração para ele e até para Spielberg.
Ele sempre ouvia histórias sobre ataques de Tubarão, mas não presenciou nenhum.

Ele icou obcecado e pesquisou junto aos estudiosos que protagonizaram momentos assim.
Capas e pôsteres
O autor, diretor e especialista em efeitos especiais Greg Nicotero fala como escolheram as capas do filme.
Há inclusive uma boa animação, brincando com os clichês, no que resultou no pôster de cinema.
Roteiros
Para manufaturar o roteiro, o produtor David Brown sugeriu Howard Sackler (de Grande Esperança Branca) criou a estrutura, chamou Carl Gottilieb, amigo de Steven, para dar um toque de humor.
Decidiram tirar a parte romântica do livro, para focar mais na ação.
Arte
Joe Alves desenhou vários quadros com tubarões brancos. Algumas dessas são mostradas. A verdade é que o filme tornou a criatura célebre, já que o animal era pouco conhecido do público geral.
Os desenhos ajudaram a escolher essa raça, pois seria imageticamente mais impressionante.

As pessoas pensavam mais no tubarão-martelo do que no tubarão branco e Spielberg achava esse segundo mais imponente, tencionando mostrar um bicho de 8 metros, sendo perfeito para a tela.
Efeitos
Para fazer os efeitos especiais, foi escolhido Robert A. Mattey. Graças aos seu trabalho em O Fantástico Super-Homem, Mary Poppins e Se Meu Fusca Falasse ele foi indicado.
Anos mais tarde, ele faria Devorado Vivo, de Tobe Hooper, e Tubarão 2. Para esse trabalho, juntou uma equipe de 7 pessoas, chamaram o pessoal de Morte Branca na Agua Azul, inclusive.
Pressa
É sabido para os fãs de cinema mainstream que o animatrônico do tubarão não funcionou e aqui se dá o motivo para isso, afinal Joe Alves achava que teria um ano para fazer o autômato.
Segundo George Lucas, o animal era pujante e digno de elogios.
Richard Zanuck, produtor do filmem, disse que não havia unanimidade sobre o roteiro. O texto não agradou os executivos e foram ver...a cena de abertura mostraria o tubarão.
A atriz Susan Blackline comparava o momento com o macguffin de Psicose, mas no sentido inverso. Achava que isso poderia atrapalhar o filme, antecipando emoções, correndo o risco de matar o efeito de surpresa que o filme teria mais para frente, servindo assim como macguffin reverso.
Sabiamente optaram por eliminar o animal da equação, já no roteiro.
Local
Para transitar, seria preciso de uma baía de 7,5 de profundidade, logo, a produção achou um lugar em Martha Vineyard, cenário bucólico, que resistia ao tempo.
Curiosamente, o lugar se tornou referência, depois do filme.

A localidade foi vista também no elenco, uma vez que tirando Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss, Lorraine Garry, Murray Hamilton, Teddy Grosman, Blackline e Gottilieb, todos os personagens eram residentes de Vineyard.
Jeffrey Kramer, o interprete de Hendricks, ajudou a capturar a essência do lugar, sugeriu figurinos que fizessem sentido e que remetessem a localidade.
Na entrevista, disse que as pessoas na cena da prefeitura eram todas reais.
Agua salgada
A questão relacionada a Bruce se tornou um problema de verdade apenas na hora de filmar. Eles perceberam que o animatrônico não funcionaria, que a água o corroía.
A equipe ainda insistiu, mas os efeitos davam errado sempre.

Receio, medo e trauma
Spielberg ouvia que jamais faria outro filme grande, pois estourou o orçamento e que não conseguiria terminar. Graças ao fato de nem beber e nem fumar, roía suas unhas.
Mesmo depois de cinco décadas, ele sente muito. Provavelmente não seria tão sincero caso não fosse tão próximo do documentarista.
Entre as confissões, fala da importância de Robert Shaw, seu talento na escrita e de bebedeira que Steven consentiu, acertou o discurso na segunda tentativa, depois de beber muito na primeira vez que gravou.
Carne autêntica
Guillermo Del Toro destaca a carne nos dentes do bicho, uma autenticidade pensada e calculada, vista nas poucas cenas em que Bruce, o tubarão mecânico, aparece.
Quando acabaram enfim as filmagens, Spielberg teve uma crise de pânico, disse que seu corpo falhou, depois do término do trabalho.
Essa foi a primeira vez que Steven Spielberg sofreu de TEPT, o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Em sua fala, ele afirmou que frequentemente se refugiava no barco Orca, que ficava nos estúdios da Universal, apenas para lidar com seu trauma.
Pós...ou quase isso
Spielberg continuou filmando após o término das gravações em Marthas Vineyard, usou seus próprios estúdios para tal, a fim de filmar sequências na água, visto que o resultado nas gravações não foi satisfatório.
Rodou cenas no Valley, na piscina de Verna Fields, a editora dele.
Boa parte, fez sozinho e ainda resultou no sucesso de 100 milhões, superando e muito O Exorcista, O Poderoso Chefão e outras obras.
Repercussão
A obra se tornou algo grandioso, ganhou uma paródia no Saturday Night Live, que inclusive, fez Steven se orgulhar bastante. Também virou capa da Mad, da Time.
Além de falar da morte de Peter Fenchley em 2006, o filme se debruça da peça Shark is Broken que é uma espécie de sequência, que tem Ian Shaw, o filho de Robert Shaw, interpretando o papel do pai.
Aparentemente, Laurent Bouzereau fez toda sua carreira para parir esse e conseguiu assim fazer do seu 50 anos de tubarão: A história definitiva dos bastidores uma boa análise reverencial de um dos clássicos do cinema.
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