Borderlands - O Destino do Universo Está em Jogo : A versão de Eli Roth para o game

Borderlands - O Destino do Universo Está em Jogo : A versão de Eli Roth para o gameBorderlands: O Destino do Universo Está em Jogo é um lançamento dos cinemas que adapta Borderlands, o game de tiro em primeira pessoa com elementos de ficção científica e RPG produzido pela Gearbox Software.

Dirigido pelo cineasta especialista em filmes de terror Eli Roth, esse é um blockbuster que reúne um elenco consideravelmente famoso, que inclui duas vencedoras de Oscar Cate Blanchett e Jamie Lee Curtis, além de trazer também os engraçados Jack Black, Kevin Hart e a jovem talentosa Ariana Greenblatt.

A história foca em uma fora da lei de passado misterioso, que acaba retornando para seu planeta natal para encontrar a filha do ser mais poderoso do universo.

Essa é Lilith, personagem de Blanchett, que ao longo da história forma um grupo de sobrevivência rumo ao tesouro eridiano de uma arca lendária. Sua aliança se dá com um com um grupo de personagens desajustados, que acabam formando um grande e diverso time, incluindo um ex-mercenário de elite chamado Roland (Hart) uma pré-adolescente com poderes absurdos chamada Tinny Tina, um psicopata gigantescamente forte chamado Krieg, uma cientista que flerta com a insanidade e um robô chato, mas extremamente útil, que guarda um segredo por mais de 30 anos.

Os personagens lutam contra monstros alienígenas e bandidos perigosos, buscam chaves que destravariam um grande segredo, ou seja, tem o objetivo algo bem parecido com a ideia de um game.

Todo o filme segue nessa toada, em ritmo frenético e quase sem respiros, copiando assim parte da experiência que é executar um jogo que não se preocupa minimamente com a apreciação de uma narrativa.

Borderlands - O Destino do Universo Está em Jogo : A versão de Eli Roth para o game

O filme estreou mundialmente dia 7 de agosto de 2024, no Brasil chegou aos cinemas agora, dia 8, quinta-feira.

O roteiro é assinado por Eli Roth e Joe Crombie, baseado no argumento de Roth. Produzem Avi Arad, Erik Feig. São produtores executivos Blaine Johnston, Lucy Kitada, Tim Miller, Randy Pitchford, Louise Rosner, Ethan Smith, Strauss Zelnick, Emmy Yu e Christopher Woodrow.

A vontade de adaptar Borderlands é antiga. Em 2015 se cogitou dar a Leigh Whannell a direção do filme. Nesse mesmo ano, o artista estrearia na direção em Sobrenatural: A Origem.

Enquanto Roth esteve fora, graças a filmagens de Feriado Sangrento, Tim Miller dirigiu algumas cenas nas refilmagens que foram pedidas pelo estúdio depois. Ainda sobre os bastidores, Craig Mazin foi contratado para escrever o roteiro antes de lançar outra adaptação de game, em The Last of Us da HBO, que estreou em 2023.

Oren Uziel, Sam Levinson, Tony Rettenmaier, Juel Taylor, Zak Olkewicz, Chris Bremner e Aaron Berg foram listados no diretório do sindicato de roteiristas (WGA) por escreverem material adicional ao script.

A história e os personagens originais eram bem diferente até o acréscimo de Mark J Dailey na produção. Aparentemente, os rumos narrativos mudaram após suas sugestões.

O título original é Borderlands. Ao longo do mundo houveram poucas variações de nomenclatura, como na Estônia, que chama Borderlands: salapärane reliikvia, na Lituânia é Borderlands: paslaptinga relikvija e no Vietnã é Borderlands: Trở Lại Pandora.

As filmagens ocorreram entre abril de 2021 e junho do mesmo ano em Budapeste na Hungria e foram concluídas antes da greve dos roteirista da WGA e da SAG-AFRA em 2023.

O estúdio é a Lionsgate Films, a Media Capital Technologies, Arad Productions, Picturestart, Gearbox Studios e 2K Games. Tem distribuição da Lionsgate Films nos EUA, Lionsgate UK no Reino Unido e Paris Filmes no Brasil.

Roth é famoso por suas sagas de horror, que incluem Cabana do Inferno, O Albergue e Feriado Sangrento. Nos últimos anos, passou a se especializar em obras menos ligadas ao terror, como a comédia de humor ácido Bata Antes de Entrar, o remake de Desejo de Matar que estrelava Bruce Willis e o infantil O Relógio na Parede. Joe Crombie escreveu apenas esse.

Ari Arad é famoso por ter trabalhado em várias produções em torno do Homem-Aranha, como a trilogia de Sam Raimi iniciada em 2003 no clássico Homem-Aranha, além de desenhos sobre a "ameaça aracnídea".

Fez filmes como O Justiceiro, Justiceiro: Em Zona de Guerra e Homem de Ferro. Seus últimos trabalhos envolvem A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell e Uncharted: Fora do Mapa.

Erik Feig produziu Sr. & Sra. Smith, Divergente e Mundo em Caos. Esteve na equipe de produção de Jogos Vorazes: A Esperança.

Como esse é um filme lançamento, falaremos com spoilers. O aviso está dado.

Borderlands - O Destino do Universo Está em Jogo : A versão de Eli Roth para o game

Muito se falou que esse era o filme em que Eli Roth "queria ser" James Gunn. Essa pecha aparentemente era tão real que contaminou inclusive o material de divulgação, que comparava esse com Guardiões das Galáxias e com O Esquadrão Suicida, embora não fique claro qual dos dois, se é o feito por Gunn ou por David Ayer.

A história começa expositiva, com uma narração de Cate Blanchett - ou Lilith 0 que fala sobre a diferença entre planetas, comenta sobre Pandora, um planeta árido e perigoso, também sobre um povo lendário, os Eridianos, que guardavam um tesouro secular, tão antigo e idealizado que se tornou uma lenda.

Depois das falas, é mostrada a pequena Tinny Tina, a personagem de Greenblatt, que é tratada desde sempre como uma espécie de escolhida, mesmo que não haja contexto para estabelecer nem a questão dela ser tão especial e nem a necessidade de precisar de alguém com tanto potencial ou poder oculto.

Também aparece uma carcereira badass, chamada Knoxx, de Janina Gavankar, que é a chefe do departamento que encarcera Tina. Nesse trecho inicial também aparece Roland, de Kevin Hart e Krieg do alemão Florian Munteanu, mais lembrado por fazer Viktor Drago de Creed II.

Após essa introdução meio sem sentido, aparece também Prometéia, um planeta maior, que é uma espécie de capital desse universo, um centro onde moram as pessoas mais abastadas, como o magnata criminoso e mafioso Atlas, de Edgar Ramírez.

O resgate da filha do chefão do criem é apresentado sem grandes introduções ou reflexões. Se apela ao clichê de heroína retornando ao seu lugar de origem e só. Pandora, o lugar mais perigoso do universo, era a terra natal de Lilith e ela só aceita retornar graças a promessa de uma recompensa absurdamente vantajosa financeiramente.

Em Pandora se explora uma atmosfera típica dos faroestes antigos, onde todos buscam a arca eridiana, menos a narradora heroína, ao menos não nesse início, embora haja muitas piadas em torno do fato dela ser uma caçadora da arca.

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A música de Steve Jablonsky funciona à contento em boa parte dos momentos. Ela imita Bruno Nicolai e Ennio Morricone, busca o mesmo espírito épico, mas nem sempre consegue acertar isso.

O contumaz compositor com quem Roth trabalhava, Nathan Barr, foi originalmente contratado, mas Jablonsky assumiu o papel de compositor da trilha original desse western pós apocalipse.

Depois é apresentado um robô, pequenino e tagararela, de modelo CL4FP, chamado Claptrap. Ele é dublado pelo ator e comediante Jack Black, que trabalhou junto a Blanchett e Roth em O Mistério do Relógio na Parede.

O filme é cheio de lutas e brigas, onde Lilith mostra ser agressiva e violenta ao extremo. As cenas de luta são bem coreografadas, ainda mais se considerar que a maioria dos combates é feito em CGI, mas não empolgam.

Um dos momentos mais legais é uma cena de perseguição, onde Roland tenta fugir da sua ex-namorada, pelo deserto, através de uma área onde uma criatura, chamada thresher, vive.

Esse momento é bastante singular, lembra alguns bons momentos das corridas de pods vistas em Star Wars: A Ameaça Fantasma. Mesmo que seja artificial, a sequência tem seus momentos, inclusive com gore e nojeira, referências a golden shower, em um filme que será consumido pelo público infanto-juvenil.

Esse é o momento mais asqueroso do filme, obviamente não tão agressivo quanto os momentos mais trash de seus filmes de terror.

Os cenários dos jogos e alguns personagens são contemplados. O grupo de sobreviventes são recebidos por Moxxi, uma mulher branca, de aparência pin up, personagem da veterana Gina Gershon, que esteve no recente Feriado Sangrento de Eli Roth.

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Na metade final a trama se torna uma caça ao tesouro, em busca de 3 chaves, que dariam a Tina a chance de conseguir abrir a arca sagrada, mas não sem risco. Se estabelece que talvez ela faleça ao tentar usar suas capacidades ocultas para acessar o conteúdo da arca.

Além disso, o grupo busca por um cientista, para terminar de formar esse grupo de desajustados, embora não fique exatamente claro o motivo do personagem ser necessário, eles buscam essa pessoa.

Se demarca desde o início que Lilith era órfã e que a mãe dela foi importante na busca pela arca, sendo essa uma lenda ou não. A todo momento fica patente que haverá uma revelação importante relacionado a essa personagem que nem está mais viva. Tudo fica muito óbvio.

A tal cientista é Tannis, personagem claramente neurodivergente de Jamie Lee Curtis. Ela tem um passado com Lilith, era para ter cuidado dela, na ausência de sua mãe, mas essa relação de madrinha e afilhada não aconteceu, já que a doutora simplesmente abandonou a menina com comerciantes assassinos e contrabandistas.

Lee Curtis disse em entrevista que interpretou a personagem como se fosse uma mulher autista. Isso faz sentido. Também é notável que a maioria dos personagens importantes são mulheres. Tina, Lilith, Tallis e Roxxi são a força motora da trama.

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A revelação de que Tina não é filha de Atlas parecia bem óbvia desde o início e é dada sem muito alarde, assim como sua origem de adolescente geneticamente modificada.

A trama além de ser bastante expositiva - inclusive nos laços emocionais - não parece ter qualquer receio em se mostrar tão óbvia quanto é. Logo Lilith larga a função de mercenária, por que se afeiçoa pela fofa garotinha de orelhas de coelho e a história segue assim, por pura conveniência.

Mesmo que a construção do texto seja rasa, mesmo que não haja muita dinâmica dramática, a obra diverte, especialmente pela cara de pau de não ter apego algum ao texto e pelo fato de resumir seus personagens a personalidade comum ao que os atores geralmente fazem, exceção a Curtis e Blanchett, que são atrizes mais versáteis, capazes de fazer papéis mais diversos.

O restante é rebote dos papéis comuns de cada membro do elenco, o puro suco de clichê, Hart é engraçado desbocado, Ramírez é o vilão burocrata genérico, Greenblatt é a garotinha esperta encantadora, Munteanu é o braço forte e Jack Black o engraçado sidekick que imita R2-D2.

Até as coisas genéricas, como contratempos bizarros com lava verde parecem legais, ainda graças a falta de compromisso com a seriedade, embora não impressionem visualmente.

A pergunta do início, sobre qual é o filme do Esquadrão Suicida que esse se compara é respondido é o de David Ayer, Lilith tem um rompante de considerar os amigos como uma família, mesmo tendo conhecidos eles naquele momento, repete o drama de Chato Santana, o El Diabo vivido por Jay Hernandez, conseguindo ser tão ridícula quanto esse personagem.

É difícil não gostar dele, mais difícil ainda é guardar a obra na memória para mais do que alguns minutos após sua apreciação. Acaba sendo assim uma obra de consumo apenas efêmero, nada memorável.

Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo tenta surfar a recente onda de boas adaptações de game, mas certamente fica ofuscado pela série Fallout, que trabalha melhor os temas de western pós-apocalíptico. No entanto é divertido, bobo e sem medo de ser assim, fato que o torna digno de apreciação.

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