Horror em Amityville é um filme baseado no clichê de casa mal-assombrada e também de figura paterna assassina, ainda que a intenção maligna dessa figura parenta não natural e sim, supostamente pelo menos, graças a uma força maligna espiritual. A obra hoje é mais lembrada por ser protagonizado pelo astro Ryan Reynolds, que vinha de desempenhos bons em comédia e queria modificar a imagem que tinha, para ser encarado como um ator capaz de fazer filmes sérios.
Dirigido por Andrew Douglas, o longa foi bastante elogiado na época, embora tenha sido digerido de forma diferente depois. Até então, essa versão da história dos Lutz fosse enxergada como uma obra de qualidade aceitável, hoje em dia nem tanto, também graças a fatores externos ao filme, como o desmentido de boa parte das histórias que supostamente inspiraram essa narrativa baseada em fatos.
Essa é uma refilmagem de Terror em Amityville, o clássico filme de assombração e terror familiar protagonizado por James Brolin e Margot Kidder. O longa acabou sendo também uma espécie de reboot da franquia, já que reiniciava a história da saga, depois que o filme baseado no livro de Jay Anson, se tornou uma mega série de filmes, com até então oito filmes lançados, sendo os três primeiros para o cinema e o restante para o mercado de home video..
O roteiro ficou a cargo de Scott Kosar, baseado no livro de Jay Anson. Como essa é uma refilmagem, também creditaram Sandor Stern como roteirista anterior, além de citar George Lutz e Kathy Lutz como fontes dos relatos, mesmo que o casal não tivesse qualquer participação nos lucros desse filme analisado.
Michael Bay foi o produtor, também Andrew Form e Brad Fuller. São produtores executivos David Crockett e Ted Field.
O título original é The Amityville Horror. Na Argentina é Terror en Amityville.
Houveram poucas variações de nome pelo mundo. Na Croácia era Amityville horor, na Eslováquia se referia ao horário da manifestação demoníaca, em 3:15 zomrieš!, na República Tcheca teve dois nomes, 3:15 zemřeš e Horor v Amityville.
Na Alemanha era Amityville Horror - Eine wahre Geschichte, na Itália era Amityville Horror e em Portugal é Amityville - A Mansão do Diabo.
Apesar de ter sido filmado em Super 35, os créditos finais listam esse como uma obra que tem filmagens em Panavision. As gravações ocorreram em 2004, entre agosto e outubro.
O exterior da casa foi construído em Silver Lake, Wisconsin, mas os interiores foram feitos como um palco temporário, em um prédio vazio localizado no parque corporativo de Buffalo Grove, Illinois.
A produtora conseguiu licenças de construção na vila de Silver Lake e gastou cerca de US$ 60 mil. Houve o cuidado para descaracterizar a casa, que exceto pelas janelas do sótão e pelo estilo colonial holandês, todo o resto foi mudado, para diferenciar a casa real na atualidade do que o filme mostra. Isso se deveu ao assédio que as famílias que moraram no lugar sofreram. Houve um enorme interesse turístico pela casa original, especialmente nos anos 1970, por isso a faixada foi bastante alterada, a fim de não ser mais reconhecível.
Isso foi gravado em 27618 Silver Lake Rd., Salem, no Wisconsin, também tiveram cenas em Village Pub - 899 Main Street e St. Peter's Catholic Church - 557 Lake Street em Antioch, 1500 Busch Pky, em Buffalo Grove nas cenas de interior. Se filmou em Chicago, Fox Lake, Buffalo Grove, todos distritos de Illinois.
O filme foi feito pelo estúdio Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), pela Dimension Films, Platinum Dunes, Radar Pictures, United Artists, Miramax. Teve distribuição da MGM nos cinemas, junto a Sony Pictures Releasing. No Reino Unido, foi distribuído pela Twentieth Century Fox.
Essa foi a última produção que a que a MGM lançou como empresa independente. O estúdio foi adquirido em abril de 2005 por um boom de empresas, que incluiu a Sony por um breve período. Outros filmes passaram por isso também, como Mergulho Radical de 2005 e A Pantera Cor de Rosa de 2006, já que foram produzidos pela MGM no período de transição de donos. Acabaram sendo posteriormente lançados pela Sony Pictures.
A MGM afirmou que o remake foi baseado em novas informações descobertas durante a pesquisa dos eventos originais, mas George Lutz afirmou que ninguém falou com ele ou sua família sobre o projeto.
Quando ele soube que as filmagens iniciais estavam em andamento, seu advogado contatou o estúdio para descobrir o que eles tinham em fase de planejamento.
Ele tentou embargar o longa, enviou três cartas aos estúdios, que foram ignoradas. Em junho de 2004, o estúdio entrou com um pedido de tutela declaratória no tribunal federal, insistindo que tinha o direito de fazer um remake, Lutz citou violações do contrato original. O caso permaneceu sem solução mesmo depois da morte Lutz, que ocorreu em 8 de maio de 2006.
Muito se falava que Terror em Amityville foi um filme cujo set era amaldiçoado. Isso ficou até no marketing do filme de 1979 e obviamente houve uma tentativa de estabelecer uma lenda urbana nesse.
O corpo de um pescador assassinado apareceu na margem do rio que serviu de locação, fato que ajudou a fomentar essa má fama da franquia. Melissa George disse ter tido algumas percepções estranhas no set quando as câmeras não estavam funcionando, especialmente.
Durante a produção, ela e o resto do elenco e da equipe técnica ficaram sentidos, pelo fato da verdadeira Kathy Lutz ter falecido durante o período das filmagens, antes do dia final inclusive.
Também se falou que durante as filmagens, membros do elenco e da equipe começaram a acordar às 3h15, mesma hora em que Ronald DeFeo assassinou sua família.
Samuel Bayer, especialista em videoclipes de rock foi cogitado para dirigir esse, mas recusou. Anos depois ele fez A Hora do Pesadelo, outro remake sombrio, lançado em 2010.
Douglas estreava na direção no cinema. Sua experiência era dirigindo videoclipes e documentários, junto a seu irmão Stuart Douglas. Os dois trabalharam em clipes da cantora britânica Alison Moyet.
Até então Douglas havia feito um episódio da série Arena. Depois ele dirigiu episódios de Mindhunter e o documentário Federer e Nadal: Grande Rivalidade, além de retomar a parceria com o irmão em Ronaldinho: The Happiest Man in the World, longa que narra a história do lendário jogador brasileiro Ronaldinho Gaúcho.
Scott Kosar escreveu o remake sombrio O Massacre da Serra Elétrica e o drama conhecido como O Operário. Ele fez o texto de A Epidemia, outra refilmagem de clássico de horror e Motel Bates, que adapta a história de Psicose. Ele foi supervisor de produção em Motel Bates, A Maldição da Residência Hill e Eles.
Esse é o segundo filme de horror produzido por Michael Bay, que viria ao longo do tempo, refilmando clássicos. Ele fez O Massacre da Serra Elétrica em 2003, esse Amityville em 2005, depois A Morte Pede Carona, Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo.
Ao longo do tempo, ele abriu mão de refilmar e passou a fazer obras originais que se tornaram franquias, como Uma Noite de Crime, Ouija: O Jogo dos Espíritos e Um Lugar Silencioso. Nesse Horror em Amityville ele é produtor junto a dupla de idealizadores dessa versão, Andrew Form e Brad Fuller, fundadores da Platinum Dunes e parceiros seus em boa parte dos projetos citados e também em sagas como As Tartarugas Ninjas, também nos seriados Jack Ryan e Black Sails.
Andrew Form produziu além dos já citados, também Ligados pelo perigo e Namoro a Três.
Brad Fuller produziu Garota Virtual, Um Jeito Melhor de Morrer e Horas Contadas. Depois trabalhou em Projeto Almanaque e Ouija: Origem do Mal.
Esse é o filme mais curto da franquia Amityville, ao menos os lançados nos cinemas. Sua duração é de 90 minutos, Terror em Amityville tinha duração de 115 minutos, Amityville 2: A Possessão tinha 104 minutos e Amityville 3: O Demônio com duração de 105 minutos.
Esse filme não foi exibido para a crítica antes do lançamento e foi o retorno da saga aos cinemas, já que após Amityville 3. Este também é o segundo filme de Amityville a ser rodado na proporção 2,35:1.
Nessa versão George Lutz é Reynolds. O ator usou lentes de contato especiais em muitas cenas para fazer seus olhos parecerem pretos com apenas um anel branco ao redor deles.
Ele optou por não se tornar próximo dos atores que fizeram os seus "filhos". Ele não foi rude com eles, apenas era distante, tanto que as crianças muitas vezes confidenciavam aos presentes no set que Ryan não gostava deles.
O ator disse que não queria “se apaixonar” pelas crianças. Ele fez isso para que, quando George Lutz começasse a mudar, não tivesse dificuldade em lidar com o abuso verbal e físico.
James Van Der Beek, o protagonista de Dawson's Creek foi cogitado para o papel, mas ele recusou.
Já Kathy é a já citada Melissa George, uma atriz em ascensão, que participava pontualmente de produções cinematográficas - como Cidade das Sombras, e Cidade dos Sonhos. Ela era mais conhecida por trabalhar na televisão, como em Alias: Codinome Perigo.
Essa é uma refilmagem, mas como há mudanças substanciais em relação a versão de 1979 e 2005, deixamos aqui um aviso de spoilers.
O longa já começa diferente do clássico, já que é bem mais explícito sobre o assassinato que ocorreu em 1974, no caso dos assassinatos cometidos por Ronnie DeFeo Jr.
Fora isso, a trama segue parecida com o clássico, iniciando seu drama depois de anunciar que essa é uma história baseada em fatos.
O sujeito interpretado por Brendan Donaldson, que é Ronald DeFeo, é mostrado no porão de sua casa, vendo uma fita cassete bizarra, que o inspira a subir para matar os pais e irmãos.
Douglas não esconde as influências contemporâneas nesse trecho, fazendo esse parecer em alguns aspectos ao remake de filme japonês O Chamado. Próximo do final ele ainda acenaria para Jogos Mortais, outro filme de horror famoso do início da década de 2000.
Os assassinatos ocorrem brevemente, sem reação da parte das vítimas. Como foi nos relatos reais, todos os membros da família DeFeo caem sem resistir, fato esse que combina com a realidade.
Ainda assim o verdadeiro Ronald Jr. negava incessantemente que o dia do assassinato tivesse qualquer influência demoníaca, espiritual ou algo que o valha. Isso foi dito em diversos documentários e entrevistas posteriores ao filme e livro.
Dentro do registro do filme, a última pessoa que ele matou foi Jodie (Isabel Conner), a filha mais nova dos DeFeo. O sujeito O sujeito cometeu a atrocidade em um closet e logo depois do disparo, a câmera aparece a placa da casa, escrita High Hopes, que obviamente, faz um paralelo com o otimismo suburbano, em contradição com a tragédia familiar.
Ao contrário da estrutura de roteiro de Sandor Stern em 1979, esse faz questão de explicar tudo, inclusive colocando na conta de um livro todo rabiscado a influência do mal. A ideia talvez tenha sido a de referenciar o Naturom Demonto/Necronomicon de A Morte do Demônio.
O George de Reynolds é mostrado como um pai postiço amoroso e compreensivo. Ele faz questão de cumprir a função de figura masculina positiva para o trio de filhos de Kathy, tanto que ele abraça Michael (Jimmy Bennett), o filho do meio, permite que ele se aproxime de forma íntima e tenta distrair ele quando vem a lembrança do falecido pai.
Assim como no filme original, os nomes dos filhos dos Lutz foram alterados para proteger as identidades dos mesmos.
O casal encontra uma casa, a 412 na Avenida Ocean. Claramente mudaram o número graças ao assédio que os moradores da casa real passaram nos anos 1970. Não queriam replicar isso.
O roteiro acaba sendo explícito de maneira desnecessária, inclusive sobre a arquitetura da casa. Até justifica esse detalhamento, uma vez que George é tratado como um construtor e agente imobiliário - função essa semelhante a de Steve, o pai dos Freeling em Poltergeist: O Fenômeno, outro clássico de casa assombrada.
A parte da base e o porão datam de 1692, teria em si um baita valor histórico, mesmo que as pessoas que tentavam vender a casa não soubessem disso.
Aqui a funcionária da imobiliária feita por Annabel Armour age de maneira suspeita, mas não é desonesta com os pais da família, fala que houve um brutal assassinato anos antes, mas como George não é um sujeito supersticioso, não se abala com essa notícia. Eles decidem investir o dinheiro, comprando a casa por um valor bem menor do que custaria normalmente.
É notório que essa é uma refilmagem que tem a intenção de ser séria, até por fazer parte do "movimento" de Remakes Sangrentos. Mesmo se levando a sério, há muitos momentos constrangedores, que acabam soando como humor involuntário.
Um dos trechos que prova isso é uma aparição da pequena Jodie, enforcada. Nesse ponto, ela interrompe uma cena de sexo do casal Lutz, de maneira tão tosca que soa gratuita. Para quem leva o filme a sério, é difícil não achar isso risível.
Também aparecem indícios de poltergeist e de outros fenômenos paranormais, como uma sensação de frio gratuita da parte de George, além do fato da menina Chelsea - que é interpretada por Chloë Grace Moretz - conversar com um amigo imaginário.
Sobre Moretz, foi dito na época que a atriz era tão nova na época que aparentemente ela não teve permissão para ver o filme, graças obviamente a sua pouca idade. Quando foi lançado em DVD, ela viu um corte de todas as suas cenas.
Ela estreava em uma produção de cinema e fez a maioria das acrobacias da personagem, inclusive a que ela anda no teto da casa, mesmo tendo apenas oito anos. Anos depois ela fez muito sucesso, sendo até estrela de filmes de horror, como a versão de Carrie: A Estranha de 2013.
O filme não faz questão nenhuma de deixar dúbia a situação sobrenatural. Jodie é uma aparição assumidamente fantasmagórica desde o início, ou seja, inexiste a intenção de estabelecer ambiguidades quanto a ações espirituais na casa.
Desde o início fica claro que há algo errado com o novo lar da família protagonista. Um elemento bem explorado é o sentimento de luto das crianças, sobretudo com Billy (Jesse James), o filho mais velho deles, que sente muita falta do pai biológico.
Mesmo com abertura para questões mais sentimentais, a narrativa prefere dar espaço para sequências mais sensacionalistas, com muitas aparições de fantasmas, algumas até escatológicos. O cúmulo disso é a aparição de um homem careca e nu, sangrando pela boca ao lado do filho mais novo, quando o mesmo vai ao banheiro.
Mas nada deixa o filme mais datado e tosco do que as piadas que Reynolds faz. O ápice disso envolve a babá Lisa, feita por Rachel Nichols, com ele brincando com Billy, insinuando que ele deveria aceitar a presença da cuidadora, mesmo que ele fosse grande, afinal, ela era bonita.
A escalação de Nichols mudou um aspecto do cenário. O pôster da banda Kiss não estava programado para ser assim, só entrou em cena graças ao fato da língua de Nichols ser grande.
Dessa forma decidiram fazer uma piada visual relacionada ao baixista Gene Simmons, famoso por mostrar sua língua sangrando no palco. Há outras menções ao Kiss, como em camisas dos personagens.
A equipe de produção havia encomendado originalmente uma porta de borracha para a cena de susto envolvendo a babá. Depois de filmar a cena algumas vezes, eles decidiram que não parecia realista e decidiram usar uma porta de madeira mesmo. Rachel Nichols teve que bater as mãos na porta por dois dias seguidos enquanto filmava a cena, fato que a fez se machucar. O papel dela quase ficou com Megan Fox.
O que também constrange são as cenas em que Reynolds fica sem camisa. Ele aparece com o torso nu no meio da noite, mesmo que sejam dias frios.
O sujeito mergulha na água de maneira gratuita, quase nu, mesmo que momentos antes ele tenha reclamado que o aquecedor da casa não estava dando vazão, portanto, sentia muito frio.
Não há preocupação sequer de jogar essa postura a possessão que ele supostamente sofreria, é só vaidade do interprete.
Reynolds queria que seu George tivesse uma imposição física indiscutível, queria que parecer capaz de quebrar paredes com um soco. Nesse ponto, a caracterização funcionou, mas a exibição soa apenas como um objeto de valorização egóica.
Como há muita aparição de fantasmas e de versões malignas do personagem principal, a maior parte da construção de medo parece sem propósito. Não é surpresa que a casa esteja possuída, desde o primeiro momento isso parece ser o fator primordial.
Em um documentário chamado Amityville: An Origin Story, se aborda a história que George Lutz tentou produzir uma sequência direta da versão de 1979. Ele reclamava que essa versão sepultou sua tentativa de filme.
O filme tem vários momentos inapropriados, como o fato da babá flertar com Billy, perguntando para ele se ele treina beijos, enquanto se insinua sensualmente.
Seu papel é quase uma caricatura de moça adolescente rebelde, varia entre trechos onde ela fuma maconha escondida no banheiro, além de narrar para os dois irmãos os atos de Ronnie, sobre influência das vozes em sua cabeça.
Quando o filme não se leva a sério, é absolutamente divertido.
A fantasma de Jodie obrigando a babysitter a encostar no buraco de bala de sua cabeça é tão tosca que dá a volta, se torna engraçada.
Vale lembrar que Jodie DeFeo é, para todos os efeitos, uma personagem fictícia. Ela é vagamente baseada na irmã mais nova da família, Allison DeFeo, que na verdade era uma menina de 13 anos no momento de sua morte, em vez de uma criança, como mostrado aqui. Ela foi retirada do romance The Amityville Horror de Jay Anson, que teve que mudar os nomes das pessoas reais que inspiraram o livro por motivos legais.
A narrativa segue problemática, com George tendo um rompante, um ataque de raiva descabido. Ele culpa as crianças imediatamente, depois que descobre o susto da babá, mesmo que não houvesse indício algum de culpa das crianças.
Em alguns pontos, ele lembra a versão de Burt Young para Anthony Montelly em Amityville 2: A Possessão e menos Lutz de James Brolin.
Ele passa por muitos momentos estranhos, sonha consigo mesmo sendo possuído, enxerga um doppelganger maléfico com olhos vermelhos atacando os familiares e quase se afoga em uma banheira quente...é muito difícil não rir com essas situações, até por conta de Reynolds tentar interpretar seriamente alguém perturbado, sem conseguir, obviamente.
Ainda assim há um momento de genuína tensão, que é a cena que Chelsea no telhado da casa, andando pelo fino corredor acima das telhas.
Essa sequência foi filmada com Chlöe mesmo, que estava presa em cordas, com o coordenador de ação Kenny Bates junto, colado na viga onde ela caminhava.
Bates fez todo um trabalho para ganhar a confiança da atriz mirim. Ele se desdobrava em conversar frequentemente com os pais da atriz até a brincar com ela no set, a fim de angariar a confiança da menina.
Dessa forma, na hora de filmar, ela estava bem relaxada, conseguindo andar na viga da maneira mais natural possível.
A cena ainda é pontuada pela trilha de Steve Jablonsky bem alta de um modo que James Wan exploraria igual anos depois. Apesar desse uso clichê, a realidade é que a trilha original é bem legal.
O trecho citado quase termina trágico, com ela e Kathy não caindo por muito pouco.
Aspectos bem importantes no filme de Stuart Rosenberg são abordados de maneira diferente. A figura religiosa da vez, o padre Callaway de Philip Baker Hall, demora a aparecer, só entra em cena aos 51 minutos. Considerando que o corte final tem menos de uma hora e meia, é um longo tempo mesmo.
O sacerdote tenta consertar os erros dos Lutz, já que George pratica tortura psicológica com o enteado, obrigando ele a segurar a madeira para lenha muito próximo da onde o machado corta.
O momento é tão ridículo em essência que se torna uma comédia involuntária, ainda mais quando é seguido do trecho em que ele coloca o filme caseiro da família, que é alterado por um vulto diabólico.
Melissa George está muito apagada. Ela fica completamente ofuscada quando está em tela com Reynolds. Falta protagonismo a atriz, vontade de brilhar, mesmo nos momentos em que a personagem está nervosa e no centro da tela, a moça parece apagada.
É assim também quando ela descobre que o urso que sua filha brinca foi enterrado com Jodie DeFeo, ela mal muda de expressão quando percebe que aquele brinquedo estava com um cadáver, de uma menina que morreu há tempos. Ela está de fato muito aquém do que se espera de uma pessoa em desespero pleno.
Essa acaba soando como uma versão burrificada do primeiro filme, especialmente na cena de expulsão do padre, atacado por um enxame de moscas de CGI malfeito.
Há uma associação no roteiro de Kosar com rituais de tortura que misturam práticas pagãs e um exorcismo sangrento. No porão da casa havia um homem, movido por ideais cristãos.
Ele é chamado de Jeremiah Ketchum e é uma referência a um personagem real, o coronel John Ketcham foi um empreiteiro e juiz americano, fundador de Brownstown, Indiana e era famoso por matar os nativos americanos em ações militares. Ele justificava que tinha raiva dos nativos por conta de seu pai ter sendo mantido cativo por indígenas.
Na trama, perto do desfecho, Kathy quase é morta por seu marido, que inclusive, teve o trabalho de montar caixões personalizados para cada um dos membros da família, com a mesma madeira que ele cortou antes.
O sujeito tinha uma grande dedicação ao feitio do mal, é bom salientar.
A meia hora final é confusa, repleta de coincidências bizarras na parte interna do terreno. George aparece magicamente com uma espingarda e a casa trata de colaborar com ele, trancando portas do nada, rodando parafusos em velocidade recorde para impossibilitar eles de fugir do destino trágico.
Em materiais assessórios do filme, há uma entrevista de Lorraine Warren, a investigadora paranormal e escritora que serviu de inspiração para a saga Invocação do Mal. No featurette, ela diz que ao ir até a casa teve uma visão, viu uma porta vermelha, na parte baixa da casa.
O documentário faz questão de colocar outro entrevistado dizendo que não viu porta nenhuma, no momento imediatamente posterior. Não fica claro se a intenção era louvar a mediunidade da mulher ou mostrá-la como farsante, fato é que a contradição é posta.
Lorraine não se atreve a fazer um diagnóstico sobre o crime de Ronnie DeFeo, até porque é dado que o casal Warren jamais conversou com ele, no entanto, opina sobre as motivações do sujeito, dizendo que pode ter sido afetação pelas drogas, poderia ser manifestação satânica, problemas psicológicos ou uma soma de todos esses fatores.
Há quem chame o filme de corajoso, uma vez que coloca o chefe da família perseguindo de maneira frenética os seus chegados, pondo eles em perigo real, tendo devaneios frequentes onde mata os parentes.
George claramente está possuído por algo maléfico e a solução que sua esposa tem é de desmaiar o sujeito, colocando ele em uma lancha, para fugir da influência do número 462 da rua Ocean.
É uma solução não tradicional e ainda é pontuada por um aviso de que eles nunca voltaram, que viveram na casa apenas 28 dias e fugiram sem retornar para pegar os seus pertences.
Ainda há um susto final, com Jody sendo dragada pela casa, no horário das 3 e 15, o mesmo em que George acordava, graças a influência maligna sobrenatural que inspirou os assassinatos no tom anterior.
Horror em Amityville foi bastante elogiado na época, mas demonstra quais são os problemas dos remakes sombrios, já que é uma versão mais tola de uma obra clássica, mais exagerada, mais agressiva e bem menos inventiva e corajosa. Vale a pena assistir para ver a tentativa de atuação séria de Reynolds, embora ele tenha mais sucesso em Enterrado Vivo de 2010, também por alguns momentos não propositadamente engraçados.
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