“Voltamos a Terra Média com muita alegria, só que dessa vez, exaustos.”
A ideia de adaptar ‘O Hobbit’, primeiro livro homônimo do venerado escritor J. R. R. Tolkien, está na cabeça de muitos apreciadores do seu trabalho, desde que o diretor Peter Jackson (King Kong) realizou um sonho que parecia impossível, que era, transpor para o cinema, a magnifica tríade literária, ‘O Senhor dos Anéis’. Os três filmes encantaram o mundo, ganharam vários prêmios, faturaram bilhões e foram responsáveis por aumentar, ainda mais, a legião de fãs Tolkienianos. Daquela época pra cá, muita coisa aconteceu para que as aventuras de Bilbo Bolseiro pudessem ir para as telonas. O cineasta Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno) era a escolha inicial para pilotar o projeto. Chegando até a se mudar para Nova Zelândia – local onde foi gravada a trilogia anterior -, mas devido aos problemas financeiros do estúdio MGM, del Toro resolveu ficar apenas como roteirista e passou para o próprio Peter Jackson, a tarefa de comandar a mais nova franquia da Warner. Surgindo assim como uma garantia.
Após 14 meses de filmagens, e da decisão de fazer mais uma trilogia, numa tecnologia (3D HFR) que promete revolucionar a indústria da sétima arte, chega aos cinemas, ‘O Hobbit: Uma Jornada Inesperada’. Talvez não tendo o impacto esperado, em relação ao publico, precisamente pela grandiosidade do evento, mas trazendo de volta aquela delirante sensação de regressarmos a Terra Média. E, quem já conhecia o livro, sabe o quanto simplista era esse conto, em meio a todo universo criado com seus sucessores. Para melhor situá-los, a aventura começa quando um grupo da raça dos anões, encabeçados pelo príncipe Thorin, decidem tomar de volta o reino de Erebor, conquistado há tempos pelo dragão Smaug. Para chegarem ao seu basal destino, os anões precisam de alguém astuto e atilado, que possa os ajudar na façanha. É daí que o mago Gandalf resolve chamar o hobbit Bilbo Bolseiro, acreditando que ele seria “o ladrão” da comitiva. O que, na verdade, não é tão boa ideia assim. Principalmente para o próprio Bilbo. Que só de discorrer em abandonar sua toca, para encontrar elfos, trolls e, o Gollum, é algo que ele nem mesmo pensaria.
Claramente realizado com a mesma formula estrutural vista na saga do anel, a fita mantem um excelente primeiro ato. Com uma arguciosa e eficiente narrativa introdutória, que, de maneira responsável e sem comprometer o suspense da trama, situa bem o espectador. Além de apresentar todos os principais personagens e, consecutivamente, seus objetivos. E, claro, com o sempre forte apelo visual, que encanta logo à primeira vista. Um mundo mágico, extremamente palpável, agora, mais extraordinário, devido a maiores recursos técnicos. Contudo, não é só a parte estética que exibe “inovações”. O simplório conto de Tolkien, que se resumia apenas na jornada de Bilbo e dos anões, é agora recheado por outras ramificações. Primeiro por adicionarem uma segunda trama, tão forte quanto à proposta inicialmente. O Necromancer, explorado nos apêndices de ‘O Senhor dos Anéis’, parece ser um viés em potencial para os próximos filmes. E, obviamente, o orc Azog, pouco explanado no começo do livro, mas que em ‘Uma Jornada Inesperada’ é o principal vilão. Travando inúmeras batalhas.
Os problemas começam a surgir logo no início do segundo ato. Dito isso, voltamos para o livro, e lembramos que se trata, apenas, de um opúsculo curto, de leitura rápida, e que, por mais otimista que alguém possa ser em relação a essa adaptação, é algo, no mínimo, estranho pensarmos que três longos filmes fossem mesmo ser necessários. É com isso que enxergamos os primeiros deslizes de Jackson. São claras as incontáveis cenas expositivas que semeiam o longa. Encaixadas somente para contabilizar minutos em tela e mostrar o poder dos efeitos especiais e o 3D. Um exemplo: É quando o grupo está passando por uma enorme montanha, e dois gigantes, feitos de pedras, começam a se digladiar em volta dos anões. Além de incoerente, já que com certeza os pequenos seriam esmagados, a cena consume incríveis dez minutos, com o simples objetivo deixar Bilbo à beira da queda de um barranco, e assim gerar um conflito, que, sim, é importante para a trama. Mas que poderia ser resolvido com um simples escorregão. Porém, creio que o maior ponto negativo, seja mesmo a falta de ritmo. A decaída é vertiginosa. Não no que se refere às cenas de ação, mas no caminhar e desenvolvimento da estória. Deixando o filme muito inchado e com a impressão de longo demais. Ou também no aprofundamento de cada personagem. Você termina a sessão sabendo, no máximo, o nome de três ou quatro anões. Com isso perdendo completamente o interesse por ambos.
Já entrando nos aspectos técnicos, algo que realmente vale se destacar é a fabulosa direção de arte. Estonteante e grandiosa. O cuidado com o cenário, a riqueza de detalhes, tudo pra você se sentir dentro daquele mundo. Impressiona! Muito bem acompanhada da esplendida fotografia de Andrew Lesnie, que já tinha trabalhado com o cineasta em vários dos seus outros títulos, ressaltando de forma clara e intensa toda estética fílmica. O compositor Howard Shore retorna de maneira brilhante, com uma trilha que tem fator fundamental dentro da narrativa. Já a montagem de Jabez Olssen mostra-se automática e pouco inspiradora. O roteiro assinado por Fran Walsh, Philippa Boyens e del Toro parece destinado a ter problemas, devido, justamente, a ideia de fazer um conto tão extenso. Peter Jackson, em sua direção, parece estar cada vez mais seguro, mesmo ousando, e errando, com ângulos que se destoam da ação vivida. Todavia, todo cast de atores cumprem bem suas funções. Com destaque para o sempre excelente Andy Serkis, novamente, como Gollum, Ian McKellen com o seu marcante Gandalf, Martin Freeman que interpreta um Bilbo muito caricato e, claro, Richard Armitage, que empresta seu charme ao príncipe Thorin.
Enfim, colocando na balança os prós e contras, dessa primeira parte de ‘O Hobbit’, o lado positivo, com certeza, se sobressai. Não só por nos fazer sentir de novo aquela sensação de pré-lançamento do que foram as películas de ‘O Senhor dos Anéis’. E de desembarcarmos em Valfenda para descansar novamente. Mas também por pegar uma fábula que tinha “pouca ligação” direta com os demais títulos de Tolkien, e criar um elo conveniente, podendo ser a prova que é possível adaptar os contos residentes em ‘Silmarillion’ que, em minha opinião, está todo poder e desenvolvimento de criação, da mais incrível e fantástica obra de ficção já realizada. No mais, ficaremos aguardando (ou não) os próximos dezembros com ‘O Hobbit: A Desolação de Smaug’ que será lançado em 2013 e ‘O Hobbit - Lá e de Volta Outra Vez’ que chegará aos cinemas em 2014.
Gostei muito do texto, parabéns.
Excelente crítica!! Apontou bem os problemas, mas também abordou bem os melhores pontos do filme. Muito bom.
respeito sua decisão mais para mim o filme não teve lados negativos foi do inicio au fim expetacular
concordo