Crítica: Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

“Os criadores da Pequena Miss Sunshine estão de volta, e agora acreditam em finais felizes.”

Foi há exatamente seis anos atrás que os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris - junto à maravilhosa atriz mirim Abigail Breslin - nos encantaram com a excelente comédia independente ‘Pequena Miss Sunshine’. Falando da importância de uma criança, que serve como elo, dentro de uma família extremamente problemática. Tendo com Michael Arndt conseguindo o feito de levar o Oscar de Melhor Roteiro Original, e Breslin com seus 10 anos de idade sendo indicada na categoria de Melhor Atriz, ao lado de divas do cinema, como Meryl Streep, Kate Winslet e Judi Dench. Porém, um hiato de tempo sobreveio, e muitos se indagavam qual seria o próximo trabalho dessa dupla. Agora eles estão de volta com ‘Ruby Sparks: A Namorada Perfeita’, um filme que mesmo não tendo um texto tão rico como o já citado aqui, consegue seduzir o espectador em relação a sua proposta. Mesmo sendo ela finalizada de maneira simplória.

Surpreendentemente escrito pela jovem atriz, e neta do cineasta Elia Kazan, Zoe Kazan (Simplesmente Complicado), que não por coincidência, assina o roteiro e é a principal figura do romance, o longa trás uma estória que aborda a rotina diária do púbere e talentoso escritor Calvin Weir-Fields (Paul Dano), que tem uma vida muita triste e solitária. Justamente por achar que todos ao seu redor não possuem nada de interessante que faça valer sua atenção. E, que tolera apenas conversas fortuitas com seu irmão Harry (Chris Messina), em compelidas idas à academia ou no caminho para casa. Quando então, Calvin encontra-se na situação de não ter mais ideias para o seu próximo livro e conhece uma bela garota chamada Ruby, transcendendo felicidade e energia. Que vai de encontro com suas ideias formadas e possui uma personalidade excêntrica. Exatamente a personagem forte que ele estava necessitando para seu novo conto.

Partindo desse rápido encontro com Ruby, e a pegando como referência, Calvin começa a escrever seu livro. Idealizando a imagem da mulher dos seus sonhos. Em que seus defeitos a tornam mais apaixonante. Ficando muito empolgado a cada estrofe tecida. Chegando até a “imaginar” outros encontros. E, eis que numa manhã ensolarada, como clichê, a bela jovem surge na cozinha da casa, de calcinha, em sua velha camisa flanela. A reação é de espanto, obviamente. Ele demora acreditar que aquilo realmente está acontecendo. Assim como o espectador, o próprio protagonista é descrente com sua felicidade. A partir daí, embarcamos num colapso entre realidade e fantasia. Que perdurará durante toda exibição da película. Passando por todos os estágios de uma relação amorosa. Deixando a mensagem que mesmo você podendo moldar tal parceira, problemas e conflitos acontecerão imprescindivelmente. Que na verdade tudo não passa de um falso domínio.

Reproduzindo a formula anterior, a narrativa empregada por Dayton e Faris é deleitosa. Ressaltando alegria e espontaneidade na maioria das suas tomadas. Auxiliada pela maravilhosa fotografia do sempre excelente Matthew Libatique (Cisne Negro), imprimindo aqui tons que se mesclam aos ânimos dos seus personagens. Com paletas vividas que trazem um brilho oriundo ao reflexo do sol, causando a sensação de conforto ao espectador. Ou na montagem de Pamela Martin, que mantém um bom ritmo, mesmo nas partes mais caídas da estória. Devo confessar que propriamente o roteiro de Zoe, possui alguns furos inexplicáveis, que são apoiados por muletas complementares. Tudo isso embalado pela boa trilha sonora de Nick Urata, que selecionou bem suas composições, casando acertadamente com a proposta de narração. O que não acontece na direção de arte assinada por Alexander Wei, que parece passar de forma automática. Ou até mesmo na atuação Zoe Kazan (Simplesmente Complicado), que, pelas qualidades de sua Ruby, deveria ser mais notável. Coisa que o fabuloso Paul Dano (Sangue Negro) faz muito bem, que é crescer em tela. Mesmo vivendo uma figura chata e depressiva, o ator convence a cada cena.

É visível que o maior problema dessa obra esteja em sua conclusão, que se encerra de maneira covarde, ao que realmente seria sua principal ideia de punição sobre o protagonista mesquinho. Um final feliz, ou forçadamente afortunado, é o que todos nós torcemos. Porém, para esse evento, essa não seria a situação adequada. Quando, em uma cena que beira o surrealismo, onde a compulsividade de Calvin por querer afirmar, para ela mesmo que foi ele quem a “criou”, ordenando-a a fazer maluquices e ser ridicularizada, percebemos que autora parece perder o controle da conjuntura. Não tendo mais amplitude e potencial crítico, ela encerra de forma abrupta sua estória, que poderia ser mais bem explorada. De um modo geral, absorvendo todos os outros bons elementos que permeiam a fita, esse é de fato um filme agradável, que irá ameigar todos os casais e pessoas que estão querendo viver momentos eternos de felicidade. Mas se não suporta coisas bobinhas e bonitinhas, passe longe daqui.

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2 comments

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    Igor Frederico 30 outubro, 2012 at 05:27 Responder

    É, ao término do filme eu não sabia o quê, mas sabia que não tinha me agradado por completo, mesmo não conseguindo pensar no que poderia ter dado errado. Mas realmente, os furinhos de roteiro até passam devido a fabulosa condução dos diretores e do Paul Dano, mas o final caga um pouco e dá realmente uma broxada sacana.

    Mas já fico feliz de poder presenciar momentos que ficam estampados na minha mente mais uma vez devido aos diretores (Miss Sunshine tem vários), e aqui cito dois que eu não vou esquecer: A cena citada (da provação de que ele é o criador) que mistura tantos sentimentos e força que fica até difícil descrever. O segundo momento, é quando o personagem descobre que Ruby é de fato real, e a trilha super positiva (no momento) sobe e temos o momento mais lindo do filme.

    É muito bom, mas uma sobriedade poderia tê-lo deixado melhor.

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