Crítica: Velozes e Furiosos 6

velozes6-posterApós uma bem-sucedida reinvenção, proposta em seu quinto filme, a franquia Velozes e Furiosos chega aos cinemas mais uma vez, agora em um sexto exemplar que tenta continuar o padrão estabelecido por seu antecessor. Menos tunning e corridas ilegais e mais ação envolvendo grandes assaltos, perseguições que desafiam a lógica e vilões implacáveis cujo único objetivo é o lucro. Assim, com a proposta de unir novamente todo o grupo remanescente dos longas anteriores, Velozes 6 aposta na repetição de praticamente tudo que havia funcionado na aventura que se passava no Rio de Janeiro.

Como já é comum em cinesséries que apelam para esse recurso, o novo filme pode até funcionar como diversão escapista, mas perde qualquer chance de injetar alguma imprevisibilidade na trama principal, deixando apenas para a cena durante os créditos finais, esse mérito. Mas aí já é tarde e o momento serve, simplesmente, para ligar eventos mostrados anteriormente e estabelecer algumas coisas para a, já garantida, continuação.

O filme, desde o início, não tem o menor pudor em demonstrar seu roteiro raso e já na primeira aparição do personagem de Dwayne Johnson, seus diálogos risíveis se fazem notar. Tendo como única função, neste primeiro momento, jogar uma boa dose de exposição na cara do espectador, “The Rock” entrega suas falas como se estivesse lendo um dossiê sobre sua nova parceira (vivida por Gina Carano) e um relatório policial sobre o roubo que acontecera horas antes, cometido pela gangue do vilão interpretado por Luke Evans (um antagonista que tenta soar imprevisível. Tenta.). Justin Lin, embora seja um diretor razoavelmente competente (principalmente no comando de cenas de ação) não faz milagres com textos medíocres e também não entende muito de direção de atores, fazendo com que cada conversa, piada ou tentativa de drama soe com uma artificialidade digna do pior tipo de folhetim.

Obviamente, ninguém compra o ingresso para Velozes e Furiosos esperando drama ou desenvolvimento profundo de personagens. Por isso, quando o roteiro se propõe à esses dois elementos, chega a ser ofensiva a esperança do texto em tirar qualquer tipo de reação do público que não seja relacionada à frustração de ver aqueles velhos conhecidos tentando se firmar como seres humanos que colocam a “família em primeiro lugar”. Chris Morgan, o roteirista do longa, inclusive, parece entender tanto de relações familiares quanto entende de mulheres. A nova namorada de Dom Toretto (Vin Diesel) por exemplo, exibe uma compreensão tão absurda quanto os constantes desafios à física propostos nas cenas de perseguição. “Se fosse meu ex-marido e houvesse uma chance dele estar vivo, eu iria querer saber”, diz, quando o protagonista é confrontado com a possibilidade de sua ex-parceira, Letty (Michelle Rodriguez) não ter morrido nos eventos do quarto filme. Já Mia, novamente vivida por Jordana Brewster, se recolhe em sua posição de esposa, e agora mãe, ao imediatamente sair do local onde estão seu irmão, Dom, e seu marido, Brian (Paul Walker), quando ambos começam a conversar. É um mundo de homens sarados. Donas de casa não têm lugar ali. Em um movimento ainda mais absurdo, apoia totalmente a decisão do pai de seu filho: caçar um perigoso vilão, em outro país, em uma missão cujo perigo pode ser fatal. Velozes e Furiosos 6 tem, portanto, as namoradas e esposas mais compreensivas do mundo.

Enquanto constrange o público com seu discurso sobre família complementado por todos os clichês possíveis acerca do tema (incluindo um bebê Toretto/O’Conner), Lin consegue transformar as cenas de ação do roteiro em pequenos espetáculos que, embora uma afronta à suspensão de descrença, demonstram a real vocação do cineasta. Duas sequências, em particular, exemplificam a qualidade técnica do longa. A alta velocidade das perseguições não impede o espectador de compreender o que está acontecendo e a montagem, que nos dois casos precisa intercalar entre ações paralelas dos personagens secundários, contribui para a noção de perigo constante sem comprometer a noção geográfica das ruas movimentadas (ao contrário do que acontece no recente Duro de Matar 5). Outro grande mérito é a união de efeitos práticos com a computação gráfica (assim como no anterior), que deixa a artificialidade apenas por conta dos movimentos impossíveis dos personagens principais e não para os incríveis acidentes que destroem carros, caminhões, tanques de guerra e aviões. Vin Diesel e Dwayne Johnson são elevados à condição de super-heróis, graças aos resgates, lutas e saltos protagonizados por ambos. Este último (cujo carisma é tão grande quanto seu monstruoso trapézio), por sinal, é chamado, em momentos distintos, de Hulk, Capitão América e Thor, brincadeira que define bem seu personagem, praticamente uma união destes três Vingadores. Já Diesel, quando não está dizendo coisas constrangedoras como “você não vira as costas para a família, mesmo quando alguém que faça parte dela vire para você”, está praticamente voando entre duas auto-estradas ou retirando uma bala do próprio ombro (quando poderia ter ido a um hospital, já que estava em missão conjunta com a polícia).

Outra incapacidade do roteiro é a de tirar risos do espectador com piadas entre personagens. O humor fica restrito a provocações sem graça entre Ludacris e Tyrese Gibson, que mais parecem versões humanas dos dois autobots irritantes de Transformers – O Lado Oculto da Lua. Existe química entre ambos, mas ela não é suficiente para garantir os péssimos diálogos. A platéia ri mais do filme do que com ele, o que não é exatamente um êxito.

Por fim, a grande tela do cinema encontra seu uso bem aproveitado por conta mesmo das grandiosas sequências de ação, que fazem valer o preço do ingresso. Os fãs da franquia, com certeza, irão apreciar o que o longa entrega neste aspecto e ficarão muito curiosos para o próximo, graças ao gancho deixado pela, já citada, cena durante os créditos. Infelizmente, um dos fatores primordiais para o atual sucesso da cinessérie estará ausente em sua próxima entrada. Justin Lin não retornará para a direção do sétimo, deixando uma incógnita quanto sua qualidade. Resta saber se James Wan, responsável por Jogos Mortais, conseguirá tirar algo do texto ruim de Chris Morgan. Se tiver sucesso na empreitada, a alta velocidade e a fúria dos protagonistas ainda estarão presentes nas telonas por algum tempo.

Alexandre Luiz

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