Aproveitando a estréia do divertido Anjos da Lei, vamos dar uma olhada hoje em três adaptações de seriados de TV. Optei por não considerar filmes que continuam séries, como os longas de Jornada nas Estrelas ou Sex and The City (Anjos da Lei, por sinal, faz parte dessa categoria), mas sim aqueles que tem como objetivo apresentar uma nova visão do original, formatada para o público atual.
O Bom: Missão: Impossível (1996) - Todos os quatro filmes da franquia cinematográfica baseada no seriado de espionagem dos anos 60 são muito bons. Mas apenas o primeiro tem uma coisa que o torna o melhor: o diretor Brian De Palma. Graças ao estilo do cineasta, que beira a criatividade do mestre Alfred Hitchcock, Missão: Impossível é tecnicamente perfeito, e se sai muito bem em sua trama, mesmo com a drástica alteração do único personagem remanescente da série original. A tensão criada em uma das primeiras sequências, a que se passa na festa da Embaixada Americana em Praga, é um dos melhores momentos do filme, uma daquelas criações que envolvem o alinhamento entre direção e montagem e que devem ser usados à exaustão em aulas de cinema. De Palma ainda se destaca por ter sido o único diretor a comandar um filme da franquia, a se manter extremamente fiel à narrativa dos episódios do seriado. Até a fotografia em algumas cenas, foi pensada para lembrar o visual sessentista, com uma paleta de cores digna à época.
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O Mau: As Loucas Aventuras de James West (1999) : Essa categoria foi incrivelmente difícil. Filmes ruins baseados em séries de TV são muito mais comuns do que os bons. Mas pare por alguns segundos e reflita quanto ao nome em português de Wild, Wild, West e com certeza ficará mais claro o porquê dessa bomba estar aqui. Ainda não se convenceu? Ok, vamos à uma pequena história. Nos anos 90 o produtor Jon Peters convenceu a Warner que Tim Burton era o nome perfeito pra dirigir um filme do Superman e que Nicholas Cage era o único ator capaz de viver o herói. Peters ainda conseguiu Kevin Smith para escrever o roteiro e o obrigou a colocar uma cena de ação envolvendo uma aranha mecânica gigante. O filme nunca aconteceu, mas o fetiche do produtor por essa cena era tanto que ela acabou entrando em As Loucas Aventuras de James West. Entenderam? O filme é tão ruim que é uma colcha de retalhos de péssimas idéias. Junte a isso, um vilão extremamente cartunesco, vivido por Kenneth Branagh e a falta de timing para o humor (já que a adaptação se posiciona como paródia da série) da dupla Will Smith e Kevin Kline, que por si só já é uma demonstração da incompetência do roteiro e da direção, única explicação pra que ambos não funcionem em cena. O estranho é que Barry Sonnenfeld comandou o longa, mesmo tendo feito Homens de Preto ter dado certo, dois anos antes.
O Feio: Miami Vice (2006): Nos anos 80, Michael Mann produziu um dos seriados policiais mais influentes da TV norte-americana e um dos produtos mais importantes da cultura pop. Miami Vice definiu o que o público vestia e ouvia e ainda discutia temas polêmicos e pesados, numa ambientação urbana sombria repleta de personagens dúbios. Em 2006, Mann, agora um diretor de renome, resolveu adaptar o programa para o cinema. O resultado: um filme policial adulto, realista e com uma trama aonde os acontecimentos vem com uma naturalidade e fluidez invejáveis, graças à narrativa que acompanha uma missão da equipe de narcóticos de Miami. O problema: o público tinha o material original apenas na memória e por algum motivo se lembrava apenas das extravagâncias visuais oitentistas. Muita gente reclamou que o filme era sombrio demais por ser adaptação de algo “galhofa”. Aí que está. Vice nunca foi “galhofa” e o diretor se manteve fiel à mesma visão que o fez apostar e produzir a série, que teve início em 1984. O longa com Colin Farrel e Jamie Foxx atualiza perfeitamente o submundo do tráfico pros dias de hoje e, pra quem reclamou da fidelidade, é bom ressaltar que o roteiro de Miami Vice adapta, inclusive, dois episódios da primeira temporada do programa. Confesso que o filme só não figura na categoria “O Bom” pela péssima aceitação do público e de alguns críticos desavisados que ao invés de analisarem a obra cinematográfica, colocaram em texto suas frustrações por não ter se apresentado na forma errônea que esperavam.
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