O Clã do Lótus Branco : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill Bill

O Clã do Lótus Branca : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill BillO Clã do Lótus Branco é um filme de Hong Kong que reúne características de drama, aventura e louvor cinematográfico às artes marciais. Lançado em 1980, tem direção do excelente ator Lo Lieh e é protagonizado por Gordon Liu, o famoso artista marcial chinês, também conhecido como Chia-hui Liu.

A jornada acompanha a história de um lutador que teve sua família e amigos assassinados pelo líder de um poderoso clã de práticas e lutas. A história se desenrola com ele tentando aprender novas técnicas de combate, adquirindo novas habilidades, se munindo de capacidades e sentimentos novos para enfim cumprir sua vingança.

Esse é conhecido especialmente por ter sido uma das muitas inspirações de Quentin Tarantino para Kill Bill, especialmente pelo visual de um personagem bem característico, no caso, o velho mestre Pai Mei.

É aqui que aparece o grande homem das sobrancelhas brancas, um mestre idoso e ancião, habilidoso, sábio e cruel, que seria feito por Gordon Liu no épico samurai do diretor americano.

O tal personagem havia sido introduzido em Carrascos de Shaolin, filme de Chia-Liang Liu de 1977. O tal líder de cabelos brancos foi morto, mas ficou tão popular que o estúdio Shaw Brothers decidiu criar um irmão gêmeo dele, um colega de artes, também assassino, que usa o seu nome e cargo e que deseja vingar a sua morte.

No entanto esse O Clã do Lótus Branco não é exatamente uma sequência de Os Carrascos de Shaolin. Há como assistir um sem ver o outro, até por conta da cena de introdução da obra de 1980.

Não há uma cronologia muito definida, ao contrário, os filmes da Shaw Brothers conversam entre si, mas não tem uma ideia de seriado muito definida.

Como a obra tem Gordon Liu como sua principal estrela, obviamente que inspirou o diretor de Pulp Fiction também por esse motivo, já que anos depois, o astro de A 36ª Câmara de Shaolin faria dois papéis importantes no épico western/oriental do diretor estadunidense.

Formam a equipe de produção de Lieh o roteirista Tien Huang e os produtores Mona Fong e Run Run Shaw. O produtor executivo foi Chia-Hsi Huang.

Os estúdios por trás do filme são a Film Workshop e a Shaw Brothers. A distribuição em Hong Kong foi da Shaw Brothers, a versão dublada em inglês foi da World Northal, enquanto no Japão foi da King Records.

O título original é Hong Wending san po bai lian jiao, mas em seu país natal também foi chamado de Hung Man-ding sam por bak lin gau no idioma cantonês. A versão em inglês é Clan of the White Lotus, mas no Estados Unidos também foi chamado de Fists of the White Lotus.

O Clã do Lótus Branco : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill Bill

Na França ele chama Le Poing mortel du dragon, na Alemanha foi batizado como Hong Wending san po bai lian jiao. Na Hungria é A Fehér Lótusz klánja. No México é Hong Wending san po bai lian jiao. Em Portugal é conhecido como O Clã dos Grandes Lutadores.

Lieh obviamente é lembrado por ser ator em diversos filmes, como Shaolin, o Guerreiro Invencível, A Espada Mágica e Não Brinque Com Fogo. Como realizador dirigiu além desse Mo gui tian shi em 1973, Gugje gyeonchal em 1976 e Nao mo de 1983.

Huang escreveu pouco. Além desse, fez o texto de Fu Jian Shao Lin quan em 1974. Run pela época havia feito Cinco Dedos de Violência - que popularizou a figura de Lo Lieh como ator - Ho, o Sujo, O Mestre do Kung Fu. Fong trabalhou em Magia Negra e Os Cinco Venenos de Shaolin, foi produtora executiva em A 36ª Câmara de Shaolin.

A narrativa inicia com uma abertura "tradicional" para filmes de artes marciais de Hong Kong, mostrando imagens de uma luta, sem grandes introduções dois homens contra o Sobrancelhas Brancas.

Essa sequência tenta explicar como ocorreu a morte do personagem Pai Mei - ou Bak Mei, de acordo com o idioma original - o tal ancião e mestre famoso. O destino final dele é bem agressivo e sangrento, com os dois lutadores ferindo ele mortalmente, de maneira baixa inclusive.

Os homens que mataram ele foram Hung Man Ting (ou Hung Wen Ting) de Liu e Wu Ah Biu, de King Chu Lee. A morte do sobrancelhas brancas fez com que os dois fossem presos e partir desse ponto, seguidores de Shaolin também sofreram perseguição, muitos foram presos, depois de um decreto governamental.

O comandante Ko Chun Chung, de Johnny Wang implementou as regras imperiais, permitindo a restauração do templo shaolin.

Logo outro personagem grisalho é apresentado, chamado de Priest White Lotus, interpretado pelo diretor Lo Lieh. Esse seria vagamente baseado no personagem taoísta contínuo, Pai Mei, o real Bak Mei, que era um sacerdote taoísta cujo nome traduzido seria algo como sobrancelhas brancas.

O Bak Mei história teria sido uma grande influência para o desaparecimento de Shaolin durante a Dinastia Qing. Já o personagem é tio do comandante Chung e ele pede ajuda a ele, para atacar secretamente seu inimigo.

O Clã do Lótus Branco : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill Bill

Ting Hung tem em Siu Ching, personagem de Kara Wai sua prometida. A moça em questão é uma exímia lutadora, maneja bem armas brancas, é irmão de seu amigo Biu, um bravo lutador manco, que é liberado da prisão, após ordem imperial.

Os inimigos do protagonista fazem um ataque covarde a casa de Biu aparecem homens armados, do Clã do Lotus Branco. Nesse ponto até as mulheres brigam, mas eles são muitos, em quantidade tão grande que é impossível lidar com eles.

O próprio mestre das sobrancelhas alvas aparece, basicamente para testar o kung fu de Ting e de seus companheiros.

Ele é muito superior, com poucos movimentos acerta vários deles. Curioso que ele sozinho vence vários monges shaolin ao mesmo tempo, derrota até a tática da garça e do tigre que Biu e Ting impõem, mas seus alunos apanham até para mulheres, mesmo estando em vantagem numérica. Fica claro que há como vencer eles.

Vale lembrar que o estilo de kung fu tigre também é chamado de sistema de sobrancelha branca. A base nas características do tigre foi aperfeiçoado pelo tal sacerdote taoísta Bak Mei.

As cenas onde ele não pode ser tocado ou ferido também tem a ver com lenda de Bak Mei, que treinou tanto que os golpes em seu corpo, seja de mãos nuas ou com armas causam praticamente nenhum ferimento nele.

Esse filme já mostra que Lieh é um diretor cheio de truques de início. Ele usa bem a câmera lenta em lutas, faz isso desde os vinte minutos de exibição. Pega emprestado a estética dos faroestes de Sam Peckinpah como em Meu Ódio Será Sua Herança. Ele utiliza isso para aumentar a dramaticidade dos confrontos.

O filme tem seus momentos de humor, que eventualmente irritam um pouco, especialmente o espectador que é exigente em relação a dotes dramáticos. O mesmo se pode dizer dos momentos que tentam soar mais românticos. Os atores tem pouco desempenho sentimental, brilham nos momentos de treinos e lutas.

O mestre que Lieh faz é mais esperto que seu irmão, que foi morto no início do filme por eles.

Ting se abriga na casa de um homem doente Shing (Dai Wong Lam), junto a esposa de Biu, Siu (Yeung Ching-Ching), que está grávida em um momento, mas depois o instrui em outros estilos de luta.

O Clã do Lótus Branco : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill Bill

A ajuda que ela lhe dá nos treinamentos são desenvolvidas bem vagarosamente, apesar de ser apresentada como alguém delicada e sem grande força física.

Em uma segunda luta entre o mestre o Lótus Branco e o herói shaolin restante, a tática do tigre e da garça é ineficiente novamente. Nem mesmo a tentativa de aplicar um golpe baixo, de atacar as partes íntimas do oponente, não funcionam.

Há quem defenda, em tom de piada, claro, que Lo Lieh vive um eunuco, dando que não sente dor ao ser acertado na região escrotal. Obviamente que isso não é desenrolado de maneira séria.

É mortal, ainda assim, o líder do Lótus Branco começa um ataque e não consegue, mesmo ao acertar o corpo de um de seus alunos.

É a cunhada Siu Ching, que é a fiel da balança. Ela tem uma epifania sobre como derrotar o mestre, manda Man Ting treinar com um boneco de papel e o instrui a usar golpes precisos e suaves, além de chutes leves, típicos do Kung Fu praticado por mulheres.

Cada mestre tem sua forma de lutar, é preciso estudar o adversário e ela tem a perspicácia de ler o Sobrancelha Branca dessa forma.

O Clã do Lótus Branco : O clássico de Lo Lieh que inspirou Kill Bill

Man Ting precisa cuidar do bebê e praticar afazeres domésticos, para ganhar a leveza e sutileza típica das mulheres. Essa é obviamente uma visão tacanha da feminilidade, mas há de se lembrar que o filme foi rodado entre o fim da década de 1970 e começo de 80.

A noção do filme é caricata e fruto do seu tempo. Não há como esperar que uma produção de ação gerada entre as décadas de 1970 e 1980.

Na terceira luta contra os membros do clã inimigo, Man Ting vence a Espada do Dragão, dos alunos mais fortes do mestre inimigo. Até seu adversário assume que ele melhorou, nota inclusive que ele se tornou proficiente em outros estilos.

O grande mistério posto é onde o ponto de pressão do sujeito, o lugar que se apertado, derrotaria o vilão.

Há algumas referências curiosas, como o método de cura empregado no herói. Man Ting é tratado por meio de acupuntura, ele sai do estado de quase morte para estar pronto para ação.

O herói tenta pegar o sacerdote em uma posição vulnerável, mas antes enfrenta seu sobrinho, depois invade a casa onde ele se banha, mas não acha o seu ponto de inflexão. Ele luta com nunchakus, depois luta enfim com o chefe deles, utiliza bem sua longa trança, para esconder as agulhas de acupuntura, a fim de acertar os pontos de pressão dele.

Ele chega ao cúmulo de fazer ele parecer com uma almofada de agulhas, no meio da luta. Man Ting tem a ideia de usar isso para tentar encontrar o ponto fraco do inimigo.

Ainda assim ele se desvencilha, mas em algum ponto, finalmente pega o ponto fatal, depois de enfiar a agulha de cabelo dele, nas mãos atravessadas.

Lieh filma maravilhosamente, retira o melhor do seu elenco, valoriza cada uma das belas coreografias e conta com seu protagonista para fazer dessa uma obra seminal.

O filme acaba assim que o herói vence o inimigo, tal qual ocorreria em outras obras semelhantes.

O Clã da Lotus Branco é sensacional, divertido, com ótimas coreografias de luta e um desempenho sensacional de Liu. Vale ver não só pelas referências dele, mas também por ser uma obra redonda, muito divertida e que louva a sua cultura local.

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