Cinco Dedos de Violência : O filme de Hong Kong que rompeu a bolha no Ocidente

Cinco Dedos de Violência : O filme de Hong Kong que rompeu a bolha no OcidenteCinco Dedos de Violência é um filme de ação e aventura chinês, voltado para a exploração temática do Kung Fu. Conhecido por ter ajudado a popularizar a arte marcial nos Estados Unidos e no Ocidente, é dirigido por Chang-hwa Jeong e estrelado por Lieh Lo.

Sua trama gira em torno de um estudante de artes marciais, chamado Chi-Hao, que é enviado para treinar com um novo mestre para se preparar. Seu objetivo é participar de um torneio de artes marciais e também busca impedir que bandidos locais tomem o poder e o prestígio que é conquistado ao vencer o certame.

Esse é conhecido como a obra que ajudou a difundir a moda de lutas nos Estados Unidos da América. Acabou "precedendo" a série estadunidense Kung Fu como o gatilho para uma onda de exploitation de filmes, séries e produtos sobre briga e porradaria.

O roteiro ficou com Yang Chiang, que fez Jin Iong Jian e Xue di zi. Foi produzido por Run Run Shaw, que no cinema local fez Hong Kong: A Cidade do Crime, A 36ª Câmara de Shaolin e A Vingança do Mestre e trabalhou em obras estrangeiras como Cannonball: A Corrida do Século e Blade Runner: O Caçador de Androides, onde não foi creditado.

Ele foi lançado como Tian xia di yi quan, mas é mais conhecido como Five Fingers of Death. Depois, passou a ser chamado de King Boxer, que era uma tradução literal do título original chinês.

O filme tem boas variações como Hand of Death Invincible Boxer em inglês. Na Argentina é Chih-Hao, el rey de los campeones, na Itália é Cinque dita di violenza, no Japão é Kingu bokusa: Dai-gyakuten, já no Peru é Chih-Hao, el rey de los campeones. Na Coréia do Sul é Iron Man e é chamado de A Mão de Ferro ou O Rei das Artes Marciais em Portugal.

Cinco Dedos de Violência : O filme de Hong Kong que rompeu a bolha no Ocidente

A obra foi filmada em Hong Kong e foi conduzida por Chang-hwa Jeong, que vinha de obras como O Vale das Presas, Os Seis Assassinos, Caminhos Cruzados.

Já Lieh Loh acabou se tornando um sujeito acostumado a fazer obras de ação. Entre as suas centenas de créditos de atuação, é lembrado por O Pântano do Dragão, Punhais Voadores e A Morte em Minhas Mãos. Depois fez Heróis da Dinastia, Dinheiro Sangrento e Clãs de Assassinos. Chegou a dirigir filmes, sendo o mais famoso O Clã do Lotus Branco.

A narrativa inicia com a icônica música tema, de Yung yu Chen, conhecida popularmente como King Boxer movie theme music, que é lembrada especialmente por ser reaproveitada por em Kill Bill: Volume 1 de Quentin Tarantino, além de ter servido como vinheta para programas da TV aberta brasileira, como o Superpop da RedeTv.

O início dessa canção remixa o tema da série policial Ironside ou Têmpera de Aço, programa criado por Quincy Jones, começou em 1967 e durou oito temporadas. O som conhecido como Anger Siren (que traduzido seria algo como sirene da raiva) era parte da abertura do programa, que mostrava um policial cadeirante, interpretado por Raymond Burr.

A primeira cena mostra o ancião Sung Wu-yang (Ku Wen-Chung) saindo e sendo cercado por jovens, alguns delinquentes desocupados, que agem como bandidos basicamente por não ter ocupação alguma. Eles são o retrato da juventude transviada, especialmente Wan Hung-chieh, personagem de Shen Chan que aparece com a cabeça raspada e fumando.

Além de usar esse clichê como comportamento base, ele também arruma confusão e desrespeita um homem idoso, basicamente por estar em maioria numérica. A mensagem que é passada é que ele tem costas quentes, mas sua motivação parece banal, já que ele age de maneira grosseira à troco de nada, mais por falta de ocupação ou de estímulos positivos do que por perdição de alma ou caráter.

Os alunos salvam o seu mestre de ser esfaqueado, mas ainda assim ele sai ferido. Entre esses pupilos, está Chi-Hao, personagem de Lo Lieh. Depois desse susto, o senhor indica a esse personagem que se instrua de outras formas, sugere que ele viaje para ter aulas com o mestre Suen, que seria apresentado mais tarde, interpretado por Mien Fang ou Fang Mian.

O homem diz não ter mais saúde, afirma que superestimou as próprias capacidades de instruir seu pupilo e teme que ele não progrida mais, que estacione em seus ensinamentos, por isso indica um sensei mais novo, para terminar o serviço com ele.

Uma das marcas do filme é a quantidade grande de lutas urbanas. A maioria dos embates tem uma coreografia bem pensada, com passos calculados, que são valorizados pelos acordes da música de Chen Yung-yu.

Há um apelo mais comercial e galhofeiro nas lutas, em vários pontos elas lembram o que se tornaria comum em filmes de ação de Jackie Chan em O Mestre Invencível e Sammo Kam-Bo Hung, em Operação Dragão Gordo.

Chi-Hao não se difere muito dos futuros personagens humorísticos de Chan, tanto que utiliza elementos do cenário, até usa comida para ludibriar um de seus adversários. Taca massa no rosto dele, para que ele não veja nada, depois de mostrar ser muito melhor que os opositores.

Ele decide ir até Po Ting, atrás da escola Shang Wu, que é a academia que Suen treina seus alunos. Ele não impressiona visualmente, embora Mien tenha uma grande experiência em filmes de lutas, já que fez Heróis da Dinastia, A Vingadora e Punhos de Ferro Contra os Poderosos.

Suen alega que só não dispensou o protagonista graças ao fato de ser caminhado muito até a localidade. Submete o rapaz a ser um mero auxiliar, para ensinar ele a ter humildade.

A ele é dada a função de ajudante de cozinha, mas não demora que ele ganhe instruções de combate.

Com o tempo outros personagens são introduzidos, especialmente na parte externa a academia. Quase todos são adversários, inimigos ou meros opositores, que a princípio, parecem todos iguais em motivações, mas vão se mostrando diferentes ao longa da trama, especialmente em relação a comportamento.

Entre eles, há o brigão Chen Lang de Ki-joo Kim, (assinava Chi Chu Chin), um sujeito orgulhoso, que trata de desafiar pessoas nas ruas. Ele desrespeita o protagonista, joga sua água fora enquanto ele está em um restaurante, mas Chi-Hao é frio, ele nada responde, dá de ombros por simplesmente não se importar com isso.

Dessa forma, ele é encarado como um covarde, embora claramente não seja. Ele só não se importa com aquilo, provavelmente não enxerga maldade nesse personagem, o vê como alguém que quer chamar a atenção.

De certa forma, ele tem razão, mas essa atitude não vem sem consequências. Esse é em essência um filme de conflito, não há como fugir disso, o cerne da história é esse.

Cinco Dedos de Violência : O filme de Hong Kong que rompeu a bolha no Ocidente

Cheng vai até a academia, luta com dezenas de alunos e até com o mestre. Esse trecho é um pouco confuso, visto que ele consegue ser detido pelo mestre, mas não sem ferir o homem velho. Não fica claro se foi por um descuido, ou se Sun subestimou ele, certo é que o movimento o desonrou e Chi-Hao tenta tomar as dores do seu novo dojo e de seu mentor.

O instrutor tenta demover ele da ideia de vingança, diz que ele não é páreo para esse adversário, mas o herói ignora o conselho, vai até o restaurante Tin Heung, joga bebida no rosto do opositor e consegue êxito na luta, já que vence seu rival.

Aqui começa a primeira grande luta do filme, que destrói parte do cenário em volta e abusa do uso de arames, para driblar a gravidade.

Lang é murmurador, se faz de vítima e reclama ao mestre onde está hospedado. Beira a covardia, mas teria uma virada logo depois. Nesse meio tempo, Luen promete a Chi-Hao que ensinará a técnica da Mão de Ferro, mas só se ele não utilizar em duelos particulares. Claramente é uma arma tratada como sagrada.

É dado que há um código de honra, um conjunto de regras que se relaciona a sentimentos altruístas, que valoriza o sujeito que não é egoísta e que busca o bem maior.

O mestre Meng Tung-Shan de Feng Tien, contrata um assassino, para matar as lideranças da outra escola, antes que Chi-Hao aprenda o golpe mortal. Esse é o japonês Okada, Hsiung Chao, um sujeito que se apresenta como um homem calado, mas que aos poucos mostra a sua ferocidade.

No lado dos mocinhos, o antigo aluno, chamado Han (Seok-hoon Nam) se sente enciumado, não só por perder a atenção de seu mestre, mas também por acreditar que sua amada, Yen Chu Hung (Chin-Feng Wang), desperta o amor e o desejo de Chi-Hao.

Ele decide se aliar aos inimigos, a princípio, por amor a moça, mas fica implícito um subtexto de ciúme possivelmente homoerótico. Chega a ser engraçado como uma obra que representa o ápice do pensamento heteronormativo fazer uma sinalização de ciúme entre homens, seja entre Han e Chi-Hao ou a mera sensação de rejeição do aluno que não vê seu mestre o amando como antes.

Depois da colaboração de Han, os vilões emboscam o protagonista, amarram ele, mas ao invés de matarem ele, só amarram para ferir suas mãos e dedos, com madeira. Essa é a famosa fase da provação, dentro da jornada do herói, o limiar do desespero do sujeito, que se enxerga como incapaz, como impotente.

No entanto, o golpe não o mata, Okada e seus homens sequer tentam matar o sujeito. Não fica claro se eles fizeram isso só por conta de terem seus serviços contratados para fazer tão somente a inutilização dos dedos do herói ou se era somente para humilhar o homem. Fato é que atacam no seu pessoal, tanto que matam seu antigo mestre, na frente da mocinha e interesse amoroso antigo dele, no caso, Sung Ying Ying de Wang Ping.

Chi-Hao tenta se superar, treina para recuperar o controle de suas mãos. Suen é paciente e manda ele repetir o treinamento e ter disciplina, embora receia que ele não consiga usar a palma de ferro novamente.

Os dois mentem para si mesmos, já que toda a movimentação gira em torno de repetir os bons feitos que fizeram antes.

Nesse meio tempo, Han bate de frente com o mestre do clã adversário, Meng Tien-Hsiun, de Feng Tien (A Fúria do Dragão e Alvo Duplo). Ele manda Okada brigar com ele e é nesse ponto que o japonês arranca os olhos de Han, em uma luta.

Esse por si só é um momento histórico do cinema, quase memético, já que foi tão repetido e usado fora de contexto que se tornou popular na internet. Ele é, de certa forma, reproduzido em Kill Bill, na personagem Elle Driver de Daryl Hannah. O trecho original beira o cômico, não intencionalmente, mas se enxergado em sua época, dentro do contexto, é simplesmente brutal.

Cheng Lang busca a redenção e avisa ao herói que há lutadores japoneses escondidos, para matar Chi-Hao. Esse trecho insere ainda mais o filme dentro do corpo de clichês de obras de ação,

Como nesse ponto ele está recuperando os movimentos das mãos, a ajuda é bem-vinda, assim como as armas que o antigo opositor lhe confere. Aparentemente, Chen achou que aquela era uma armadilha desonrosa e covarde, mas na verdade, é mais um esforço de filme de kung fu em vilanizar figuras japonesas.

Ainda no quesito redenção, Han também comete a sua, emboscando boa parte dos vilões em um ambiente escuro, onde teria alguma vantagem. Como a ideia aqui é apelar para um certo moralismo, naturalmente que o personagem tem um fim trágico, que até contamina algumas pessoas ao seu redor. O sacrifício enfim é aceito e ele pode retornar ao hall dos heróis.

O momento da luta dele é icônico, especialmente por estar vendado. Seria copiado e laureado em dezenas de filmes, séries, animes e seriados animados ocidentais.

Cinco Dedos de Violência : O filme de Hong Kong que rompeu a bolha no Ocidente

A trama é tão rocambolesca que o tal torneio para o qual Chi-Hao se prepara ocorre quase no final, ainda assim, brevemente. Em alguns pontos esse trecho lembra o certame de Operação Dragão, que estrelava Bruce Lee e John Saxon ou Bloodsport ou O Grande Dragão Branco, que trazia a ribalta Jean-Claude Van Damme como herói de ação.

As mãos de Chi-Hao ficam vermelhas e ele vence o torneio, mas não sem mais um nível de provação, já que o seu novo mestre é apunhalado em meio as comemorações.

Aqui o clichê do herói sofredor extrapola alguns níveis de aceitação, parece forçado e tosco, resultando em uma tentativa de injetar melodrama em uma ação que deveria servir unicamente ao intuito de mostrar lutas belas e bem coreografadas.

No entanto o filme não chega a se perder, apesar desses trechos beirarem o enfado e o cansaço do espectador médio. Para piorar Chi-Hao descobre logo depois - convenientemente - que seu outro mestre também morreu. É hora então de acertar as contas com os vilões.

O mestre malvado mata personagens inocentes. Até consegue deter Han - como foi falado antes nesse artigo - mas não tem coração para enfrentar o golpe da Mão de Ferro, tanto que comete harakiri, se suicidando antes da luta com o herói.

As atenções do público se voltam então para uma briga final, uma luta de certa forma inesperada, envolvendo o herói e o cruel japonês Okada, que se utiliza de uma espada samurai.

Cinco Dedos de Violência é sensacional, pop, violento, rápido e divertido. Termina de maneira abrupta, logo depois da morte do vilão e acaba dessa forma sendo charmoso, justamente por validar o sentimento de vingança, que o tempo inteiro foi negado, mas foi finalmente atendido. Assim que ele é atingido, acaba. É uma obra fácil de assistir, como um hit chiclete, cheio de qualidades que moldariam o cinema de arte marcial ocidental, que ainda possui uma montagem ágil e que é apetitosa até para as plateias mais moças e mais desatentas atuais.

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