O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90

O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90O Maníaco do Parque: Um Serial Killer Brasileiro é mais um esforço do serviço de streaming da Amazon em contar uma história brasileira de crime real, basicamente para trazer atenção e espectadores ao seu serviço o Prime Video.

Longa-metragem lançamento de 2024, é uma obra de Maurício Eça, baseada no famoso caso de Francisco de Assis Pereira, um homem frio e manipulador, que levava suas vítimas para um parque estadual na cidade de São Paulo para humilhar, praticar o mal e violar suas vítimas.

É conhecido também por ter o famoso e muito competente Silvero Pereira como o ator principal e como o personagem título. Escrito por L.G. Bayão, produzido por Marcelo Braga, tem Danilo Herrera como produtor executivo e Angelo Ravazi como produtor de linha.

A aposta desse foi em investir em parte da equipe que esteve à frente da adaptação da trilogia sobre o caso de Suzana von Richtofen. Tal qual ocorreu nessa trilogia esse também é baseado em uma história real, sobre um assassino em série famoso, que atacou e matou várias mulheres nos anos 90.

Aqui ele entra em rota de colisão com uma jovem jornalista cheia de ideias, que vai em busca da verdade, tentando escrever um artigo diferenciado, que daria razão a sua busca profissional, responderia aos seus ideais e uniria o seu destino ao do seu falecido pai, com quem tinha uma relação conturbada, de muita ausência.

Nos três filmes a respeito do parricídio que ocorreu na família von Richtofen, Maurício Eça foi muito criticado por ser reducionista, por exageros nas atuações - em especial com Carla Dias, que é boa atriz, mas estava bem exagerada no papel título - e por ser bastante misógino em suas conclusões.

Aqui o foco é inteiro outro, se busca trazer uma justiça sobre as vítimas, analisando a história pelo olhar de uma mulher obstinada, interpretada por Giovanna Grigio, que disputa com Silvero o posto de protagonista do filme, embora o ator seja de fato o papel famoso aqui proposto.

No Brasil o longa-metragem teve exibições no Festival do Rio no feriado de 12 de outubro de 2024. Para o resto do público estreou no dia 18 de outubro, no Prime Video.

O título original é O Maníaco do Parque. Teve poucas variações pelo mundo, como The Park Maniac nos países de língua inglesa, ou El maníaco del parque no México, Espanha e demais praças cuja língua materna é o espanhol.

O material de divulgação usou e abusou das figuras de seus atores principais. É possível achar pôster de Francisco de Assis estampando, como também da personagem fictícia Elena, que é o motor da história.

O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90

Essa é uma produção da Santa Rita Filmes com distribuição da Amazon Prime Video.

O diretor Maurício Eça explicou que a ideia do filme era apresentar duas narrativas, que em algum momento, se entrelaçariam, ou seja, seria a história de Francisco de Assis Pereira revelando as facetas de seu cotidiano, com a sua rotina de trabalho como motoboy, como um patinador talentoso e bem-sucedido (autointitulado Chico Estrela) além de claro mostrar a mente perversa que atacava mulheres.

A outra trama tem a ver com a intimidade de Elena, que quer ser relevante em sua ocupação de comunicação, batalhando uma pauta que une a urgência da atualidade e os seus ideais mais bonitos.

Eça considera que deveria destacar todos esses detalhes para contar a história de forma completa, é curioso que no caso de Suzane von Richtofen ele escolheu falar em dois filmes sobre as versões dos criminosos. Aqui tudo é reunido, tanto a jornada de Francisco a toda a discussão sobre a realidade que valorizava e glamouriza a violência dos anos 1990, especialmente quando se explorava páginas criminais.

Houve uma preocupação em trazer uma perspectiva mais feminina à narrativa (mesmo que o texto seja de um homem) dado que a história de Francisco é brutal. Ao retratar um caso tão famoso, o diretor destacou a necessidade de fazer escolhas cuidadosas sobre como apresentar os eventos.

Sua ideia era fugir da exploração de uma violência gráfica ou gratuita, para focar em como as vítimas se sentiam, entre as que sobreviveram, além de mostrar a desolação familiar e de amigos próximas das vítimas de abuso e morte.

As cenas de abuso foram elaboradas com cuidado, o diretor mencionou que tentou fazer com que a sua produção fosse "delicada" devido à profundidade dos temas abordados. Tudo isso foi feito em atenção a cooperação com as vítimas vivas e com parentes das mesmas e das falecidas, que estivera inclusive como entrevistados para o seriado O Maníaco do Parque: A História Não Contada.

Maurício Eça é um autor conhecido por videoclipes de artistas famosos, como Kelly Key, Capital Inicial e Sepultura. No cinema, dirigiu Carrossel: O Filme, O Menino que Matou Meus Pais, A Menina que Matou os Pais, A Menina que Matou os Pais: A Confissão e Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo.

L.G. Bayão também é experiente na função de roteirista. Seus créditos incluem O Doutrinador, Tudo Acaba em Festa, Detetives do Prédio Azul 2: O Mistério Italiano, Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral, Minha Fama de Mau, Kardec, O Doutrinador: A Série e Aumenta que é Rock'n'Roll.

Marcelo Braga foi produtor em A Garota Invisível, A Menina que Matou os Pais, O Menino que Matou Meus Pais, Hora de Brilhar, Barraco de Família, foi produtor executivo em Gostosas, Lindas e Sexies, na série A Roupa Ideal e em No Ritmo da Fé.

Danilo Herrera Fonseca tem experiências especialmente com produções brasileiras da Amazon. As obras que se destacam são Um Ano Inesquecível: Primavera, Um Ano Inesquecível: Verão, Um Ano Inesquecível: Inverno, Um Ano Inesquecível: Outono e O Primeiro Natal do Mundo. Foi coordenador nas séries Lov3, Manhãs de Setembro, Eleita, O Presidente, Dom, Novela, Cangaço Novo e Amar é Para os Fortes.

Silvero foi uma escolha pessoal do diretor. O ator ficou surpreso ao receber o convite para um papel tão diferente do que vinha construindo em sua carreira.

Ela passou por uma preparação cuidadosa que incluiu a sua caracterização e um aprofundamento nas camadas psicológicas do personagem.

O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90

Ele é famoso por ser um ator muito eclético, além de ser muito talentoso. No cinema, fez Serra Pelada, Copa 181, destacou-se como o fora da lei queer Lunga em Bacurau, além de ter trabalhado em novelas globais, fez Nonato em A Força do Querer e Zaqueu no remake de Pantanal.

O diretor sempre deixou claro em entrevistas que a verdadeira protagonista da história é Elena e não Francisco. Todas as movimentações da trama apresentam ela como a figura central, enquanto Francisco assume um papel de antagonista.

A escolha do nome ser O Maníaco do Parque é obviamente para capitalizar em cima dos crimes, para ganhar publicidade (já que foi um caso muito famoso) e também para despistar o público, com a surpresa de que a jornada do herói é da mulher e não do assassino.

É, portanto, uma resposta à culpabilização das vítimas, que ocorreu demais na época que o caso estourou, ao menos é o que ele tenta.

Grigio revelou que tem uma forte afinidade com o gênero policial, o que a motivou a participar do projeto. Ela declarou que sempre teve curiosidade por estudar as diferentes formas do comportamento humano, também dos psicopatas.

Para a atriz entrar em contato com essas histórias faz ativar um alerta, deixando o público atento para situações semelhantes, ajudando a prevenir possíveis crimes semelhantes. Ela foi convidada pelo diretor para interpretar o Elena, depois de ter trabalhado com ele na comédia Vai Ter Troco, lançada em 2023. Eça a elogiou, disse que ela se entregou completamente ao projeto, criando uma forte conexão com seus colegas de elenco.

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Grigio é atriz há muito tempo. Foi ela a versão de Milli no remake de Chiquititas dos anos 2010, esteve também na versão brasileira de Rebelde, na novela Êta Mundo Bom!, Malhação e seu spin off As Five, da Globoplay. No cinema fez Eu Fico Loko, Cinderela Pop, Vai Ter Troco, Passagrana.

A narrativa inicia com um logo personalizado de 100 anos da Metro-Goldwin-Mayer, a MGM, dita aqui como uma companhia da Amazon.

Depois dela, sem grandes introduções, aparece Silvero Pereira patinando, ao som de What a Wonderful World, na animada versão de Joey Ramone, em um claro apelo ao público internacional, já que inicia mudo, sem mostrar uma fala sequer em português, destacando o personagem patinando de maneira criativa e bem executada.

Enquanto ele patina, aparece um efeito que deixa tudo vermelho em tela, como se fosse sangue sendo espalhado pelo chão, contaminando a imagem, no anúncio do nome do longa.

Silvero patina bem, o ator tomou aulas para conseguir não só praticar bem as manobras na frente das câmeras, mas também para entender como era a cabeça do seu personagem. Nesse início ele aparece entrando na mata de um jeito calmo, voltando com outra feição depois, tal qual um monstro.

Logo aparece um cenário de uma redação de jornal, bastante tradicional. Esse era o Notícias Populares, um jornal real, mas que é tocado por personagens fictícios. Há muitas semelhanças entre esse veículo e o homônimo real,

A Elena Pelegrino de Grigio tenta emplacar uma matéria sobre uma mulher atropelada pelo marido para o seu editor. Ela não é muito próxima dos superiores, conversa de igual para igual com o fotógrafo Beto (Christian Malheiros) a aconselha a nem levar a pauta.

Vicente Carvalho, o editor interpretado por Marco Pigossi acha a reportagem boa, mas não o suficiente, já o veterano jornalista que Bruno Garcia faz, Zico Brandão, acha que falta o principal: o motivo da mulher ter sido atropelada.

Aqui fica bem claro que o filme vai seguir a tônica de desconstruir o machismo vigente na sociedade brasileira dos anos 1990 - a trama se passa em 1998 - que condenava a mulher sempre que possível.

Como dito, o Notícias Populares era um jornal de verdade, apelidado como NP, foi um jornal que circulou em São Paulo entre 1963 e o começo de 2001.

Era conhecido por suas matérias sensacionalistas e mentirosas e por manchetes violentas e sexuais, também por explorar muito as tragédias midiáticas do país. É considerado até hoje "sinônimo de crime, sexo e violência, seu slogan era "Nada mais que a verdade" mesmo que boa parte de seu conteúdo fosse claramente falacioso.

O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90

Seria Elena uma versão da repórter Fátima Souza muito idealizada?

A jornalista estava na época trabalhando para o grupo Band, deu boas declarações ao já citado documentário de true crime da Amazon, mas não há comprovação de que ela é a base para a personagem, embora seja dado que a personagem é sim idealizada em cima de pessoas reais, embora oficialmente não se fale a respeito.

Elena tenta vencer o machismo da época, considerando o tratamento midiático dado a quem sofreu os ataques de Francisco, faz todo sentido dar de cara uma personagem que vai lutar por melhor representação da mulher na trama, só não precisava ser uma caricatura.

Francisco é elogiado no trabalho, por ser rápido e eficiente. Seu chefe, Nivaldo Pereira interpretado por Xamã vive utilizando ele como exemplo de conduta e até o convida a conhecer sua família. O rapaz se louva em uma cena bem peculiar, que começa no estilo videoclipe, mas se desenrola de maneira estranha, ficando claro que ele se masturba e depois se beija no espelho.

Eça não é bom diretor, mas aqui há um cuidado maior com o visual e com a criação de atmosfera. A fotografia de Marcelo Trotta e a direção de arte de Denise Dourado funcionam à contento, assim como o figurino de Tica Bertani, que condiz bastante com o da época, especialmente no modo como Francisco se vestia, utilizando inclusive a famosa camisa de time de hockey, Boston Bruins.

O Maníaco do Parque : A versão panfletária do famoso caso dos anos 90

Em entrevistas da época, colegas e familiares diziam que Francisco de Assis não tinha muitas posses. Ficava semanas com a mesma roupa, então, quando conseguia uma blusa nova, utilizava à exaustão, como se falava popularmente, usava elas até gastar. Portanto, replicar o figurino de como ele aparecia em público faz sentido.

Curiosamente a questão das roupas da época não compreendem Elena, que se veste tal qual era modo nos 2010 e 2020. Todas as suas atitudes denotam que ela é uma menina avançada de outra década, como ela é tratada assim, virtuosa e evoluída em comparação a todos, talvez seu estilo queira dizer algo, apelando para um modo de conduta futuro.

Há um cuidado de não sexualizar as vítimas, em um esforço tão grande por não mostrar nenhuma nudez ou violência que chega a descaracterizar o personagem.

Francisco é malvado e o ator consegue ser tanto a figura convincente e faladora, que faz o que for preciso para levar as vítimas para o abate, quanto representa bem a face demoníaca do homem violento e abusador, mas como ele não machuca ninguém em tela tirando um soco ou outro, boa parte de sua malignidade parece ser apenas um exagero de mídia e não uma realidade palpável.

Silvero parece misterioso, nervoso e seguro, tudo isso em um só homem.

Causa medo na primeira impressão, mas também consegue ser digno de pena, por isso é plausível acreditar nele como alguém que tem lábia, mesmo sendo tão mal-apessoado e tão feio quanto as pessoas falavam.

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Enquanto Francisco procura cuidadosamente as meninas que atacará, as forças locais se unem, os poderes giram em torno de sua perseguição.

Na redação Elena intercepta a notícia de uma das vítimas de Chico. Para isso, finge que é assistente de Zico, depois que o mesmo sugeriu isso, quando tentou menosprezar seu modo de pensar e agir.

Depois dessa tomada de decisão ela vai para a mata, no meio do parque estadual, para ver o corpo de uma delas e várias ossadas. Na hora que Beto aperta o gatilho da máquina pede para não fotografar o rosto, mostrando assim que é virtuosa, boazinha e justa.

Esse tipo de conduta jamais ocorreria plausivelmente no Notícias Populares, fica claro que Elena não tem o perfil dessa redação. Ainda assim, arrisca e ganha a capa do dia seguinte, inclusive havia dito ao amigo que se desse algum problema, ela assumiria que tirou as fotos.

De maneira conveniente e forçada ela bola o nome pelo qual o matador ficaria conhecido: Maníaco do Parque.

As soluções são fáceis, a menina tem todas as ações caem do céu. Ela tem a conveniência de achar a fonte da delegacia que era de Zico, ao chegar na mata descobrem não um, mas vários corpos vítimas de feminicídio. Considerando que na versão real foi Francisco que indicou o local onde uma das mulheres estava enterrada, é impressionante como a polícia é tão eficiente.

A desculpa para essa mudança foi uma testemunha, que de repente, encontrou uma pipa (ou papagaio) no meio da mata. O verdadeiro Francisco de Assis era muito metódico, dificilmente seria pego tão facilmente, não enterraria um corpo tão mal quanto aparece aqui, escolheria um lugar da mata difícil de adentrar, sem interferência humana, evitaria bandeiras e possíveis erros. Ele cobria bem os seus rastros, foi pego basicamente por conta das vítimas sobreviventes, essa é das suspensões de descrença uma das menos irritantes.

No filme, Francisco é mais burro, enquanto a polícia é mais genial, ainda que o Delegado Medeiros de Augusto Madeira seja pintado como um homem machista e misógino, quase como um vilão, cuja postura só não é mais falsa e caricata do que a sua peruca.

Elena passa boa parte do tempo conversando com a psicóloga Martha, sua irmã, interpretada por Mel Lisboa. Apesar de muito diferentes, elas são unidas.

Ambas tiveram uma convivência conturbada com o pai delas, que também trabalhava com comunicação.

É dado que Elena o considerava um parente relapso e o fato dos dois compartilharem a mesma profissão dá notas de que a motivação e obstinação dela de girl power é parte do clichê supostamente psicanalítico de problemas com o pai (dad issues) mas isso é tratado de uma forma bem desimportante.

Mel Lisboa está bem - como é de costume, já que é uma excelente atriz - mas além de mentora é também uma figura de exposição. A irmã caçula quer saber formas de se aproximar do tal serial killer e ela imediatamente fala que psicopatas são muito egocêntricos e tem um talento único, fosse para arte ou para algum esporte.

Basta uma linha de diálogo ou duas, para reduzir o escopo e encontrar algum perfil para o tal Maníaco. Elena não tem muitas pistas, não faz grandes estudos, não tem nenhuma sacada, ela tem apenas essa conversa e um palpite, que evolui para uma epifania.

A partir daí fica claro que a jovem vai tentar encontrar ele, mesmo que seja difícil em um nível tal qual encontrar uma agulha em um palheiro, que vai se colocar em risco, tendo apenas sua coragem, obstinação de conseguir vencer com seus ideais e a certeza de que esse sujeito, por não sentir remorso, não vai parar.

O espectador fica receoso não exatamente por ela, mas pela possibilidade de se engrossar o número de vítimas, já que se ensaia a possibilidade dela simplesmente se fingir de moça incauta para emboscar ele. Isso não acontece, claro, mas se flertou com a possibilidade.

Ela não parece de fato preocupada, é possivelmente tão vaidosa quanto Francisco.

Dessa forma, a versão que Xamã fez para Where Did You Sleep Last Night, que deveria evocar a urgência do fato de meninas estarem desaparecendo, se perde, fica parecendo um hino romântico, que une almas iguais como as dos personagens de Silvero e Grigio.

A jornalista segue caçando pessoas próximas, encontra Luciene (Ingrid Gaigher) a prima de Cristina (Bruna Mascarenhas) a vítima que foi o foco em um primeiro momento, com grandes semelhanças com a vítima real Selma Queiroz.

Elena tem uma outra epifania, apresentada claro de forma super dramática, fixando na tal matéria real dos patinadores.

A questão é que a pista dos patins inexiste aqui, é puro chute graças ao fato de Martha ter indicado que psicopatas tem hobbys perigosos. Na história real acharam essa pista graças as sobreviventes, que até esse ponto da trama, não aparecem. Fica a impressão de que alguma cena mais expositiva caiu na sala de edição.

É tudo muito rápido, Francisco não só queimou a foto, como deixou o recado escrito a mão - idêntico ao real, diga-se - do lado do jornal com seu retrato falado. É muito conveniente esse momento, além de ser muito mal escrito.

Elena é obstinada demais, não se colocou como vítima, mas foi a São José do Rio Preto, atrás da mãe do assassino, Dina Maria, interpretada por Nani de Oliveira. Ela descobre que o apelido dele era Tim, descobre a humanidade dele, que largou tudo para patinar.

Enquanto isso, Francisco se livra da moto e dos patins, joga fora em uma ponte e se torna caroneiro. É bastante fácil sentir o drama do personagem, já que Silvero é muito digno de elogios, mas a rotina dele a partir desse ponto é protocolar e muito óbvia: ele se reúne com alguém que o ajuda e acaba quase caindo na tentação de causar mais mal as mulheres.

O enredo do filme é cortado não só pelos noticiários do assassino, que incluem até Gilberto Barros interpretando ele mesmo, claramente décadas mais velho do que era. Também se destaca a busca pelo penta, afinal, era época da Copa de 1998, da seleção de Zagallo.

Elena é a única que de preocupa em trabalhar no caso de Francisco/Chico/Tim. Seu chefe comemora que o Notícias Populares cresceu em São Paulo, que aumentou o ganho publicitário e não quer parar de fazer matérias a respeito do caso.

Nem eles e nem a polícia querem Francisco preso, já que ele é o ganha pão do jornal, além de desviar a atenção do povo para possíveis desmandos das autoridades e até das forças políticas.

De fato, o circo midiático gostava dessa figura, sobretudo a cobertura televisiva. Figuras como o próprio Gilberto Barros, Gugu Liberato, Márcia Goldschimit, Marcelo Rezende e até o austero Fantástico exploraram a história, mas aqui é tudo reduzido a um jornal e pequenos enxertos de televisão, que imitam os sucessos da época com uma estética pobre ao extremo, diga-se. É reducionista.

A jornalista consegue avançar na caracterização de menina impossível de conter, até atrapalha a venda de um apartamento que era de seu pai (e que Martha tentava vender) fazendo na parede uma linha de perseguição aos rastros de Assis.

Martha, como grande frasista que é, chama isso de Santuário Macabro.

Ela segue sendo uma metralhadora de conceitos, a principal figura de exposição dramática, que narra os métodos e a frieza de como um assassino psicopata age.

Se Elena é uma heroína, ela certamente é o seu sidekick e o seu suporte, já que ela dá todas as pistas de como é difícil identificar uma pessoa que faz o que ele faz, já que não demonstra nervosismo. Ironicamente a cena seguinte é de Francisco tenso e nervoso, ao ser inquerido por um policial, em um ônibus.

Uma ex-namorada, chamada Tainá (Olivia Lopes) liga para a redação. Ela diz que morou com Francisco, em Diadema e Elena identifica que não é um trote pelo fato dela citar o apelido Tim. Ela não sabe o paradeiro do assassino, mas entrega um diário a jornalista, que, novamente, é uma conveniência atroz.

Se não ficou claro que a intenção do diretor era imitar o filme Zodíaco de David Fincher, aqui fica muito claro, especialmente na obsessão, de ir atrás do assassino de qualquer forma. Lembra também a perseguição que o policial de Danny Glover, David Tapp em Jogos Mortais.

A jornalista idealista decide entrevistar as mulheres que sobreviveram. O editor acha má ideia, mas o velho Zico também tentou isso. Elena se convence de que conseguirá as falas, mas só do jornalista experiente ter tentado o mesmo fica claro que a ideia não era tão ruim assim.

A parte das vítimas falando é bem delicada. As atrizes são muito boas, Talita Younan faz Estela Magalhães, Arianne Botelho é Lúcia, Nathália Falcão como Vera, Bruna Carvalho faz Beatriz e Mariane Amâncio foi Aline. Elas representam bem, mesmo com tempo curto de cena. Mereciam mais destaque aliás, se tivessem mais tempo certamente diluiriam a chatice da protaogonista.

Cada vez mais Elena é mostrar o avatar da justiça social, muito insuportável. Francisco quer ser entrevistado por ela. Depois dela mesmo ter se convencido a se afastar, decide ir, só para mostrar que não aprendeu nada, apesar do discurso anterior. Ela enfrenta Francisco, faz ele revelar sua verdadeira face, manda ele calar a boca.

Se havia algum compromisso com verossimilhança, aqui se abre completamente mão disso. Se ela tivesse alçado voo ou quebrado a parede com um soco pareceria menos exagerado que esse momento.

A tentativa de forçar um ponto de vista da vítima é obviamente algo importante, mas tentar valorizar isso com situações forçadas, frases feitas e pré-programadas parecem só encheção de linguiça.

Esse acaba sendo ligeiramente melhor que os filmes de Suzane von Richtofen, mas cai em vários dos mesmos erros de concepção, dando pouca importância a riqueza dos crimes reais.

O Maníaco do Parque tem esse nome, mas é um filme sobre uma heroína idealizada, irreal, montada milimetricamente para ser boa demais para ser alguém de verdade. É o típico filme publicitário, que (outra vez) desperdiça uma história real sangrenta e dramática, dessa vez para atender uma agenda importante e que perde força justamente por ser malconduzida como é.

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