Quando encerrou sua metade de temporada em dezembro, Arrow deixou os fãs aflitos com um cliffhanger angustiante envolvendo seu protagonista. Claro, nenhum espectador em sã consciência realmente acreditou que Oliver Queen iria morrer, mas a série prometia grandes reviravoltas em seu retorno. Pois bem, com Left Behind a adaptação entrega mesmo uma mudança em sua dinâmica, mas, por bem ou por mal, peca por não conseguir segurar algumas revelações.
O episódio já começa com uma sequência de perseguição em alta velocidade, comandada com a competência habitual do diretor Glen Winter, que encena os momentos de ação sempre deixando a noção espacial em primeiro lugar, sem perder o ritmo. Com a câmera sempre em movimento frenético, o público testemunha Arsenal e Diggle, usando o manto do Arqueiro, em ótima dinâmica, tanto na sincronia de suas ações, quanto na sintonia dos diálogos. E é ótimo que o roteiro coloque um pouco de humor na introdução da trama, porque conforme o episódio evolui, o drama passa a falar mais alto.
A estrutura de Left Behind faz jus ao título ao colocar os personagens encarando a possibilidade de Oliver ter ido dessa para a melhor. Da negação de Felicity, para a aceitação de Roy e o sentimento de culpa de Diggle, o roteiro dialoga com vários níveis de luto de forma convincente e até tocante, principalmente quando foca no "guarda-costas" do protagonista. David Ramsey ficou um pouco apagado da segunda temporada em diante e finalmente os realizadores dão um destaque maior para seu personagem com algo que não está relacionado às suas habilidades como ex-soldado. Seu diálogo com Laurel nos minutos finais do episódio é esclarecedor quanto a posição de Diggle na equipe, além de oferecer carga dramática sem parecer forçado ou exagerado. Emily Bett Rickards também tem grandes momentos, principalmente os que divide com Ray Palmer. Ao vislumbrar a possibilidade da morte do Arqueiro, seu temor é que o mais novo bilionário de Starling City siga um caminho semelhante com a ideia de combater o crime. A terceira temporada está dando a chance para Felicity mostrar outras facetas, mais sensíveis, que fazem bem à personagem para que não fique sempre caracterizada como simples ajudante ou a hacker que faz referências à cultura pop.
Este retorno para a segunda metade do terceiro ano também é feliz em não apressar algumas coisas, como o surgimento de Brick (Vinnie Jones, muito à vontade) e sua busca por dominar os Glades, ligando sua ascensão ao que a série havia mostrado na estreia da temporada. Quando começou, o Time Arqueiro estava orgulhoso por mandar vários criminosos para a cadeia. Como em uma espécie de rima narrativa, Diggle, Felicity, Roy e Laurel vêem seus esforços indo por água abaixo com a destruição de evidências comandada pelo novo vilão. A boa ideia do episódio (que de acordo com os produtores é a primeira parte de um arco de três) reside em fazer os heróis perderem. Oliver está morto e todo o trabalho da equipe parece ter sido inútil. É hora de desistir? Se o tema central da temporada é a busca pela identidade, é hora dos personagens decidirem quem realmente são.
Enquanto tudo isso acontece em Starling, o espectador também acompanha a continuação dos flashbacks em Hong Kong, em um de seus momentos mais relevantes, por conta da ligação com a trama paralela sobre quem resgatou o corpo de Oliver após a batalha com Ra's Al Ghul. Por outro lado, essa subtrama é um tanto problemática por entregar a situação do protagonista. Como dito acima, é óbvio que o seriado traria seu herói principal de volta, mas talvez fosse mais interessante brincar com a ideia e fazer o espectador sentir também o peso da falta de Stephen Amell. O caminho mais fácil é seguido aqui, no entanto, com a cena final mostrando seu destino.
Porém, nada pareceu mais apressado quanto o desenvolvimento de Laurel. Estava tudo indo muito bem, com a personagem descobrindo sobre a "morte" de Oliver e encontrando os equipamentos da Canário. Seria um ótimo vislumbre do que ela irá se tornar, caso os roteiristas tivessem se contido. Infelizmente a vontade de mostrar Katie Cassidy assumindo a identidade da heroína falou mais alto. Com isso, logo após achar a indumentária da Sara, o episódio já mostra a moça em ação, criando um problemático salto narrativo, já que ela nem mesmo usa o mesmo uniforme. A cena é um tanto aleatória e teria funcionado melhor como abertura na próxima semana.
Apesar dessas pequenas "derrapadas", Left Behind é um retorno mais do que digno depois do hiato e funciona para estabelecer a dinâmica deste início da segunda metade da temporada. Focada no bom desempenho do elenco e em uma carga dramática que não força para o "dramalhão", Arrow parece ter finalmente encontrado o caminho, já que parecia um tanto perdida antes do crossover com The Flash.
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