Review: The Flash S03E06 - Shade

Nos anos 90, James Robinson reformulou um antigo vilão da DC para a HQ do Starman. O Sombra passou do bandido que vivia dando trabalho para Jay Garrick, para um complexo anti-herói, cujas motivações tornaram sua história uma das mais interessantes do universo DC pós-Crise (e provavelmente da história da editora). Dessa forma, é muito desapontador que a série do Flash negligencie o personagem da forma como fez no episódio que leva seu nome. Shade, do ponto de vista do fã de quadrinhos é um dos exemplares mais decepcionantes da série. Mas, não é só aí que a aventura da semana falha, em uma demonstração que essa temporada da adaptação está perdendo o pouco foco que ainda restava desde sua estreia.

Já está mais do que óbvio que os realizadores preferem dar ênfase aos dramas dos personagens principais do que desenvolver subtramas convincentes sobre os antagonistas. Até aí, tudo bem, já é praxe de The Flash. O problema é desperdiçar a chance de usar vilões que poderiam ser infinitamente mais interessantes do que aqueles escolhidos para serem as ameaças da temporada. O Sombra teria potencial para segurar um ano inteiro de aventuras e oferecer uma mudança na estrutura habitual de fazer o Flash enfrentar um velocista a cada temporada. Mas, no episódio em questão, não passa de uma distração, com o roteiro demonstrando falta de criatividade até mesmo na utilização de seus poderes.

Deixando de lado o desperdício de oportunidade, o texto tenta dar peso aos dramas de Caitlin e Wally, sem muito triunfo. A transformação da cientista em Nevasca está recebendo uma motivação muito artificial. É quase como se a personagem fosse autoconsciente de sua existência como elemento de ficção, insistindo que a existência de seus poderes irá selar seu destino como criminosa. Por tudo que o espectador conhece de Caitlin suas reações soam forçadas ao extremo. Já Wally sofre de mal parecido, porém existe uma substância um pouco mais crível graças a existência de Joe West na série. É mais fácil entender o ponto de vista do detetive do que o do garoto, que com a obsessão em se tornar um velocista parece mais uma criança birrenta em uma loja de brinquedos do que alguém realmente destinado a se tornar um herói no futuro.

Em uma decisão esdrúxula, a série introduz já neste episódio a ameaça de Savitar. Ou seja, o público mal conhece o Doutor Alquimia e já é confrontado com um novo antagonista que, pra piorar, é totalmente criado por computação gráfica, o que diminui bastante a sensação de perigo que poderia trazer para o protagonista. Diferente do que aconteceu no ano passado, em que Zoom, mesmo auxiliado por efeitos visuais, se mostrou um oponente fisicamente superior ao Flash Reverso, dessa vez o fã precisa temer pela vida dos personagens pois um confuso amontoado de pixels surge do nada para desafiá-los. Não que o problema seja o CGI. Grodd, por exemplo, provou que o programa consegue oferecer personagens digitais de forma competente. O ponto é que aqui, nem a computação gráfica, nem o design do vilão dizem alguma coisa.

O texto também insiste em dar dicas que podem ou não ser falsas, mas que se forem reais sobre o futuro do programa poderão martelar de vez os pregos no caixão onde está contido o foco da trama. Há uma dica nada sutil sobre a identidade de um dos vilões estar ligada ao personagem de Tom Felton. Darem destaque a isso no episódio seguinte ao utilizado justamente para dar um background palpável para Julian é de uma falta de tato impressionante. Todo o desenvolvimento visto anteriormente, na verdade, foi por água abaixo justamente na primeira cena em que o cientista divide com Barry, mostrando que a relação de ambos mudou praticamente nada. A outra dica também falha na sutileza, quando o protagonista diz para Iris que não existe o Flash sem ela. Algo nada agradável deve acontecer com a moça em breve.

Para não dizer que Shade é uma decepção completa, ao menos Tom Cavanagh parece estar se divertindo com seu personagem. H.R., apesar de estar a milímetros de se tornar mero alívio cômico, oferece um contraponto para o clima de desastre iminente que está pairando sobre a vida dos heróis.

Quanto ao foco da série, este parece mesmo ir de mal a pior. Situações cíclicas, que repetem conflitos das temporadas anteriores com uma roupagem ligeiramente diferente, dão a impressão do Flash estar em um algum loop temporal em que a qualquer sinal de mudança, o texto precisa voltar à fórmula. No ponto em que se encontra, a série precisa de uma virada dramática muito inesperada e bem trabalhada para mostrar que pode se recuperar e, pelo menos, recompensar o fã, o que, parece estar muito longe de acontecer.

Alexandre Luiz

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