Review: Constantine S01E01 - Non est Asylum

Para uma série baseada em um dos mais importantes personagens da DC Comics, Constantine tem um episódio piloto bem genérico. O ocultista, mago e trapaceiro é um dos protagonistas mais fascinantes dos quadrinhos com sua personalidade dúbia, suas atitudes discutíveis e a forma absolutamente implacável que trata seus inimigos e, muitas vezes, seus aliados. Mas, no primeiro exemplar da série de TV produzida por David Goyer e Daniel Cerone, John Constantine (Matt Ryan) soa mais como um clichê.

De estrutura nada diferente de outros seriados do gênero, a adaptação até começa com boas referências aos quadrinhos, mostrando o sanatório de Ravenscar e apresentando as habilidades de seu protagonista em um exorcismo. Mas, em seguida, já parte para a trama central, envolvendo uma garota, Liv (Lucy Griffiths), sendo perseguida por um demônio. É tudo muito rápido e o roteiro jamais deixa claro de onde vem os recursos de John, fazendo até o personagem Chas (Charles Halford) aparecer do nada, simplesmente porque faz parte da “mitologia” das HQs. Aliás, a série acrescenta uma característica curiosa ao taxista (que, diga-se, dirige um táxi amarelo padrão que está mais para ConstantineMóvel do que para um veículo de passageiros), transformando-o em uma espécie de versão live action do Kenny de South Park.

Talvez seja uma boa introdução ao universo de Constantine e como ele será abordado na TV, mas o tempo todo fica a sensação de que falta algo. O roteiro peca ao se preocupar mais com o “que” e o “como” e desperdiçar o “quem”, já que tem nas mãos um personagem originalmente profundo, cujas motivações nunca são abordadas com a devida atenção. Há uma pressa enorme em avançar a perseguição ao “demônio da semana” (porque a série parece seguir essa estrutura, pelo menos por enquanto) e nenhuma vontade de fazer o Constantine da TV criar alguma identificação com o espectador. Essa forma corrida de contar a história atrapalha inclusive os elementos de horror, e a direção de Neil Marshall consegue apenas forçar alguns sustos fáceis baseados em trilha sonora e luzes que se apagam e acendem rapidamente revelando alguma criatura das trevas. No entanto, Matt Ryan se esforça bastante para dar ao protagonista suas características mais óbvias das HQs. E, sim, ele fuma, mas a série só dá essa informação no final, quando o mostra apagando um cigarro.

Há, por outro lado, uma preocupação notável da direção de arte em criar uma atmosfera rica em detalhes. Os cenários têm personalidade melhor definida do que os personagens. O apartamento de Liv, a casa que usam como esconderijo (contendo até o capacete do Sr. Destino) e o escritório de Ritchie Simpson (o sempre competente Jeremy Davies) são incríveis e chegam a lembrar o nível de cuidado de uma produção cinematográfica. A direção de fotografia também abusa das sombras e faz um bom trabalho na batalha entre Constantine e o vilão, com planos abertos que destacam a neblina de poluição e gases entre os prédios na paisagem urbana.

Neste primeiro momento, Constantine está longe de soar como algo original no gênero. Talvez, conforme avancem, os roteiros foquem mais em seus personagens, nas características que os tornam interessantes e na relação entre eles. Não há química, por exemplo, entre o casal de protagonistas, o que explicaria a personagem de Griffiths não permanecer no programa, como eram os planos originais. Apenas a interação entre John e o anjo Manny (Harold Perrineau), que flerta com a ambigüidade, mostra algum futuro, caso não repitam sempre a mesma estrutura.

Para quem havia conferido a versão do piloto vazada na web, meses atrás, a boa notícia é que há uma alteração em seu último bloco, já dando o gancho para a nova parceira do mago, que será apresentada devidamente na próxima semana. O cliffhanger, inclusive, até faz uma boa homenagem à mídia de origem. Caso os próximos episódios dêem sinal de que irão aproveitar o potencial dos personagens, a série tem os elementos prontos para que se torne a resposta do universo mágico da DC às séries do Arqueiro Verde e Flash, que trazem a parte urbana e sci-fi da editora para a TV. Caso contrário, ficará relegada à eternas comparações com as “concorrentes” Supernatural e Grimm, ou seja, apenas mais um programa abordando o sobrenatural.

Alexandre Luiz

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