Depois de três fracos episódios, Constantine retoma a boa forma e traz novamente o que melhor funciona nas histórias do ocultista: um estudo de seu comportamento, enquanto oferece um bom caso da semana com raízes nas HQs.
Para investigar um suposto caso de overdose, John, Chas e Zed precisam se infiltrar em um hospital. Logo de cara, o roteiro de Angels and Ministers of Grace faz uso do humor, em uma situação inusitada envolvendo o taxista e uma das características mais marcantes de Constantine, sua habilidade de pedir dos amigos certos “sacrifícios” que ele não está disposto a fazer, até porque sabe ser o “único” capaz de resolver as situações em que se metem. Essas doses de alívio cômico também aparecem no episódio depois que Manny é colocado no lugar de um mortal por John. A sequência em que se deixa levar pela amante do homem cujo corpo é ocupado pelo anjo funciona bem pela natureza quase “profana” do texto. É um momento até corajoso da série, que tem despido crenças com sua abordagem nada religiosa das criaturas celestiais (e da própria existência de Deus também).
O caso da semana envolve um elemento dos quadrinhos chamado Diamante Negro. O artefato é responsável pela criação do vilão Eclipso, que não aparece no episódio, mas talvez possa fazer parte da trama no futuro (caso haja um futuro para o seriado). Aqui, John lida com pedaços da pedra, e como no final há a deixa de que outros fragmentos estão espalhados pelo mundo e quando próximos se unem para formar o Diamante Negro, fica claro que os planos para trazer de volta essa trama podem mesmo existir.
O mais importante do episódio, no entanto, não foi a caçada a um assassino consumido pelo mal, mas sim um novo elemento da trama de Zed. A descoberta do que pode ser um câncer no cérebro com certeza deveria trazer mais drama para a temporada, caso essa tivesse mais episódios. Apesar das incertezas quanto à renovação, no entanto, a doença já traz efeitos na trama principal, com John sentindo-se culpado pela situação da moça, principalmente por ter forçado Zed a usar seus poderes psíquicos com frequência. O tumor seria resultado disso ou seus poderes tem origem na massa que se forma em seu cérebro? O dilema é colocado em primeiro plano acertadamente pelo roteiro e traz o lado mais humano de Constantine à tona, o que é sempre importante para não distanciar o espectador do protagonista.
O texto de Angels and Ministers of Grace, inclusive, começa com o que parece uma insatisfação externa a certos recursos que a série vinha utilizando. A destruição do mapa de sangue pode ser vista como resultado de um roteirista frustrado com uma série promissora usando uma muleta para criar histórias (Manny destrói o troço e usa justamente a palavra “muleta” para descrevê-lo). Dá até para imaginar a brainstorm que levou os realizadores a fazer uso do bom senso para se livrar de vez desse elemento.
Trama envolvente, bons momentos de gore, alívios cômicos que funcionam por não deixar o episódio pender demais para o drama e desenvolvimento certeiro do relacionamento de John com seus ajudantes/amigos/parceiros. Essa é a união que sempre dá certo e que trouxe as melhores aventuras de Constantine até agora. Não tem porque os roteiristas inventarem de fazer referências a filmes de terror, como semana passada, ou pegarem histórias que não são suficientes para 40 minutos e rechearem de situações sem sentido como nos dois outros exemplares que seguiram depois do hiato. Caso a série continue, na NBC ou qualquer que seja a emissora, essa é a “fórmula” que deve ser seguida na segunda temporada, caso os realizadores tenham em mente que os espectadores devem se importar com o grupo de protagonistas.
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Caras, infelizmente a palavra que define Constantine é "fórmula". A série toda é muito formulaica.
Outro episódio até comentei com a namorada, Constantine tem um feitiço, ou um brinquedo pra tudo. A a história de como Chas conseguiu a sua "imortalidade" é ridícula de tão banal… John simplesmente fez um feitiço trivial que nunca tinha funcionado, mas que daquela vez resolveu funcionar?
Isso acaba transformando o sobrenatural do seriado em algo completamente banal, mundano.
(prometi pra mim mesmo que não iria mais fazer essa comparação, mas não resisto) True Detective, que pra mim foi a série de 2014, tem uma atmosfera sobrenatural muito mais intensa e crível que Constantine.
Eu acho que Constantine pode até se beneficiar de uma mudança de emissora. Aliás, eu diria até que se reduzissem o orçamento para efeitos especiais da série seria bem benéfico. Arquivo X teve por muitos anos pouca verba para efeitos, mas nunca deixou de criar uma atmosfera ou tensão quando seus temas envolviam o sobrenatural.