Atenção: o texto a seguir contém spoilers do episódio!
Se a primeira parte do piloto de Legends of Tomorrow sofria com problemas pontuais, como o alto índice de exposição e reintrodução de personagens, a segunda metade da estreia abre espaço para mostrar tudo que a série pode oferecer. Tudo mesmo. De ação em larga escala, que, se comparada ao exibido nas duas outras séries desse universo televisivo da DC, pode ser considerada insana, passando pelo foco nos personagens e chegando até a momentos surpreendentes, o novo seriado oferece ao espectador mais do que uma hora de mero escapismo. Embora isso, tenha de sobra.
Antes mesmo da vinheta de abertura, o episódio já entrega uma sequência impressionante com todos os membros da equipe invadindo um leilão promovido por Vandal Savage. Um take longo, mostrando os heróis enfrentando vilões em uma ampla área, surge quase como uma página dupla de uma revista em quadrinhos, culminando com Nuclear absorvendo uma explosão atômica. É esse nível de ação que Legends oferece, de forma competente, com efeitos visuais convincentes e uma boa dinâmica entre o grupo. A direção, mais uma vez de Glen Winter, é superior a do primeiro episódio, principalmente por elevar o mostrado na semana anterior à níveis quase cinematográficos. O realizador sempre entregou ótimos exemplares em Arrow e Flash justamente por sair do lugar comum ao ousar com movimentos de câmera e saber muito bem trabalhar com a união de efeitos práticos e visuais. Resta a confirmação se seus sucessores conseguirão lidar com o fardo de se equiparar ou superar o mostrado neste primeiro momento.
O episódio também lida de forma competente com o conflito iniciado na primeira parte envolvendo Kendra e Carter. O casal Gavião já era bem confuso com toda a questão das reencarnações. Encontrar um filho de uma de suas vidas passadas apenas para vê-lo morrer não ajuda muito, psicologicamente, pelo menos, porque em termos de história é o tipo de subtrama que traz humanidade aos personagens sem apelar para o melodrama exagerado. E a série aproveita para desenvolver bastante o relacionamento entre ambos e, ao final, surpreender com a morte do Gavião Negro. Aqui, o programa merece aplausos por diversos motivos. O mais óbvio é que, ao matar um membro do time, oferece uma sensação de imprevisibilidade muito bem-vinda e diz para o espectador, com todas as letras, que não terá medo de se livrar de heróis. Outro motivo para celebrar é dar todas as chances para Kendra se firmar como uma personagem forte e independente. Desde o crossover entre Arrow e Flash, que introduziu a mitologia dos Gaviões, até na primeira parte do piloto de Legends, o relacionamento entre o casal era baseado apenas no que Carter dizia, caracterizando-o quase como um babaca controlador. Enquanto oferecia uma boa amostra de narrativa à moda antiga, que faz sentido dentro da natureza pulp destes personagens, poderia muito bem descambar para uma abordagem exageradamente machista, sem dar o devido valor a Mulher-Gavião. Agora, a heroína pode se libertar das amarras do destino e se tornar muito mais interessante, provando ser uma das personagens femininas mais complexas a passar pelo universo televisivo da DC.
Sem oferecer um instante aborrecido sequer, Pilot, Part 2 divide a equipe em três frentes, todas com tramas movimentadas o suficiente para trazer uma narrativa dinâmica e deixar a impressão de que o episódio foi mais curto do que sua real duração. A vantagem de ter um elenco inteiro formado por heróis e aventureiros é que as subtramas, provavelmente, sempre levarão a ação. Mesmo assim, há tempo suficiente para trabalhar a interação improvável entre os personagens. Ray Palmer com o Capitão Frio e Onda Térmica se destacam nesse sentido. Outro núcleo interessante é o formado por Dr. Stein, Jax e Sara, principalmente por trazer uma plot secundária que remete a De Volta para o Futuro, e ainda dá a metade mais velha do Nuclear a chance de revisitar seu passado. O relacionamento entre o personagem de Victor Garber com o jovem Jax também traz bons momentos, principalmente no diálogo final entre ambos.
Se na primeira semana Legends se mostrava promissora, na segunda, entrega a recompensa. A equipe formada por personagens secundários pode não ser a Liga da Justiça que os fãs queriam, mas talvez seja aquela que os fãs precisam. Sem a abordagem demasiadamente sombria dos filmes da DC, com um elenco entrosado e conflitos palpáveis, que vão muito além da forma quase banal que filmes envolvendo muitos heróis precisam tratar todos seus protagonistas, o seriado traz diversão, drama e aventura à níveis muito maiores do que aqueles vistos em suas séries irmãs. Ajuda também a falta dos conflitos amorosos que permeiam as outras séries e a abordagem direto ao ponto, que parece ser algo a ser levado até o final da temporada. Até aqui, a adaptação dá indícios que pode fazer para o gênero neste ano, o que Flash fez em sua primeira investida. E isso não é dizer pouco.
Ótima série, que realmente me surpreendeu positivamente.. A dinâmica entre os personagens é muito bem feita, e o enredo também tem elementos muito interessantes.
Mesmo usando personagens que teoricamente pertencem ao "segundo esquadrão", temos aqui um ótimo resultado; Personagens variados, que, cada um a seu modo, contribuem para criar uma equipe realmente interessante, em que os personagens "divertidos" não são meros palhaços, como vemos em tantos filmes de super-heróis hoje em dia. E como dito acima, "isto não é dizer pouco".
Os personagens são carismáticos e funcionam muito bem junto (algo que me surpreendeu, considerando o grande número de protagonistas). É um enorme desafio trabalhar com tantos personagens e também com heróis que exigem muito em termos de efeitos especiais, como Nuclear, mas o resultado final foi muito bom.