Review: Arrow S05E01 - Legacy

O texto contém spoilers de Arrow

Nas duas últimas temporadas de Arrow, o herói de arco e capuz enfrentou vilões com poderes mágicos e artefatos igualmente poderosos. Distante das tramas urbanas que permearam os dois primeiros anos do seriado, os elementos místicos parecem ter sido usados para introdução desse lado pouco explorado da DC e para "concorrer" com o clima de ficção científica de Flash e, posteriormente, Legends of Tomorrow. A abordagem não agradou, muito mais pela pouca qualidade dos roteiros do que pelas diferenças entre a natureza dos vilões. Agora, na quinta temporada, o programa tenta voltar às origens. Sai a mágica, entram novamente a corrupção das instituições e as gangues.

O que os realizadores parecem não compreender, no entanto, é que o problema de Arrow está na forma que seus personagens principais agem. O espectador não teria problema algum com tramas místicas novamente, se o foco da série não fosse destacar os momentos novelescos, insuportáveis já há algum tempo. Por sorte, essa estreia do novo ano, Legacy, tem na ação seu principal destaque, mesmo que dê vazão, aqui e ali, para alguns conflitos e dilemas.

Star City está em um momento conturbado. Depois de quase ser obliterada na temporada anterior, vive agora sob o comando do prefeito Oliver Queen que, obviamente, não está fazendo um bom trabalho. O protagonista jamais conseguiu conciliar a vida pública com suas noites de aventura. Perdeu a empresa de sua família por causa disso. Quem poderia imaginar que faria algo diferente assumindo a cadeira executiva da cidade? Neste cenário, surge um novo vilão, Tobias Church, vivido com muita presença por Chad L. Coleman. A cena que o introduz é bastante interessante, remetendo às sequências envolvendo gangues vistas na trilogia Batman, de Christopher Nolan (sempre uma referência em Arrow).

Ao contrário de Flash, que na estreia da nova temporada deixou claro o foco no desenvolvimento de Barry Allen, na série do Arqueiro Verde, conta muito a importância do cenário. O desenvolvimento de Star City parece sempre caminhar em paralelo ao de Oliver. A cidade está quebrada e precisando de reconstrução (no sentido figurado, reestruturação de seus alicerces de comando e poder), assim como a vida do protagonista. Se uma coisa funciona na estreia do quinto ano de Arrow é a forma como estabelece o momento em que se encontra o elenco.

Depois dos eventos que levaram à derrota de Damien Darhk, o Arqueiro perdeu seu time. Apenas Felicity continua ao seu lado, como ajudante no combate ao crime. Thea se tornou assessora da prefeitura e Diggle voltou para o exército. O auxílio de outros vigilantes, recém-surgidos na cidade, está fora de cogitação, fazendo Oliver se sobrecarregar. Aliás, outro momento que lembra O Cavaleiro das Trevas, quando Batman inspira outros justiceiros a combater o crime, mesmo sem qualquer tipo de preparo. Nesse cenário, o protagonista precisa se convencer a usar a ajuda que tem à sua disposição, criando um novo Time Arqueiro e, assim, dando continuidade ao legado que começou quando vestiu o capuz verde pela primeira vez.

Como o título do episódio deixa claro, legado será o tema da temporada e é aqui que a execução dessa estreia mais peca. Comandada por James Bamford, essa primeira hora falha quando não está engajada em lutas bem coreografadas. O diretor, responsável desde o início da série pelas cenas envolvendo artes marciais e proezas de ação, não consegue medir o uso de tiques e vícios, repetindo-os à exaustão em momentos desnecessários. Assim, quando o foco do roteiro deveria ser um diálogo dramático entre Oliver e Quentin Lance, a atenção fica no trabalho de câmera. Ao tentar soar original, Bamford distrai o espectador, usando várias vezes seguidas, movimentos contínuos, sem corte, que, se poderiam trazer personalidade, soam banalizados, pois são usados constantemente, sem necessidade.

Mesmo quando tenta chamar atenção para uma rima com o episódio piloto de Arrow, Legacy não consegue engatar e traz uma sequência forçada e dirigida de forma preguiçosa. Quando Oliver mata um capanga, da mesma forma que quando chegou em Starling City depois de seu período na ilha, o momento deveria evocar alguma emoção, mas não passa de uma repetição gratuita sem o menor peso para o espectador ocasional. Uma pena, era uma boa ideia o paralelo para trazer o espírito original do programa de volta. Mas o resultado é uma sequência deslocada.

Enfim, faltou à estreia da nova temporada a sensação de engajamento do espectador. Se em Flash, uma situação grandiosa é resolvida rapidamente para mostrar ao protagonista o peso de suas ações, em Arrow o desenvolvimento é trôpego, sem criar na audiência qualquer expectativa de um conflito promissor. Um dos cliffhangers é voltado para um novo romance envolvendo a Felicity, para se ter uma ideia.

Pelo resultado das temporadas anteriores, mesmo quando funciona, o episódio deixa a dúvida quanto a, em que momento deste ano, o seriado sairá totalmente dos trilhos de novo. Mesmo com boas intenções, Legacy não convence, seja pela escolha equivocada da direção, ou porque o público já está mesmo calejado com a série. Resta às próximas semanas corrigir essa sensação e dar algum motivo para o fã acreditar que Arrow ainda pode voltar a ser a série que foi em sua jornada inicial. Ainda dá tempo, a quinta temporada está apenas no começo.