Referências. Mr. Robot, além de ser uma série que, explora muito bem a cultura hacker e é bastante crítica em relação à sociedade, é também feita de referências, o que podemos comprovar logo no início deste 8º episódio da temporada atual. De início, vemos Elliot criança e seu pai num cinema à espera de assistirem ao filme Cova Rasa. Por sinal, sempre foi inusitado como, desde pequeno, o protagonista tinha um gosto peculiar para cinema, como em um dos episódios da primeira temporada em que ele queria assistir Pulp Fiction, de Tarantino.
Mas, voltando especificamente a este episódio, veremos um momento que reforça bastante aquilo que já sabemos: um relacionamento deveras conturbado entre Elliot e o pai. Tudo bem que essa repetição, às vezes, cansa. Mas, pelo menos agora, o propósito do roteiro é mais bem estruturado. Estão ambos na porta de um cinema. Elliot está com o braço machucado (referência a um acontecimento relatado ainda no início da série), e o seu pai, já de saúde bastante debilitada, sofre repentinamente um ataque, e desmaia. A despeito da situação, Elliot pega calmamente a jaqueta do pai (aquela com a inscrição “Mr. Robot”), e segue para a sala de projeção para assistir ao filme.
Vejam: além dessa sequência demonstrar uma relação de total insensibilidade de ambas as partes, também expõe uma característica bem marcante de Elliot, e que ele meio que cultiva até os dias de hoje: a frieza em relação às pessoas em geral. Corta para o tempo presente, e o roteiro (como sempre, engenhoso) vai nos apresentar uma ótima metáfora, e que tem ligação com o próprio título do episódio. Elliot começa a excluir os arquivos referentes a Mobley e Trenton, amigos de organização que foram mortos anteriormente. Nesse momento, o protagonista se questiona como é fácil “deletar pessoas”, quando precisamos esquecer de acontecimentos desagradáveis.
Se tem uma coisa que a série melhorou em relação à sua temporada passada, é o seu dinamismo, com episódios mais ágeis e curtos, o que facilita mais a assimilação do espectador, mas, sem perder no quesito profundidade. Tanto é que não demora para, neste episódio aqui, o ponto-chave de sua história ser incluído de maneira bem orgânica na trama: o momento em que Elliot encontra a família de Trenton, e, é a partir daí, que começa a surgir uma amizade entre ele o irmão mais novo da sua amiga falecida (um menino que meio que representa Elliot quando criança). O roteiro, claro, não perde a oportunidade, e coloca, de maneira sutil, como os muçulmanos (e, por analogia, outras etnias) estão sofrendo com o preconceito local, afinal, pra quem não se lembra, Trenton era muçulmana.
Interessante que as referências a filmes antigos vão continuar aparecendo nesse episódio, em especial, ao filme De Volta para o Futuro, numa cena que vai dialogar claramente com aquela sequência inicial envolvendo Elliot e o pai. O teor do enredo do clássico filme de Robert Zemeckis, inclusive, também explora de maneira eficiente outra boa metáfora, fazendo Elliot refletir sobre como o passado pode afetar o seu futuro. Daí surge o questionamento das ações que ele fez naquele dia: era realmente necessário excluir as lembranças dos amigos mortos?
E, o que temos aqui é mais um episódio com o “padrão de qualidade Mr. Robot”. Claro, essa questão de Elliot e do pai pode parecer repetição excessiva do mesmo tema, mas, pelo menos, aqui, serviu como fio condutor da narrativa de maneira não-forçada. Tanto é que pouco aconteceu em termos práticos, porém, foi uma pausa necessária para o protagonista parar, respirar e pensar melhor sobre coisas, digamos, “menores”. Com ótimas atuações, e direção e roteiro na medida certa, este episódio demonstra a ótima qualidade que a série continua mantendo durante essas três temporadas.
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