Review: The Flash S02E17 - Flash Back

Muita gente se pergunta o porquê do sucesso de Flash, Arrow e outras séries baseadas em quadrinhos, principalmente as do CW. Elas alteram personagens das HQs, obviamente não contam com os valores de produção encontrados nos filmes e, talvez, o mais grave na cabeça dos mais cínicos, focam demais em romances. Pois bem. O sucesso se deve, muitas vezes, a justamente esses fatores (afinal todo programa de TV tem um público-alvo definido que, se ficar restrito apenas a fãs de cultura pop, dificilmente teria os índices de audiência necessários para se manter no ar) mas, além disso, a um fator muito mais simples: os seriados dão tempo aos personagens. Tempo para que sejam suficientemente desenvolvidos. Para que se conectem com os espectadores que, por sua vez, se importarão com os heróis em seus momentos mais sombrios, ou perigosos, ou ainda, mais românticos. Isso tudo vale destaque neste momento, porque é quando um filme de super-heróis falha miseravelmente em estabelecer o mínimo de conexão com seus protagonistas, vide Batman vs Superman - A Origem da Justiça, que uma adaptação televisiva se sobressai pela honestidade com que trata seus personagens principais.

Flash Back poderia ser apenas mais uma aventura da semana, com o Velocista Escarlate viajando no tempo para cumprir alguma missão. Mas, o que se vê é o roteiro de Aaron e Todd Helbing consciente do potencial da história humana por trás de tudo isso. A possibilidade da série revisitar seu primeiro ano traz a oportunidade de Eddie Thawne (Rick Cosnett) se despedir de Iris em um momento repleto de sentimento e sensibilidade. Mais do que ao roteiro, isso se deve à ótima construção deste personagem e, principalmente, seu sacrifício no final da temporada anterior. É empolgante também a probabilidade de algo dar incrivelmente errado e Barry causar alguma mudança drástica em sua própria linha do tempo. Embora o episódio em si não deixe grandes repercussões, pode sim, ser importante no futuro. E se o espectador se interessa por isso, é porque a trama toda, no geral, jamais descarta os sentimentos dos personagens envolvidos. Flash nunca é sobre as batalhas, mas sobre o impacto que essas batalhas tem na vida de seu protagonista.

Dessa forma, é assim que aborda, logo no começo, os pensamentos do herói quanto a ter sido enganado novamente por um vilão que se fez passar por mentor. Estaria Barry errado em sua disposição em acreditar nas pessoas? Se sim, não é justamente esse o papel do herói? Algo que não deve ser descartado também é que a série lida com um personagem em constante formação. Seus erros nunca soam forçados e são sempre causados pela vontade em fazer a coisas certa. Mesmo avisado pelo Wells atual que qualquer intervenção no passado poderia alterar drasticamente seu presente, o Flash já começa a mudar certas coisas assim que chega em seu destino. Primeiro porque não consegue voltar para o momento que precisava, segundo porque não consegue evitar ser o herói, mesmo quando sabe que o fluxo natural das coisas teria resolvido as situações em questão. Viagem no tempo é algo espinhoso. Ao mesmo tempo que precisa ser bem escrita, traz uma gama enorme de possibilidades, e o texto explora muito bem esse potencial.

Porque o Flash da TV, vivido por Grant Gustin com um entusiasmo raro, é um personagem tridimensional, que, embora muito poderoso, comete erros como qualquer pessoa, o processo de identificação é mais fácil, tornando-o infinitamente superior, como protagonista, do que seus "concorrentes" do cinema, que, muitas vezes, tem como maiores inimigos os realizadores, mais preocupados com sequências caras de ação do que com a credibilidade de quem está envolvido nelas. Basta observar a tensão criada a cada olhar desconfiado do Wells da primeira temporada, que na verdade era o Flash Reverso. E, logo depois de se revelar ao Flash do futuro por saber que este não se trata do manipulável Barry do passado, mais tensão é colocada em jogo, em um embate entre personagens que não precisa chegar no elemento físico. Apenas a possibilidade desta viagem no tempo anular os eventos da primeira temporada já oferece um conflito mais palatável que dois heróis entrando em combate corpo-a-corpo destruindo tudo que veem pela frente.

A trama em Flash Back acrescenta à caracterização do personagem principal um desconhecimento de seus próprios limites. Ao mesmo tempo que fala sobre isso quanto a sua velocidade não chegar perto das habilidades de Zoom e Reverso, também traz uma discussão à nível intelectual. Barry não tem preparo algum para viajar no tempo sem causar alterações. É mais um elemento de sua personalidade a ser trabalhado, algo perfeitamente plausível por se tratar, como citado logo acima, de um herói em constante aprendizagem.

O humor presente nas reações de Cisco, a sempre dúbia personalidade de Wells (em suas duas versões) e até mesmo a vida amorosa de Iris, que, se foi distração no anterior, aqui se mostra um eficaz motivo para trazer um drama convincente para a moça, são apenas alguns dos momentos que funcionam neste episódio. Como os realizadores não ignoram a importância de destacar o que os personagens tem de melhor, Flash dificilmente cairá no erro comum a tantos blockbusters. Barry Allen pode sim, contracenar com figuras em CGI, mas nunca em detrimento daquelas de carne e osso.

 

Alexandre Luiz

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3 comments

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    Mariana Lima 31 março, 2016 at 02:27 Responder

    Que episodio fantástico! Eu já estava super feliz com o crossover com Supergirl, a química do Flash com a Kara foi ótima, alias, o Gant Gustin parece ter boa química com todo mundo na minha opinião… ai no dia seguinte assisto esse episódio fenomenal Flash! Amei rever o Dr. Wells do mal, que ator incrível que é o Tom Cavanagh.

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      Alexandre Luiz 31 março, 2016 at 23:44 Responder

      Eu acho que o espectro ainda volta, ficou claro que ele usa o uniforme do Flash principalmente quando ele ataca o Barry. Seria ele um "resquício" material do Reverso? Fiquei curioso com isso e não acho que foi a toa aquele destaque que dão pro "uniforme" que ele usa… por isso acho que esse episódio, apesar de não ter mudado muita coisa na timeline, um ponto importante não só na temporada, mas na série. Só acho que só veremos isso na terceira temporada rs

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