A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's Lot

A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's LotA Hora do Vampiro é um filme de horror que estava entre os mais esperados dos últimos anos, já que reunia em torno de si muitas expectativas, especialmente por ser baseado numa história clássica de Stephen King.

Dirigido por Gary Dauberman, é uma das apostas dos do serviço de streaming Max, da HBO e Warner/Turner para angariar assinantes. Foi programado para ser lançado nos cinemas, mas depois da união entre Turner e Discovery a obra quase foi engavetada, mas escolheram lançar no serviço de streaming da HBO, atualmente chamado de Max.

A história segue o autor e escritor Ben Mears, que retorna à cidade natal de Jerusalem's Lot para buscar inspiração para seu próximo livro. Em meio a lembranças doces e tristes, ele descobre que a cidade está sendo atacada por um vampiro poderoso e sedento por sangue.

Essa é uma das várias versões do livro Salem’s Lot de 1975, que no Brasil recebeu vários nomes como A Hora do Vampiro, Vampiros de Salém ou apenas Salém. Essa é a terceira versão audiovisual do livro, ocorre depois de duas minisséries, uma chamada Vampiros de Salém de 1979, dirigida por Tobe Hooper. Essa teve uma continuação em 1987, um longa-metragem chamado O Retorno a Salem's Lot. Nos anos 200, saiu também A Mansão Marsten, que Rob Lowe estrelou em 2004.

O roteiro dessa nova empreitada ficou a cargo do realizador Gary Dauberman, mesmo. São produtores Michael Clear, Roy Lee, Mark Wolper e James Wan. Foram produtores executivos Dauberman e King, além de Michael Bederman, Richard Brener, Andrew Childs, Dave Neustadter, Victoria Palmeri e Judson Scott. Allison Furgal foi produtor executivo nas cenas adicionais enquanto Max Lippe foi o produtor associado.

O longa teve uma estreia limitada no cinema, em 25 de setembro de 2024 no Beyond Fest. Foi lançado em Video on Demand e no streaming, no dia 3 de outubro de 2024. No Reino Unido e Irlanda sairá apenas no dia 11 de outubro de 2024, enquanto na Alemanha sairá 31 de outubro do mesmo ano.

O projeto foi anunciado em abril de 2019. Matérias de imprensa da época já favalvam do envolvimento de James Wan nessa nova adaptação. As matérias também apontavam que ele usaria o seu colaborador regular, Gary Dauberman para trabalhar em um roteiro para a New Line Cinema.

Dauberman era chamado pejorativamente de Wan-Minion, visto que era um dos seus "capangas" dentro dos filmes do tal Invocaverso, mas a realidade é que ele copia bem menos os maneirismos do produtor e diretor malaio.

A notícia também dava conta que Wan estava ligado a uma outra adaptação de King, o romance The Tommyknockers de 1987, que já foi adaptado para uma minissérie chamada Os Estranhos, de 1993.

Esse A Hora do Vampiro era para ser lançado para o cinema, mas em outubro de 2023 foi anunciado na revista Variety que esse poderia ir diretamente para o serviço de streaming Max. Foi assim que aconteceu.

Ao contrário do que se propagou, a mudança não tem a ver com a qualidade (ou falta de qualidade) do filme, mas sim graças a greve do sindicato de escritores e roteirista (SAG-AFTRA) que estava em curso, além da necessidade de ter conteúdo exclusivo para o streaming. Foi, portanto, lançado nos cinemas apenas no Reino Unido e na Irlanda.

O título original é Salem's Lot. Em países como Argentina, México, Espanha é El misterio de Salem's Lot. Na Estônia é Salemi partii, Finlândia é Salem's Lot - painajainen, na França é apenas Salem, na Itália é Zalės valda e em Portugal é A Hora do Vampiro.

A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's Lot

A obra foi rodada entre outubro e novembro de 2021 em Massachusetts, especialmente em Ipswich e Westford. Houveram cenas em 16 Crescent St, em Stow, no New England Studios em Devens, 330 Church St, ambos em Clinton.

Os estúdios por trás do filme são a New Line Cinema, que faz a função do presents, a Atomic MonsterVertigo Entertainment e The Wolper Organization. O distribuidor foi a Warner Bros e a New Line Cinema nos Estados Unidos e da Warner no mundo inteiro, via Max.

Dauberman é um dos constantes colaboradores de James Wan. Dirigiu apenas esse e Annabelle 3: De Volta Para Casa, foi redator em Elo Selvagem, Aranhas Assassinas, Annabelle, Morando com o Medo, Annabelle 2: A Criação do Mal, It: A Coisa, A Freira e It: Capítulo Dois. Ele foi produtor em A Maldição de Chorona, produtor executivo em A Freira, O Monstro do Pântano, It: Capítulo Dois e A Freira 2.

Wan é conhecido obviamente por ser diretor em vários clássicos, como Jogos Mortais, Sobrenatural e Invocação do Mal.

Nas funções de produção fez recentemente M3gan, Sobrenatural: A Porta Vermelha, Aquaman 2: O Reino Perdido (que ele também dirigiu), A Freira 2 e Mergulho Noturno. Ele foi produtor executivo na série Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, Teacup, Arquivo 81 e As Crônicas de Usagi: O Coelho Samurai, além do filme Jogos Mortais X.

Mark Wolper produziu o telefilme A Vida de John Dillinger, Assassinato em Primeiro Grau, também foi produtor executivo nas séries Raízes e Motel Bates, nos telefilmes Pânico no Shopping, Tara Maldita de 2018 e The Bad Seed Returns

Roy Lee tem uma vasta carreira no cinema de horror. Seus sucessos mais recentes foram It: A Coisa, Noites Brutais, Strange Darling e Entrevista com o Demônio. Também costuma trabalhar como produtor executivo, como foi em A Bruxa dos Mortos: Baghead, Godzilla e Kong: O Novo Império e Os Estranhos: Capítulo 1.

Michael Clear produziu Maligno e Tem Alguém na sua Casa, foi produtor executivo em Monstro do Pântano, Mortal Kombat, M3gan, A Freira 2, Mergulho Noturno.

O diretor disse em uma entrevista em 2019 que o seu objetivo era tornar os vampiros assustadores, se afastando de versões romantizados ou sexy que passaram a ser o comum na cultura pop nos últimos 25 anos, graças especialmente aos filmes Entrevista com o Vampiro, Crepúsculo e a série Diários de um Vampiro.

Em uma pesquisa do serviço Fandango, esta adaptação era o filme de terror mais esperado de 2023 até então, mesmo tendo sido lançada apenas no mês do halloween do ano seguinte.

A narrativa inicia com uma abertura estilizada, onde vai escorrendo sangue no mapa do "Maine de Stephen King", mostrando inclusive outras cidades do universo do autor, como Castle Rock e Derry. A sequência obviamente tenta referenciar um sucesso da HBO, no estilo de Game of Thrones.

Também mostra um homem velho contratando um serviço de transporte. Ele é Richard Straker, interpretado pelo pitoresco Pilou Asbæk, o personagem que auxilia o vampiro malvado da vez. Ele chama dois homens, que tem que levar de caminhão uma caixa, para a mansão Marsten.

No porão a caixa revela uma figura estranha e monstruosa, que lembra o visto em Os Vampiros de Salém de Tobe Hooper, em um vislumbre que deixa claro que o monstro parecerá novamente Max Schreck em Nosferatu.

Aqui, Ben Mears é feito por Lewis Pullman, ator conhecido por Top Gun: Maverick e Além da Margem. Ele é enquadrado pela polícia, flerta com a jovem recepcionista da imobiliária Crockett, Susan "Suzie" Norton (Makenzie Leigh) e tenta se inspirar para escrever seu novo livro.

Não fica claro se Susan compreendeu que estava diante do autor cujo livro ela lia, fato é que ela se interessa pelo mesmo imediatamente. Há pressa em estabelecer os laços sentimentais, já que o tempo de exibição é de menos de duas horas.

A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's Lot

Outro personagem importante, Mark Petrie, aparece logo, já na cena posterior ao escritor se instalar em uma nova estadia,

Nessa versão ele é feito por Jordan Preston Carter, jovem ator que fez adaptações de quadrinhos como DMZ e Ms. Marvel. Agora Mark é um menino que também é uma espécie de forasteiro, já que ele e sua família também acabaram de chegar na cidade.

Em sua primeira aparição ele arruma confusão com o bully Richie Boddin, personagem de Declan Lemerande. Como a história tem que ser curta, alguns momentos são apressados e isso se nota especialmente nessa introdução do rapaz. Em questão de instantes ele é mostrado como alguém que não aceita calado qualquer abuso, que é corajoso, que é fã de cinema B, além de ser bastante sociável.

Ele e Richie são separados e repreendidos por Burke (Bill Camp). Os irmãos Glick defendem o novato, especialmente Danny (Nicholas Crovetti). Ele e o irmãoRalphie (Cade Woodward) tentam ambientar o garoto no novo local. Nessa versão a idade dos três é mais parelha que na de 1979, portanto, faz mais sentido eles serem próximos.

Os irmãos Glick até visitam a casa do menino, se impressionam com a quantidade de elementos de filmes de terror que ele tem, com sua vasta coleção de action figures e adereços. Um deles inclusive verbaliza que se impressiona por ele não ter medo de nada.

Essa versão de Mark lembra de leve a tenacidade e os gostos pessoais de Tommy Jarvis, especialmente o feito por Corey Feldman em Sexta-Feira 13: Capítulo Final.

Ben investiga o passado da mansão, parece disposto a entender o passado do lugar desde o primeiro momento em que chega.

A história se passa na atualidade, mas ainda assim ele precisa pesquisar in loco, não perguntando a população geral, mas sim indo até uma biblioteca local para verificar escritos antigos e recortes de jornais.

Esse é o primeiro dos cenários peculiares - e bem feitos - mostrados. Aqui há praticamente uma cor diferenciada para cada cômodo. Os aspectos de direção de arte, assinada por Carl Sprague é bem utilizada.

Investigando, ele faz anotações baseada em jornais locais, que certamente estariam na internet atualmente. Aqui se apela para o fato de ser uma cidade pequena, cheia de segredos, então aumenta a plausibilidade do acesso estar apenas na biblioteca local. Descobre que na casa antiga houveram tragédias, como um suicídio datado de 1937 e um incêndio no ano de 51.

Nos bares e lugares comuns da cidade se percebe um trabalho árduo do design de produção feito pelo profissional Marc Fisichella, os locais são simples, comuns, mas são arquitetados para privilegiar tons diferentes de cores, com tonalidades escarlates especialmente, mas também cores frias, especialmente quando insere os mortos vivos em tela.

O começo é bom, o visual empolga, a direção de fotografia de Michael Burgess é bem criativa e audaciosa, utilizando de maneira inteligente os filtros.

Em determinado ponto, depois de sair da casa de Mark, os irmãos Glick são interceptados por Staker, que passa por eles em um carro antigo, com uma postura que lembra a de um predador sexual.

A cena de captura deles é bem maneira, com um visual de cenário natural hiper-colorido. Uma boa surpresa.

A partir daqui falaremos sobre os rumos da trama. Haverá spoilers.

A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's Lot

As manifestações de vampirismo com as crianças são sensacionais, desde os sustos na clássica cena do toque nas janelas, até o arroubo de um deles no hospital, onde o mesmo reclama de sede para logo depois devora a bolsa e sangue que estava em cima do seu leito.

Dauberman brilha ao colocar lado a lado o gore e a expectativa de que o mal ocorrerá, inclusive na cena em que Mike (Spencer Treat Clark) está jogando terra em cima do caixão. É simples e efetivo.

O diretor inclusive pega leve nos jumpscares, fato bastante incomum entre os cineastas que cercam James Wan.

Outro momento onde se percebe uma boa forma de filmar é quando Mike fala com Burke, já transformado. O vampiro está iluminado de uma forma "azulada", diferenciada.

Dauberman faz tanto uso desse artifício que às vezes parece demais, exagerado em alguns pontos.

Há uma boa construção de mistério com a transformação de Mike em vampiro. Ele lida com Burke, que por sua vez, pede ajuda do romancista. Ele e Susan vão ver o garoto, que está parado, gelado, provavelmente morto e já sem as marcas das presas.

Burke é crédulo sobre a possibilidade de Mike realmente ser um vampiro, mas curiosamente não toma nenhuma precaução até o momento em que o rapaz desfalece. Decide até chamar a doutora da cidade, para verificar o que houve.

Os embates com cruzes são ótimos, especialmente graças ao efeito dos crucifixos brilharem, tal qual ocorria na brilhante minissérie Drácula da BBC dos anos 1977.

Burke teoriza que a primeiro morta foi um sacrifício, já a segunda foi para alimentar Barlow. Por isso Mike foi atacado após o enterro de Danny Glick, uma vez que o segundo irmão atacado já ter tido contato com o vampiro chefe, sendo assim, portanto o primeiro "capanga" do misterioso senhor Barlow.

Há vários bons momentos nessa segunda hora de história, alguns que variam entre a comédia e o horror. Um dos momentos que melhor misturam os dois elementos é quando ocorre um ataque que envolve Suzie, Ben e a doutora Cody, que no livro é um homem, mas aqui é interpretada por Alfre Woodard.

Ela é mordida, mas age rápido, prendendo o sangue que circularia, injetando em si mesma um antídoto anti-rábico, que teoricamente serviria para combater várias contaminações de mamíferos, inclusive de morcegos.

A Hora do Vampiro : A versão surpreendente de Wan e Dauberman para Salem's Lot

Claro que há alguns problemas de tradução, muitas partes alteradas e resumidas - novamente não há muita importância para o padre Callahan, que aqui, é interpretado por John Benjamin Hickey - mas o todo funciona.

Os efeitos em CGI também não são tão bons, ainda mais considerando que é uma produção para vídeo - ou no caso streaming - há quem defenda que A Hora do Vampiro não passa de uma obra que mira ser apenas divertida e quem argumenta nesse sentido não está completamente errado, mas é fato que existe alguma coragem, especialmente quando se coloca crianças de golpeando, sendo capazes até de matar.

Dauberman trabalha bem, consegue fazer uma obra que conversa visual e espiritualmente com as obras que adaptaram King com algum sucesso nos últimos anos.

Ele é visualmente semelhante com a série Castle Rock e um bocado com os dois It: A Coisa de Andy Muschietti, guardando algumas simetrias com o complicado e criticado Boogeyman: Seu Medo é Real.

O fim de Barlow é qualquer nota, se apela para o ridículo e para um momento bem-humorado, que faz lembrar os alívios cômicos e jocosos de Um Drink no Inferno de Robert Rodriguez. Para o espectador mais sisudo, certamente esses momentos incomodarão, especialmente por terminar em um momento que parece piada.

A referência ao filme que era estrelado por Quentin Tarantino e George Clooney poderia se estender também para o uso de efeitos práticos, que certamente caberiam melhor aqui, deixando a obra menos datada, mas isso não ocorre.

O uso de CGI é demasiado, tal qual os seus pares. Nesse ponto, a obra é bem mediana, exagera tal qual toda a patuleia de filmes de horror atual.

Vale lembrar que recentemente, Dauberman disse que tem consigo uma edição bem maior do filme, onde parte dos problemas de montagem truncada inexistem, ao menos segundo ele. Esse corte teria em torno de três horas de duração, mas até o momento não existe qualquer apelo para que seja lançada uma versão do diretor ou estendida.

A Hora do Vampiro é possivelmente a melhor obra da carreira do seu realizador. É uma adaptação que faz suas concessões em relação ao material original e que acerta em pelo conseguir traduzir pelo menos parte da história de um modo atrativo para o público médio.

3 comments

  1. sofás futons 23 abril, 2025 at 10:39 Responder

    fabuloso este conteúdo. Gostei muito. Aproveitem e vejam este conteúdo. informações, novidades e muito mais. Não deixem de acessar para aprender mais. Obrigado a todos e até mais. 🙂

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