Sexta-Feira 13- O Capítulo Final: O maduro início da saga de Tommy Jarvis

Sexta-Feira 13- O Capítulo Final: O maduro início da saga de Tommy JarvisSexta-Feira 13: O Capítulo Final é um filme de horror, que dá sequência as histórias do assassino em série baseadas no acampamento Crystal Lake. Lançado em 1984, foi dirigido pelo cineasta Joseph Zito e seria (supostamente) o último episódio da franquia, embora tenha sido o início de uma nova trilogia, focada no personagem Tommy Jarvis.

Esse é um dos mais lembrados da saga, um marco do segmento chamado Filme de Matança ou Slasher Movies. É lembrado também por trazer o retorno de Tom Savini nos efeitos de maquiagem, já que após Sexta-Feira 13 ele havia saído, para trabalhar em obras como O Maniaco, Creepshow, Noite de Pânico ou Chamas da Morte.

Savini foi convencido a participar da produção por Zito, com quem ele havia trabalhado em Quem Matou Rosemary três anos antes. O maquiador teria aceitado o convite para enfim mostrar o personagem que ele ajudou a conceber, uma vez que Jason sequer apareceria em Sexta-Feira 13, desejando assim mostrar o agora assassino como um homem envelhecido.

Foi feito pelo estúdio Friday Four, Inc., produzido por Frank Mancuso Jr. profissional que começou a trabalhar na franquia como produtor associado em Sexta-Feira 13 Parte 2 e como produtor de fato em Sexta-Feira 13 Parte 3. Com o tempo, Mancuso encabeçaria outras obras dentro do filão de sustos, como o misto de comédia e horror A Noite das Brincadeiras Mortais e o semi-erótico A Experiência.

Esse capítulo quatro foi distribuído pela Paramount Pictures, conta com produção executiva de Lisa Barsamian, e Robert M. Barsamian.

Na época que Zito foi chamado para conduzir a obra, incumbiram ele da função de escrever também. Para isso, ele receberia um salário dobrado. Diante dessa missão, ele chamou Barney Cohen para secretamente escrever o roteiro.

O diretor discutia a história com Phil Scuderi, financiador do longa, da Georgetown Productions, e no dia seguinte, encontrava Cohen, em um apartamento em Nova York para traduzir as notas e ideias discutidas com Scuderi, que depois discutia com o realizador por telefone, tendo as páginas enviadas para esse último, em Boston.

O script se baseou no argumento de Bruce Hidemi Sakow, que teve pouca experiência no ramo.

Cohen vinha de séries animadas como He-Man: Os Mestres do Universo e Thundercats. Ao longo da carreira, escreveu muitas produções que misturavam comédia e horror. Foi assim que escreveu o já citado A Noite das Brincadeiras Mortais, que brinca com o dia da mentira. Sua experiência passou também pelo seriado infanto-juvenil com pitadas de fantasia conhecido como Sabrina: Aprendiz de Feiticeira. É dele o crédito de criação da série Maldição Eterna.

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Zito era um diretor com uma carreira breve, mas com bons episódios em sua filmografia. Trabalhou em Sequestro, em O Estripador de Manhattan em 80, no já aludido Quem Matou Rosemary.

Depois dessa parte quatro de Sexta-Feira 13 passou a trabalhar mais com obras de ação, fez Braddock: O Super Comando e Invasão U.S.A, ambos com Chuck Norris, além de Escorpião Vermelho com Dolph Lundgren.

Um grande diferencial dessa obra para os seus pares slashers são os aspectos visuais. Os filmes de Jason normalmente eram isentos de cores, meio cinzas e foscos e aqui não. As cenas têm muita cor, sobretudo quando mostra a casa da família Jarvis.

A direção de fotografia de João Fernandes valoriza muito as cenas mais claras. O cinematógrafo trabalhou com Zito em Sequestro! e Braddock, também fez Colheita Maldita, que adapta um conto de Stephen King, além de Braddock 3: O Resgate.

Essa obra escolhe uma família para ser a protagonista do filme, no caso, os Jarvis. Eles são em três, a filha mais velha, Trish (Kimberly Beck), que é a maior candidata a nova final girl, a mãe deles Tracy Jarvis (Joan Freeman), além do caçula, o pequeno Tommy, interpretado por Corey Feldman.

Tommy é um menino divertido e criativo. Ele gosta de brincar com esculturas, fabrica máscaras baseadas em monstros de filmes de horror e em figuras comuns a séries sci-fi, seja no cinema ou na exploração televisão da ficção científica e horror.

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Tommy possui personalidade, é divertido, esperto e habilidoso. Se diferencia dos seus pares por não ser uma criança chata e sabichona, ao contrário, ele é útil para a trama e movimenta a mesma, participa ativamente do andamento da história.

Esse aliás é o filme que reúne duas figuras famosas entre atores, já que também tem aqui Crispin Glover, que seria uma das estrelas de De Volta para o Futuro no ano seguinte em 1985, fora a participação em As Panteras e A Vingança de Willard.

A questão que é realmente polêmica aqui é como ocorre o retorno do assassino mascarado. O corpo de Jason é levado para um hospital, sendo colocado na área de necrotério. Entre os funcionários da ambulância se reforça que ele estava morto.

Não havia motivo para suspeitar que ele sobreviveu. Antes dele ser levado ocorre o bom e velho resumo das mortes, momento esse que Zito não queria em seu filme, mas que teve que colocar. O curioso é que a cena se dá em volta de uma fogueira, resgatando uma cena do segundo filme, e parte dos atores assassinados está no centro da ação.

Esse filme entrou para os anais da franquia por alguns motivos. Um dos mais notáveis foi o retorno a locações da parte três, algo inédito até então na saga.

Outro fato destacável é que esse é o último filme da série a continuar imediatamente de onde o filme anterior parou e o primeiro da série a acontecer no ano em que foi lançado.

Sexta-Feira 13 se passa em 1979, mesmo tendo sido lançado em 80. O segundo é em 1984 (lançado em 81). O terceiro se passa dia seguinte à Parte 2 e este filme se passa no dia seguinte à Parte III.

Na sequência do hospital há algumas cenas que destoam do resto do filme. Parecem ter mais a ver com comédia pastelão e menos com terror, mas curiosamente há trechos que demonstram que talvez haja mesmo uma ação espiritual ali, já a sequência envolve atos de pessoas que talvez prevejam os rumos da franquia, no que toca misturar terror e humor.

Jason parece estar mais sacana, já que escolhe só voltar quando sente o cheiro de sexo.

Os funcionários do hospital Morgan (Lisa Freeman) e Axel (Bruce Mahler) tentam transar na área perto do refrigerador, lugar esse que Axel cuida, no entanto são interrompidos pela mão de um dos cadáveres, que cai neles acidentalmente. Obvio que a mão era de Voorhees.

Após isso Axel resolve trabalhar, colocando enfim o corpo de Jason na geladeira, mas não fecha a gaveta como deveria. Não fica claro se o assassino suprimiu seus sinais vitais até esse ponto, se os funcionários TODOS foram desatentos ou se ele conseguiu recuperar fôlego e vida depois de quase ser encerrado no esquife gelado, fato é que ele retorna. Caso a tranca não estivesse ruim, talvez ele teria de fato morrido.

Filmes de horror precisam de coincidências, e esse não é diferente. Axel assiste um vídeo de ginástica de 1982, chamado Aerobicise, que é estrelado por Darcy DeMoss, que anos depois, seria parte do elenco da franquia, no já citado Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive. Vale lembrar que analisamos um filme nessa temática, Aerobicídio: Massacre na Academia, de David A. Prior, lançado um ano depois da parte 6, em 1987.

Curiosamente Jason só se revela quando Axel faz menção de se masturbar, mas mata o homem sem aparecer em plenitude. O brutamontes então mata a enfermeira também para só depois retomar as roupas, máscara e todo o resto do traje anterior.

A trama retorna a vizinhança do antigo acampamento, onde fica a casa da família Jarvis. A localidade ficou famosa, foi utilizada no episódio Para que servem os amigos?/Aqua Vita da versão Twilight Zone dos anos 1980. Também esteve no filme Ed Gein - O Serial Killer de 2000.

Na casa ao lado, jovens se reúnem, para passar alguns dias perto do lago e claro, para transar também. No caminho até essa residência, os adolescentes passam pela lápide de Pamela Voorhees, que está na beira de uma estrada.

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Não faz sentido algum que uma pessoa esteja enterrada nesse ponto. Acaba sendo então mais um absurdo tornado em algo sério. Nessa toada ainda, é notável como Jason está ainda mais implacável em menções a sexo

O assassino mata uma mochileira que carrega uma placa louvando o Canadá, basicamente pelo fato da moça interpretada por Bonnie Hellman ter feito um sinal obsceno. Talvez o motivo tenha sido o fato dela estar comendo banana, uma fruta fálica, não fica muito claro.

Ao perceber que há meninas bonitas na casa ao lado, Tommy se interessa. Chega a vibrar quando observa uma delas se despindo. De fato, não havia preocupação em ser politicamente correto.

Outra marca notável é que os jovens gostam de pregar peças uns nos outros. Há muitos sustos falsos, que ganham importância quando são acompanhados da música grave de Harry Manfredini. A maioria dos personagens é bem comum, são jovens genéricos, que resumem a caracterização física de cada um. A personalidade dos jovens é o modo deles se vestir e pentear os cabelos, quase não há ações diferenciadas, só querem dar vazão aos seus hormônios mesmo.

O que se diferencia ligeiramente é Ted, menino interpretado por Lawrence Monoson, que gosta de fazer piadas e parecer descolado, tudo para esconder a timidez que tem quando se trata de conversar com o sexo oposto.

Outro sujeito diferenciado é Rob Dyer, de E. Erich Anderson, que se aproxima de maneira silenciosa do pequeno Tommy, quase como Jason, e aos poucos, ganha a atenção de Trish. Ele guarda uma motivação misteriosa, que depois é revelada de maneira anticlímax, já que ele é irmão de uma vítima antiga de Jason, que apareceu no segundo filme. Dyer se interessa também pelo hobby de Tommy, até observa as belas máscaras que o menino faz.

É sabido que Feldman tem um personagem que faz homenagem a Tom Savini, mas se seu nome tivesse algo a ver com Rick Baker, faria até mais sentido.

Nos bastidores, houve um grave problema de classificação indicativa. A MPAA mandou cortar a maior parte das cenas com mortes, fato que influenciou demais no trabalho de Savini. Boa parte das sequências acabou sendo cortada assim que aparece sangue.

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Talvez por isso nenhuma das mortes é memorável, sendo a queda do Jason a mais violenta.

Jason é feito por Ted White, um dublê experiente, que na época tinha 58 anos. Ele não foi creditado por solicitação do próprio, porque sentiu que interpretar o vilão prejudicaria sua carreira. No entanto ele circulou demais por feiras e festivais sobre filmes de horror.

Para se preparar para o papel, White recusou-se a falar com os outros atores durante a gravação. Ele pensava que poderia diminuir o medo deles caso socializasse com o elenco.

White era genioso, ele brigou com Tom Savini e quase chegou as vias de fato. Só reatou relações e fez as pazes com o maquiador depois que descobriu que Savini sabia fazer acrobacias.

Após isso se tornaram amigos. Em 1984 o dublê ainda fez O Homem das Estrelas (Starman) de John Carpenter e achava que seria esse o filme que abriria portas para ele. Acabou ficando famoso por ser Jason, não por estar no drama citado.

A trama juvenil é bem desinteressante, tirando um ou outro momento curioso, como a dança de Jimmy, completamente desconjuntada.

Aparentemente tocava Back in Black do AC/DC na hora da filmagem, mas mudaram a música para Love is a Lie, da banda Lion, que também fez a música tema de Transformers: O Filme, lançado em 1986.

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Alguns momentos de morte soam nonsense, como o assassinato de Sam, que ocorre na água, com uma lança atravessando o bote onde ela boiava. Supostamente, era para ela afundar, mas isso não ocorre. Esse aliás é o homicídio que mais uma vez homenageia a morte de Kevin Bacon em Sexta-Feira 13.

Os assassinatos se desenrolam de maneira óvia e esperada seguindo a tradição da trilogia anterior, com Jason pegando os jovens enquanto eles estão isolados, logo depois deles darem vazão a sua sexualidade.

Nesse sentido, Trish segue sua intenção de ser o ideal de moça virginal, mesmo que se encante por Rob. Como ele monopoliza a virtude, não fere os preceitos morais de Jason, ao menos não início, já que ele também cai diante do psicopata, quando começa a se interessar pela mocinha.

A meia hora final é arrastada, mas Jason ainda brilha bastante, decorando a casa perto da dos Jarvis com os corpos dos adolescentes mortos. Voorhees é cruel e criativo, mata das mais diversas formas, usa uma enorme gama de armas brancas, não tendo qualquer pudor na hora de assassinar pessoas que passam pelo alvorecer da sexualidade.

Cohen escreveu uma cena sexualmente agressiva envolvendo Jason, onde ele acaricia os seios de Trish, mas Zito e os produtores acharam que não faria sentido manter isso. Se Jason pune quem faz sexo, ele não poderia ser um tarado, e mesmo que pudesse, a sequência seria de um mau gosto tremendo.

Tommy ainda é esperto em tentar fazer o seu visual parecer com o do pequeno Jason, que se afogou no acampamento. Ele raspou a cabeça, fato que se tornou irônico, já que a mãe dele pediu para ele cortar o cabelo no início da história.

No entanto o que mais chama a atenção é o visual sensacional de Jason adulto, que mira as deformações do primeiro capítulo, feitos pelo mesmo Savini que idealizou a persona dele sem máscara.

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A forma como a vida de Jason é encerrada é bem agressiva, resultando em um dos momentos mais gráficos de toda a franquia.

A cabeça dele desce pelo facão que está encravado no chão. O registro é em detalhes e a marionete controlada por Tom Savini é praticamente perfeita, com articulações, detalhes de veias pulsando e orgãos mexendo. O monstro escorrega através da lâmina até passar um dos olhos e o crânio.

O grande mistério que fica é o que ocorreu com a mãe dos Jarvis. Havia uma cena gravada, de Trish encontrando ela, na banheira, morta, abrindo os olhos que aparecem claros e esbranquiçados, como se fosse um zumbi. Essa cena deletada seria um sonho da personagem, ou seja, não há qualquer menção real sobre o fim dela, mesmo se considerar que esse seria um momento canônico da franquia.

Para todos os efeitos, a mãe pode ou não ter sido morta por Jason, assim como o cachorro Gordon, cuja última aparição é quando ele se joga pela janela.

Nos momentos finais, Tommy enlouquece, clama pela morte de Jason, enquanto esfaqueia o corpo já sem vida do homem que acabou de matar a todos que estão rodeando ele.

A simples menção de um movimento de espasmo de Voorhees provocou no menino a fúria, e a sequência é bem pontuada pela música La Muerte de Jason, que Manfredini compôs, trabalho esse bastante icônico, mas pouco lembrado na carreira do músico.

Dois fatores chamam a atenção aqui. O primeiro é que ao longo da saga se estabeleceu que Jason não ataca crianças, por conta dele se ver nelas. Se essa lógica já existia nesse quarto filme, Tommy não precisava temer por sua vida. Ele poderia ter atacado Jason até com vantagem, por conta do assassinato certamente não ver nele um perigo real, mesmo quando ele imita a sua aparência copiada do jornal antigo.

O segundo fato é que fica a impressão de que Tommy assumirá a máscara e a caracterização de seu quase algoz, como se Jason fosse uma entidade, fato que compromete claro a alcunha do filme, que tentava ser o último capítulo de uma saga. Ao longo da franquia se ensaiou essa substituição, que jamais ganhou contornos reais, apesar de quase ter ocorrido.

Sexta-Feira 13 Capítulo Final é irregular, e ainda assim é o melhor pensado e concebido da franquia até então. Seus efeitos de maquiagem são sensacionais, os aspectos técnicos são bons também. É a obra que define Jason como um dos assassinos mais memoráveis do cinema, e ainda estabeleceu um adversário à altura, com Tommy sendo o mais legal e divertido entre todos os coadjuvantes da saga.

Confira também o nosso especial da franquia, onde reunimos artigos, críticas e análises a respeito de Sexta-Feira 13.

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