Crítica: Chamada de Emergência

Chamada-de-EmergênciaComeça envolvente e é eletrizante, mas possui personagens vexatórios e uma conclusão esdruxula.

Após adiamentos em sua produção e de Joel Schumacher decidir abandonar o projeto, ficou a cargo de Brad Anderson, cineasta que fez o ótimo O Operário, comandar o novo suspense estrelado por Halle Berry e Abigail Breslin, Chamada de Emergência, que chega por aqui através da nova Diamond Films.

No conto, Jordan Turner (Halle Berry) é uma operadora do 911, que vive em estresse diário lidando com situações extremas. Quando, num certo dia, se depara com a ligação de uma jovem desesperada que afirma ter sua casa invadida por um bandido, e que está sozinha. Jordan auxilia a garota como pode porém, numa fatalidade, o pior acaba acontecendo, traumatizando, assim, a mesma. Depois de cinco meses passados, a atendente agora é uma instrutora que tem a função de treinar novos contratados para assumir o seu antigo posto, ao lado dos demais operadores. Agindo de forma fria e calculista, diferente de como era, ela ensina os principiantes a serem extremamente profissionais e frisa que nunca se envolvam emocionalmente com a pessoa do outro lado da linha.

Só que numa apresentação na central de atendimento, uma das atendentes recebe a ligação de uma menina chamada Casey Welson (Abigail Breslin), que afirma estar dentro de um porta-malas, sendo sequestrada. Não sabendo o que fazer, ela pede que Jordan, por ter mais experiência, ajude-a. Assim, prontamente, ela assume a linha e se depara com a mesma situação que a deixou nessa condição, estando à beira de um colapso e dando início a uma nova caçada.

Apenas por esse resumo, é perceptível o quão agitado o longa se mostra. E, de fato, Brad Anderson, inicialmente, constrói uma narrativa envolvente e desenvolve seu suspense numa trama eletrizante e que não para nunca. O próprio espectador acaba se desgastando de tantos acontecimentos inacreditáveis postos em tela. O que, de certo modo, não é algo ruim, pois prender a atenção da plateia é o principal alvo do diretor.

Os reais problemas aparecem quando as pontas que foram lançadas começam a serem amarradas. Confesso que há muito tempo não via um filme cair tanto, de um modo geral, ao fim do seu segundo ato e chegar ao fundo do poço durante todo desenrolar do terceiro, como neste que vos falo. Talvez a parábola negativa esteja no esdruxulo roteiro de Richard D'Ovidio, com rumos equivocadíssimos e recheado por uma gama de personagens rasos e desinteressantes. Ou por Anderson não decidir-se no que está focando, falo especificamente do tema abordado.

Mas, certamente, o maior erro da fita é o seu vilão - se é que podemos chamá-lo assim - que atende pelo nome de Michael Foster (Michael Eklund). O sujeito mais tosco, impetuoso e desastrado que surgiu no cinema nos últimos anos. E que me fez lembrar outra recente figura vexatória, vivida por Eric Bana no pavoroso A Fuga, que acabou se tornando uma piada. É exatamente isso que acontece com o tal Foster. Canastrão por natureza, essa “tentativa de psicopata” acaba tornando o troço mais estranho daqui, quando descobrimos sua real intenção em capturar as garotas. Seguramente você será surpreendido e imediatamente sentirá vergonha alheia aguda. O fato é simplesmente inconcebível. Ficará ainda mais perplexo na espantosa conclusão da película.

A montagem de Avi Youabian mostra-se fundamental dentro da narrativa, por ditar bem o ritmo fílmico. E é bem auxiliada pela trilha de John Debney, que cria toda tensão nas cenas de suspense e pontua as tomadas de ação precisamente. No quesito de atuações, Halle Berry, que há bom tempo não faz nada de relevante, é quem se destaca, entre os demais – o que não é difícil. Isso por parecer bastante envolvida com a personagem Jordan. Michael Eklund fez o Michael Foster, e isso já basta e o marca pra sempre. Abigail Breslin que, até o final do segundo ato, estava bem convincente com sua Casey, teve seu trabalho prejudicado pelo rumo destinado à personagem. No final das contas, entrega-se ao overacting.

Em todo caso, Chamada de Emergência não chega a ser um trabalho ruim na carreira de Brad Anderson, do ponto vista de direção. Ele fez o que pôde para salvar um roteiro desprezível. Foi um verdadeiro artesão pois, como disse anteriormente, até sua metade, o filme passa bem. E, mesmo construindo uma trama envolvente que tem êxito, as nuances, buracos e absurdos residentes na história, destroem, quase que por completo, o trabalho do diretor. Não é uma obra completamente ruim, é apenas condicionada a ser.

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