Crítica: Os Mercenários 3

Os Mercenarios 3A franquia Os Mercenários nunca teve muita pretensão ou, pelo menos, tinha uma muito clara: divertir marmanjos que cresceram assistindo aos filmes de ação brucutu dos anos 80. Por isso, a violência exagerada e caricata, os personagens que resolvem tudo na porrada, as explosões constantes e as tramas descompromissadas, apenas meras desculpas para o espectador se divertir por 2 horas sem ter muito sobre o que pensar na saída do cinema. Com essa premissa o primeiro longa garantiu uma segunda investida rapidamente, que simboliza seu ápice, unindo astros antigos soltando frases de efeito clássicas de seus filmes mais famosos enquanto destroem tudo como tanques de guerra que, apesar de ultrapassados, ainda tem força de sobra. Por isso, Os Mercenários 3 parece um filme deslocado que, ao invés de expandir ainda mais a natureza galhofa da série, dá largos passos para trás, mesmo tendo, nitidamente, a pretensão de avançar.

Finalmente a franquia resolve lidar com a velhice de seus protagonistas e com sua iminente mortalidade. Como isso pede uma trama mais séria, o problema reside justamente no fato deste ser o longa mais leve, quando se refere a classificação indicativa. Para alcançar um público mais amplo (um tiro que saiu pela culatra, como mostram os baixos números arrecadados até agora nos cinemas norte-americanos), Sylvester Stallone e seus companheiros optaram pelo famigerado PG-13, o que não faz o menor sentido, quando se tem outros dois filmes repletos de sangue a cada tiro acertado. Tematicamente, portanto, Os Mercenários 3 parece querer atingir um público mais velho, que se identifica com os dilemas da equipe de Barney Ross, personagem de Sly. Mas se comporta como um filme para jovens, o que acaba afastando seu real público-alvo. Infelizmente, esse não é o único equívoco do filme. Pela falta de uma condução inspirada, certos momentos dramáticos soam forçadamente caricatos, como a sequência em que os membros do time se separam e enfrentam a solidão. Jason Statham, Wesley Snipes, Dolph Lundgren e Randy Couture não conseguem se expressar da forma que o roteiro pede e as tentativas são involuntariamente engraçadas, beirando o patético.

A nova investida introduz também personagens mais jovens, o que soa como a tentativa de emplacar um futuro filme derivado. Para poupar os amigos de uma missão suicida, Ross convoca um time de jovens composto por Kellan Lutz, Ronda Rousey, Victor Ortiz e Glen Powell que, se não contam com o carisma dos velhos mercenários, não fazem feio nas cenas de ação. A direção de Patrick Hughes, embora equivocada quando pende para o melodrama, é certeira quando destaca o que realmente interessa. Há uma megalomania deliciosa embutida em cada sequência, que sempre exige mais dos atores e dublês. As perseguições e lutas vão crescendo até atingirem ápices absurdos e divertidos. Um confronto com um vilão termina com o disparo de um míssil, o resgate de um prisioneiro culmina na destruição da prisão e por aí vai. E tudo muito bem conduzido, sem tiques.

Pelo tom mais sério, Os Mercenários 3 acaba se tornando o menos engraçado da franquia. São menos piadas e as que aparecem não tem muita graça, a não ser as que permeiam o terceiro ato, em uma tentativa de repetir o êxito do longa anterior. Arnold Schwarzenegger retorna, fazendo questão de resgatar um de seus bordões mais famosos, Harrison Ford surge em um momento propício para relembrar seus dias de Han Solo (antes do próximo Star Wars, pelo menos) e Antonio Banderas, de longe a melhor adição ao elenco, se diverte fazendo um personagem que parece unir o eterno Mariachi com o Gato de Botas de Shrek.

Quem também se diverte com o material em mãos é Mel Gibson, com um vilão que, se é unilateral, ao menos usa isso para esbanjar sadismo, inclusive em um momento claramente inspirado nos vídeos do Coringa em Batman - O Cavaleiro das Trevas. O passado de seu personagem, um ex-parceiro do protagonista vivido por Sly, é tematicamente relevante na trama, o que é algo a mais quando comparado com os antagonistas anteriores.

Apesar de perder muito de suas características originais ao se levar a sério (algo que Stallone, creditado no roteiro, deveria deixar para suas outras cinesséries como Rambo e Rocky), Os Mercenários 3 não é totalmente ruim e guarda seus bons momentos para o final. Por outro lado, empalidece quando comparado aos antecessores, justamente por buscar algo que nunca fez falta na franquia. É como se na terceira vez que a piada é repetida, o humorista resolvesse incluir um pouco de drama na coisa. O público dispersa, o efeito se perde e, apesar do desfecho até levar a um riso ou outro, o caminho para chegar a ele já não é mais tão interessante.

Alexandre Luiz

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