Obra do cinema B, tenta traduzir em tela o crime que vitimou Sharon Tate e seus amigos

O Perigo Bate à Porta é um filme de horror e suspense lançado em 2016. Idealizado pela dupla John R. Leonetti e Gary Dauberman, mira ser uma obra de tensão, sobre invasão domiciliar, baseado no que deve ser o caso mais famoso de caso criminoso real.
Sua trama acompanha quatro amigos, reunidos em uma casa durante o verão de 1969. Enquanto um deles se prepara para retornar para sua terra natal, acontece uma invasão da casa, que remete aos crimes que vitimaram a atriz Sharon Tate, que estava grávida de um filho do diretor e ator Roman Polanski.
A obra reúne a equipe criativa de Annabelle, sendo dirigido por Leonetti, escrito por Dauberman, sendo produzido por Peter Safran, com produção executiva de Walter Hamada e Hans Ritter.
Obsessão com Polanski e com o crime
Para muitos, esse é o segundo filme de Leonetti inspirado nos assassinatos da família Manson.
A sequência de abertura do já citado Annabelle recriou uma versão fictícia dos assassinatos. Esse aliás também seu segundo filme com uma protagonista grávida depois do filme mencionado.
Vale lembrar que o filme da boneca macabra imita várias das tramas e mitologia de O Bebê de Rosemary, que é certamente o mais célebre dos filmes de Roman Ponlanski.
Parte do Invocaverso?
Para muitos, esse é ambientado no universo de Invocação do Mal, o chamado Invocaverso, embora isso só ocorra de maneira extraoficial.
A ligação seria o personagem do Detetive Clarkin, interpretado por Eric Ladin, que aparece tanto neste filme quanto em Annabelle.
Ele está longe de ser alguém importante em qualquer uma das tramas, parece ser mais uma figura reaproveitada e um aceno de Leonetti e Dauberman.
O personagem jamais voltou a aparecer, inclusive Leonetti não trabalhou mais no Conjurinverse - Dauberman retornou depois - então não houve chance disso.
Curiosamente, em A Maldição de Chorona, o personagem do Padre Perez de Tony Amendola aparece também, fato que uniria as obras, mas até essa foi excluída da cronologia, ao menos oficialmente.
Estreia e nomenclatura
O filme chegou primeiro na Índia, em 21 de outubro de 2016. No Kuwait chegou em dezembro. Na Alemanha e Reino Unido chegou em março de 2017, já nos Estados Unidos da América chegou em abril, lançamento pela internet. Na Itália chegou direto para TV, em abril de 2017 também.
O título original é Wolves at the Door. Pelo mundo teve poucas variações como na Bulgária, que é Вълците пред вратата, a Hungria que é Farkasok az ajtónál. A Espanha chama de Lobos en la noche e Itália é 10050 Cielo Drive.

Essa é uma obra dos estúdios New Line, com distribuição interna da própria. A HBO Max lançou em VOD no território dos Estados Unidos.
Quem fez:
Leonetti atualmente é conhecido por ser realizador, mas é também um diretor de fotografia. Como cinematógrafo, lembra-se de Brinquedo Assassino 3, O Máskara e Mortal Kombat: O Filme, Gritos Mortais, Sobrenatural, Sobrenatural: Parte Dois e Invocação do Mal.
Foi diretor em Mortal Kombat: A Aniquilação, Efeito Borboleta 2 em 2006. Depois fez O Perigo Bate à Porta, 7 Desejos, O Silêncio e Canção de Ninar.
Dauberman escreveu Annabelle, Annabelle 2: A Criação do Mal e Annabelle 3:De Volta Para Casa, que ele dirigiu também. Além desses, escreveu It: A Coisa e It: Capítulo Dois e dirigiu A Hora do Vampiro.
Peter Safran hoje comanda o DC Studios ao lado de James Gunn.
Seus trabalhos mais notáveis são como produtor em Enterrado Vivo, Os Vampiros que se Mordam, Acampamento do Terror, Martírio, Dia de Trabalho Mortal, Invocação do Mal 3: A Ordem do Diabo.
Dos piores
Em uma compilação dos filmes do ano em dezembro de 2017, o crítico Mark Kermode considerou este não apenas o pior filme lançado em 2017, mas também o pior que ele viu em vários anos.
O mesmo chamou o longa de "desagradável, hipócrita, moralmente falido e dramaticamente inepto... e espero nunca mais ter que mencionar ou pensar sobre isso novamente".
Narrativa
Antes da história de fato começar a se desenrolar, há um letreiro, que explica, de certa forma, o que ocorrerá em tela.
O seguinte aconteceu, por duas noites em Los Angeles, durante o verão de 1969, também conhecido como "O Verão do Amor". Os terríveis eventos que aconteceram coroaram os turbulentos anos 60 e revelaram o lado sombrio do sonho californiano...
Depois do aviso, a trama se diz baseada em uma história real.
A obra começa na rua Cameron, quando ocorre uma invasão domiciliar que atormenta o casal John (Chris Mukey) e Mary (Jane Kaczmarek). Depois do barulho, Leonetti tenta injetar suspense, mudando imediatamente o foco, mostrando o policial feito por Arlen Escarpeta chegando até a casa, que está silenciosa.
Pelo chão se percebem coisas quebradas, muita dessarrumação e uma quietude mórbida, além da pintura de um palhaço, que é de John Wayne Gacy, um serial killer famoso.
Arquitetura diferenciada
Nas paredes, algo vermelho predomina, parece sangue, onde se lê escritos ofensivos, como little pig e permissões irônicas, como deixe-me entrar.
Como o filme faz referência a lobos, fica patente que a ideia é referenciar ao conto dos três porquinhos.
Ligação com Annabelle
Logo chega o Detetive Clarkin, de Eric Ladin, o personagem detetivesco, que investigou o caso de Mia e John em Annabelle, de 2014.
Quando fala a respeito do caso, repete palavras como as que usou no outro filme, diz que loucos fazem loucuras...não enxergam razão ou propósito na invasão.
Ele segue praticamente sem nenhum tipo de reflexão aos momentos anteriores, faz parecer que a cronologia entre filmes inexiste, visto que o caso de Sharon Tate também foi abordado no outro filme.
Celebração
Um quarteto comemora um aniversário de Abby (Elizabeth Henstridge) ou Abigail Foster, só que forma antecipada.
Seu namorado Wojciech Frykowski interpretado por Adam Campbell, e o "casal" Sharon, que é vivida por Katie Cassidy e Jay, de Miles Fisher.

Esses dois últimos, na verdade, não eram um casal, mas sim uma dupla de amigos, que parece ter algo a mais, a popular "amizade colorida".
É sabido que Jay Sebring e Sharon Tate tiveram um relacionamento antes dela se relacionar com Polanski. O ex-namorado visitou a moça grávida, na noite em que ambos foram assassinados na casa dela.
O poder familiar
Nesse ponto, se estabelece um pequeno drama, já que Abby retornará para Boston, vai largar o sonho de morar na Cidade dos Anjos, perto de Hollywood, já que seus pais querem ela de volta.
Seu namorado se irrita, achando que ela deveria insistir em ficar.
Quando Abigail está falando com a mãe ao telefone, aparece uma cafeteira pode ser vista na prateleira atrás dela. O sobrenome da personagem é Folger, ou seja, se ela não estivesse nessa fatídica noite, seria a herdeira da fortuna da Folger Coffee.

Descoberta
Quando o grupo sai do bar, fica claro que Sharon está grávida, já que a barriga inchada aparece.
Até esse momento não fica claro que ela é uma referência a Sharon Tate. Leonetti e Dauberman já haviam colocado os nomes dos personagens de Mia e John, em menção a Mia Farrow e John Cassavetes de O Bebê de Rosemary.
Nesse, traduzem em tela a problemática real de Roman Polanski, mas curiosamente, só faz isso ao final, com o informativo do destino das pessoas.
Na casa de Sharon, ela encontra um homem belo, Steven Parent (Lucas Adams) ele mostra seu sistema de som para um amigo, William (Spencer Daniels).
O flerte entre eles faz Steven perguntar quem era ela, visto que parecia ser alguém que ela conhece.
Os medos e receios
Não demora até que ocorram sons estridentes. Leonetti recorre a sustos que só existem graças ao fato dele subir demais o volume do som.
De maneira abrupta e com zero preparação atmosférica ou de suspense, mostra o ataque ao carro do rapaz, por pessoas armadas.
Personagens impossíveis de simpatizar
Parte da construção do terror mora no fato de que é preciso se importar minimamente com quem sofre o mal. É difícil sentir isso aqui, já que os jovens são fúteis, vivem dramas tolos, não parecem minimamente interessantes.
Não se constrói a mínima tensão no momento em que aparecem pessoas no interior da casa, que entram sem ser convidadas, evidentemente.
A ideia de fazer essa invasão ser silenciosa poderia ser uma boa saída, caso houvesse preparação também. Aqui só parece gratuito, fraco e tosco.
Até o ataque a jovens a partir da Pick-up Ford, que Steven usava é mostrada de maneira avulsa.
Um a um os personagens do "lado bom" vão sendo atacados.
Pouco suspense
A ideia de Dauberman e Leonetti era referenciar a tragédia, mas falta urgência, falta atmosfera e até gore.
Esse é um filme sobre massacre que tem receio de mostrar ferimentos, mortes ou pedaços de corpos machucados.

Há medo até de mostrar os mortos e quase todos os homicídios ocorrem off câmera.
Curioso que esse é um longa-metragem mega curto, com uma hora e doze minutos (contando créditos) e depois dos 40 minutos, tenta-se investir em tensão, com a transformação da trama, que se torna basicamente um filme de cabeludos entrando na casa da vítima mais conhecida entre os que serão executados.
A trama necessita de muitas conveniências e coincidências para funcionar, como quando Abby tenta chamar William, que não percebe quem está fora graças ao som.
Esses até são eventos históricos, mas a cena é artificial, não parece realista em qualquer campo que não envolva suspensão de descrença. Quando ele levanta e não vê nada, graças a uma diferença de milésimos de segundos, parece apenas algo forçado.
Nem mesmo as torturas assustam, parecem fracas, não há nada explícito, no máximo o enquadramento de um sapato sob a cabeça de uma das vítimas.
Epílogo
Depois das mortes, são mostradas gravações antigas, sobre os crimes dos envolvidos com a seita da Família Manson. Como dito antes, apenas no final da história é que se e assume como uma cinebiografia.
O Perigo Bate a Porta é uma obra fraca, mal atuada, mal dirigida e mal engendrada. Não possui praticamente nenhum bom predicado, vale pela curiosidade do espectador, não tem como adjetivo positivo nem a sua cinematografia, que é o trabalho original de Leonetti.
TRAILER
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