Todos devem lembrar da estreia de Sofia Coppola como diretora em 1999. Sua adaptação da obra literária de Jeffrey Eugenides é um ícone cult mas que não fez um grande sucesso quando estreou nas telonas com as atuações de Danny Devito e Kristen Dunst.
Jeffrey Eugenides publicou As Virgens Suicidas em 1993, mas também é conhecido por seu romance Middlesex, publicado em 2002, além de tantos outros contos. As Virgens Suicidas conta a história de cinco garotas que cometem suicídio, e isso não é spoiler é o ponto central para desenrolar a história que todos podem ler na segunda capa ou orelhas do livro com a sinopse.
O diferencial de As Virgens Suicidas é que o livro possui uma narrativa diferente e inesperada. A história não é contada pelas meninas ou por sua família, mas narrada por alguns jovens meninos que conviveram com as irmãs Lisbon durante a época em que se sucederam os suicídios. Os meninos ali observavam tudo do outro lado da rua, prestando atenção em todos os movimentos das meninas, sendo sua fuga e matando sua curiosidade com pequenas atitudes das irmãs, como um bilhete qualquer.
Jeffrey trabalha em seu texto muito mais do que o suicídio de cinco irmãs, isso é apenas o pano de fundo para uma história muito mais intensa e cheia de insights sobre coisas cotidianas que não nos damos conta. Principalmente sobre o período da adolescência.
“Essa obrigação de ser feliz paradoxalmente nos deixa cada vez mais infelizes.” — As Virgens Suicidas
Principalmente por se tratar de algo que possa ser presenciado por qualquer um - o sofrimento - As Virgens Suicidas capta o leitor de um jeito fantástico. Apesar da falta de diálogos e de um texto, principalmente, descritivo, o livro, em nenhum momento, se torna chato ou cansativo. Ele se torna uma biografia não autorizada com vida de meninas que todos querem conhecer, que todos querem saber o que se passava por trás das portas daqueles quartos. As jovens Lisbon tiram o melhor e o pior dos seus vizinhos meninos e os fazem presenciar os piores momentos de suas vidas.
“Naquele momento o Sr. Lisbon sentiu que não sabia quem ela era, que os filhos são somente estranhos com quem a gente concorda em viver.” - As Virgens Suicidas - Jeffrey Eugenides
“Soubemos como dói o vento do inverno entrando por debaixo da saia, como é sofrido manter os joelhos juntos na sala de aula, e como é monótono e irritante ter que pular corda enquanto os meninos jogam beisebol. Nunca conseguimos entender por que as meninas faziam questão de ser maduras, nem por que sentiam tanta necessidade de elogiar umas às outras, mas às vezes, depois de um de nós ter lido em voz alta um longo trecho do diário, tínhamos que combater o desejo de nos abraçar ou de dizer uns aos outros como éramos bonitos. Sentimos o aprisionamento que é ser garota, e como isso torna a mente ativa e sonhadora, e como a gente acaba sabendo quais cores combinam entre si. (…) Soubemos, afinal, que as garotas são da realidade mulheres disfarçadas que compreendem o amor e até mesmo a morte, e que nossa tarefa era apenas gerar o barulho que parecia fasciná-las.”
— As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides
Brincando com a forma com que os meninos entendem as meninas, o livro também torna uma ferramenta sociológica, explicado as diferentes relações nesse universo onde meninos e meninas estão começando a se entender.
Um grito explicando a repressão e a difícil tarefa de ser pai ou mãe, esse é outro ponto que poderíamos dizer que é trabalho em Virgens Suicidas, mas para acabar meu texto sobre o livro, vou terminar explicando em apenas uma palavra, e espero com sinceridade que você tenha curiosidade de ler essa maravilhosa obra para conseguir visualizar o filme de Sofia Coppola de outra forma. As Virgens Suicidas é sobre egoismo e nada mais.