O filme tem um enredo bem clássico. Começa com um pequeno trecho, que claramente está no final, e que nos instiga, como ensinado no clássico Cidadão Kane (Orson Welles, 1941), e a trama se desenvolve de forma didática, com um narrador e com um desenrolar clássico, em que nos inteiramos do mundo onde os personagens vivem. Um final razoavelmente bem fechado e que atende as pretensões de alguns espectadores.
1980. Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade) são grandes amigos que ficam empolgados ao tomar conhecimento de Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, localizado no estado do Pará. A dupla resolve deixar São Paulo e partir para o local, sonhando com a riqueza. Só que, pouco após chegarem, tudo muda na vida deles: Juliano se torna um gângster, enquanto que Joaquim deixa para trás os valores que sempre prezou.
Heitor Dhalia, Pernambucano que ganhou o mundo com o premiado O Cheiro do Ralo, de 2007, foi para Hollywood, dirigiu o péssimo 12 Horas, em 2012, e voltou para comandar um projeto que há muito vinha sendo escrito, e a grande preparação ajudou em alguns pontos, mas decepcionou em tantos outros.
O roteiro, embora didático, é um tanto quanto falho. Alguns buracos são claramente observados, causando alguma confusão no espectador que não está tão atento. A edição do filme também não ajuda muito, sendo falha na maioria das cenas.
A direção de arte é um grande ponto a favor, recriando bem os anos que vemos na tela. Locações incríveis são colocadas na tela e as cores do filme, amarelo, marrom e vermelho, são muito importantes para acentuar seus principais aspectos: Ouro, barro e sangue.
A fotografia, embora inteligente, pois coloca o espectador na situação através de primeiríssimos planos, usa à exaustão a velha e boa "câmera na mão", dificultando o entendimento da cena e até mesmo perdendo um pouco do cenário, que também é muito importante para contar a história.
A direção de Heitor é bem firme, mas esperamos mais do filme ao ver seu nome na ficha técnica.
Referências são pintadas aos montes na tela, mas as mais notadas são as feitas ao clássico de Coppola, O Poderoso Chefão, de 1972. Desde a iluminação escura, quanto sequâncias, como, por exemplo, o momento em que o personagem de Cazarré come com amigos, enquanto assassinatos são realizados a seu mando, tomando totalmente a posição de Michael Corleone.
O que não decepciona são as atuações competentes de Cazarré, Wagner Moura, Matheus Nachtergaele, Júlio Andrade e da estreante nas telonas, Sophie Charlotte.
Sophie mostra que tem força e desempenha um papel difícil e intenso, sem decepcionar. Cazarré e Andrade estão bem como dupla principal, Nachtergaele, como sempre, mostra muito talento e Wagner Moura estoura em um papel pequeno, mas que causa impacto e até alguns risos. Com visual diferente, roupas extravagantes e coloridas e uma careca, a atuação de Moura é tão boa, que chega ao ponto de querermos mais tempo dele na tela.
Filme que vale a pena ser visto, apesar dos problemas, e que promete boas discussões sobre a hostil vida dos garimpeiros na Serra Pelada.
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