Barbwire: a Justiceira - Quadrinhos, sensualidade e um tempero de Casablanca

Barbwire: a Justiceira - Quadrinhos, sensualidade e um tempero de Casablanca Barb Wire: A Justiceira é um filme de ação e ficção científica protagonizado por Pamela Anderson e dirigido por David Hogan. Essa é uma adaptação de quadrinhos bem obscura, executado com um orçamento baixo, além de ser uma versão modernizada (e mambembe) do clássico do cinema Casablanca.

O quadrinho homônimo onde o filme é baseado foi criado por Chris Warner para o selo Dark Horse.

A história conta a trajetória de uma sensual proprietária de um clube noturno - que nas horas vagas é caçadora de recompensas - que tenta seguir em seus negócios sem se meter em confusão, entre as crises mundiais, uma vez que a trama é de 2017 após a Segunda Guerra Civil Americana.

A personagem de nome Barb Wire é interpretada pelo ícone sexual que assinava na época como Pamela Anderson Lee. Sua vida é atravessada por um grande amor do passado, que retorna para deixar tudo de pernas para o ar.

Barbwire: a Justiceira - Quadrinhos, sensualidade e um tempero de Casablanca

Ele no caso é Alex Hood, interpretado pelo futuro Jango e Boba Fett Temuera Morrison, que chega ao clube de sua ex-namorada com sua atual esposa, pedindo proteção para ela, já que ela é uma cientista muito importante para o futuro da guerra e para o combate químico que aparentemente ocorrerá.

Só aqui já se percebe referências e imitações a produtos que fizeram sucesso antes, especialmente, Mad Max. e suas cópias como Crepúsculo de Aço e Waterworld. O cenário de 2017 varia entre o cyber punk e uso contínuo de roupas pretas e couro, e há de lembrar que o longa-metragem data de 1996, anterior ao lançamento de Matrix, Blade: Caçador de Vampiros e Cidade das Sombras.

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Evidente que Alex Proyas, as irmãs Watchowski (na época irmãos) e Stephen Norrigton não copiaram uma obra de tão baixa linha, mas surpreende como no anseio de fazer uma produção de qualidade assumidamente inferior, se previu uma baita tendência.

Como foi dito antes, a trama é no ano de 2017, na época, um futuro distante, em Steel Harbor, em uma referência igualmente óbvia a Peal Harbor, local que foi atingido durante da Segunda Guerra Mundial - o conflito que permeia a referência central de Casablanca - e serve também para demonstrar que os tempos mudaram cenários conhecidos de maneira drástica.

Há um bla-bla-bla político, de que a velha democracia caiu diante de um grupo tirânico chamado Diretório Congressista. Com a parte continental dominada, a ilha de Steel Harbor acabou se tornando um reduto de mercenários, salafrários, caçadores de recompensas e homens ricos e tarados, que queriam ver shows de strip-tease de loiras siliconadas.

A câmera do diretor de fotografia Rick Bota explora a sensualidade de Anderson comedidamente no início, embora a primeira cena seja um show com couro, chuveiro no palco e pole dance.

Lentamente abre o zíper que guarda seus fartos seios, que não aparecem nus quase nunca. Até para aparecer os mamilos demora, e tudo isso ocorre com o ambiente escuro, para não ter noção da totalidade do vulto feminino.

Ela ainda guarda um caráter meio pudico, acertando o salto alto na cabeça de um sujeito que tenta se engraçar mais do que devia - na verdade ele só pede para ela se mover mais, enquanto a chama de Baby (boneca, na tradução) - claramente a personagem não gosta de se exibir daquela forma.

O roteiro ficou a cargo da dupla Chuck Pfarrer e Ilene Chaiken (que também é a argumentista), e claramente há tentativas bem "doidas" de imitar os personagens secundários de Casablanca. Shelly Desai por exemplo é uma das versões alternativa do grande Peter Ugarte.

Aparentemente o início mostra Barb como agente secreta infiltrada, tão ou mais discreta que o espião a serviço do MI-6 que dá seu nome real para tudo e todos.

Mas a virtude passa longe de Barb Wire, ela não é como James Bond, uma pessoa a serviço da majestade, é na verdade independente, egoísta, uma pessoa contratada para um resgate e que respeita apenas o seu próprio código moral e ético, que resgata a filha de uma filha de um figurão e não hesita em pegar o carro dele como prêmio.

Essa é uma história de mercenários, lembre-se.

Depois corta para um momento em um laboratório científico, onde o vilão chamado de Patron e interpretado por Amir AboulEla, lida com uma bela moça na maca. Ela está praticamente nua, com próteses metálicas sobre os seios, rosto e outras partes.

A moça é torturada com choques de maneira erótica, e está lá para informar o paradeiro de Dra. Corrona Devonshire, ou Cora D, personagem de Victoria Rowell, que é o obvio equivalente de Victor Laszlo.

A ideia é simples e óbvia: associar os vilões aos métodos nazistas, de tortura e experiência, mas a referência deixa de ser sútil quando os uniformes pretos dos capangas lembram os da Gestapo, inclusive com símbolos que imitam os tropos nazistas.

Outra coincidência é o uso do termo Progressista na sigla do grupo tirânico, fato que pode confundir o espectador, de que na verdade esse seria um grupo totalitário de esquerda, mas que na verdade fez referência ao nome do partido nazista, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Apesar da coincidência na nomenclatura "real", é sabido o partido nazista não tinha nada a ver com o socialismo - que é um estágio político implantado nos países que buscavam o comunismo, que por sua vez é não só um sistema global e não nacional, como é avesso a causa que segrega, presente no nazismo.

No caso alemão, a origem do partido sequer tinha origem operária também, era aristocrata em essência. Os capangas de Patron não declaram suas ideologias, mas tem dezenas de elementos visuais que remetem a polícia nazista.

Da parte do filme, há alguns elementos que determinam o caráter B, a começar pelos cenários, que lembram sobras de produções para tv.

Outro indício é a presença de Udo Kier, grande ator, mas afeito a produções trash e de qualidade duvidosa. Aqui ele é um misto de mordomo e relações públicas de Barb, chamado Curly. Além de servir ela, o sujeito também serve bebidas.

Barbwire: a Justiceira - Quadrinhos, sensualidade e um tempero de Casablanca

Todas as cenas de Kier são caricaturais, mas seu papel é importante. Ele é possivelmente o equivalente de Sam, o pianista que acompanha o protagonista Rick Blaine em Casablanca.

Outra do cinema barato, é o personagem de Clint Howard, além disso, há um largo uso de animais como personagens, especialmente a rotweiller Camille, que morde as bolas de quem se aproxima a força de Barb.

O filme claro é uma desculpa (esfarrapada ao extremo) para colocar Pamela Anderson em trajes sensuais, com decotes generosos, se assemelhando a uma versão bem soft de um filme pornográfico.

Vale lembrar que vazou uma sextape entre Pamela e seu esposo, Tommy Lee, o baterista da banda de hard rock Mötley Crüe, nos idos dos anos noventa. O evento foi traumático para a moça e gerou até uma série no Star+, chamada Pam & Tommy.

Fontes próximas a ela dizem inclusive que ela não gosta de tocar no assunto, porque foi bastante difícil lidar com essa exposição, possivelmente trabalhar nesse Barb Wire foi importante para ela no sentido de tentar superar o estigma, e capitalizar de alguma forma com o corpo escultural da atriz, dessa vez por meios legais.

Ainda assim o filme foi um fracasso de bilheteria.

Xander Berkeley faz o chefe de polícia de Steel Harbor, Alexander Willis. Descrito como um homem de métodos agressivos, porém honesto. Curiosamente ele é dito assim pela narração sussurrada de Pamela, quase como em um ASMR.

Tudo nesse filme é incrivelmente posado, cafona e deliberadamente voltado para os clichês XXX, com Barb aceitando dançar com estranhos, se trocando na mesma sala que homens estão, flertando com diversos deles, em cenas diferentes.

Há todo momento parece que vai começar a transar com os homens da trama, ela é uma extrapolação mega exagerada do ser sedutor que Rick Blaine era dito, mesmo que em tela, ele parecesse controlado. Barb não, ela sabe o que é, como é, e não tem receio de utilizar seus atributos físicos.

Temuera só entra de fato na trama após quarenta minutos (o filme tem cem minutos no total). Já havia sido introduzido, numa cena confusa de tiroteio onde ele e Cora D deveriam ter morrido, mas sobrevivem, afinal esse é um filme de heróis.

Não adianta levar o filme a sério, e a realidade é que dentro da proposta de ser uma parodia, há muitos bons momentos. As lutas são tosquíssimas, a falta de dramaticidade do elenco tempera bem tudo, e a cena de flashback com Anderson vestida de militar é maravilhosa.

O roteiro é permeado de piadas com duplo sentido, fato que reforça a ideia galhofeira do longa, mas a ideia de imitar Casablanca se perde em meio a tentativa de fazer um filme de ação genérico, que faz lembrar o pior dos filmes da Cannon

Barb Wire: A Justiceira até tenta ser uma versão picante de um clássico, mas esbarra na total falta de sutileza em apresentar uma trama dúbia e de neutralidade política. Vale pela participação de Anderson, no auge da beleza e pela ousadia de exibir tal peça como uma obra para todos os públicos.

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