A Noite das Vampiras : O bizarro e apelativo filme que mistura bruxas, súcubos e nudez muito gratuita

A Noite das Vampiras : O bizarro e apelativo filme que mistura bruxas, súcubos e nudez muito gratuitaA produção de filmes B é bastante importante para a indústria cinematográfica. Uma porção de profissionais do cinema ganham espaço e popularidade primeiro nesse segmento e depois no mainstream. Exemplos não faltam, entre eles há Peter Jackson, que conduziu a trilogia O Senhor dos Anéis e até Andy Muschietti, do recente The Flash e IT: A Coisa.

Dentro do escopo de filmes de baixo orçamento e abordagem trash há muito espaço para uma arte de gosto duvidoso. É bastante comum que hajam obras que são apenas um pretexto para colocar mulheres em trajes sumários ou em condição de nudez.

Foi esse o maior esforço do diretor e produtor David DeCoteau. Em 1988 ele apresentou ao mundo A Noite das Vampiras, filme feito direto para o vídeo, conhecido por seu nome original Nightmare Sisters.

É bom lembrar que nada na obra remete a vampiros ou qualquer outro tipo de morto-vivo.

O filme teve produção executiva de John Schouweiler, que fez Três Cocotas em Apuros e Vingança Selvagem (entre outros). O roteiro de Kenneth J. Hall traz à tona uma temática espiritual, onde um demônio toma o corpo de três moças puritanas, fazendo com que elas se tornem mulheres exibicionistas com corpos esculturais. Como o acesso a pornografia era mais difícil na década de 1980, era comum ver filmes para vídeo ou cinema apelar para essa condição.

O longa foi filmado em apenas quatro dias, no mês de setembro de 1987, custou em torno de 40 mil dólares e usou sobras de orçamento de Imp - O Invasor do Espaço, também produzido por Schouweiler.

A Noite das Vampiros não foi um grande sucesso, tampouco marcou época. Recebeu um certo reconhecimento anos depois. Reza a lenda que a empresa que distribuiu o filme fechou abruptamente, depois de ter distribuído apenas 2000 cópias da fita, número esse bastante baixo, mesmo para uma obra B.

Uma cena em especial gerou muito boca a boca: a famigerada sequência da banheira, que colocou em um espaço curto suas três atrizes principais Linne Quigley, Brinke Stevens e Michelle Bauer.

As três se tornaram celebridades em convenções de fãs de horror, fazendo assim com que o filme tivesse uma sobrevida anos depois. Em 1991, as três se juntaram ao filme Scream Queen Hot Tub Party, de Fred Olen Ray e Jim Wynorski.

Normalmente em obras menos conhecidas, deixamos um aviso de spoilers, mas essa trama se leva pouco, não se faz tão necessário avisar, mas caso o espectador queira, está dito, falaremos sobre o texto e suas surpresas.

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A trama começa misteriosa, com uma mulher de preto, enlutada chamada Amanda (Sandy Brook), que vai até o cartomante fajuto Omar (Michael Sonye) para se consultar.

Enquanto o sujeito está em transe, ele a assusta, falando obscenidades, acompanhado de um sotaque claramente falso. A ideia era apelar para algo mais cômico e bem-humorado, mas já um grande susto real, á que a cabeça de Omar é arrancada a partir de mãos monstruosas que saem da bola de cristal.

Aqui dá para entende que esse foi um ato de justiça poética para os atos malvados dele, já que fingia ter poderes espirituais. Omar ou era um charlatão ou desdenhava das entidades com quem ele lidava.

Após o epílogo entram os créditos iniciais, com a música da banda Haunted Garage. O filme não tocaria mais nos personagens presentes nessa introdução por boa parte de sua narrativa.

David DeCoteau até então havia feito Dreamaniac, com o tempo se dedicou a um estilo de cinema peculiar. Entre as suas obras, lembra-se normalmente dos filmes posteriores a 1988, como Naked Instinct, Garotas de Outro Mundo, Fuga Pela Sedução, Garotas na Ilha e Bikini Goddesses.

Olhando rapidamente o conjunto de pôsteres dá a dimensão do conteúdo, ou seja, ele na ativa seguiu o mesmo caminho desse A Noite das Vampiras. Dentro do terror ele conduziu A Maldição da Múmia (The Mummy 2), Retro Puppet Master, mas o grosso mesmo são os filmes de homens belos, de corpo escultural e descamisados, presentes na saga 1313 que sempre tem homens e mulheres em poses sensuais nas capas dos vídeos.

Já Hall tem uma carreira de roteirista ligada a produções de horror. Ele escreveu A Maldição da Tumba, Semente do Mal e Bonecos da Morte. Também trabalhou com efeitos especiais em obras como Ghoulies (1985), Criaturas (1986) e no recente Willy's Wonderland: Parque Maldito (2018), que tem Nicolas Cage como protagonista.

A segunda parte do filme inicia quando três meninas nerds e entediadas decidem animar a noite e acabam em uma sessão espírita invocando um ser do além.

Elas são Melody (Quigley), Marci de (Stevens) e Mickey (Bauer) e o aspecto mais bizarro aqui é que elas tentam (em vão) fingir que não são mulheres de alto padrão de beleza.

A produção confia que só deixar as moças com roupas surradas, óculos de aro grosso e maquiagem de espinhas será o suficiente para disfarçar a óbvia condição de que elas são mulheres bonitas.

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Nada torna plausível que os meninos não percebam que elas se enquadram completamente nos padrões de beleza da época.

O paupérrimo da produção se percebe também na construção textual. Sequer haviam falas para as meninas, o trio decidiu escrever o que as personagens falariam no set mesmo. Em quatro dias de filmagens e sobre pressão, obviamente não sairia nada genial, ainda mais vindo de atrizes sem experiência com scripts.

Como não se veem com chances de pegar ninguém, elas convidam os nerds locais, os excluídos de uma fraternidade universitária Tri Eta Pis. Teoricamente eles seriam os únicos capazes de tentar flertar com elas, de tão feias que elas eram.

No interior do quarto desses rapazes há um pôster de Creepozoides, filme anterior de DeCoteau, lançado em 1987. A autorreferência poderia parecer algo pedante, mas é bem menos problemática por exemplo que a exibição da bandeira dos Confederados, símbolo que hoje dificilmente seria peça de cenário, mesmo em um filme B.

Fato é que A Noite das Vampiras não tem qualquer compromisso com um discurso progressista ou algo que o valha. Há dezenas de piadas politicamente incorretas sobre sexualidade e costumes, também se apela bastante para estereótipos estudantis problemáticos.

Reunidos os dois trios, decidem enfim usar a tal bola de cristal que encontraram jogada na casa, repetem então a cena inicial. É nesse ponto que Omar finalmente retorna a trama, com uma aparição na bola de vidro.

Todas as atuações são caricatas, não há quem se salve e o filme tem dificuldade em fazer rir até perto da metade, o que é curioso, uma vez que ele faz piadas o tempo inteiro.

O quadro muda exatamente quando as meninas se transformam em mulheres sedutoras, que andam quase sempre nuas, praticando top less. Não há qualquer motivo aparente para essa mudança, além da mudança súbita de vontade das mesmas.

Essa parte do roteiro é uma desculpa esfarrapada para valorizar o onanismo. Como dito, produções com nudez explícita era menos acessível em 1988, daí para os garotos irem ao cinema ver moças nuas era de fato um evento, e da forma como é apresentado esse aspecto, poucas vezes se viu.

As garotas se lambuzam com glacê e cobertura de bolos e tortas. O foco é no fetiche, claramente e se apresenta da maneira mais tola possível, ainda tem momentos bizarros, com uma cena das três se limpando na banheira, longe do olhar dos três.

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Elas se exibem para a plateia, quebram a quarta parede mas fazem isso da maneira mais cara de pau possível. Há planos detalhe na bunda de algumas delas, com um enfoque bem generoso nesses trechos, acompanhado de uma trilha musical engraçadinha, composta por Del Casher e Michael Sonye, que vai bem no estilo dos filmes da Sessão da Tarde.

Para qualquer pessoa que assista fica difícil acreditar que os rapazes não suspeitaram de nada. Achar normal acontecer um desenrolo amoroso como esse é demais até para um filme de horror, onde a estupidez parece consumir o pensamento e ação dos personagens. A mudança de postura e visual deveria ser o suficiente para deixar eles achando aquilo suspeito, mas não foi, possivelmente por encanto.

Aparentemente o filme esquece que é de horror e vira uma espécie de Porkys, com o acréscimo de alguns mauricinhos da fraternidade, que resolvem rondar a casa das três meninas para espia-las. Isso é um pouco contraditório, já que elas eram encaradas como feias...eles se espantam com o quanto elas estão belas e exibicionistas.

Na prática elas são súcubos, ser que consiste em um demônio com aparência feminina que invade o sonho dos homens para ter relações com ele, roubando assim sua energia vital. Falamos um pouco sobre esse monstro recentemente, no nosso texto de Garota Infernal,

O apelo ao onírico faz o filme parecer um sonho, no entanto tudo aqui se dá em um estado desperto, mas não há qualquer preocupação em explicar nada, tampouco explicita as possíveis mudanças na mitologia. Toda a análise feita nessa crítica é baseada apenas em interpretação dos poucos elementos que abrem margem para subtexto no roteiro.

As meninas agem de maneira infantilizada, apelam (outra vez) para um fetiche, agora de ninfetas, embora também fique claro que essas são pessoas adultas já. Marci se veste de menininha com pirulito, laço e vestido rosa e quer jogar Twister, já Mickey vira uma versão de Jane a esposa de Tarzan na selva de seu quarto, enquanto Melody quer fazer uma cena de cabaré, com música e um piano.

Ao menos o filme se mune de ironia, permitindo que os meninos achem que vão se dar bem, para perceber que elas são seres maléficos. Prova disso é uma referência a sexo oral que para no momento em que a menina mostra ter dentes animalescos.

Um a um vai caindo, um deles inclusive vira cinzas, tal qual a esposa Jó na Bíblia. As referências possíveis são legais, mas nada muito além disso. As três voltam sua atenção e sedução para o mauricinho restante, usam roupas de couro, trajes típicos de relações sadomasoquistas, no entanto a dor fica mais sugerida e menos mostrada. O filme não é tão audacioso, afinal.

Em certo momento, entra em cena um padre exorcista, interpretado por James R. Sweeney, mas que parece um sujeito de pouca confiança e aparência inofensiva. O roteiro ainda tenta parecer espertinho, já que ele diz que fez um caso de expulsão de demônio, mas não recebeu créditos e o modo como fala lembra o caso de Regan em O Exorcista.

Ao menos ele parece entender do trabalho, já que não demora a entender que elas são súcubos. Então pede que arrumem ervas, para que ele ponha em prática um ritual mambembe, mas visualmente legal.

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Os melhores momentos certamente ocorrem perto do final, inclusive com uma criatura monstruosa, albina e cadavérica, uma bruxa, que transformou as moças e aparece brevemente. Apesar de ser um boneco bem vagabundo, feito por efeitos práticos, fica a sensação que se houvesse mais momentos assim, a fita seria mais divertida. A criatura é facilmente derrotada, caindo após quebra da bola de cristal.

Mesmo que esses momentos sejam ridículos, ter mais interferências e mais acenos ao sobrenatural, certamente essa seria uma produção mais palatável para os fãs do cinema especulativo.

A Noite das Vampiras é uma bobagem sem tamanho, um filme de comédia que brinca com alguns elementos de terror mas não os aprofunda em momento algum, nem nos sustos e nem nos risos. Serve aos intentos dos seus produtores de ganhar algum dinheiro com um público ávido por ver belas mulheres em situações levemente eróticas e acerta ao apresentar personagens femininas carismáticas e belas.

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