Filme independente e barato, Bom Menino busca inovar em sua fórmula, embora o conteúdo seja derivativo

Bom Menino é um filme de terror que se tornou um fenômeno de popularidade instantânea, desde que estreou em circuitos de festivais. Obra de Ben Leonberg, a história acompanha um cão que se muda com seu tutor para uma casa de campo.
Lá o animal tem que lidar com forças sobrenaturais, de origem desconhecida, criaturas essas que ameaçam a si e ao seu cuidador.
A grande questão é que todo o horror que ronda o homem e o animal já seria confuso para alguém racional, que dirá para um bicho que por mais fiel, fofo e esperto que seja, não tem o mesmo nível de raciocínio que um detentor de polegar opositor.
A obra foi muito elogiada, tratada como algo inovador em termos de exploração do horror, uma vez que é "narrado" pela experiência de um cachorro, exibindo o seu ponto de vista, fato que faz chamar atenção o POV, ou point of view, termo da moda atribuído a essa abordagem, ou seja, todas as cenas deste apresentam Indy ou estão no ponto de vista dele.
Esse fator tornou este filme único e desafiador e chama a atenção o fato da obra ter sido feita através de um grande esforço de sua curta equipe criativa.
O filme tem apenas 75 minutos, ou seja, é curto, pudera, já que sendo tão experimental quanto é naturalmente não teria os tradicionais 90 minutos de duração que um filme B de terror normalmente possuiria.
A equipe criativa
Ben Leonberg não só dirigiu, como foi editor e diretor de fotografia. Também é roteirista, junto a Alex Cannon.
São produtores Kari Fischer e o diretor, já Brian Goodheart foi coprodutor.
Como é esperado, a equipe em volta do filme é bastante reduzida, até mesmo o ator animalesco, Indy, é cuidado e adestrado pelo realizador.
Estreia
O longa foi exibido em diversos festivais, como a SXSW Film Festival em março. Já em agosto, passou no polonês Octopus Film Festival e no australiano Melbourne International Film Festival, além do Film at Lincoln Center.
Na Alemanha passou no Fantasy Filmfest, em setembro. Já a entrada dele no circuito local - dos Estados Unidos da América
- foi em 3 de outubro de 2025. No Brasil estreia dia 30 de outubro.
O título original é Good Boy. Na maior parte dos lugares é chamado assim ou com um subtítulo, como foi na Áustria, onde chama Good Boy - Trust His Instincts, ou no Chile e Colômbia, que é Good Boy Confia en su Instinto.

Filmagens e estúdios
De acordo com o diretor, as filmagens levaram 400 dias, sendo rodado ao longo de 3 anos. O motivo principal para isso ocorrer se dá graças ao fato do ator principal ser um cachorro.
A companhia que fez o longa foi a What's Wrong With Your Dog?
Distributors. Na Europa, a 18K Film distribuiu em países como Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. A 888 Films International lançou nas Filipinas, a ADS Service lançou na Hungria.
A Independent Film Company lançou nos EUA e a Shudder lançará nos EUA em Video on Demand, o famoso VOD. No Brasil a Paris Filmes trouxe a obra.
Quem fez:
Leonberg estreou como condutor de longas, fez diversos curtas, como Bears Discover Fire, The Fisherman's Wife, Dead Head e Bare Thoughts, foi produtor, ator, gaffer e designer de produção em diversos curtas-metragens.

Cannon escreveu muitos curtas, como Bears Discover Fire, I Want You Inside Me e The F-Word. Ele trabalhou bastante com departamento de câmera, como na série My Astronaut e We Wanted Children.
Fischer produziu apenas esse.
Pesquisas posteriores e comparativos
Após o lançamento do primeiro trailer, as buscas por referências a morte (ou não) do animal em Bom Menino dispararam.
Normalmente, spoilers são evitados ao máximo nos buscadores ou redes sociais, especialmente quando se trata da expectativa para filmes novos, mas nesse caso, boa parte das pessoas que viram se apressaram em avisar que o animal sobrevive.
Sabendo da premissa, houveram algumas comparações desse com a série animada Coragem, o Cão Covarde. Leonberg disse que não se inspirou e que só enxergou conexões entre o show e o filme ao ver postagens no Reddit sobre o assunto, já depois que o filme foi lançado.
Dada a época da exibição do seriado, que começou em 1999, ele pode sim ter assistido a animação quando novo.
Raça do animal
Como já era esperado, o ator Indy (o personagem também tem esse nome) é o cachorro do diretor Ben Leonberg. Ele é um Duck Tolling Retriever de Nova Escotia, conhecido por ser a menor das raças de busca e por ter uma bela pelagem carmesim.

A definição da revista American Kennel Club, é que o Duck Tolling Retriever é inteligente, afetuoso e ávido por agradar.
Ele gosta de brincar pegando objetos ao ponto de deixar os seus cuidadores cansados.
Filmes favoritos e recepção da crítica
De acordo com uma entrevista ao Letterboxd, os quatro filmes favoritos do cachorro Indy são Rivais, Os Pássaros, O Enigma de Outro Mundo e Bud: O Cão Amigo.
Alguns críticos descreveram esse como "um dos filmes de terror mais comoventes de 2025".
Narrativa
Já no início se nota que o bichinho, Indy, é muito expressivo e esperto.
Fica bem evidente que ele é chamado assim graças ao antigo cachorro de George Lucas, que serviu não só de inspiração para o nome que Henry Jones Júnior utilizava nos filmes - a referência é tão gritante que passa Caçadores da Arca Perdida na televisão - e também par ao copiloto da Millenium Falcon, Chewbacca.

Vale lembrar que Indiana era o nome do cachorro da família Jones, como é falado em Indiana Jones e a Última Cruzada.
Atento
O personagem observa movimentações do lado de fora, parece tranquilo, mesmo que sua movimentação pareça a de alguém apreensivo.
Seu estado de espírito se tranquiliza, quando seu tutor aparece de lado, com o rosto escondido.
A grande questão é que o personagem Todd - interpretado por Shane Jensen - aparece parcialmente na tela, somente no hemisfério de cima da tela, mas o que se vê faz perceber que ele está sangrando muito, pela boca.
Antes que o animal possa se desesperar, alguém chega, uma mulher, que abre a porta e liga para o serviço de emergência, com calma.
A partir daqui, falaremos com spoilers. Como o filme é recente, deixamos aqui o aviso.
![Ben Leonberg's “Good Boy” takes the horror tropes you know and revitalizes them via a new context that's unpredictable and terrifying. [SXSW] – Elements of Madness](https://i0.wp.com/elementsofmadness.com/wp-content/uploads/2025/03/Good-Boy-Indy-in-front-of-TV.png?fit=800%2C400&ssl=1)
Recapitulando
A trama retorna ao passado, resgata os momentos de início da relação de Todd e do protagonista canino, mostra o bichinho sendo adotado, ainda filhotinho, em um dos momentos de alta ternura do longa, fato que faz temer pela vida do animal, diga-se.
Depois do momento de memória, tutor e animal de estimação vão para o interior.
Chegam a uma cabana velha, cujo cheiro na parte de baixo da casa é dito como terrível. O tempo chuvoso facilita a propagação desse mau odor.
Snoopy?
A maioria dos cães é conhecida por odiar a chuva, mas Indy reage tranquilo a chuva, ficando sentado, perto de sua casinha, enquanto a chuva cai.
Há quem compare esse momento a uma referência direta ao Snoopy, o pet de Charlie Brown.
Indy segue "espiando" seu dono, enquanto ele conversa pelo telefone. Na ligação, Todd revela que quer tranquilidade e por isso, foi até a antiga casa de sua família, a fim de se inspirar, para um escrito seu.
Estrutura
A casa é antiga e rústica, não há praticamente nenhum objeto moderno ou eletrônico de ponta. Há apenas uma televisão velha, também muitas fitas VHS, de filmes de terror ruins.
Na conversa telefônica, com Vera (Arielle Friedman) Todd diz que seu avô morou lá, por isso o lugar está igual o que ele lembrava na infância, parado no tempo, como se existisse em um oásis que reside no pretérito.
Também fica patente que as pessoas acham que aquela é uma casa assombrada. Como esse é um lugar isolado, isso faz pouca diferença, visto que Todd não parece ser um sujeito crédulo.
Em breve o rumo dos fatos mudaria tudo.
Cotidiano
Em determinado momento Indie e Todd passeiam pela floresta, ao lado da casa e ambos notam eventos estranhos, sobretudo quando passam pelas lápides antigas, onde parte da família do tutor está sepultada.
Fica a sensação de que aquele é um lugar de despedida para as pessoas desse grupo familiar.
Vera liga de novo, pergunta se o rapaz notou que o cachorro está diferente, olhando para o nada, interagindo com o vazio, mas o rapaz não nota nada diferente e ainda desdenha da moça, agindo tal qual o clichê do marido relapso e incrédulo dos filmes de assombração espiritual.
Ações estranhas
A narrativa torna-se confusa, especialmente nas partes que mostram as interferências do sobrenatural. Sombras brincam com a percepção de Indy, mãos bizarras e gigantes parecem querer pegá-lo.
Ele tenta entender o que ocorre, parece se preocupar com o humano, mas obviamente está de patas atadas, com poucas formas de proteger seu humano, afinal, o que parece querer pegar os dois, não pode ser mordido ou arranhado.

Percepções confusas
A noção de espaço-tempo fica confusa, fosse um ser racional vendo, certamente viriam questionamentos, mas o canino obviamente não pode fazê-lo.
Depois desse ponto, Todd é quem fica estranho, não reage aos pedidos do animal por carinho, fica nervoso, parece irritado e preocupado, até afasta o pobre Indy, que só quer ficar perto de seu dono.
Quem é Todd?
A câmera faz questão de esconder o rosto do tutor. Ele aparece com a face sempre fora do quadro, quando está dentro do enquadro há sombras, ou ele esta de costas.
É comum que suas feições sejam embaçadas, aparentemente, a perspectiva do pet não compreende bem o rosto do rapaz.
Ele parece obcecado, bate a cabeça em uma porta, fica nervoso, resgata e vê fitas antigas de seu avô, aparentemente teme que haja algo errado consigo e enxerga nas gravações antigas um norte para o que está sofrendo.
Cores e percepção
Indy enfim vê um humano completo, o avô de Todd, o mesmo das gravações, que está sentado no porão, assustando o cão.
Ele está sentado, sangrando pela boca, tal qual o Todd na primeira cena.
Ou seja, o parente idoso, que deveria estar morto, aparece em outro cômodo, justamente o lugar da onde vinha o odor forte momentos antes.
Do lado de fora, uma mão cor de petróleo passeia, como uma entidade maligna, feita de stop motion, em um efeito simples, que parece evocar técnicas do passado.
Dando banho
Quando lava o animal de estimação, Todd pragueja. Xinga Indy, diz que ele fede a morte.
Na banheira, suja o animal, vomitando sangue, depois, descobre portar uma doença terminal e avançada, ou seja, faz parte da mesma condição que seu antepassado teve, com grandes chances de ter contraído tal moléstia justamente por estar naquela cabana e casa.
Cronologia confusa e sensações conflitantes
A ordem dos fatos é estranha. Não fica claro se isso ocorre graças ao ponto de vista da história ser a de um animal irracional ou se é culpa da interferência espiritual, mas a forma como o tempo corre é diferenciada.
Momentos de calmaria são seguidos de stress, Indy fica confuso, não sabe como reagir, até agride Todd, mordendo ele, para depois latir, quase como se reagisse pedindo desculpas, uma vez que pouco depois de sua mordida, o tutor é capturado, pego por algo ou alguém.
Fuga
O animal fica nervoso, mesmo acorrentado, ele reage e força sua saída. A mão de petróleo é tem uma configuração visual curiosa, mas não há uma grande variação de drama.
Os muitos retoques digitais chamam a atenção, mas o visual é derivativo. Como próximo do final essas aparições são mais frequentes, isso chama muito a atenção.
Também não ajuda o fato da história ser tão básica e genérica. Nesse ponto é justo comparar esse Bom Menino ao recente Uma Natureza Violenta, no sentido de tentar usar uma linguagem inovadora, que tenta melhorar uma história comum e ordinária, mas que serve apenas para pontuar banalidades com uma estética diferenciada.
A forma como se aborda essa história é sem dúvida criativa, tem alguns momentos inspirados como o ponto em que Indy encontra carcaça de cão do avô de seu tutor, ou a hesitação do animal em aceitar a sina de Todd.
Esses são elementos que mostram que o destino dos dois "melhores amigos" pode ser trágico, mas não há muito desenvolvimento para além da mera menção visual.
O maior problema do filme é se valer demais do ponto narrativo escolhido, de um modo que parece ser refém da condição, não tem quase nada além dessa questão.
Claramente falta conteúdo a ser explorado e maturidade para entender no tamanho da proposta sugerida aqui.
Bom Menino é um experimento que esgarça sua fórmula ao máximo a fim, de ter tempo de exibição o suficiente para ser encaixado como longa-metragem. Há muito lastro para Leonberg crescer como cineasta, já que ele possui talento e tem um bom domínio de imagem, mas seu texto precisa amadurecer e ser mais que apenas boas ideias registradas em tela.








Lossless Scaling: How to Use It with Any Game https://losslessscaling.surge.sh
Lossless Scaling: A Game Changer for Low-End PCs? https://boostifys.netlify.app
The Gaming Tool You Need: Lossless Scaling. https://speedpc.netlify.app
Want Higher FPS? Download Lossless Scaling! https://ultrascale.surge.sh