Bubba Ho-Tep é um filme bastante peculiar, tanto pelas cabeças que idealizaram ele, quanto pela mistura de comédia e horror. Longa-metragem que foi lançado em 2002, basicamente ele lida com a exploração de uma história que se diz verídica, mesmo obviamente sendo, que coloca frente a frente o personagem de Elvis Presley após a teoria da conspiração de que ele não morreu.
Fora a questão de ele estar vivo e preso em uma casa de repouso, ele ainda enfrenta uma múmia anciã, enquanto tenta demonstrar a todos que é de fato o rei do Rock, e não a identidade de Sebastian Haff, um fã com quem ele trocou de lugar, para tentar algum nível de tranquilidade com a vida anônima.
Supostamente era para essa ser troca ser temporária, mas as forças das circunstancias não permitiram isso.
A direção recaiu sobre Don Coscarelli, cineasta criativo e de carreira igualmente curiosa. Seu trabalho mais conhecido certamente é tetralogia Fantasma, ou Phantasm no original, que são filmes de terror super viajados, surreais, com eventuais viagens no tempo.
Já o protagonismo é de Bruce Campbell, o mesmo que anos antes fez a trilogia Evil Dead - Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio e Ossie Davies, de Faça a Coisa Certa e O Cliente.
A equipe criativa
Como bem se sabe, Coscarelli é o principal nome da produção. Ele não só dirigiu, como produziu, fez a função de produtor e produtor executivo.
O texto se baseia no conto de Joe R. Lansdale. Também foi produtor Jason R. Savage.
Estreia
Essa é uma produção estadunidense, que teve uma estreia curta, basicamente no circuito de festivais.
Ele passou em 9 de junho de 2002, no CineVegas International Film Festival, também no Canadá, no Toronto International Film Festival em setembro do mesmo ano.
Em Aspen, passou no ano sequintem no US Comedy Arts Festival Aspen, também chegou ao San Francisco Indie Film Festival, passou em South by Southwest Film Festival. Outros festivias incluíram o Florida Film Festival, East Lansing Film Festival, o belga Brussels International Festival of Fantasy Films, no chinês Hong Kong International Film Festival, e o britânico Dead by Dawn Horror Film Festival.
Apenas 32 cópias do filme foram feitas originalmente. O festival Soul of Southern Film Festival, em Memphis - Tennessee pagou por uma trigésima terceira cópia, para não precisar esperar mais para exibir a obra.
Vários outros festivais e cinemas pagaram adiantamentos para garantir cópias.
Nomenclatura
O autor original Joe R. Lansdale teve a ideia para o conto quando assistiu a A Múmia, de 1932 e o nome do vilão principal, que nomeia o longa, tem a ver com o antagonista dessa obra: Imhotep.
O escritor imaginou que, se fosse uma múmia surgisse no leste do Texas, se chamaria Bubba Ho-Tep.
O título original é justamente Bubba Ho-Tep e na maioria dos lugares se chama assim, com poucas variações, como na Itália, Bubba Ho-tep - Il re è qui, no Japão é プレスリー VS ミイラ男 ou Presley vs miira otoko. Na Rússia é Бабба Хо-Теп e na Sérvia Елвис и Кенеди против мумије.
Locações e gravações
O filme foi filmado em 30 dias, um cronograma excepcionalmente longo para um filme de baixo orçamento.
A maior parte foi rodado em um hospital de veteranos abandonado nos arredores de Los Angeles.
Cenas como a explosão no parque de trailers foi filmada lá. Também utilizaram três corredores de um dos prédios para o interior da casa de repouso.
Curiosamente, existe de fato uma casa de repouso chamada Mud Creek, no Texas, embora não esteja localizado na parte leste do estado.
As gravações ocorreram na Califórnia, em Downey, Los Angeles, Califórnia, 7600 Consuelo St., Downey, que serviu de base para a Mud Creek Shady Rest Home. Também gravaram na Malibu Creek State Park, Crags Road Bridge em Calabasas, nas cenas na ponte, além de Aliso St and Laurel St, Downey, que foi o lugar onde foi filmada a já citada explosão.
Estúdios
A obra foi feita pela Silver Sphere Corporation, com distribuição da Vitagraph Films nos cinemas dos Estados Unidos em 2003. A Anchor Bay Entertainment lançou no Reino Unido, em 2004, a Filmswelike mandou o filme no Canadá, a Magna Pacific lançou na Austrália, em 2005.
Quem fez
Coscarelli é um diretor de carreira curiosa, que passeia pela fantasia e surrealismo. Ele é muito lembrado por ser diretor, roteirista e idealizador da série de filmes Fantasma.
Ele realizou quatro dos cinco filmes, começando em 1979 em Fantasma: Noite Macabra, depois fez Fantasma 2 1988, Fantasma 3: O Senhor da Morte em 1994 e em 1998, fez Fantasma 4: O Pesadelo Continua.
Também fez O Príncipe Guerreiro (Beastmaster) Desafio de Sobrevivência e John Morre no Final. Dirigiu um episódio em Mestres do Terror.
Seus créditos de escrita são em parte voltados para os filmes que dirigiu, além dos filmes que é creditado apenas como criador dos personagens, como os televisivos O Príncipe Guerreiro 2 O Portal do Tempo, O Príncipe Guerreiro 3 O Olho do Mal e Fantasma: Devastador.
Lansdale sempre trabalhou com animações baseadas em quadrinhos como Batman A Série Animada, Superman A Série Animada, As Novas Aventuras do Batman o longa O Filho do Batman, seriados como Mestres de Horror, Creepshow e Love, Death & Robots, produziu Night of the Cooters.
Savage produziu esse e o curta Spitfire 944. Ele fez parte da equipe de Fantasma 4 O Pesadelo Continua.
Continuação e referências
Deveria ser seguido por Bubba Nosferatu: Curse of the She-Vampires que seria uma prequel, voltada para exploração de vampiros.
É largamente dito que esse tem inspiração no clássico da Universal A Mão da Múmia, de 1940, em um momento que se fala sobre "folhas de tanna" e uma múmia "despiste".
Também há momentos que lembram O Inquilino, Carrie, a Estranha, até Scarface, em uma das frases, que cita "Vou esmagar sua barata".
Divulgação
Bruce Campbell ajudou a promover o filme levando-o consigo em sua turnê de divulgação de sua autobiografia, If Chins Could Kill: Confessions of a B-Movie Actor", que em tradução livre, seria Se Queixos Matassem: Confissões de um Ator de Filme B.
Narrativa
A trama inicia explicando o nome do filme, Ho-tep é descendente de uma das 17 dinastias egípcias, ou um apelido da família do faraó. Já Bubba é um termo que designa homem do sul dos EUA, caipira e red neck, morador de trailer, tanto que é a alcunha de Leatherface, no cômico O Massacre da Serra Elétrica 2.
O Elvis Presley de Campbell fala diretamente ao público, em primeira pessoa, inclusive assume que não tem uma ereção há anos.
Outros narradores
Coscarelli queria houvessem múltimplos narradores, com parte da história sendo narrada por uma terceira pessoa onisciente.
Houveram gravações de outras vozes, mas a gravação foi abandonada depois que amigos do diretor disseram que ficou ruim. Parte dessa narração pode ser ouvida nas cenas deletadas do DVD.
A vida de Elvis
Como o filme é 2002 e Presley nasceu em 1935, se a história for contemporânea, ele teria 67 anos. Ele se descreve como um velho, num asilo, com tumor no pênis.
Essa foi uma grande questão para Bruce Campbell, que antes de aceitar o papel perguntou ao diretor se ele teria que mostrar o membro em tela.
Ele faleceu em 16 de agosto de 1977, aos 42 anos. Outra coisa curiosa é que não há nenhuma música do cantor no filme. Coscarelli explicou que licenciar uma música de Elvis para o filme teria custado cerca de metade do orçamento.
Ele se sente mal com o fato de nenhuma mulher enxergar ele como uma entidade sexual, nem a filha de Bull, Callie (Heidi Marnhout) seu colega de quarto que faleceu recentemente.
Haff x Preley
O protagonista atende (ou atendia) pelo nome Sebastian Haff.
Fica a dúvida se ele realmente era Elvis ou se tinha delírios de grandeza e afirmava que era o canto falecido nos anos 1970.
O personagem inclusive utilizava uma bacia, para fazer suas necessidades. A direção de arte colocou uma de verdade.
Em um momento, Bruce Campbell foi forçado a atender ao chamado da natureza usando a mesma bacia que seu personagem usou para capturar o escaravelho gigante, já que estava cercado de câmeras e não conseguiria interromper tudo para fugir e ir ao banheiro.
O personagem ainda usa uma bolsa de remédios, que ele chama de Mucho Mojo, título de outra história do mesmo autor Joe Lansdale.
Ao redor do personagem, há várias referências explícitas a carreira do Rei do Rock, como uma maratona de filmes que aparecerá na TV, de filmes do cantor, onde nenhum dos clipes é do próprio Elvis Presley.
Como os custos de licenciamento seriam muito altos, o filme usou imagens de atores com o mesmo tipo físico básico de Elvis e nunca mostrou seus rostos.
Morte estranha
No hospital um grande sinal de que algo errado está acontecendo estoura, já que uma senhora morre, atacada por insetos, feitos com os efeitos práticos D. Kerry Prior. O trabalho dela e Michael T Smith, especialistas em efeitos visuais, brilha muito.
O suposto acordo
Haff e Elvis fizeram um acordo, de trocar de lugar, com o artista fingindo ser um sósia no lugar de Sebastian.
É tudo muito baseado nonsense, inclusive na cena em que ele perde o contrato é uma baita explosão, um acidente com a churrasqueira, cena que foi filmada em uma única tomada.
JFK x Jack
O asilo Mud Creek tem algumas outras figuras célebres, como é o caso do melhor amigo - e colega de quarto - de Presley,
Ele ainda é próximo de um homem, preto, chamado Jack (Davis) um interno que diz ter sido JFK, o presidente americano John F. Kennedy, que morreu em um atentado terrorista interno.
Ele afirma que pintaram ele todo. É uma questão engraçada e bem pontuada. Tanto Kennedy quanto Ossie Davis nasceram em 1917.
Há toda uma preocupação da arte com essa questão.
Na parede de Jack, há fotos de Clay Shaw, David Ferrie, Jack Ruby e Lee Harvey Oswald, todos figuradas associadas ao assassinato de JFK, considerados por alguns como cúmplices até.
Jack é no mínimo alguém obcecado por esse assassinato.
Outros colegas:
Ainda haveria mais uma referência, uma paciente, que seria uma versão de John Dillinger transgênero.
Além desses, há Harrison Young, que interpreta um colega de quarto que era um veterano da Segunda Guerra Mundial, com uma medalha Coração Púrpura (Purple Heart). O ator interpreta outro veterano da Segunda Guerra Mundial em O Resgate do Soldado Ryan, obviamente não podem ser o mesmo personagem.
Ritmo fraco
Em determinado ponto, o filme se torna algo bem enfadonho, ao menos até a tal entidade egípcia aparecer.
O ser aparece em um asilo não por acaso. Esse é um lugar onde as pessoas naturalmente morrem. Ele utiliza então para juntar almas, assim ganhando força.
Ho-tep é uma criatura de efeito prático, mas que só aparece com 41 minutos.
Referência a Lovecraft
O livro The Everyday Man or Woman's Book of the Soul mostrado no filme, abre no Capítulo Sete - O Sugador de Almas…
A parte legível do texto foi retirada do início da obra de H.P. Lovecraft, de 1927, em Sobrenatural Horror in Literature.
Criatura real?
Acaba ganhando um ar de teoria da conspiração enorme, como se fosse apenas um mito, um boato. Como quem conta a história é um idoso que usa andador, tem câncer e se auto proclama um cantor que morreu três décadas antes, essa sensação de mentira é piorada
A realidade é que nos primeiros momentos, quando a criatura aparece apenas como uma silhueta, se acerta mais.
Falta de verba
Coscarelli claramente tinha pouco poder em matéria de orçamento. Isso se percebe que auase não há variações de figurino, ainda assim se nota que essa é uma produção melhor acabada que o metalinguístico Meu Nome é Bruce.
A múmia que os heróis chamam de Bubba Ho-tep é interpretada por Bob Ivy, coordenador de dublês e coreografo de acrobacias em diversos fimes como Polícia do Futuro, Psycho Cop: Ninguém Está em Segurança, Um Tira Invencível (Samurai Cop) e Energia Pura.
Ele solta palavras em onomatopeias em tela, hieróglifos com mensagens sacanas, com trocadilhos ruins, sobre escatológicas e entidades deusificadas do Egito.
Se falta um ritmo mais desenrolado, sobra boa caracterização.
Os momentos finais
Os confrontos entre os heróis e o vilão são tímidos, ocorrem a noite supostamente graças a ação sobrenatural, embora fique claro que é por conta de esconder fragilidades visuais.
A frase final dos créditos, inclui linhas que dizer "…processo criminal e a ira de Bubba Ho-tep", é uma variação de "…e a ira do Homem Alto" do filme Fantasma, de 1979.
Depois do desfecho, aparece a promessa de que Elvis retornará em Bubba Nosferatu: Curse of the She-Vampires, estrelando Sebastian Haff, mas o projeto jamais saiu do papel.
Em algum ponto ele foi planejado para 2013 ou para 2016, teria Ron Perlman como Elvis, mas não foi lançado.
Coscarelli teve momentos bem mais inspirados do que esse, conseguiu fazer filmes mais bem concebidos, tanto no visual quanto em texto.
A mitologia poderia ser melhor explorada, mais desenrolada e desenvolvida.
Ainda assim, Bubba Ho-Tep é das coisas mais dignas que Bruce Campbell fez após a parceria com Sam Raimi, já que ele consegue ter um papel importante, cheio de dignidade, que valoria o ator canastrão em uma boa participação.
TRAILER
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