
Máscara Negra é um filme de ação chinês, lançado em 1996 que mistura comédia com elementos de filmes de herói. Dirigido por Daniel Lee, seu maior diferencial está em sua estrela Jet Li.
Baseado em uma história em quadrinhos e rodado em Hong Kong, o longa acabou tendo em sua estética algumas coincidências com o cinema de ação dos filmes dos Estados Unidos, tanto que há quem acredite que ele influenciou ou previu a iconografia visual do cinema popular e mainstream dos Estados Unidos.
Há algumas rimas visuais entre esse, Blade: O Caçador de Vampiros - que é outra adaptação de quadrinhos - Cidade das Sombras e Matrix.
Essa é uma adaptação do manhua de Li Chi-Tak, lançado em 1992, que era uma publicação que versava sobre violência, rancor e vingança, curiosamente semelhante a outra obra popular e soturna do cinema norte-americano, no caso, O Corvo, de Alex Proyas, filme protagonizado por Brandon Lee, que também adapta um quadrinho - O Corvo de James O'Barr - que foi adaptado para o cinema em 1994, dois anos antes desse Máscara Negra.
O longa tem em seu elenco figuras famosas do cinema de ação, como Lau Ching-wan, Karen Mok, Françoise Yip, Patrick Lung e Anthony Wong.
É "apresentado" pelo produtor Charles Heung, tem roteiro de Hark Tsui (que também assinava como Tsui Hark) Koan Hui, Teddy Chan (ou Teddy Chen) que também foi produtor associado, além de Joe Ma.
Ann Hui também colaborou com o texto, embora não receba crédito por isso. Hark Tsui produziu. Yuen Wo Ping foi o coreógrafo de artes marciais do longa.
O filme teve sua estreia na sua terra natal Hong Kong no dia 9 de novembro de 1996. Na Malásia passou em dezembro do mesmo ano, em uma versão em cantonês.
Na Coreia do Sul chegou no final de 1996 também, enquanto nos Países Baixos chegou em 1998, em uma premiere video. No Reino Unido, chegou em abril de 1998, também foi lançado em uma estreia de vídeo também.
O título original do longa é Hak hap. Sua versão em cantonês se chama 黑俠e em mandarim é 黑侠. Na Austrália, Canadá e Estados Unidos é Black Mask.

Na parte francesa do Canadá é Masque noir, na Bósnia e Herzegovina é Crna maska, já na Itália é La vendetta della maschera nera. Na Turquia é Kara Maske.
Como dito, o filme foi rodado em Hong Kong e os estúdios que fizeram ele foram a Distant Horizon, Film Workshop, Nova Media e Win's Entertainment Ltd.
A distribuição foi da Artisan Entertainment nos Estados Unidos também em VHS e DVD. Na Itália chegou através da Cecchi Gori Distribuzione, no Japão foi veiculado pela Nippon Herald Films e no Canadá foi lançado pela Odeon Films.
No Brasil foi lançado pela Flashstar Homem Video, em DVD, algumas vezes em embalagens próprias de DVD, em outras, saía junto com revistas especializadas em cinema de ação.
As versões
Como era comum em obras de ação com violenta gráfica, há vários cortes e versões de Máscara Negra.
Para a versão cantonesa, o DVD foi editado para ser sangrento, restaurando uma cena de sangue jorrando, diferente do que ocorria no corte para o cinema.
Uma versão em inglês, semelhante à de Hong Kong, foi produzida para exportação, mas empresas como a BMG e a Artisan decidiram criar suas próprias edições.

Trilhas sonoras diferentes
A Artisan fez vários lançamentos em mídia física e substituiu músicas em alguns lançamentos, como no Reino Unido.
A empresa encomendou uma nova trilha sonora, baseada em Hip Hop. Dessa forma, removeu as músicas originais, apesar de usar trechos das canções originais em alguns de seus trailers.
Apesar da tendência e da péssima fama da Artisan de cortar cenas sem lutas dos filmes chineses que lançava, as versões distribuídas pela empresa e pela BMG contêm não só todo o conteúdo sangrento, mas também as cenas não violentas. Ou seja, essas edições são bastante semelhantes ao que foi lançado em Hong Kong.
Sequência
Como era bem comum no cinema de porradaria mundial, esse também teve uma continuação, embora bem menos conhecida que esse.
A tal sequência é uma coprodução entre EUA e Hong Kong, chamada Máscara Negra 2 (do original Black Mask 2: City of Masks) com Andy On fazendo o papel principal, além de possuir um elenco com nomes conhecidos, como Jon Polito, Tyler Mane, Scott Adkins e e Tobin Bell.
Quem fez:
Daniel Lee dirigiu Star Runner: A Disputa Final, Agentes da Lei, 14 Lâminas, Batalha dos Impérios e Alpinistas: Desastre no Everest.
Heung foi o "presenter" em Zhang: O Bárbaro, O Justiceiro e Máscara Negra 2. Também foi produtor executivo em Protetores do Universo, Eleição, Eleição: O Submundo do Poder, Mad Detective e Movimento Fatal.
Koan Hui escreveu The Blade: A Lenda, Geração X em Ação e O Tempo e a Maré. Foi assistente de direção em O Tempo e a Maré e A Batalha do Lagon Changjin.
Hark Tsui produziu Alvo Duplo, Uma História Chinesa de Fantasmas e O Matador. Dirigiu Era Uma Vez na China e suas sequências, Mestres da Luta, A Serpente Verde, A Colônia, Golpe Fulminante e Máscara Negra 2. Escreveu vários desses citados, como Era Uma Vez na China, mas também Não Brinque com Fogo e O Grande Desafio do Leão Chinês.
Teddy Chan é ator também, sendo lembrado por Espião Por Acidente, Conflitos Internos II e Kung Fu Mortal. Acabou também dirigindo esse último e Espião por Acidente. Produziu Lt Foh Chin Che e Espere Até Ficar Mais Velho,
Ann Hui produziu Neve de Verão e Ban Sheng Yuan, foi produtor associado em Guerra do Ópio, dirigiu Assassinos do Zodíaco, Os Refugiados do Barco, Neve de Verão e A Vida Pós-Moderna da Minha Tia.
Joe Ma produziu Alerta Total, escreveu Atirando Sem Parar, dirigiu Sasori.
Além de escritor de manhuas, Chi-Ming Pang trabalhou em roteiros como Shuang fei lin men e Ling huan xiao jie em 1988, além de Chi se da feng bao de 1990.
Narrativa
A história inicia de maneira abrupta, mostrando primeiro a ação e depois a explicação do que acabou de ser exibido.
Após mostrar uma ação criminosa, a narrativa é brevemente interrompida, para mostrar um letreiro, explanando a ocorrência de experiências no norte do país, com um grupo de alistados, o chamado Esquadrão 701. Esse agrupamento era formado por soldados que sofreram interferências cirúrgicas, que tiravam os seus "sensores" de dor.

A maioria das pessoas que sofreram com esses experimentos morreram em serviço, já que sem dor, não percebiam hemorragias e ferimentos internos.
Um desses era o Máscara Negra, que aparece nesse início batendo em bandidos, escondido nas sombras, destacando sua forma hábil, técnica e vistosa de lutar.
Nova Vida:
Logo depois mostra Li como um funcionário de uma biblioteca de Hong Kong, já com um novo nome, sendo chamado Tsui Chik.
Lá ele lida com várias pessoas, especialmente com a moça simpática, Tracy (Mok) que busca desesperadamente um namorado, também o chefe de ambos, o dono da livraria, interpretado por Shut Mei-yee, além de outros personagens de importância menor, que aparecem lá apenas para interagir com o protagonista e com a menina.
São esses colegas que sugerem que ela busque consolo em Tsui, para arrumar um par, mas essa trama demora a se desenrolar.
A amizade com o homem da lei
Tsui Chik também é próximo do inspetor Shek Wai-Ho (Lau Ching-wan) apelidado aqui como de The Rock, ou a Rocha, nas versões dubladas.
Os dois passam muito tempo juntos, têm conversas constantes, até jogam xadrez, enquanto tem discussões filosóficas sobre a rotina policial, sobre violência e sobre cordialidade.

O motivo da amizade
Um dos motivos que faz Tsui gostar do amigo é o fato dele não o interrogar sobre o seu passado, o que é no mínimo curioso, já que Shek afirma que acha o ofício do detetive algo bom e importante.
Talvez ele seja "apenas" um policial acostumado a ação e pouco a investigação, sem pretensões detetivescas ou algo que o valha.. Dessa forma, o agente da lei não representa qualquer problema relacionado ao seu disfarce, ao contrário, é o agente da lei que municia o personagem central com informações.
Tsui tenta entender sobre a onda de mortes de traficantes. O silêncio de The Rock faz suspeitar que ele teria informações sobre a origem desses homicídios, mas isso não fica muito claro, ao menos não nesse momento.
As mortes
O início faz pensar que os bandidos estão sendo capturados pela polícia, mas logo depois é mostrado que não.
Há cenas com exposição de corpos pelo cenário, de momentos recentes e outros nem tanto.
Nesse ponto, o roteiro não é expositivo, aparentemente, a guerra por território causou a maioria dessas mortes, a partir daí a ação do Máscara Negra - que só apareceria bem depois - acontece no vácuo deixado pelos criminosos, ou seja, ele aproveitava a violência do cenário para praticar os seus atos sem ser rastreado e sem se tornar suspeito.
Efeitos e design de produção
O visual dos mortos é bem tosco.
Em comparação com o cinema de ação dos EUA, o de Hong Kong era bem mais barato.
Nos anos 1990 havia ainda uma onda de se valer de uma estética exploitation agressiva, que em termos de comparação, lembra mais o cinema norte-americano dos anos 1970 e 80 do que o que o contemporâneo.
Nos anos 1990 e 2000 era até possível ver fitas dos Estados Unidos com estilo semelhante, mas eram mais raras. Normalmente material feito direto para vídeo tinha essa estética e visual.
Diferença ideológica
Enquanto o protagonista posa de bom moço pacifista, Shek não o faz, ao contrário. Seu discurso afirma que a postura passiva de seu amigo é o motivo da violência urbana daquela época.
Obviamente que isso não é direcionado apenas a Tsui, mas para toda população. O policial acha que todos devem reprimir a violência com violência também. Como ele não ri, fica claro que ele não está fazendo piada, nem está sendo irônico.
Em determinado ponto, enquanto ambos estão em um banheiro (com o policial em uma cabine privativa, ou seja, longe da vista de quem entrava depois) Tsui quase é assaltado, mas não retribui agressivamente os bandidos.
O policial então enquadra os rapazes e reclama com o amigo, diz que ele deveria ter reagido de forma bruta ao assalto, obviamente sem saber da natureza nervosa e agressiva do seu chegado
Curiosamente, assim que Shek sai de cena, Chik bate nos vilões, mostrando sentir prazer em causar essa dor. Por mais que esse seja um filme simples e pouco sútil, a construção do mistério dele é bem-feita, resultando em bons momentos aqui.
Os chavões utilizados
É curioso como Máscara Negra apela para diversos tipos diferentes de clichês, alguns variando até de origem nacional.
A maioria é bem encaixado, como uma cena tensa de desarmamento de bombas, que lembra o que é visto no cinemão de ação dos Estados Unidos, cuja ideia parece retirada diretamente de franquias como Duro de Matar ou Máquina Mortífera.
Já o modo como os capangas e bandidos se vestem lembra o vestuário escuro e repleto de couro, típico de animes em longa-metragem, como Ghost in The Shell ou Akira.

Como Matrix:
Assusta bastante o quanto Máscara Negra lembra Matrix, não só na questão das roupas, mas também no caráter e comportamento dos personagens.
Os heróis usam roupas escuras, primam pela teatralidade, usam muito arame para voar pelo cenário, são exímios em kung fu.
Também há personagens femininas duronas, como Yeuk-Lan (Françoise Yip) que é bastante semelhante em ação a Trinity, além de haver uma atmosfera de teoria da conspiração e de mudança de realidade muito pontual, que lembra toda a paranoia presente no roteiros das irmãs Watchowsky, que mostrava uma conspiração de exploração humana via máquinas.
Aqui obviamente, há outros culpados, tanto o governo, que foi irresponsável com as suas cobaias, quanto os experimentos.
O lado negativo
As referências não ocorrem apenas de forma positiva. Talvez Máscara Negra tenha sido uma influência também no uso negativo da tecnologia.
O filme acaba tendo um ponto em comum com as continuações, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, que é o uso de CGI tacanho.
No caso do filme de Jet Li, há uma desculpa mais plausível e aceitável, afinal, faz sentido ser assim, já que esse é um filme B, muito barato, uma obra sem grandes investimentos e não a sequência de uma franquia famosa e endinheirada da Warner Bros.
Nas partes dois e três de Matrix, não se justifica a falta de esmero e o apelo a mais efeitos práticos. É basicamente pressa e ganância de lançar logo a obra que faz com que ela saia do jeito que saiu, com um resultado final que incomoda até os fãs.
Confusão:
Por conta de uma ação conjunta - onde Tsui decidiu ajudar seu amigo - Shek é confundido com o vigilante mascarado, que é imediatamente chamado de Máscara Negra.
O filme não faz questão nenhuma de esconder qual é a identidade secreta do herói, sua motivação ou algo que o valha, mas é justamente no momento da ação que os defeitos e condições humanas do personagem aparecem, seja no modo de lutar ou simplesmente na demora para agir.
Máscara Negra ingressa tardiamente na história. Esse é um filme de pouco mais de 90 minutos e o mascara aparece depois da primeira meia hora.
Já a questão da proximidade de The Rock de Tsui gera uma ambiguidade que não convence, já que o roteiro não tenta injetar dubiedade nenhuma em relação a verdadeira face do anti-herói.
Tanto Shek quanto Tsui surfam nessa onda, embora fique claro que o policial só não refuta a ação do vigilante graças a vontade de descobrir o que está ocorrendo.
Seu discurso sempre foi o de que a população deveria revidar a violência, mas quando ele vê uma ação prática do tipo, julga que a reprimenda a criminalidade deve vir via lei. Ele é um sujeito de princípios, ainda que não seja inteligente e articulado o suficiente para deixar isso tão claro.
Em conversas íntimas, The Rock convida o amigo para ingressar na polícia, mas o personagem de Li não quer isso.
Prefere se manter escondido, nas sombras, sendo um justiceiro para as pessoas próximas, sem chamar a atenção mais do que acha conveniente.

Além disso, acaba saciando também a sua vontade de distribuir socos, pontapés e outros golpes. Se fosse policial, teria que preencher relatórios, teria que ser mais civilizado no combate aos bandidos.
Sendo alguém à margem da lei, poderia fazer o que quisesse, embora ele jamais se assuma como alguém semelhante a uma pessoa que serve apenas aos seus desejos e anseios.
Problemas com os releases atuais
É uma pena que não haja uma boa remasterização do filme. O visual, figurino, design de produção são todos aspectos positivos na obra. Acabam sendo desvalorizados e até escondidos pela falta de qualidade que os atuais rips que povoam serviços de VOD e streaming.
As coreografias
Ao menos as coreografias de luta são bem registradas. Jet Li está no auge físico.
Ele faz jus ao seu apelido entre os 701, de professor. Todas as pessoas que aparecem em tela se dizendo do grupo de experimento são exímios lutadores, mas ele está um nível acima.
Ele não é só forte, rápido e criativo na hora de lutar, mas também um bom mentor, que mesmo tanto tempo longe de Yeuk-Lan, ainda é ouvido.
É notório que Laan o admira, para além das palavras, já que as cenas dos dois possuem uma química forte.
Muitos fãs confundiam isso com um amor platônico e romântico, que não era correspondido por Li, obviamente.

O ator e Françoise Yip seriam parceiros em outras oportunidades, inclusive em outro de Li, no caso, o vindouro Romeu Tem Que Morrer, de 2000.
Insistência com o disfarce:
A partir do momento que se demonstra que Yeuk-laan era parte do experimento que deu errado, fica clara a diferença de Tsui para todos os outros.
O professor não buscava seus interesses próprios, ao contrário dos outros que fizeram parte do grupo 701, o que inclui até Yeuk.
A abnegação é o motivo por si só dele não aceitar empregos onde ganharia mais. Ele não quer ser agente, tampouco detetive, quando alguém se aproxima dele e força intimidade, o sujeito até paga para fugir de compromissos sociais, não aceita dizer quem é nem mesmo para seu amigo Shek.
O herói
Ele é a representação clássica do herói, do sujeito que está sempre se sacrificando, embora demonstre ter prazer em lutar e provocar dor.
Como um bom personagem com camadas, ele não é livre de defeitos, já que ao mesmo tempo em que pede demissão para não colocar em risco seus colegas de trabalho, ele também intervém com violência em casos próximos dele.
Eventualmente acaba encontrando seus antigos companheiros cobaias por mero acaso. Se ele não desse vazão a isso, boa parte dos ataques não ocorreriam.
Violência extrema:
Boa parte das críticas na época associavam esse filme a uma violência excessiva. De fato Máscara Negra é bem sangrento, tanto que parece caricatural.
Daniel Lee emprega uma estilização singular a sua obra, fazendo dele quase um pastiche, um filme que é tão estilizado, tão parecido com um cartoon ou gibi que toda a violência grita mentira, parece de fato uma fuga escapista da realidade.

Tentativa de encaixe na sociedade
Isso poderia ser melhor pontuado, se Jet Li tivesse mais dotes dramáticos. A falta dramaticidade se estende ao elenco, afinal, a especialidade de Li, Yip e companhia é lutar e não expressar emoções.
A exceção aqui é feita a Ching-wan Lau, que atua bem, conseguindo expressar bem as complexidade e camada de seu personagem.
Foco no esquadrão 701
No entanto, o filme injeta o seu drama na história do esquadrão antigo.
Tanto Tsui quanto Yeuk tentam se adequar a realidade. Ele, quer suprimir os próprios poderes, vivendo escondido, sem explorar seu potencial por completo, mas ele está bem como está.
Já a moça não, ela quer se curar, para viver uma vida normal, anseia ter dias comuns.
Dessa forma, nenhum dos dois enxerga sua condição como um dom ou um dote positivo, um aceita a sua sina, o outro quer modificar a condição que faz ser especial.
Já o Comandante Hung (Kong Lung) aparece como um vilão puro e simples, que não tem escrúpulos nem com os seus companheiros de experimento, já que utiliza eles como elementos descartáveis.
Talvez a falta de bondade e falhas de caráter sejam evoluções da mutação que ele sofreu, há de pensar que o futuro de Tsui e sua antiga companheira seja igual o de Hung. Não fica claro se é isso ou se ele de fato era uma pessoa ruim, que sofreu com o experimento.
Hung x The Rock: Uma batalha de ideologias
Enquanto os peões (Laan e Chik) batalham entre si, Hung segue intacto, jogando como um enxadrista clássico, um estrategista que move os botões de acordo com a sua necessidade e vontade.
O fato de não sentir dor faz dele alguém insensível e até inconsequente, manipulador e escravista.
Curiosamente, Shek é o exato oposto. Alguém justo, abnegado, altruísta, que é violento, mas que não se vangloria disso. Ele parece perceber que é uma “necessidade” ser alguém tão truculento, afinal, o momento atual é digno de agressividade mesmo.
O fato dele ser encarado por Tsui como alguém simpático não é sem motivo.
Os dois são personagens complementares, um tenta ser isento e não sente dor, o outro, é capaz de morrer, é violente e é (principalmente) digno de falhas, além de ser completamente ciente dessa condição. Ambos buscam justiça e colaboram juntos, rumo ao mesmo ideal.
Final confuso e "CDs assassinos":
Perto dos créditos finais, na luta entre Tsui e o comandante, ocorre um momento peculiar.
Ao lutarem lutando, usam de subterfúgios mil, utilizam o cenário ao seu favor, além de aproveitar o fato de não sentir dor para expandir os limites de suas capacidades de combate.
Dito isso, os dois começam a arremessar elementos de cena um no outro. Em meio a esse combate, acabam achando CD-Roms, que carregavam em si o conteúdo ultrassecreto. Ao invés de guardar eles, só arremessam.
Assim que o herói joga o CD, o mesmo corta a pele do bandido, como se fosse uma grande lâmina afiada, capaz de perfurar a pele de um homem adulto.
Não fica claro se a ideia era mostrar a grande força dos personagens, que transformam até um elemento comum em uma arma absurda, ou se era apenas falta de conhecimento de roteiristas e produtores, que acreditavam que era possível quase decapitar alguém apenas com um CD.
Ao final há um chiste, uma breve piada, de uma foto tirada com três sobreviventes, incluindo o personagem de Jet Li, que a medida que a foto instantânea ganha cor, vai mostrando ele com a máscara no rosto, mesmo que ele estivesse vestido de maneira clara, todo de branco e com o rosto nu.
Essa é uma piada que combina com o restante do filme, mas parece exagerada, ainda mais depois de um final agressivo e chocante como foi o último tomo.
É fato que Máscara Negra é mais uma comédia do que um filme de ação, embora tenha muitos elementos desses dois tipos. É uma obra escapista, divertida e estilizada, que merecia um maior carinho da parte das distribuidoras, já que é um pequeno clássico de sua época, uma obra que marcou demais a carreira de Jet Li.