Crítica: Os Mercenários 2

Quando Os Mercenários estreou em 2010, foi a volta de um estilo de filme de ação cujos tempos de ouro datavam mais de 20 anos. E ainda, reunir um elenco de heróis daquela época soou como um agrado a uma geração que cresceu venerando músculos e violência e que sentia falta de um pouco de brutalidade no cinema. Agora, com a sequência, Sylvester Stallone e Cia. voltam para continuar a mesma missão, mas com uma abordagem diferente, assumidamente galhofa e que, por incrível que pareça, funciona ainda melhor.

Desta vez dirigido por Simon West, cuja filmografia inclui Con Air – A Rota da Fuga e o recente Assassino a Preço Fixo, o novo Mercenários segue quase a mesma estrutura do anterior (que também é a de inúmeros filmes de ação oitentistas). Um grande resgate no início, uma missão fracassada no meio e a hora da revanche no fim. Divisão em atos mais clara que essa, impossível. E a trama é ainda mais genérica, envolvendo um vilão roubando plutônio. O bandido da vez é vivido por Jean Claude Van Damme, mais divertido como antagonista do que o Eric Roberts no primeiro filme. E pudera, também não há como ser mais claro em sua função, uma vez que o personagem se chama Vilain. Com brincadeiras assim por parte do roteiro, escrito por Stallone e Richard Wenk, é que Os Mercenários 2 se torna melhor que seu antecessor.

À todo momento, o texto, com o auxílio de diálogos e referências visuais, chama atenção do espectador pro fato de tudo aquilo ser uma grande diversão homenageando produções que marcaram a juventude de muita gente. Stallone é Stallone, Schwarzenegger é Schwarzenegger, Bruce Willis é Bruce Willis. O filme não tem a menor vergonha de lembrar a audiência sobre quem são esses atores que se confundem com seus personagens icônicos. Por isso, os coloca repetindo frases de suas obras anteriores, brincando uns com os outros. O I’ll Be Back do Exterminador do Futuro? Está lá. O Yippee ki yay do Duro de Matar? Também. E até há espaço para uma citação ao Rambo. Todas essas referências, inclusive vêm de Schwarza, que se torna uma metralhadora de frases de efeito.

Além dessa brincadeira entre os três maiores nomes do filme, há a tão comentada participação de Chuck Norris, que aproveita um dos maiores memes de internet, o Chuck Norris Facts, pra fazer graça e, de novo, dizer ao espectador: “hey, nós não queremos que você nos leve a sério, queremos que você se divirta!”. E daí que Norris desafia a lógica, aparecendo em dois momentos praticamente do nada, sem a menor explicação de como sabia que sua presença era necessária (aumentando ainda mais seu status de ser superpoderoso)? Este é apenas um dos vários furos de roteiro presentes em Os Mercenários 2 que não fazem a menor diferença, já que são os mesmos problemas que muitos filmes do gênero sempre tiveram. O trunfo desta vez é se declarar ciente de tudo isso.

Apesar de ter praticamente o mesmo elenco do anterior, mas com participação menor de Jet Li e com as adições de Liam Hemsworth e Yu Nan, continuam sendo Stallone e Jason Statham, os dois maiores destaques da produção. A química entre ambos novamente merece ser comentada e desta vez suas piadas e interações estão ainda mais engraçadas. Quem ganhou um pouco mais de espaço foi Dolph Lundgren, graças à constante piada com seu personagem ser um engenheiro químico. Acredite se quiser, o ator o é na vida real, protagonizando mais um momento de auto-referência para a alegria dos fãs.

Embora mais do que satisfatório no que diz respeito ao humor quando assume o tom de paródia, o filme sofre no quesito técnico por conta de seus efeitos especiais pavorosos e que não o são de forma proposital. É helicóptero com movimentos totalmente errados, sangue adicionado na pós-produção, Chroma-key disfarçado com desfoque. A lista é interminável. Pra piorar, a direção de fotografia não poderia parecer mais amadora. Notem como a iluminação muda de take pra take. Ou está tudo claro demais (com ajustes de correção de brilho e contraste feitos porcamente na pós-produção), ou escuro demais (por falta de uma luz adequada) ou granulado demais (e mesmo este último sendo, em vários filmes, uma escolha estética, surge aqui como descuido já que não mantém coerência em cenas que fazem parte da mesma sequência). Pra piorar, a trilha de Brian Tyler é genérica até não poder mais e totalmente inadequada, principalmente no último ato.

E mesmo assim, nada disso fará muita diferença. Os Mercenários 2 é daqueles “prazeres com culpa” que ninguém se importa em cultivar. E se a própria produção se certifica tanto em fazer o espectador entender que tudo é menos filme e mais galhofa, porque deveria importar?

Alexandre Luiz

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5 comments

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    Filipe Camelo 6 setembro, 2012 at 14:17 Responder

    Vi o filme, e realmente é super divertido, algo para não levar a sério mesmo. É para rir, curtir e, pq não, vibrar exatamente como faziamos quando mais jovens e viamos esses "hérois" na TV e nos VHS da vida.

    Se tem algo que me incomodou no filme foi exatemente o que o Alexandre Luiz falou sobre a fotografia. Vi o filme em formato digital, e nas cenas mais escuras ou com muita granulação parecia que estava desfocado. Não sei se o mesmo problema persiste nas cópias em película.

    Mas fora isso, o filme é diversão pra lá de garantida. Eu e meus amigos saímos felizes da sala de cinema.

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