Mothra, a deusa Selvagem é um filme de drama e ficção científica japonês, pertencente ao secto de filmes de monstros gigantes, os populares kaiju. Dessa vez o foco é na figura mitológica e insectoide chamada Mothra, um ser benevolente, em formato de borboleta, que cuida dos habitantes de sua ilha natal, mas que pode ser mortal caso seja desafiado ou quando vê seus adoradores em perigo.
Lançado em 1961, foi conduzido por Ishirô Honda, conhecido realizador do gênero, que fez Godzilla, Rodan!... O Monstro do Espaço, Gorath, King Kong vs. Godzilla entre outros. Os efeitos especiais ficaram a cargo do mestre Eiji Tsuburaya, o roteiro é de Shin'ichi Sekizawa, baseado no romance de Shin'ichirô Nakamura, Takehiko Fukunaga e Yoshie Hotta. Tomoyuki Tanaka é o produtor da obra.
A história foca em uma expedição à ilha chamada de Infante ou Infant, cuja população indígena é formada por nativos quase selvagens, que aparentemente não tem língua oral, além de conter pequenas fadas, que cantam, louvam e adoram uma divindade mítica, presente em um grande ovo no topo de uma montanha.
Mais tarde a condição de suposta selvageria e não civilização desse povo é posta a prova, embora a revelação não seja exatamente um plot twist.
Os viajantes se dividem "espiritualmente" em dois grupos, um de gente bem-intencionada, de nacionalidade japonesa, além dos "malvados" e exploradores, estrangeiros, que até certo ponto, se apresentavam com boas intenções, tanto que ficaram ao lado dos mocinhos.
O segundo grupo decide sequestrar duas meninas, despertando a ira da guardiã, que prova, obviamente, ser mais do que apenas uma lenda.
Ou seja, é um filme que discute a ganância capitalista, a mesma que quer transformar tradições em dinheiro. Dessa forma, o roteiro transforma o estrangeiro em um espantalho, no foco de todo o mal do mundo, sendo, portanto, uma forma de contar história xenófoba, tal qual ocorreu com os próprios japoneses décadas antes, nos seriados e filmes feitos para os cinemas dos Estados Unidos.
A principal diferença desse para outros filmes de kaiju é que esse é mais positivo, com elementos de fantasia, que segundo Honda, era ideia e mérito de Sekizawa. É dado também que foi esse filme que popularizou a noção de apresentar monstros gigantes nos filmes japoneses como personagens individuais e identificáveis, em vez de ameaças que devem necessariamente ser derrubada.
Mothra é apresentada mais como uma heroína do que como uma fera malvada, estúpida e descerebrada. Essa mudança na caracterização contaminaria outros monstros gigantes, inclusive Godzilla, entre outros como King Kong, que na versão dos anos setenta, ganhou ainda mais complexidade e até atos de heroísmo.
Honda inclusive comparou seu esforço em fazer o filme com o que os estúdios Disney faziam, mirando uma obra para toda a família, que fosse mais solar, brilhante e agradável.
Os elementos de leveza e comédia do roteiro seriam influentes em futuros filmes de monstros da Toho, com o filme subsequente, King Kong vs. Godzilla, que já se apresenta como uma comédia.
Honda estava cansado de fazer filmes de monstro. Em uma conversa com Jerry Itô, um dos protagonistas desse, o ator perguntou ao cineasta por que ele continuava fazendo esse tipo de obra.
O realizador manifestou vontade de fazer outros projetos, mas disse que Toho somente o oferecia obras desse tipo. O roteiro foi baseado em um romance de fantasia chamado The Luminous Fairies and Mothra, do original Hakko Yosei to Mosura.
A Toho encomendou a história, mirando atrair o público feminino, já que o presidente/produtor do estúdio, Iwao Mori, descobriu que as mulheres constituíam uma grande parte do público que vai ao cinema e muitas vezes traziam pessoas com elas. Shinichiro Nakamura, Takehiro Fukunaga e Yoshie Hotta escreveram uma parte da história, em três atos bem divididos.
O filme foi um sucesso de bilheteria e se tornou um dos filmes de fantasia de maior sucesso de Toho, com Mothra se tornando uma personagem popular que teria sua própria série de filmes décadas depois, crossovers e até versões internacionais.
O produtor Tomoyuki Tanaka normalmente contratava escritores especializados em ficção científica para escrever a história, mas para esse, escolheu um escritor acostumado a obras dramáticas, por isso, arrumou Shin'ichi Sekizawa. De todos os roteiros de filmes kaiju que escreveu e trabalhou, esse foi o que mais orgulhou o roteirista.
O escritor repetiria a parceria com Honda, fazendo Mundos em Guerra e Varan - O Monstro do Oriente. Durante o tempo em que trabalhou no filme, ele estava passando por terapia de eletrochoque, já que foi considerado uma pessoa com questões de insanidade.
As filmagens com atores duraram de 3 a 4 meses, de acordo com Masamitsu Tayama, sendo encerradas em 6 de maio de 1961, enquanto as sessões com efeitos especiais foram encerradas em 14 de maio, devido ao clímax ter sido alterado de última hora. O ato de "violência" de Mothra em New Kirk City provavelmente foi filmada por último.
As filmagens em locações em Kirishima duraram duas semanas devido a Toho aconselhar Sekizawa, Honda e Tomoyuki Tanaka a buscar um final mais barato.
A obra foi rodada em Tóquio, com cenas em estúdio fechado. O altar e o templo da Ilha Infant, além do cenário de Yakushima foram construídos no Estágio 10 no Toho Studios. As cenas do porto foram no porto de Kagoshima, todas gravadas no mesmo dia.
Segundo Masamitsu Tayama, não houve ensaios durante as filmagens, mas os atores tentavam praticar suas falas no set nos intervalos das muitas tomadas feitas.
O estúdio por trás do filme foi a Toho, que distribuiu o longa no Japão, enquanto a Columbia Pictures lançou uma versão dublada em inglês, nos Estados Unidos em 1962.
A Columbia começou um trabalho de expansão no mercado de cinema da Ásia. Os membros da direção afirmavam que a empresa estava feliz por trabalhar com a Toho na produção do filme e que buscava aumentar sua presença no mercado asiático.
Além de lançar nos Estados Unidos, a Columbia também se ofereceu para ajudar a financiar a produção.
O título do filme no início da parceria seria The Monster Mothra, mas foi reduzido O acordo entre os estúdios veio com a ressalva de que a Borboleta deveria atacar uma cidade não japonesa. Isso levou à criação da fictícia Newkirk City, bem como da nação de Rolisica, que é uma mistura entre as forças americanas e soviéticas.
A Columbia Pictures ameaçou cancelar o filme inteiro se as cenas acordadas de New Kirk City fossem refeitas, também exigiram uma mudança na forma como Clark Nelson (Jerry Ito) morreria. Para o estúdio, o ato não poderia ser confundido com um suicídio.
Dessa forma, boa parte das filmagens em Kirishima foram descartadas, desanimando Honda.
Outra mudança pontual é que no rascunho original, seriam apresentadas quatro e não duas fadas. Sekizawa foi quem reduziu o número, sentindo que duas fadas eram mais administráveis.
A história original também tinha o Shobijin (o povo local da ilha, que lembram pigmeus) com 60 centímetros, mas o escritor achou que o tamanho era muito grande e criaria dificuldades para Tsuburaya.
Outra ideia era que um dos Shobijin se apaixonasse por um dos protagonistas, mas foi abandonada porque sentiu que isso exigiria muito tempo, que resultariam em menos cenas de Mothra.
Fukuda não estaria na expedição inicial e se aventuraria sozinho na Ilha. Nessa versão os nativos revelariam a ele a lenda e a mitologia incluindo a apresentação de dois deuses (Ajima, o deus masculino da Noite Eterna e Ajiko, a Deusa da Luz do Dia) concebendo um ovo gigante brilhante, ovos menores e um par de humanos que reproduzem e repovoam a ilha.
Os ovos menores geraram lagartas que se transformariam em mariposas, que voariam para longe, fato que enfureceria Ajima, levando-a a condenar todos os seres vivos à morte, então a entidade comete suicídio.
Ajiko também se mata ao rasgar seu corpo em quatro pedaços, que se transformam em quatro pequenas fadas imortais dedicadas a servir Mothra desde a época em que era apenas um ovo gigante.
Nessa versão Fukuda permanece na ilha e mais tarde é acordado pelos tiros de Nelson, testemunhando o tal sequestro e o ritual dos nativos antes de ser resgatado por um barco enviado por Chujo. A história também apresentaria paralelos políticos com uma ratificação de um tratado de segurança entre o Japão e os Estados Unidos, no entanto, Sekizawa omitiu o pano de fundo político.
O longa estreou em julho de 1961 no Japão e em dezembro em Taiwan. Nos Estados Unidos da América chegou em maio de 1962.
O título original é Mosura ou Mosla na versão falada em inglês. Também foi encontrado em sua terra natal como Daikaijû Masura. Na Austrália, Canadá, República Tcheca, França é Mothra, assim como nos Estados Unidos, que também possui o nome alternativo The Thing. Na Argentina é Mothra, la indestructible.
O orçamento do filme foi o mais caro da Toho até então, o de maior orçamento do Japão, somando é claro a verba adicional da Columbia. Isso se percebe no trabalho mais detalhado das miniaturas, que foram o serviço mais intrincado de qualquer produção da Toho até aquele momento.
Os bairros pelos quais a larva Mothra viaja em Tóquio - Ome Kaido, Dogenzaka e Shibuya - foram recriados como conjuntos enormes construídos em escala 1/20, idênticos aos locais reais. Um suporte de larva de 3 pés foi usado para retratar Mothra na água, com uma hélice que era impulsionada por um motor de motocicleta.
Outro ponto onde se vê esse investimento é na cena da barragem de que foi filmada na barragem de Kurobe. Durante uma reunião de produção, Tsuburaya disse à equipe que queria quatro tanques de água para criar as águas turbulentas que rompem o muro, no entanto, o diretor assistente usou 12 tanques, que continham 4.320 galões de água.
A barragem foi construída na escala 1/50 e tem quatro metros de altura, já as miniaturas das montanhas ao redor foram construídas com concreto para suportar a pressão da água.
Isso incomodou Tsuburaya, já que ele não conseguia movimentar o aparelho para instalar as câmeras. Os trabalhos de efeitos especiais foram concluídos em 14 de maio, 8 dias após o término da fotografia principal.
A barragem também foi projetada para desmoronar de forma realista sob o peso da água, mas devido a isso, apenas uma pequena quantidade de água saiu durante a primeira tentativa. Foram feitas três tentativas para forçar a saída da água e a barragem teve que ser enfraquecida para que o efeito fosse bem-sucedido.
O diretor editaria todas as três tomadas juntas para conseguir o take que queria.
Ainda sobre os cenários japoneses, essa foi a primeira vez que a Torre de Tóquio seria apresentada em um filme de kaiju, construção essa erguida apenas três anos antes. Por conta disso, a equipe ficou entusiasmada com a perspectiva de construir e destruir uma miniatura dela.
Na fase de pré-produção, o filme tinha 2 horas de duração, mas segundo os produtores, o ritmo estava truncado. Tomoyuki Tanaka solicitou uma edição com menos 20 minutos, Honda reclamou bastante, mas não desafiou o pedido de Tanaka e acatou a ordem.
Haveria uma explicação maior sobre as origens da ilha, seus nativos e a lenda de Mothra e de como os ilhéus sobreviveram a bomba, além de detalhamentos sobre os rituais elaborados por eles, mas tudo isso foi cortado, justamente a partir do pedido do produtor.
Este foi o único filme de estreia apresentando um dos "Quatro Grandes" monstros de Toho (Godzilla, Rodan, Mothra e King Ghidorah) para o qual Akira Ifukube não compôs a música. Ele sentiu que seria incapaz de fazer uma música como a necessária para Mothra.
A composição ficou com Yûji Koseki, junto as gêmeas Peanuts, que eram cantoras muito populares do Japão. A letra tema foi escrita em japonês e traduzida para o indonésio na Universidade de Tóquio por um estudante indonésio de intercâmbio.
Ifukube achava que não conseguiria trabalhar com as Peanuts, porém, alguns anos depois, faria com a dupla músicas para Godzilla Contra a Ilha Sagrada de 1964 e escreveria a música "Sacred Springs" para eles.
O filme foi relançado em 1976 ao lado de Godzilla e Rodan, anunciado sob a bandeira de "O Mundo dos Sonhos de Eiji Tsuburaya". Esses filmes seriam relançados mais uma vez em 1982.
Honda fez Godzilla, Os Bárbaros Invadem a Terra, O Monstro da Bomba H, Varan - O Monstro do Oriente e Mundos em Guerra entre outros.
Martin Scorsese expressou admiração pela imaginação deste e de outros filmes de ficção científica/fantasia da Toho dirigidos por Honda, tendo escrito o prefácio da biografia do diretor.
Anos mais tarde Honda disse que tinha esperança de que um dia Mothra fosse refeito como um filme de animação no estilo Disney, dado seu aspecto fantástico e fantasio.
Sekizawa escreveu A Última Cena de Tiros, Mire na Viatura, O Segredo do Homem Elétrico. Depois desse Mothra, redigiu muita coisa, entre elas episódios de Ultraman, Ebirah, o Terror dos Abismos e diversos filmes e seriados de monstros. Foi e designer de produção e trabalhou em funções de produção Hachi no su no kodomotachi, Sono ato no hachi no su no kodomotachi e Daibutsu sama to kodomotachi.
Nakamura escreveu o roteiro de Mar Inquieto. Teve um livro seu adaptado, no longa Procuradores do Inferno.
Fukunaga teve adaptadas suas obras em Seishun Kumo e Haishi, enquanto Hotta escreveu o argumento de Hiroba no Kodoku.
Tanaka produziu muitas obras, entre elas Mar Inquieto, Godzilla, Godzilla Contra-Ataca, Romance de Asunaro, Rodan!...O Monstro do Espaço e Kagemusah, A Sombra de um Samurai.
Esta é a única ocasião em que Honda trabalhou com Kyoko Kagawa, respeitada atriz de cinema conhecida por seus papéis com os diretores de arte Kurosawa, Ozu, Naruse e Ichikawa.
A atriz elogiou demais Honda, disse que ele era um diretor de nível A e o chamou de um profissional generoso, especialmente com Akira Kurosawa.
A narrativa começa mostrando especialistas em meteorologia nas Ilhas Caroline, lugar esse que está sofrendo com a chegada de um tufão, que se aproxima da embarcação Genyo-Maru.
Nas buscas e resgates ao barco encontram 4 sobreviventes na Infant Island, lugar que sofria com a radiação e que era dado como inabitado e possivelmente tóxico. Cientistas fazem uma bateria de exames com os resgatados e se surpreendem, já que a taxa de contaminação era baixa.
Há inclusive vida humana lá, um grupo de pessoas inteligentes miniaturizadas, além de centenas de pessoas com pele escura, que tem seu próprio conjunto de regras e crenças, que cultuam uma entidade misteriosa, que em boa parte do filme, é apenas um ovo.
Foram utilizados centenas de figurantes, para interpretar os nativos. Esse foi o primeiro filme Kaiju japonês a envolver nativos primitivos, possivelmente em atenção ao clássico King Kong, de 1933. O povo nativo da ilha não reapareceu em um filme pós-Era Showa.
No entanto não são os cidadãos comuns que ganham destaque e sim as belas e pequenas fadas gêmeas, duas mulheres do tamanho de um dedo humano, que eram feitas pela dupla Peanuts.
Da mesma forma como a dupla Yumi e Emi Ito foram muito elogiadas, a caracterização dos nativos foi e ainda é muito rechaçada, graças ao uso de black face.
Possivelmente esse é o motivo de não resgatarem mais esse povo como parte da mitologia dos monstros gigantes.
Para além das críticas, havia muito trabalho na caracterização. Os figurantes se pintava sem roupa, colocavam elas em cestos, depois pintaram a si mesmos e uns aos outros antes, para só então colocar perucas e figurinos. Quando terminavam as filmagens, eles tomavam banho para tirar o creme e a maquiagem e só então pegavam as roupas "comuns" dos cestos.
De acordo com a atriz Shigeo Kato, as mulheres que faziam nativas tiveram que pintar seus corpos expondo os seios. Após as filmagens, usavam o banho público em frente à Estação Seijo Gakuen-mae para se lavar. Muitos atores sofreram erupções cutâneas e reações negativas a pintura, incluindo aí gente do teatro e tv, figurantes e pessoas comuns.
Ainda segundo Kato, os gerentes das salas de banho público reclamaram com a Toho, já que a água escureceu e o número de pessoas que utilizavam o banheiro era muito maior do que o comum.
Ainda sobre os nativos, a incorporação do suco vermelho que permite aos nativos sobreviver à radiação foi inspirado no texto de Shigeru Kayama e seu livro Arkagok Krasny. O composto é feito de esporos de plantas que habitam a ilha e tem poderes afrodisíacos, além de ser capaz de ressuscitar os mortos com seus poderes místicos.
A equipe de Honda era bem compartimentada, havia cerca de cinco assistentes de direção, Mimaji Nonagase, Hiroshi Hayoi, Ken Sano, Hiroyasu Sunahara e Teruyoshi Nakano. Cada um lidava com um aspecto, com Hayoi instruindo os escalados como Infant Islanders como dançar, a velocidade da dança e até a coreografia.
Segundo Honda a cena em que pares masculinos e femininos dos Ilhéus se referem um ao outro e dançam tem o significado de “prole próspera", ou seja, de reprodução.
O governo de Rolisica (Rolisika ou Rolisican, já que a grafia muda de acordo com release e com o idioma de legenda ou dublagem ) usa seu embaixador para tranquilizar o povo, já que não pretendem mandar uma expedição a ilha.
A bandeira do país fictício é um híbrido da bandeira americana, com as estrelas e listras, com a russa, com o martelo e uma lua, essa última substituindo a foice.
O roteirista Sekizawa queria que Mothra atacasse a cidade de Nova York, mas sua ideia foi rejeitada. Após alguma deliberação, ele teve que aceitar a fictícia New Kirk City como substituta.
No elenco, vale destacar a presença do veterano Takashi Shimura que faz um papel pequeno, porém com importância, como o editor do jornal, Sadakatsu Amano.
Shin'ichi Chûjô ou Chuzo, um sobrevivente do naufrágio inicial, feito por Hiroshi Koizumi, evita ser fotografado, mas aos poucos, se torna próximo da dupla de jornalistas encarregados de entrevistá-lo. O personagem de retornaria como Professor Chûjô muitos anos depois em Godzilla: Tokyo S.O.S. de 2003, que também contou com Mothra em seu "elenco".
Os jornalistas designados para entrevistá-lo são Zen'ichirō Fukuda de Frankie Sakai e a fotógrafa Michi Hanamura de Kyōko Kagawa. Ao longo da trama, eles e Chûjô retornam a ilha, monitoram a exploração da mesma e testemunham a ação da grande borboleta.
A trama também mostra a hierarquia dentro da expedição marinha, liderada pelo doutor Harada, de Ken Uehara, que está sempre ao lado do americano Clark Nelson, de Jerry Ito.
Mothra é um filme muito mais descontraído e menos dramático que seu primo temático Godzilla. A questão da radiação obviamente interfere aqui, mas não de maneira grave.
A expedição finalmente se reúne, com gente japonesa e de fora, em uma união do império japonês e da nação fictícia. A organizada vai paramentada, com armaduras e capacetes grandiosos.
Há um bom cuidado com design de produção e direção de arte. Mesmo que se compare esse com seriados televisivos futuros e de baixo orçamento - Jornada nas Estrelas Série Clássica - há de valorizar os cenários aqui, muito bonitos, seja na simplicidade das plantas grandes, com folhas gigantes, como nos monumentos naturais e organismos vivos diferenciados, de estilo singular.
Chozu some e o grupo de desbravadores vai atrás dele. Acabam encontrando nativos, duas moças bonitas, que impressionam mais pelo tamanho de um palmo mais ou menos do que pela beleza de ambas.
A dupla Yumi e Emi filmaram suas cenas separadamente do elenco principal, na frente de uma tela azul, com interações editadas para parecer estar no mesmo lugar. As duas foram creditadas com Little Beauty/The Shobijinn.
Chuzo e Fukuda suspeitam das intenções de Nelson, corretamente aliás, já que ele é a pessoa que mais se aproxima do arquétipo do vilão. O fato dele ser a pessoa ruim basicamente por ser de fora reproduz um contraponto a xenofobia e um preconceito contra os japoneses, que ocorria no cinema e televisão ocidental pós segunda guerra mundial.
É justamente a equipe de Nelson que invade a ilha à noite, atacam as mulheres e atiram nos homens e levam as irmãs.
O editor chefe feito por Shimura dá uma bronca em Fukuda, por ele não ter publicado uma matéria de denúncia do rapto das meninas da Ilha quando ocorreu, quando o tempo passa e Nelson se mostra uma pessoa gananciosa e interesseira, poderia já ter esse precedente.
Na tentativa de proteger as irmãs, acabou sendo relapso, deixando a justiça e a correção de lado, quando passam os anos Nelson segue impune e lucrando com exibições das moças, que se tornaram escravas de exibições artísticas, como se fossem animais de circo. Elas são postas em exibições com roupas coloridas, números musicais e até elementos cênicos suspensos.
Os dois heróis encontram as irmãs, que resolvem enfim falar, dizem que o seu povo interpreta emoções, por isso não usam palavras.
Em uma espécie de culto de adoração, em um altar com o ovo, Mothra finalmente eclode, mostrando ser enfim sua fase lagarta. Ela ataca um navio, em miniaturas bem elaboradas.
Foram feitos três modelos diferentes para a Mothra, cada um com funções particulares. Um modelo de tamanho médio com asas mais flexíveis foi utilizado para a cena de incubação. Adereços, de variadas escalas foram criadas para a fase lagarta incluindo um usado para filmar cenas aquáticas.
A fase larva Mothra foi a maior fantasia que Toho criaria na era Showa e manteria o recorde até o traje de Orochi, the Eight-Headed Dragon ou Yamato Takeru, de 1994, 33 anos depois.
Ela tinha cerca de 2,10 metros de altura e pouco mais de 9m de comprimento, pesando algo em torno de 120 quilos, com um total de oito atores sendo necessários para operar a criatura.
Foi construído na escala 1/25, com sete metros de comprimento e exigia de cinco a seis atores internos para movê-lo. Haruo Nakajima e Katsumi Tezuka controlavam os efeitos especiais dentro do traje, com alguns membros da equipe de arte de efeitos.
O rosto da larva Mothra foi coberto com cracas e rattan para torná-lo mais orgânico.
Sua seda é feita a partir de uma forma de isopor líquido chamado poliestireno expandido, foi criada dissolvendo pasta de borracha com diluente e borrifando-a através de um aerógrafo instalado na boca.
Seu efeito causaria queimaduras na pele dos infelizes tripulantes apanhados em seu caminho.
O rugido da fase mais avançada foi criado a partir dos sons Anguirus, do segundo filme de Godzilla.
Os olhos da Mothra foram criados por Keizô Murase, que os construiu em plástico com luzes elétricas embutidas. Enquanto o plástico ainda estava macio, ele usou uma vara para fazer inúmeras marcas redondas nos olhos. Mais tarde, ele usaria esse método para criar os olhos dos Kamen Riders originais.
Para as asas baterem, a equipe colocou tecido indiano sobre uma estrutura de vime e depois prendeu as asas à uma plataforma rolante. Os modelos eram suspensos por fios, presos a uma espécie de elástico, que por sua vez era preso em uma máquina motorizada suspensa, que abria e fechava as asas. Os fios foram presos no centro e não nas pontas das asas, o que permitiu que elas batessem nas bordas.
O modelo de tamanho médio tinha tórax menor e envergadura menor, em comparação com os demais modelos.
As gêmeas afirmam que não há como parar Mothra, já que ela não se comunica com palavras, só segue seus instintos e desejo de preservar seus adeptos e súditos.
As autoridades acreditam que derrotaram o titã, mas se enganam. A Borboleta segue e rompe a represa
Os detalhes do corpo do monstro são sensacionais, tanto quando é visto no chão, quando "ela" se movimenta, como na hora de subir. Em uma torre elétrica.
Originalmente, o plano era que Mothra tecesse seu casulo no prédio da Diet, por conta de Serizawa não sentir que era espetacular o suficiente. Tanaka interveio então, sugerindo a torre de Tóquio. Anos depois, no filme Godzilla - A Batalha do Século, Mothra tece um casulo sobre esse o prédio Diet.
Os membros da equipe de efeitos especiais ficaram entusiasmados em "destruir" a Torre de Tóquio em tela. O modelo foi construído por uma metalúrgica, usando plantas da equipe de efeitos, que fotografou e pesquisou a construção real. As plantas mostravam apenas um lado da torre, o que obrigou a metalúrgica a descobrir os ângulos para construir os outros lados.
Quando Mothra parece estar abatida, simplesmente joga uma substância tipo corda, semelhante a uma teia, uma membrana/seda que acerta um helicóptero, que o derruba e que vai servir para envolver o ser em um casulo.
Demora um tempo a desenvolver a evolução da criatura secular, por conta do casulo ser bem sólido as autoridades tentam rompê-la, usam raios, vindos de antenas de calor, acopladas a carros, canhões, que foram criados em tamanhos grandes e pequenos.
Ha até transmissão em inglês dessa suposta vitória, feita em inglês por Jerry Itô.
O ator afirmou que sua mãe ficou feliz ao ver seu rosto em um filme, mas perguntou por que ele tinha que ser um personagem tão cruel.
Os diálogos em japonês que Itô profere são lentos e truncados por conta de seu personagem ser um estrangeiro que fala japonês, mas isso não foi algo intencional. Na época. o interprete estudava japonês, mas ainda não era fluente.
Com 88 minutos, chega a borboleta, acima de Newkirk City, a cidade ocidental que serviria de palco para a sua ação.
As cenas de Mothra em si não são ruins, mas as reações das pessoas em tela verde são grotescamente falsas. Não faria diferença alguma se fosse uma cidade japonesa o lugar onde o ataque acontece, salvaria assim a produção de uma sequência tão vergonhosa.
No entanto, a produção (leia-se Columbia) exigia que fosse uma cidade fora do Japão. Honda originalmente pretendia fazer uma gravação de segunda unidade em Los Angeles, mas devido questões de orçamento, ele teve que filmar usando imagens da biblioteca das rodovias e praias da cidade. A Toho usou filmes de biblioteca da Califórnia, colou algumas cenas filmadas às pressas e lançou.
Apesar das mudanças abruptas, a equipe de efeitos especiais criou um grupo urbano em miniatura da cidade de Newkirk. Há algumas cenas boas, como a pressão do vento de Mothra rompendo a vitrine e colidindo com a loja, mas a maioria tem qualidade baixa.
Honda não gostou do resultado e afirmou que as cenas são assim graças ao baixo orçamento e omissões da produção. Nem Eiji Tsuburaya ficou convencido com os resultados dos conjuntos em miniatura.
O nome da cidade era para ser New Wagon City, mas foi decidido que seria mudado, e quando Hiroshi Hayoo, um dos assistentes de direção, sugeriu Newark como nome, Jerry Ito respondeu que era o nome de uma cidade real nos Estados Unidos, então foi aceito.
A cena em que Mothra é guiado ao aeroporto nos últimos minutos do filme foi filmada na Base Aérea de Tachikawa, do Exército dos EUA.
No final, Nelson se sente pressionado e ameaça pessoas comuns, confunde gente que cerca seu carro com os nativos da ilha Infant. Morre de maneira tola e sem graça. Apesar do vilão ter quase se suicidado, o ataque de Mothra não tem a ver com ele, com as garotas ou de algo nesse sentido e sim pelos sinos acima de uma igreja, cujo som lembram o da ilha Infant.
Isso é uma lição para o americano vaidoso e aproveitador, que se acha tão importante que julgava ser ele quem atraiu o titã.
Quanto entendem a deusa, tocam os sinos, para impedir a criatura de bater suas asas, que são capazes de destruir paisagens naturais, as marítimas e urbanas, as moças são liberadas, se despedem e dizem que vão rezar pela harmonia entre as terras.
É uma boa despedida, pacífica e esperançosa.
Versões anteriores do roteiro faziam Mothra viajar para o espaço sideral e entrar em um universo negativo, provavelmente destinado a ser um buraco negro.
Havia um final alternativo pensado, em que Nelson cai em um vulcão. A cena teria sido ensaiada com um manequim, mas ele caiu na cratera e não foi recuperado. Algum tempo depois, uma pessoa que caminhava encontrou o boneco e o confundiu com um cadáver.
Também se pensou em colocar Nelson e seus capangas sequestrando Shinji, seguindo para Rolisica em um avião particular, com ele caindo. Shinji encontraria as fada que contatam telepaticamente Mothra. Em um confronto final com Nelson e seus capangas, a criatura mataria os e voariam de volta para a ilha com as fadas.
Mothra é meio bobo, comparado aos outros filmes de monstro, é possivelmente o mais otimista desse tipo de cinema, já que o monstro não é “morto” no final e é esperto em explorar a história de uma maneira tão diferenciada.
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