Rodan!... O Monstro do Espaço é um filme japonês que explora o tema dos monstros gigantes, os Kaijus. Primeira obra colorida da filmografia do cinema de monstros dos estúdios Toho, foca na exploração de um ser mitológico do passado, que desperta em uma montanha e que libera outras criaturas gigantes (e poderosas) que lembram insetos.
Dirigido por Ishirô Honda, o mestre em matéria de filme de monstro gigante japonês, a obra explora um drama que tem como pano de fundo o cenário de testes radiativos, ou seja, apesar do nome nacional relacionar esse ao espaço, o terror é natural da Terra, não vem de fora do planeta.
A história gira em torno de um grupo de mineradores, que em meio ao trabalho de exploração encontram algumas criaturas pré-históricas dentro de uma caverna desconhecida, seres esses despertados de maneira misteriosa.
Esses seres se reúnem em uma montanha, que era um vulcão desativado, o Monte Aso, com o tempo, imprensa, autoridades e engenheiros investigam a origem dos personagens monstruosos, encontram algumas respostas e lidam com um drama familiar. A história gira em torno de um grande suspense sobre a revelação dos personagens.
O roteiro foi escrito por Takeshi Kimura e Takeo Murata, com argumento de Ken Kuronuma. O produtor foi Tomoyuki Tanaka e a versão em inglês teve texto de David Duncan e produção de Frank King e Maurice King.
Origem e ideia inicial
Rodan foi concebido diferente, era para se aproximar mais de um pássaro pre-histórico, modelado tal qual um Archaeopteryx. O design final aproximou mais a criatura de um Pteranodonte, se fosse tal qual a antiga inspiração, certamente haveriam penas na criatura.
Sobre o texto, Ken Kuronuma escreveu uma história inspirada em um incidente em Kentucky no ano de 1948, quando Clapt. Thomas F. Mantell, piloto da Guarda Aérea Nacional de Kentucky, morreu em um acidente enquanto perseguia um OVNI. Nesse rascunho havia apenas um Rodan e não dois, como aparece no longa.
O personagem seria ferido por aviões estadunidense sobre Okinawa antes de ser morto no Monte, mas o roteiro foi sendo modificado, até chegar ao que foi filmado nessa obra.
O nome japonês do personagem é Radon, abreviação da palavra japonesa para Pteranodon (pronuncia Puteranodon) a grafia de Radon em japonês também corresponde ao nome de Ladon, o dragão que guardava as Hespérides na mitologia grega.
Era para ele ser chamado de Radon no mundo inteiro, mas existia um sabonete com esse nome nos Estados Unidos, quando dublado para o mercado norte-americano o nome foi alterado para Rodan.
Foi assim nos mercados de língua inglesa, mas em Godzilla vs Mechagodzilla II, a versão em inglês do filme usou o nome original Radon.
No Japão o filme chegou em 26 de dezembro de 1956. Nos Estados Unidos da América estreou no ano seguinte, em 6 de agosto de 1957.
O título original é Sora no daikaijû Radon ou apenas Radon. Nos Estados Unidos é chamado Rodan! The Flying Monster ou Rodan. Los hijos del volcán nos cinemas em espanhol. Em países de língua inglesa também pôde ser encontrado como Radon the Sky Monster.
Na Argentina é Rodan, Bélgica e Canadá foi chamado pelo título francês Invasion 2034, enquanto na Itália é Rodan il mostro alato.
Curiosamente no Brasil se chamou de Rodan: O Monstro do Espaço, mas não há ameaça extraterrestre ou algo que o valha. O ser é terreno e terráqueo, provavelmente foi chamado assim só para chamar atenção, funcionando quase como um clickbait dos anos cinquenta do século XX.
Filmagens e distribuição pelo mundo
A obra teve filmagens na cidade de Fukuoka, a maior cidade da ilha de Kyushu, no extremo sul do Japão, também próximo dali, no Monte Aso, em Kumamoto, além deSasebo, em Nagasaki.
Na versão dos Estados Unidos, a ação do final mudou a localidade, graças a dublagem saindo Kyushu para ficar Sasebo. Isso se deu pela preocupação de que os dubladores pronunciarem incorretamente a palavra "Fukuoka", provavelmente.
Esse é um filme do estúdio Toho Film (Eiga) Co. Ltd, distribuído pela Toho no Japão, pela RKO Radio Pictures nos cinemas em 57, também Distributors Corporation of America (DCA) nos EUA, em uma versão dublada, que lançou este filme nos Estados Unidos como um filme duplo, junto ao drama de guerra britânico A Coluna da Morte (Hell in Korea) também de 1956.
O filme fez sucesso nos Estados Unidos, tornando-se o maior tento financeiro da DCA. Materiais futuros da companhia traziam o slogan “Da empresa que trouxe 'Rodan' para você”, mesmo que tenham apenas o distribuído o longa.
Quem fez
Honda dirigiu Godzilla, O Monstro da Bomba H, Varan: O Monstro do Oriente, Mundos em Guerra, Mothra, a Deusa Selvagem entre outras obras. É lembrado também pela parceria com Akira Kurosawa, sendo assistente de direção em Ran.
Takeshi Kimura escreveu Os Bárbaros Invadem a Terra, O Monstro da Bomba H, Matango: A Ilha da Morte e O Despertar dos Monstros.
Ken Kuronuma escreveu apenas esse e Varan: O Monstro do Oriente.
Takeo Murata escreveu Godzilla, Godzilla Contra-Ataca e Half Human: The Story of the Abominable Snowman.
Tomoyuki Tanaka produziu Yojimbo: O Guarda-Costas, Céu e Inferno, Godzilla e Kagemusha: A Sombra de um Samurai.
Maurice produziu Uma Estranha Aventura e Mortalmente Perigosa.
Como dito, esse foi o primeiro filme de terror colorido da Toho e o primeiro filme de monstro a ser rodado assim, também foi um dos poucos filmes japoneses lançados naquele ano em cores e isso se deu graças ao seu grande orçamento.
Apesar dessa distinção, a Toho não deu ao filme uma restauração adequada na coleção de cores para seus lançamentos em vídeo. Isso inclui a transferência HD fornecida para Janus no serviço de streaming da Criterion.
As primeiras imagens publicitárias americanas (que na verdade eram fotos coloridas em preto e branco) coloriram incorretamente a criatura titular de verde em vez de marrom.
A versão dos EUA e as versões em mídia física
Graças ao uso de uma linguagem considerada grosseira, a versão japonesa com legendas em inglês não foi permitida nos cinemas dos Estados Unidos até depois do sistema de classificação de 1968. Essa versão continha imagens violentas borradas.
Houveram cenas novas, com as imagens da contagem regressiva e da explosão nuclear eram imagens documentais do primeiro teste da nova bomba de hidrogênio.
A dublagem em inglês mudou não só o nome da cidade destruída, mas também o nome do vulcão de Monte Aso para Monte Toya.
Martin Scorsese elogiou bastante essa obra. No prefácio que escreveu na biografia do diretor Ishirô Honda demonstrou admiração pela imaginação utilizada nesse filme e em outras obras de ficção científica da Toho.
Na versão em DVD japonesa há versão Super-8mm como recurso especial, sendo parte dos extras.
O laserdisc japonês recebeu uma correção de cor da Toho, mas o estúdio não fez isso nos lançamentos subsequentes, mesmo nas versões HD fornecidas à Criterion para o serviço de streaming.
Em 2014, a IGN classificou Rodan em 6º lugar em sua lista dos "10 melhores monstros do cinema japonês", enquanto a Complex listou o personagem em 15º lugar em sua lista "Os 15 monstros Kaiju mais durões de todos os tempos".
Narrativa
Os créditos de abertura denunciam o horror com o nome original, nas letras características do idioma japonês. Se nota o rugido agudo do bicho e a música instrumental inspirada, de Akira Ifukube, contumaz parceiro de Ishirô Honda no cinema Kaiju.
Começa então mostrando o ponto alto do Monte Aso, em Kyushu, um cenário bonito, que varia entre fotografias e uso de maquetes, perto de uma ferrovia, mineradores trabalham para facilitar as vias e para cavar as cavernas que servirão de caminho para os trilhos.
Entre os trabalhadores, se destacam dois: Yoshi de Jirô Sukuzawa (Sete Samurais e Half Human) e Goro, de Rinsaku Ogata (Yojimbo, Varan e Mothra). Os dois aparecem em um desentendimento, uma briga meio séria, que é apartada por parte dos companheiros deles.
Logo aparece uma redação jornalística, do orgão Seibu Nippou. É dado que houve uma inundação em uma das minas, justamente onde a câmera estava momentos antes. Izeki vai lá ver, personagem repórter, de Yoshifumi Tajima de A Fortaleza Escondida.
Na mina os homens tentam arrumar uma forma de reverter o problema, entrando na parte molhada, ficando com água até a cintura.
No meio do caminho, encontram Yoshi boiando, cheio de feridas. Até tem esperança de pegar ele vivo, mas ele não resiste muito tempo. No médico, é dito que ele teve uma ferida estranha, nada normal, com um corte que não parece ter sido feito por lâminas, ao menos não as conhecidas.
Imediatamente suspeitam de Goro, que também sumiu. Os superiores tiveram a ideia de colocar os dois trabalhando juntos, depois do entrevero.
Entre os humanos, o protagonista é o um engenheiro de mineração Shigeru Kawamura, de Kenji Sahara, que chegou a ter um ferimento real, na bochecha esquerda, já que se cortou em uma cena em que rastejava para trás. Ele virou para o lado errado e passou sua pele em uma pedra. Apesar da lesão, ele finalizou a cena e o hematoma foi utilizado como elemento de cena.
É ele quem conversa com a irmã de Yoshi, Kiyo (Yumi Shirakawa) informa a ela o que aconteceu com o parente. Se nota um foco grande no drama humano aqui, além de uma construção de suspense bem-feita, especialmente no fato de esconder a imagem do monstro principal e das criaturas assessórias.
Como Goro segue sumido, ocorre uma tentativa de buscar ele no fundo da caverna e nesse esforço, um trabalhador é dragado para a água, sem razão aparente, nessa que é uma das cenas mais engraçadas e bizarras de toda a saga kaiju da Toho.
Os mineradores seguem com medo, supersticiosos e crédulos que são ficam quase paralisados, esperando os acontecimentos, enquanto os homens da ciência, que verificam as feridas das vítimas, acham os ferimentos muito estranhos.
Parte da investigação passa também pelo fato de que não há assassinatos assim no Japão, ao menos não é comum nem que matem uns aos outros, quanto mais dessa forma.
Otama (ou Otami) personagem de Kiyomi Mizunoya, vai atrás de Kiyo e a culpa pelo que aconteceu ao seu marido. Como não há respostas concretas sobre o mistério, a população fica confusa e se ataca mutuamente, como se Kiyo tivesse alguma influência ou mesmo culpa, junto as pessoas que sumiram.
Shigeru vai até a casa da moça, para prestar solidariedade e consolo, mas também para dizer que não acha que Goro é o responsável pelo que aconteceu ao seu irmão, mas é interrompido, pela primeira aparição de ser monstruoso dentro da exibição, ao menos de maneira explícita.
Um animal aparece, um ser inseto que mistura o visual de uma larva e libélula. A criatura é popularmente chamada de Meganulon, nome esse dado em atenção ao nome dos insetos pré-históricos Meganeura.
O ser foi baseado em cupins nos primeiros rascunhos, depois em grilos-toupeira, com Toho finalmente optando por ninfas de libélula como base para seu design. Os trajes Meganulon eram de aprox. 15 pés de comprimento e operado por três atores.
A criatura é estranha e tem um tamanho considerável, sendo um pouco maior que um ser humano. Apresenta um barulho irritante e a forma como se move é através de cabos e cordas, que ficam bem evidentes, na última remasterização.
O drama segue com as pessoas tentando entrar na parte mais escondida das minas, em cavernas, inclusive uma cena de trem. Quando os mineradores embarcam nos carros, aparecem mais seres insetóides.
Em uma das incursões, Shigeru luta bravamente, se acidenta e sofre com uma perda de memória, que pode ser até permanente.
Sahara estudou as causas da amnésia e praticou fazer com que seus olhos ficassem fora de foco. Seu esforço foi recompensado, pois ele de fato parece ter mudado a forma de lidar com a sua memória.
Autoridades da aeronáutica encontram um Ovni enviam o piloto Kitahara (Yutaka Oka) atrás dela. Ele bravamente vai e acaba colidido com algo ou com alguém, acima das nuvens, tudo leva a crer que é o kaiju alado. A trama segue escondendo seu personagem principal, o que dá nome ao filme, foca na vida de pessoas comuns, que tem seus dias de trabalho ou suas férias interrompidas, por conta da ação da criatura.
Essas interferências acontecem no interior, em Tóquio, perto dos montes e vulcões, pessoas morrem pela mera aproximação do que viria a ser chamado de Rodan.
Memórias recuperadas e ataques
Shigeru volta a lembrar de momentos na caverna. Ao ter contato com ovos de pássaros, na casa de Kiyo, desperta uma memória de quando estava em uma parte escondida da caverna, onde haviam ovos chocados, muitos animais e insetos, parecidos com o que ele mesmo teve um encontro antes.
Foi ali que ele viu um dos filhotes do ser pré-histórico.
Mas se destaca um ser que eclode de um ovo, lembra um filhote de Pássaro. Vem a ser a versão filho de Rodan/Radon. Populares testemunham sobre os ataques nas montanhas, um deles identifica um Pterdodactyl como semelhante ao ser que ali atacou.
Dublagem dos EUA
Em sua autobiografia, George Takei diz que este foi seu primeiro trabalho profissional como ator.
Na versão em inglês ele dublou o rapaz que fotografou a namorada no vulcão, o cientista e outros personagens, já que as vozes de diálogo foram fornecidas por ele, Keye Luke e Paul Frees, além de ter uma mulher fazendo todas as vozes femininas.
Ele foi o primeiro ator nipo-americano a fazer dublagem nos filmes de Toho, anteriormente, foram utilizados atores sino-americanos, incluindo James Hong, Sammee Tong e o próprio Keye Luke.
Na época atores chineses ocupavam um nicho em Hollywood, retratando soldados e civis japoneses em filmes de guerra.
As conclusões dos cientistas
Os cientistas entendem que o ser é da classe de espécie Rodan, da classe Pteranodon e que é uma forma de vida antiga que ainda existe devido a circunstâncias incomuns, tem envergadura de 270 metros e pode pesar 100 toneladas.
Rodan aparece, esplendoroso e multicolorido
O ser aparece enfim com 56 minutos, dando um voo rasante, que derruba os carros que estavam na pista, causa terror e temor, medo.
Rodan não é totalmente marrom como comumente se pensa.
Nas cenas de voo, quando um modelo em miniatura foi usado em vez do traje de tamanho humano, as costas do monstro foram adornadas com uma faixa azul esverdeada e destaques dourados ou castanhos ao longo da coluna.
Esse detalhe é fácil de perder e foi omitido nas aparições posteriores de Rodan em filmes, mas aparece em vários produtos, principalmente a figura clássica de 1991 da Bandai e o brinquedo 2021 Playmates.
Como as asas de Rodan seriam muito desgastantes para os braços do ator, varas de bambu tiveram que ser divididas e dobradas com fogo de carvão.
Eles foram inseridos entre os ombros e as asas para suporte. Enquanto as asas eram sustentadas por cordas de piano, os movimentos eram inteiramente ditados pelo ator Haruo Nakajima.
O traje foi feito sob medida de acordo com as medidas do ator e pesava 150 libras. Esse foi o único filme em que Rodan mostra a capacidade de emitir um jato concentrado de ar pela boca.
O cabo que sustentava Rodan sobre a ponte Sasebo quebrou, fazendo com que Nakajima caísse 25 pés na água. O incidente fica no filme como a cena em que Rodan mergulha na água perto da ponte e submerge.
Os cabos foram recolocados para a cena em que Rodan sai da água, mas quase quebraram novamente porque o traje ficou encharcado e dobrou de peso.
Os tiros de tanque não causam tanto mal ao ser alado.
Fica bem claro em alta definição que usaram miniaturas e veículos de brinquedo, embora em algumas tomadas haja um detalhamento tão grande que faz os veículos se locomoverem tal qual tanques reais.
As autoridades organizam um ataque de mísseis contra o Pteranodon, na cena do ataque à montanha, os veículos são melhor trabalhados, bem mais realistas. Os tiros também são convincentes.
Na cena em que Rodan é visto no topo de um prédio - da Loja de Departamentos Iwataya - a construção da miniatura teve que ser reforçada com vigas de aço para que não desabasse imediatamente com o peso.
Os adereços voadores Rodan foram construídos em 5 escalas diferentes, 1/30, 1/25, 1/20, 1/10 e 1/2.
Chega a ser melancólico o final, da criatura em chamas, na montanha/vulcão, que entra novamente em erupção, se queimando mesmo podendo voar, mesmo podendo escapar, retornando possivelmente por cuidado com os filhotes.
Outras aparições
Após sua aparição de estreia, Rodan apareceu em outros "episódios" na franquia Godzilla, incluindo Ghidorah, O Monstro Tricéfalo de 1964, A Guerra dos Monstros em 1965, O Despertar dos Monstros de 1968.
Nas outras eras e encarnações, apareceu em Godzilla vs. Mechagodzilla II de 1993 e Godzilla: Batalha Final, de 2004, bem como no filme Godzilla II: Rei dos Monstros, produzido pela Legendary Pictures.
Foi apresentada uma ideia de fazer uma espécie de sequência, mas voltada para insetos gigantes. A ideia morreu na fase de planejamento porque o público americano estava no meio de uma onda de filmes de insetos gigantes, como O Mundo em Perigo (1954) Tarântula! (1955) Fúria de uma Região Perdida (1957) O Escorpião Negro (1957) e A Maldição da Aranha (1958).
Há quem reclame que há pouca aparição do personagem-título no filme solo e essa não é uma crítica sem sentido, mas isso é compensado, pela construção de suspense.
Rodan é um episódio importante da exploração kaiju no cinema, não só por ser o primeiro filme colorido no segmento, mas também por ter um drama diferente dos dois primeiros Gojira. Ajuda a pavimentar como seria a saga dos filmes de monstros japoneses.
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