Os Estranhos: Capítulo 1 é um filme de horror recente, lançado em 2024, que remonta ao jovem clássico de home invasion conduzido por Bryan Bertino, a saber, Os Estranhos de 2008. Conduzido pelo veterano diretor finlandês Renny Harlin, é uma espécie de remake do primeiro, mas com intenção clara de reboot nessa jovem franquia.
Esse filme que estreia inicia uma nova trilogia, que foi gravada de maneira simultânea, com a mesma equipe de produção, com o mesmo curto orçamento e com previsão de lançamento do segundo filme no final de 2024 e outro ano que vem.
De certa forma, a ideia foi imitar o método de filmar que a Blumhouse pratica, ou seja, o longa foi rodado com um orçamento curto, com menos de 10 milhões para fazer os três filmes. Na prática, é como uma promoção de três em um, em uma empreitada que até aqui pouco acrescenta, quase não inova e surpreende por ser lançada para o cinema e não para o streaming.
Esse primeiro capítulo traz uma história bem parecida com o filme original: um casal está viajando, em direção ao interior, acabam ficando em uma pequena cidade - aqui, se escolhe Venus, no Oregon - acabam em uma casa isolada, sendo atacados.
A diferença cabal é que o motivo aqui é um problema no carro deles e a residência é na verdade uma casa de aplicativo, cujo aluguel se faz pela internet, exceto quando chega ao local a temporada de caça. Os dois acabam cercados por um trio de assassinos mascarados, frios, violentos e de métodos cruéis.
Durante o drama eles se veem em situação limite, se desesperam, sofrem com a aleatoriedade do mal dessas pessoas, lidam com suas inseguranças pessoais, com as expectativas de futuro e esbarram em clichês de filmes de terror ligados a figuras caipiras, embora se pese pouco a mão nesses estereótipos, não mostrando nenhum desses personagens como monstruosos ou caricaturalmente insanos.
Dos estúdios Fifth Element Productions e Frame Film, o longa-metragem tem distribuição nos Estados Unidos da Lionsgate Films. Essa é uma produção estadunidense e é distribuída aqui no Brasil pela Paris Filmes.
A equipe de produção é comandada por Renny Harlin, tem argumento de Bryan Bertino, o autor do primeiro, com roteiro da dupla Alan R. Cohen e Alan Freedland.
Foi produzido por Alastair Burlingham, Mark Canton, Charlie Dombek, Courtney Solomon, Christopher Milburn e Gary Raskin. Os produtores executivos são Andrei Boncea, Dorothy Canton, Anders Erdén, Ken Halsband, Kia Jam, Roy Lee, Dennis L. Pelino, Madelaine Petsch, Blair Ward e Paul Weinberg.
O longa teve como nome de trabalho The Strangers 3, mais foi chamado originalmente como The Strangers: Chapter 1. Em alguns países de língua espanhola é Los extraños: Capítulo 1. Na França Les intrus e em Portugal é Os Estranhos: Capítulo 1.
O longa foi gravado na Eslováquia, especialmente na Bratislava e em Pezinok. Teve locação no MRA - Motorcycle Ride Academy em Pezinok, que é o set da "cidade" e em Elephant DINER, Púchovská 12, 831 06 Raca na Bratislava, que é a cena do Carol Dinner.
Antes de falar com spoilers, vale ressaltar algo importante: um dos pontos mais positivos em Os Estranhos e em Os Estranhos: Caçada Noturna, um dos destaques é que não se explica quem é o trio de matadores mascarados, além de obviamente pautar todo o horror na questão de gente desconhecida invadindo um domicílio.
Esse também é assim. Não há qualquer garantia de os próximos filmes não explorarão essa questão, mas a história proposta nos pouco menos de noventa minutos desse não explicam e nem justificam as ações dos malfeitores.
Esse é um filme muito pautado em atuação, como também foi a obra de 2008. O elenco é curto e depende demais da sua dupla principal de atores.
O casal Maya e Ryan são interpretados respectivamente por Madeleine Petsch, atriz conhecida por sua participação de mais de cem episódios em Riverdale, mas que também esteve em Às Cegas e Destinos Traçados, além de Froy Gutierrez de Teen Wolf, Iniciação e Abracadabra 2.
O grosso do filme tem a ver com os dois e apesar deles serem atores meio iniciantes, são cercados por veteranos, que tem papéis pequenos, pelo menos até aqui.
Há por exemplo Richard Brake de Doom: A Porta do Inferno, Hannibal: A Origem do Mal e 31 de Rob Zombie que faz o xerife Rotter, também há Janis Ahern, de Guardiões das Galáxias 2, Negócio das Arábias e Tom & Jerry: O Filme de 2021, que faz a garçonete local Carol.
Também há Ema Horvath de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder e Perfeição Insondável, que faz Shelly, uma amiga da personagem principal, além de Ryan Bown de Vício Perfeito e do seriado Everything I Know About Love, que interpreta um personagem desaparecido, que tem destaque tão grande nos materiais de divulgação que faz perguntar se ele não retornará nas partes dois e três.
Harlin trabalhou recentemente em Refuge e Agente X: A Última Missão, ambas coproduções entre Bulgária e Estados Unidos, no entanto é mais conhecido por Duro de Matar 2, Condenação do Além, Do Fundo do Mar, Alta Velocidade, O Exorcista: O Início e 12 Rounds.
Fredland e Cohen escreveram juntos a comédia Um Parto de Viagem, além de episódios e de O Rei do Pedaço, American Dad, Impastor e As Fabulosas Aventura os Freak Brothers.
Courtney Solomon produziu a série de filmes After, também Uma Prova de Coragem e Cine Pesadelo. Gary Raskin foi produtor executivo em Olhos Famintos: Renascimento e Tubarão: Mar de Sangue. Christopher Milburn produziu A Tumba do Dragão e A Profissional, foi produtor executivo em Aliança Mortal e Renascido das Trevas.
Mark Canton trabalhou em 300, Cartas Para Julieta, Piranha e Imortais. Charlie Dombek fez Rota de Fuga 2: Hades e Cópias: De Volta a Vida, Alastair Burlingham fez Mate ou Morra e Entre Armas e Brinquedos.
Como o filme é lançamento, avisamos que haverá spoilers, embora não haja tanta diferença para o filme de Bertino.
O aviso está dado.
O casal que decide ir rumo a uma cidade do interior acaba tendo que fazer uma longa parada na pequena cidade de Venus, no interior do Oregon.
Na breve parada que fazem em um restaurante, são dados detalhes sobre eles: os dois estão juntos há cinco anos, não pretendem se casar, a moça está concorrendo a um emprego dos sonhos que a faria mudar para Portland.
Ela é vegetariana enquanto ele tem hábitos alimentares péssimos e os dois poderiam ter feito uma viagem nessa mesma época para a Grécia, a fim de ir no aniversário de um amigo, mas preferiram uma viagem intimista pelos Estados Unidos, já que comemoravam cinco anos de início da relação.
Esse é um remake com tantas semelhanças que é difícil de avaliar a trama em separado. Em comum entre ambas há o compromisso entre os casais, em ambas versões eles são namorados e não casados, mas no primeiro o sujeito pediu a mão da mulher (que recusou) já aqui Maya decide que quer sim se casar, até verbaliza isso.
Essas questões não são um problema, ao contrário. Ter diferença acrescenta ao drama, mas aqui parece que tudo é cuidadosamente mudado só para afastar a pecha de cópia malfeita e mal pensada.
Também há uma clara intenção de esticar ao máximo as cenas e os trechos de tensão. É como se o filme tivesse fôlego só para metade de sua duração, ficando clara a tentativa de aumentar o seu tempo, a fim de conseguir encaixar esse script curto em três filmes.
Aqui isso irrita um bocado. Se a tônica seguir a mesma se tornará insuportável ver três filmes que deveriam ser duas ou apenas uma obra, ainda mais depois desse, que parece uma história interrompida de maneira brusca.
O filme brinca de inserir elementos limitantes, dá destaque a alguns objetos como a bombinha de asma do protagonista masculino. No entanto, mal utiliza essa questão, mesmo ao mostrar isso no centro da tela mais de uma vez.
Há alguns bons momentos, como quando o homem mascarado se posiciona perto da menina, que está tão entretida tocando piano que não nota que ele está sentado atrás dela, enquadrado no reflexo do espelho que fica em cima do instrumento.
É conveniente demais a falta de percepção do óbvio. O filme brinca tanto com as percepções péssimas dos seus personagens que chega a ficar previsível o nível de tolices deles.
Outra diferença cabal - e tosca - é a apresentação do elenco natural da cidade de Venus. Os caipiras se intrometem na conversa de Maya e Ryan, opinam sobre o fato deles não serem casados, até desdenham do hábito vegetariano da menina.
Outra questão curiosa é que o rapaz é paranoico, mal-encarado e brigão, mas ao ter a chance de verificar em um olho mágico quem bate na porta, ele simplesmente não usa essa alternativa.
Já a moça usa maconha e é tratada como vítima de gaslighting quando se precisa pôr em cheque o fato dela ter enxergado um dos invasores entrando na casa e saindo de um dos cômodos.
Há um certo cuidado da direção de arte. A casa onde eles se hospedam é um cenário legal. Enorme, cheia de detalhes, com muitas formas de distração.
O que depõe contra o filme é que a casa sendo alugada, fica fácil o planejamento do trio de assassinos. Fica previsível que eles ataquem, mas nã há quase chance nenhuma de escapatória, nem como os rompantes paranoicos de Ryan.
Petsch não é ruim, ela tenta salvar a dramaticidade do filme, se entregando bastante nas cenas onde é exigida.
Já Gutierrez não parece compartilhar com ela o mesmo caráter e espírito, ao contrário, destoa muito.
Os dois não possuem química, o que é péssimo. Justamente no filme onde os protagonistas não deveriam ser um casal em crise, não existe uma ligação emotiva evidente.
É irritante a criação de atmosfera prévia, seja no anúncio de Jeff Morel (o tal personagem de Ryan Bown) desaparecido, ou os dois garotos cristãos panfletários, que são um easter egg bem cretino. No entanto, o fato dos locais serem suspeitos beiram o preconceito com a população rural.
A outra questão importante é que as partes onde há mais desespero evidente são os que imitam o original. Dessa forma, para o espectador que viu o clássico, se perde o efeito surpresa.
O filme tem umas boas sacadas, como a brincadeira que envolve a sujeira do ketchup do sanduíche e o sangue pingando do teto a partir do cadáver de uma ave pendurada, posta obviamente por um invasor, mas até isso parece tolice, já que é acompanhada de incredulidade estranhíssima do namorado. Um sujeito que é desconfiado não poderia e não deveria desacreditar tanto a sua amada.
A câmera registra os estranhos de maneira grandiosa, os filma de baixo para cima, como se fossem deuses andando sobre a Terra. Aqui eles de fato são isso, mas há um exagero ao mostrar as suas habilidades.
O homem do trio é forte demais, especialmente com o machado. Ele põe abaixo uma porta como se não fosse nada, parecendo até papel cortado por uma gilete. Isso não é exatamente impossível, mas sendo tão pouco plausível, faz perder força, afinal, desumaniza o personagem, torna ele um ser super heroico.
Ao menos se preserva o caráter discreto e silencioso dos matadores. Eles mal fazem barulho quando querem ser sorrateiros. O visual também pouco mudou e isso é um acerto. Não havia necessidade de expandir nada e de mudar nada, ao menos não em relação as máscaras e modo de vestir. Pode ser qualquer pessoa.
A humilhação que eles fazem e praticam com as vítimas é algo esperto. Eles agem como predadores que brincam com a comida.
A fotografia é ok, há alguns bons sustos, mas do que era comum aos outros filmes, mas está longe dos ripoffs do Invocaverso e as produções da Blumhouse. O roteiro é mediano, muito apegado ao original. Na prática pouco se acrescenta o drama.
Agora é aguardar os próximos capítulos, que poderão ousar na trama - algo difícil de acreditar - ou se perder ainda mais, como acabou sendo em Halloween Ends.
Os Estranhos: Capítulo 1 peca por ser expositivo e pelas cenas finais e de pós créditos. Vendo ele até o final se percebe que ele não termina a história e parece ter medo de concluir qualquer drama. Acaba soando covarde, repetitivo e um bocado desnecessário, já que não expande história e quase não acrescenta mitologia, exceção a uma morte violenta ou outra.
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