Condenação do Além : O filme de prisão de Renny Harlin e Viggo Mortensen

Condenação do Além é um filme de horror e suspense sobre o sentimento de vingança, com temperos de ação sobrenatural. Lançado em 1987, foi dirigido por Renny Harlin e teve um relativo sucesso, embora tenha sido uma produção conturbada.

A obra é mais lembrada atualmente por ser protagonizado por Viggo Mortensen, embora na época de seu lançamento tenha sido mais alardeado por ter sido produzido por Irwin Yablans, o produtor executivo de Halloween: A Noite do Terror, que foi uma das cabeças pensantes a ter a ideia original do longa que John Carpenter dirigiu e lançou seis anos antes.

A ideia inicial desse filme também veio de Yablans, que sugeriu fazer uma história de terror na prisão, em atenção a tendência conhecida como Woman in Prison (onde se fazia um exploitation de belas moças em um ambiente fechado) como o elenco é majoritariamente masculino, há uma diferença cabal, obviamente a esse movimento.

Outra questão fundamental foi o trabalho do roteirista C. Courtney Joyner, que teve de modificar a premissa inicial, presente no argumento de Yablans (ele é creditado assim, inclusive), incluindo elementos fantasmagóricos na trama, tudo isso pouco antes das gravações começarem.

A obra foi filmada em 1986, mas demorou a ser lançado nos Estados Unidos, devido a crise financeira da Empire Pictures. O estúdio viria a falir, dando lugar futuramente a Full Moon Features, também de propriedade de Charles Band, que é produtor executivo desse.

Depois de ser lançado no Reino-Unido e na Itália em 1987, só chegou ao seu país de origem em 1988, no mês de março.

O longa se chama originalmente Prison, mas teve vários nomes, inclusive no Brasil. É possível achar ele como o já citado Condenação do Além, mas também como Duro de Prender - em atenção a saga Duro de Matar, que Harlin se envolveu - ou Ninguém Pode me Prender.

Condenação do Além : O filme de prisão de Renny Harlin e Viggo Mortensen

Também há pequenas variações em espanhol, Prisión: Un paso adelante en terror e La prisión del terror. É chamado de Maximum Penalty na versão em inglês das Filipinas.

O filme foi rodado quase todo no mesmo lugar, em Rawlins, Wyoming, basicamente, uma vez que se passa todo no mesmo cenário, em Wyoming Frontier Prison, na tal prisão que acaba nomeando o filme.

Joyner escreveu Do Sussurro ao Grito também em 1987. Depois, trabalhou em Doctor Mordrid: O Mestre do Desconhecido em 1992 e Aprisionados Pelo Medo em 1994.

Já o diretor fez em 1986 Férias Para a Morte com Mike Norris. Anos depois faria Duro de Matar 2, A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos e O Exorcista: O Início.

Harlin estava com a vida financeira em frangalhos na época em que foi convidado a fazer esse filme. Ele morava na garagem da executiva de cinema Venetia Stevenson em Valley, Califórnia e recebeu um cachê de US$ 50 mil para conduzir o filme, usando a maior parte dessa verba para pagar dívidas de cartão de crédito.

O cineasta também assumiu sua ausência durante as primeiras semanas de gravação, graças as preocupações pessoais e ao nível alto de stress.

O trabalho foi árduo, seis dias por semana, com gravações que chegava até a 14 horas por dia. Também afirmou que os 36 dias de filmagem foram a sua escola prática de cinema. Sua dedicação foi tamanha que foi ele mesmo quem fez todos os storyboards.

Isso ajuda a explicar a forma conturbada e confusa com que a narrativa foi levada, para além da questão do terror onírico que habita os sonhos e pesadelos dos personagens.

Harlin também fez uma intensa pesquisa sobre o sistema prisional estadunidense, visitou uma prisão real e conversou com muitos presidiários, usando isso como um laboratório, para conseguir criar uma atmosfera crível.

Também ajudou nisso o trabalho de pesquisa de alguns atores, sobretudo Chelsea Field e Lane Smith, que procuraram fazer laboratório por conta próprio, até visitando presídios.

É difícil falar sobre a sinopse do filme, já que a maior parte dos releases de cinema e mídia física revelam na explicação da premissa uma virada que ocorre só no final. Avisaremos quando for a área de spoiler.

O que de fato é importante saber é que essa é uma história que se passa em um presídio que será reativado, graças a uma crise no estado de Wyoming. O primeiríssimo momento do filme se dá em um pesadelo, que dá conta de um sujeito sendo levado até a cadeira elétrica.

A mera menção a isso já dá uma pista do que ocorrerá. O texto de Joyner e Harlin (que não foi creditado como escritor) abordará uma história de remorso, graças a execução de um prisioneiro que foi morto sem ter sua culpa comprovada.

A princípio, não há interferência espiritual e sobrenatural no trecho inicial, esse momento é apenas um devaneio, uma lembrança forçada, que se dá no meio de um pesadelo de Warden Ethan Sharpe, personagem de Lane Smith, que acorda, desesperado, achando que estava sendo ele fritado vivo.

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Christopher Walken foi cogitado para esse papel, mas não o assumiu por questões de agenda. O ator também esteve perto de interpretar o vilão principal em Risco Total, filme de Harlin com Sylvester Stallone e só trabalharia como o diretor em De Volta Para o Presente.

Smith vinha de Amanhecer Violento, participou da série Histórias Maravilhosas e da versão de Além da Imaginação dos anos 1980. Ficou famoso por anos depois fazer Perry White de Lois & Clark: As Novas Aventuras do Superman, por estar no elenco de Meu Primo Vinny.

Sharpe desperta com o telefone tocando, assustado e nervoso, mas não demora a se acalmar e ainda suado, na cama, avisa que vai pegar um avião e partir.

A trama segue episódica, após a apresentação mostra engravatados de um conselho de segurança discutindo a situação prisional do estado.

Não há nada muito aprofundado, também não há personagens grandiosos, ao contrário, são todas pessoas genéricas, falando sobre fatos não caros ao espectador, afinal, nada foi apresentado.

Entre essas pessoas, há uma que se destaca: Katherine Walker de Chelsea Field.

Ela vocifera contra o desperdício de investimento da tal empresa, reclama que houve uma prisão que foi projetada e programada, mas jamais concluída, que custaria uma injeção de verba e algum tempo, mas que seria o investimento ideal.

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No entanto a solução dada pela junta é a de reativar um presídio antigo, que está desativado há anos. O nome de Sharpe é sugerido para cuidar dessa cadeia, uma vez que ele tinha experiência no lugar, quando ainda era ativo  (os pesadelos dele eram inclusive sobre essa época) e isso gerou na moça uma grande rejeição.

Walker está convencida de que seu relatório está correto e que para tentar dissuadir os homens ricos de que a solução melhor seria a construção da nova cadeia, ela se aproxima do local, para estar perto da gestão de Warden.

Grande parte do cenário visto no filme, da prisão estadual de Wyoming não teve qualquer alteração. É o mesmo local desde quando as equipes filmaram em 1987.

A penitenciária foi fechada poucos anos antes de o filme ser filmado, os últimos presos partiram em 1981, após 80 anos de uso. Já a cadeira elétrica foi construída na própria câmara de gás da prisão. Não havia esse elemento na cadeia real, por isso uma foi construída para as filmagens do longa.

A cena inicial, que mostra um personagem sendo eletrocutada foi difícil de filmar, já que o processo as filmagens foram tão violentas que os braços da cadeira quebraram e precisaram ser consertados posteriormente, graças ao impacto de Viggo Mortensen na cena, que no susto, pressionou a madeira para baixo.

Condenação do Além : O filme de prisão de Renny Harlin e Viggo Mortensen

Mortensen aliás fez a maior parte de suas acrobacias. O coordenador de dublês Kane Hodder gostou tanto do trabalho dele que deu ao ator uma camisa honorária de dublê no final das filmagens.

Chelsea Field também dispensou dublês na maioria das cenas mais perigosas, especialmente as que envolveram carros durante o clímax do filme.

Aparentemente há uma crise de sorte tremenda na inauguração da prisão. Assim que chegam os ônibus dos presos, um dos carros se descontrola, com dois presos, Hershey (Larry Flash Jenkins) e Rabbit (Tom Everett), assumindo o carro.

A sequência termina com uma interferência de Sharpe, que consegue parar o carro, se colocando na frente do mesmo. Descrevendo assim ele parece um sujeito grandioso, poderoso e de pose, mas não, ele se impõe, mas sem qualquer convencimento de que é poderoso como julga ser.

Há um número pequeno de presidiários, afinal, a prisão está reabrindo. Os detentos são colocados para reformar e fazer a manutenção do local e maioria dos figurantes foram feitos por presidiários reais, que vinham de uma prisão próxima. A ideia era de adicionar realismo às suas performances.

Um desses era Stephen E. Little - que interpreta Rhino - que era um ex-dublê de Hollywood, membro do sindicado SAG, que estava cumprindo pena por homicídio culposo cometido durante uma briga em um bar. Outra questão que mirava angariar veracidade eram as munições do guardas, que carregavam balas reais.

Em meio aos prisioneiros há alguém celebre, no caso, Burke, o personagem que se pinta como protagonista e que é vivido por Mortensen. Mesmo que ele faça dois papéis, não há nenhum indício de que Burke tem alguma ligação com Charlie Forsythe, que foi o sujeito queimado no início do filme em 1956 e nas lembranças de Sharpe.

Antes de escolherem Mortensen, Tom Matthews, de Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive e A Volta dos Mortos-Vivos, foi considerado para o papel, até fez um teste.

Apesar de não ser uma estrela ainda, o ator fez exigências, como uma recusa em ficar nu, em uma cena em que seu personagem é jogado em uma solitária. Quando ele aparece sem roupas houveram truques de iluminação e edição.

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Aparentemente há uma maldição que paira sobre o local. Na hora que os presos trabalham em uma caldeira, ocorre uma explosão, que destrói os vidros e solta raios na direção de Burke e seus companheiros, inclusive o idoso Cresus, feito por Lincoln Kilpatrick e seu companheiro de primeira hora Joe Lazaro de Ivan Kane.

Lane Smith levou a sério o seu personagem, tanto que agiu como se fosse de fato o diretor Sharpe, durante as filmagens e seus bastidores. Ele era ríspido, se apresentava sempre de forma nervosa, ganhou uma fama ruim, para as pessoas mais sensíveis entre equipe de produção e elenco.

Ao longo da história eventos estranhos ocorrem. Cresus acredita que alguém o tocou, especialmente depois de ser atingido por um raio, Hershey acaba se prendendo a caldeira, depois se emboscado por uma força aparentemente sobrenatural.

Ele acaba morrendo queimado, toscamente diga-se, embora o efeito especial em si seja bom. Os efeitos especiais criados pela Etan Enterprises, com supervisão de Eddie Surkin de Fuga de Nova York e Mulher Solteira Procura. Já os efeitos de maquiagem e mecânicos de John Carl Buechler, que na época assinava John Buechler e sua equipe.

Em 1987 ele já havia até dirigido filmes, como Troll: O Mundo do Espanto, no entanto, é mais lembrado pelos efeitos de Re-Animator: A Hora dos Mortos Vivos e Do Além, ambos filmes de Stuart Gordon, sobre contos lovecraftianos.

Sharpe tenta encontrar o culpado, praticamente expulsa Walker para ter mais liberdade de fazer com os presos o que quiser. Revista todos, faz uma devassa nas celas, confisca até colheres, queima os colchões, mas não acha nada.

O diretor não se convence do mal espiritual nem depois que um carcereiro sobe até seu escritório, ensanguentado e preso ao arame farpado, como se tivesse sido torturado, isso enquanto os presos estão só de cueca, no pátio, pegando enrolação. Essa cena foi toda filmada na ordem inversa.

A partir daqui falaremos sobre a solução final do filme. Haverá spoilers, o aviso está dado.

Condenação do Além : O filme de prisão de Renny Harlin e Viggo Mortensen

Um dos detentos, Sandor (André De Shields) faz um ritual vodu mega esquisito, todo baseado em clichês de religiões originárias da África. Seu ato termina invocando nominalmente entidades malignas, enquanto comete atos de flagelo próprio.

Vale lembrar que esse filme é parte de uma tendência, de um ciclo de filmes de terror sobre assassinos que voltam dos mortos após serem executados na cadeira elétrica, é o mais antigo deles, seguido depois de Sombra da Morte (1988), A Casa do Espanto III (1989) e Shocker: 100 Mil Volts de Terror (1989).

Walker investiga a história da antiga prisão e encontra uma ligação entre Sharpe e Forsythe. Aparentemente o sujeito era um homem inocente, que foi julgado injustamente.

Também é dado que Cresus foi cúmplice na morte de Charlie, era um detento na mesma cadeia que Ethan trabalhava, essa de Rawlins.

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Esse trecho é confuso, já que o preso idoso parece estar sendo tomado por uma força maior, que acusa a si e a todos. Ele chega a dizer que Ethan vai morrer, graças a um acerto contos com seu passado, mas não deixa claro qual foi a responsabilidade dele nessa questão, já que era um agente penitenciário, não um policial, advogado ou juiz.

O final é confuso e piora pelo fato de Mortensen interpretar não só Burke, mas também a versão eletrocutada de Forsythe. É tudo construído de uma maneira atabalhoada, toda trapalhada.

Vale por algumas atuações e pela atmosfera que Harlin tenta criar. Sua direção é assertiva, um bom tento em meio a um filme bastante irregular.

Infelizmente Condenação do Além desperdiça sua interessante premissa, resultando em uma obra genérica na exploração da ação, que assusta pouco e parece derivativa. Ele poderia ter sido mais memorável caso não se levasse tão a sério, mas vale pela curiosidade de assistir Mortensen novo, além de apreciar o desempenho de Smith em um papel tão diferenciado.

 

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