Novo filme, Silvio Santos Vem Aí apresenta uma trama com tons dramáticos e políticos

Silvio Santos Vem Aí é um longa-metragem lançado nesse ano de 2025, que mira (outra vez) contar um trecho da história do icônico apresentador de TV, recentemente finado.
Longa de Cris D'Amato e escrito por Paulo Cursino, é protagonizado pela dupla Leandro Hassum, que faz o famoso showman que tentava se aventurar pela política, além de trazer à tona a cantora, atriz e influenciadora Manu Gavassi, que vive uma obstinada publicitária, que trabalha na campanha presidencial de 1989 para o dono do Baú da Felicidade.
A trama gira em torno do esforço do showman para se viabilizar como candidato a presidência da república, em 1989, na eleição que colocou figuras como Fernando Collor, Lula, Leonel Brizola, Mario Covas e Paulo Maluf.
Equipe criativa:
Além de ser realizado por D'Amato e escrito por Cursino, a equipe que produziu o filme incluem Marcio Fraccaroli, Veronica Stumpfe Andre Fraccaroli como produtores. Já Eduardo Nasser e Laura Boorhem são produtores executivos.
Tem em seu elenco boas figuras do cinema e televisão do Brasil, como Marcelo Laham, Gabriel Godoy, Regiane Alves e Vanessa Giacomo.
Outras obras sobre Silvio:
É curioso como uma série de produções tentam adaptar a história do fenômeno envolvendo Senor Abravavel (nome civil de Silvio) ao longo dos anos, antes mesmo de sua morte, que ocorreu em agosto de 2024.
Em 2022, começou o elogiado seriado O Rei da TV, que
começou em 2022 e teve duas temporadas, com José Rubens Chachá no papel principal, também o filme Silvio, que começou a ser produzido antes da morte do empresário, mas que estreou pouco depois do anúncio do falecimento do ícone. Esse era protagonizado por Rodrigo Faro e virou motivo de chacota.
Fora isso, há o documentário do serviço de streaming +SBT, chamado Silvio Santos: Vale Mais do Que Dinheiro, além do musical Silvio Santos Vem Aí, que não tem nada a ver com essa obra analisada, fora o fato de ser homônimo.

Esse é protagonizado por Velson D'Souza e eventualmente está em cartaz, pelo Brasil.
Bastidores
As gravações começaram na segunda semana de novembro de 2024, em São Paulo, que foi o lar do apresentador por quase toda a sua carreria.
A data para lançamento seria 14 de agosto de 2025, mas em de julho a Paris Filmes adiou para novembro, dia 20. Foi lançado pela Paris Entretenimento, em coprodução junto da Simba Content e Claro. A Paris Filmes fez a distribuição dele no Brasil.
Pelo mundo o filme se chama como no Brasil, apenas Silvio Santos Vem Aí.
Quem Fez:
Cris D'Amato dirigiu além desse, algumas comédias, como É Fada!, Sai de Baixo: O Filme, Os Parças 2, Esposa de Aluguel, Viva a Vida! e A Sogra Perfeita.
Cursino escreveu diversas comédias dramáticas, dramas puros e até cinebiografias.
Entre as mais famosas estão Divórcio, Os Farofeiros, Tudo Bem no Natal que Vem, Meu Cunhado é um Vampiro, MMA: Meu Melhor Amigo, Mauricio de Sousa: O Filme e Mussum: O Filmis.
Falaremos agora sobre a história, deixamos então um aviso de spoilers.

Narrativa
Para muitos espectadores, depois do insucesso do Silvio de Rodrigo Faro, esse prometia ser o "bom filme" sobre o mais icônico espécime do panteão da televisão brasileira.
O fato do foco narrativo ser a cronologia da primeira eleição direta pós-redemocratização do Brasil agravou essa sensação, fazendo criar expectativas de que poderia haver uma redenção nas versões do personagem no cinema.
O visual dos trailers era bem bonito, mas uma vez que o longa estava pronto, se ligou o sinal de alerta, vendo a curta duração.
Contando apenas história, esse longa-metragem tem pouco menos de uma hora e vinte minutos de duração. Levando em conta outras obras sobre figuras famosas da TV, como Bingo: O Rei das Manhãs, Hebe, Chacrinha: O Velho Guerreiro, Samantha, esse é consideravelmente reduzido.
Outra questão característica que decresce a qualidade do filme, é que as músicas icônicas usadas no Programa Silvio Santos, não foram licenciadas.
No lugar dessas o compositor Beto Villares emula o espírito das canções, mas modifica bastante, de uma forma que não engana quem conhece minimamente a história da cultura pop brasileira.
Dessa forma, esse aspecto aproxima a obra mais da paródia do que da homenagem. Lembra então um pastiche, uma imitação mambembe.
A entrada
Leandro Hassum entra em cena em um quadro do programa que leva o nome do personagem.
Obviamente esse é datado de 1989, mas a caracterização é aquém de um visual bastante genérico.
Eventualmente, a direção de arte melhora algumas questões, mas nesse ponto os cenários são feios e por mais que os programas de Silvio fossem cafonas, era inegável que havia esforço para fazer algo lúdico.
Já a caracterização de Hassum é visualmente satisfatória , mas sua atuação parece ser a de um homem menos enérgico, mirando mostrar ele mais humano e frágil.
Seu Silvio acaba parecendo alguém sempre cansado, estafado, mesmo antes dos conflitos.
Esse início parece algo qualquer nota, um derivativo de TV, menos memorável que o cenário de qualquer outro dos filmes de apresentadores já citados.
A situação
A data é 1989, especificamente em outubro, na cidade de São Paulo.
Logo aparecem pessoas de uma agência publicitária comem pizza e discutem. Entre massas e dúvidas sobre o TSE homologar a campanha do sujeito ou não, os personagens discutem a viabilidade dessa candidatura inesperada.
Vale lembrar que sim, essa ação de colocar Silvio como candidato de fato ocorreu e as regras para inscrições para se candidatar eram muito mais flexíveis, nesse primeiro pleito direto pós-Ditadura Militar.
Personagens "cool"
Não demora para aparecer Marília e a personagem de Manu Gavassi odeia ter que pensar em tornar um candidato presidenciável sem rejeição em um homem que ganharia o certame.
Considerando que esse era o início de uma nova empreitada política, é bastante injustificável o seu receio, exceto por seus gostos pessoais.
Ao conversar com seu chefe Raul (Laham) ela confessa que não gosta dos programas do dono do SBT, mas que sua família, sim.

Comendo, ela confidencia que acha brega todo o misancene, o que não seria um problema, visto que gente que trabalha em campanha não necessariamente concorda com os candidatos.
A questão é que Gavassi não parece ser um profissional de estratégia eleitoral ou uma pessoa de marketing.
Parece apenas ser ela própria, a persona da menina de meia-idade, que se veste tal qual um adolescente da época de sucesso da MTV, mas que está disfarçada de alguém que vive nos anos 1980.
Ela não parece real, vive trabalhando, não tem tempo para a família, é viciada em produzir, mas tem o visual de uma menina que estamparia capas de revistas sobre vestuário.

Seu cabelo é alinhado, seus figurinos impecáveis e seu discurso é afiado. Ela é perfeita demais para esse mundo sujo e esdrúxulo da política brasileira, que dirá em 1989, época conhecida pela completa balbúrdia no sentido de discussão entre candidatos.
Prazos
Há um senso de urgência no ar, já que a eleição ocorrerá em apenas 17 dias.
A equipe de Raul se prepara, analisa vídeos dos adversários, até ouvem trechos do debate, toscamente transformados, como a discussão de Brizola e Maluf, nos debates da Band, onde se altera a voz de ambos, mudando o conteúdo das falas, ligeiramente.
Esse pedaço exemplifica o fato de que o texto recai demais no óbvio e fazendo isso, ao menos nesse caso, empobrece o roteiro.
Momentos como a conversa da personagem central com seu namorado Ricardo (Godoy) revelam isso. Marília repete a historia de que Silvio Santos é um selfie made man e que é um sujeito misterioso.
Parece falar para convencer a si mesma, enquanto seu par faz questão de esfregar isso no rosto do espectador, afinal, não é para deixar passar nenhuma dúvida, prevendo a desatenção do espectador.
O primeiro encontro
A publicitária chega a emissora e é apresentada por Roque, o assistente de palco dos programas tradicionais de Silvio.
Aqui ele não lembra muito a versão real, a caracterização se esforçou pouco e obviamente ele vira alvo da observação de Marília, que busca algum defeito do patrão do Baú.
O objetivo da moça é conhecer quem é Senor e não Silvio, o homem e não o artista. Obviamente, sua missão é prever possíveis ataques dos adversários políticos do showman, mas ela pena para encontrar algo.
Conforme dizem as lendas urbanas à respeito da figura, Silvio frita bifes, esconde a própria idade, até esconde a mulher, pede que Marília veja o programa de dentro do estúdio.
Episódios reais
Nesse ponto é mostrada uma versão da famosa a piada do Bambu, mas com final modificado, com a criança citando o termo cientifico ligado a planta, ou seja, se muda a realidade, pervertendo para algo mais "esperto", típico da linguagem publicitária.
Tudo isso ocorre apenas graças a Marília/Gavassi.
É uma pena que o texto busque essa alternativa, visto que a versão real é de fato hilária.
A impressão que fica é que toda a história do personagem-título tem que passar pelo crivo e pelo julgamento da outra protagonista, sendo digerido e cuspido pela personagem de Manu Gavassi.
Esse é o principal ponto de proximidade entre personagem e interprete. As duas são muito parecidas.
2 versões
Depois de interagir com Silvio, ela vê uma criança entrando no palco, a versão jovem de Silvio. Isso seria algo comum, já que o script é bastante centrado nas sensações e julgamentos de Gavassi.
Esse poderia ser um momento lúdico, inspirado ou inspirador, ainda mais quando lança mão do jogo Troca Troca, aquele que colocava as crianças para escolher um item ou outro, no escuro.
Tinha o elemento real, da mitologia de Sílvio, tinha o potencial simbólico, mas acaba parecendo apenas uma artimanha óbvia, mostrando a piegas troca entre um carrinho de rolimã e uma maleta de camelô, tudo para homenagear da maneira mais rasa a figura já tão adulada do apresentador, mostrando de maneira bem didática que ele trocou sua infância por trabalhar, para sustentar sua mãe e irmão, após falência do pai.
É tudo falado e não mostrado. Com tantas idas e vindas no tempo, seria salutar mostrar ele com seus parentes, mas isso nunca ocorre, tudo é dado através dos diálogos, sempre pelo crivo da personagem feminina principal.
Momentos de intimidade
Marília se aproxima do candidato, conversa com ele sobre a vida de comerciante na Lapa, vê ele cortando o cabelo, faz perguntas capciosas, pergunta se ser animador é um despiste para se tornar político e indaga o quão importante é o dinheiro para ele.

Absolutamente todas as linhas de diálogo nesse ponto são frases feitas, além disso, o sujeito é escorregadio, não antecipa passos, mas ele é um cara adulado pelos empregados.
A participação de Pablo, do programa Qual é a Música, o adula, Roque também o admira, sua esposa, Iris (Regiane Alves) também, ele é uma figura unanimemente simpática.
Em outubro
Raul e a equipe tem que lidar com o fato de que Silvio não fazer campanha na rua, só fazer pela TV.
É curioso, que todos os eventos importantes, sejam da campanha ou de personalidade do artista, não são faladas por ele, mas sim por Marília.
Ela não é só publicitária, mas sim assessora e porta-voz.
Ao menos se reproduz fielmente a famosa cena dele indicando o número 26 no anúncio da cédula e o inconveniente dele não aparecer na cédula de votação.
Didatismo:
Cursino tem bons filmes, inclusive com Hassum, juntos nas franquias Até Que A Sorte nos Separe e O Candidato Honesto.
Além desses, há alguns textos bons, mas não é o caso desse, já que entre tantos problemas, esse ainda abusa de explicações.
A parte lúdica das visões de Marília era para ser recorrente, mas antes de ocorrer a segunda vez dessa, é simplesmente explicada, de uma maneira terrível, enquanto come pizza novamente, dessa vez com o seu namorado.
Aparentemente São Paulo só serve pizza aos paulistanos. Isso não é de todo errado, ainda assim, é curioso que eles não comam qualquer outro tipo de lanche.
Conversas fracas:
As discussões sobre a corrida eleitoral no escritório publicitário beiram o ridículo, já que tratam Lula como o rival de Collor, quando o receio geral sempre foi ter Leonel Brizola no segundo turno, pela via à esquerda.
O atual presidente Lula foi um azarão, que passou a concorrência do caudilho riograndense apenas nas últimas pesquisas, que claro, é o tempo dessa cronologia, já que tudo ocorre às vésperas do pleito.
Absolutamente todas as análises do cenário político são óbvias, até a parte onde as pessoas caçoam de Éneas Carneiro, o candidato do Prona.
Mais explicações
O filme se ocupa de dar curiosidade triviais, como uma explicação sobre as notas de aviõezinhos serem de outro tipo de papel, para ficar mais aerodinâmico.
Esse é o tipo de explanação que poderia ser bem-vinda, como no momento em que Senor aparece no Namoro na TV.
A jornada real
Apesar do nome do filme, a história dramática e a trama são sobre Marília e não sobre o senhor Abravanel. Ela coloca o trabalho na frente da sua família e do seu par, perde compromissos e tem isso em comum com o dono do Baú da Felicidade.
A grande questão é que não se aprofunda nem Marília, que é basicamente a mesma Manu Gavassi do BBB e das campanhas publicitárias, não se aprofunda quem é Silvio Santos e nem mesmo se mostra quem é Senor.
É tudo raso, baseado em chavões de valorização e abnegação da figura fora da politica.
Ele é tratado como um Messias sem poderes, embora não haja nenhum ato heroico, nem da parte de Silvio e nem da sua contraparte feminina.
Participação de Hassum
Leandro Hassum é um bom ator cômico e normalmente, consegue tirar do público emoções para além das risadas. No entanto, nesse, ele está apagado.
Não é engraçado, não é espirituoso, não é divertido, é tudo que Silvio Santos não era, é desfocado, cinza.
Essa época é bastante complexa, por conta de expor seu passado e família. É natural que ele esteja mal.
Antes mesmo de tocar no assunto proibido - sua esposa morta, Cida - ele já parece triste e solene. Ele é sempre um alguém culpado, por ter escondido ele, mas isso não se sente, mas se expõe.
Silvio Santos Vem Aí mostra uma jornada de insucesso, de personagens que estão se expondo e que se sentem aliviados depois da impugnação da candidatura, resulta então em um desperdício de narrativa criativa, parecendo um texto oco e vazio, com atuações carentes de vivacidade, o que em termos de Silvio Santos, é um pecado.








