Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix

Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix Meu Cunhado é Um Vampiro é um filme de comédia da Netflix, que se baseia nos clichês do cinema de vampiros. É conhecido por ser protagonizado por Leandro Hassum, por escrito por Paulo Cursino e dirigido por Ale McHaddo.

Lançado no final de 2023, na época de festas, mirava ser mais um dos especiais humorísticos do streaming, que se pauta claro no carisma do ator famoso, além de apelar para chavões de obras de horror com vampiros e para um humor careteiro, com bordões e gritaria.

Com um elenco consideravelmente famoso que inclui Mel Maia, Edson Celulari, Monique Alfradique e Rômulo Arantes, a jornada narra os dias e rotina de Fernandinho, um ex-jogador de futebol falastrão que é apresentador de programa esportivo. Ele é bem de vida, famoso, mas enfrenta muitas críticas, émal quisto por muitos, graças a um grave erro que cometeu enquanto jogador, tanto que ganhou fama de ter vendido o jogo.

Além da má fama, ele tem que conviver com uma família em crise, com brigas constantes com sua ex-mulher, conflitos e rejeições por parte de sua filha mais velha, em dificuldades de equilibrar sua família antiga com a nova.

Fora essas conturbações comuns, ele tem o seu descanso e lar invadidos por um parente inconveniente, no caso, o irmão de sua esposa, Gregório, cunhado esse que age de maneira suspeita, para além até da condição de ser o queridinho de quase todas as pessoas que o conhecem.

Ao longo dos últimos anos houve uma série de filmes brasileiros bastante populares, pautados na comédia de bordão, voltados para uma exploração de piadas mais escrachadas, que passava normalmente por gags físicas, pelo riso fácil e que pelas multidões que arrastavam aos cinemas do Brasil. Boa parte desses era dirigido por um grupo de diretores específico, como Susana Garcia, Roberto Santucci, André Pellenz, além de ser protagonizado por figuras famosas da televisão aberta, como Leandro Hassum, Paulo Gustavo, Ingrid Guimarães, com coadjuvantes de luxo Cacau Protasio e eventualmente eram estrelados por gente de fora da Globo, como Paulinho Gogó.

Esses sucessos populares foram apelidados pejorativamente como Globochanchadas, em atenção ao fato de a maioria desses filmes serem filmes dos estúdios Globo ou da Globo Filmes, por terem um cuidado visual de qualidade baixa, parecido com séries, novelas e minisséries da emissora, além de se compararem com as chanchadas, que eram humorísticos baseados em estereótipos, mas que sempre reuniam fãs ávidos nos cinemas.

Exemplos desse último estilo era Carnaval no Fogo, de 1950, apresentavam brigas e um corre-corre bem-humorado, sem descuidar de uma história repleta de lições morais. Também é lembrado o western Matar ou Correr e a comédia quase bíblicoa Nem Sansão, nem Dalila.

Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix

Em épocas posteriores, foram acrescentados novos temperos as chanchadas, tanto que movimentos distintos surgiram, como as pornochanchadas, famosas na época da repressão da Ditadura Militar, onde humor e erotismo se misturavam.

As globochanchadas tinham suas apelações, mas nada tão agressivo. Ao longo do tempo, essas comédias passaram a ter roteiros mais elaborados, alguns se tornaram alvos de elogios da crítica, tanto que "contaminaram" outros estúdios, que começaram a fazer comédias semelhantes.

Entre as preferidas desse analista estão Divórcio, com Camila Morgado e Murilo Benício, os dois filmes com Tatá Werneck em TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva e Uma Quase Dupla e um com Hassum, o especial natalino Tudo Bem no Natal Que Vem, que requenta uma velha formula, mas faz bem, sendo emocionalmente bem pensado.

As globochanchadas deixaram deixaram de ser uma exclusividade da Globo Filmes, como se nota nesse último filme citado, já que foi produzido pelo streaming gringo. A Netflix inclusive convidou Hassum para ser um artista da casa, em um movimento parecido com o contrato com Adam Sandler nos Estados Unidos.

Dessa forma, o ator conhecido pelo sucesso do teatro Nós na Fita e pelo televisivo Caras de Pau para fazer longas diretos para o streaming.

Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix

Foi assim com o já citado Tudo Bem no Natal Que Vem, também com Amor Sem Medida, onde co-estrela com Juliana Paes, Vizinhos, que fez junto a Paulinho Gogó e o seriado policial B.O., que acompanha a história de um delegado carioca.

Esse longa foi rodado no Rio de Janeiro, foi escrito por Cursino, que é contumaz parceiro do ator, estando com ele em obras da TV, como em Os Caras de Pau e A Cara do Pai, além de ter trabalhado no cinema em O Candidato Honesto, Até que a Sorte nos Separe e as sequências desses.

Cursino também é roteirista de sucessos recentes do cinema, como Os Farofeiros, De Pernas Pro Ar e Mussum O Filmis. Alguns desses produtos viraram até franquias e por mais repetitivos que sejam, tem em si a ideia de traduzir tradições gringas para uma estética mais brasileira, acrescentando mais ginga a fórmula que faz sucesso lá fora, eventualmente tropeçando em um ou outro clichê mal pensado.

É o caso também com esse terrir, dirigido por McHaddo.

A diretora se chama na verdade Alexandra Machado de Sá, é cineasta, roteirista e produtora audiovisual brasileira. Era conhecida por sua carreira editando e escrevendo histórias em quadrinhos, como Osmar, a Primeira Fatia do Pão de Forma e a Lasanha Assassina.

Ela trabalhou com Hassum em O Amor Dá Trabalho, Amor Sem Medida e Lasanha Assassina: O Ataque das Massas. Também trouxe a luz o terror brasileiro - mais falado em inglês - Deep Hatred.

A ideia aqui é explorar a figura de Hassum, nas mais diversas formas de humor que ele é capaz de fazer. Para começar ele é mostrado como um apresentador de um podcast voltado para o esporte, ou seja, já se apela para um nicho bastante conhecido e popular de maneira de comunicar com o público.

Além disso, ele é associado diretamente com um time popular, o Club de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, que é um dos mais populares times do Brasil, com uma história consideravelmente conhecida como defensor de causas sociais.

Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix

Tudo é calculado para fazer dele alguém digno de torcida, mesmo que tenha uma reputação péssima, já que é tido como falastrão.

De certa forma, ele reúne elementos do ídolo vascaíno Edmundo, o animal, no sentido de ser sem filtro, embora seja encarado mais como alguém desonesto do que por ser inconsequente, ao contrário do antigo camisa 10 do Vasco.

Graças ao tal lance onde ele errou um chute fácil, é encarado como alguém indigno, egoísta e refém do próprio estrelismo. Esse assunto é mais arranhado do que desenvolvido, mas a mera menção da questão humaniza o sujeito, o faz parecer simpático, além da óbvia performance física de Hassum ajudar a achar ele alguém digno de torcida.

Apesar de decadente, ele vive bem, já que fez o seu pé de meia. Tem posses, mora em uma boa casa e ainda sustenta a família de sua ex-mulher Michelle (Renata Brás), que vem a ser a mãe de sua filha mais velha, Carol.

Essa personagem é feita por Mel Maia, que retoma aqui a parceria com Cursino e Hassum, iniciada em A Cara do Pai, quando ainda era atriz mirim e também interpretava uma filha do ator.

A graça do filme reside nos conflitos que Fernandinho tem com todos. Ele é engraçado, cheio de maneirismos, vive fazendo números exagerados e gritados. É o papel perfeito para Hassum, que acaba tendo carta branca para fazer as suas piadas de cunho físico, quase sempre soando natural nesse tipo de gracinha.

Entre brigas com sua esposa Vanessa (Alfradique), com seus colegas de trabalho e pessoas próximas, acaba recebendo a notícia da chegada de Greg, o irmão bon vivant de sua esposa, que é simplesmente o xodó da família.

Além de ser chato e encostado, ele aparece sem ser convidado. Adentra a casa do ex-atleta graças a verbalização do convite de Vanessa, que o chama para entrar na casa, estabelecendo assim um dos muitos clichês de filmes de vampiro, já que não poderia entrar na cada de alguém sem ser previamente chamado para o lugar.

Meu Cunhado é um Vampiro : A surpreendente comédia de vampiros da Netflix

Arantes está muito bem no papel, possui uma química inegável com Hassum, além de conseguir transitar naturalmente entre uma figura de ódio e de charme. O script também o favorece, brincando com as fraquezas de vampiros e com as contradições que existiriam com vampiros caso vivessem em um país tropical como o Brasil

Se na novela Vamp os vampiros andavam tranquilamente de dia, aqui Greg usa uma roupa especial, que imita pele e o permite entrar na piscina da mansão de seu cunhado. Obviamente que esse trecho só existe para fazer troça e esse se mostra um plano tolo e muito burro. É bem bobinho, mas é engraçado, graças a dedicação do elenco, sobretudo, de Hassum.

Há alguns efeitos práticos e maquiagem bem legais. O trabalho da equipe liderada por Roger Matua é ótima. Matua trabalhou com as bandas Sepultura e Megadeth, fez os bonecos para o longa Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro e efeitos especiais para as séries SP: Crônicas de uma cidade real de 2018 e Exterminadores do Além de 2021. Aqui ele é auxiliado pela dupla Cassiana Escovedo e Daniela Gonc.

Os problemas maiores são com as inserções digitais, todas muito artificiais, mas que funcionam pelo tom galhofeiro com que o filme é levado.

Toda a trama com os personagens mitológicos é bem encaixada, incluindo a participação do veterano Edson Celulari, que parece estar genuinamente se divertindo, como Ulla Drax. Há um baita cuidado com os cenários, figurino também. É tudo bem simples, mas bastante efetivo.

Perto do fim se escolhe apelar para um grande morcego de CGI, que voa pelo cenário e tenta atacar o grupo de personagens centrais. Esse é obviamente um momento constrangedor, pois o animal é bastante falso, mas até essa fragilidade parece charmosa, sendo a realização do sonho molhado de qualquer um dos produtores da novela da Record - hoje considerada trash - Caminhos do Coração, uma vez que esse folhetim apresentava gráficos como esse sendo levados a sério.

Não à toa ficou na frente de Rebel Moon de Zack Snyder, afinal, tem mais personalidade e verve que seu colega de catálogo, além de possuir muito mais carisma em seus protagonistas.

Meu Cunhado É um Vampiro não é um filme inesquecível, é em si uma obra efêmera, para matar o tempo e todos os envolvidos na produção sabem bem que esse é um produto derivativo, que imita fórmulas estrangeiras, mas que ainda assim possui uma identidade brasileira, temperada de uma forma que os brasileiros possivelmente gostarão, mas sem afastar o público gringo.

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