A Noiva do Re-Animator: um retorno (In)digno para Hebert West

A Noiva do Re-Animator é um filme de terror que segue a adaptação do conto de H.P. Lovecraft, conhecida como Herbert West: Re-Animator .A produção tinha tudo para ser encarada como uma sequência fajuta, mas não é. Dirigido por Brian Yuzna, produtor do clássico Re-Animator: A Hora dos Mortos Vivos, a trama começa no Peru, com a dupla cientistas Herbert West e Dan Cain trabalhando como médicos em meio a um conflito armado, oito meses após os acontecimentos em Miskatonic.

Esse momento por si só é surreal, pois além de trazer de volta o idealista personagem de Bruce Abbott e o icônico Jeffrey Combs, também reforma o desfecho do primeiro longa, uma vez que West havia morrido, derrotado de maneira sanguinária por suas próprias criaturas revividas.

Outro retorno um bocado bizarro é o do Doutor Carl Hill, de David Gale, que é basicamente uma cabeça suspensa no ar, que flutua, ignorando também os seus momentos finais na obra de Stuart Gordon, onde o vilão teve a cabeça espatifada na parede. Além disso, ela parece ter tido um upgrade, com asas de morcego, que só seriam explicadas mais a frente.

Bride of Re-Animator (1990) | Worsemovies

Há um certo esmero da produção com o texto. O roteiro de Zeph E. Daniel e Rick Fry referencia momentos clássicos do conto em seis partes de H.P. Lovecraft, fazendo West usar uma pistola para se livrar de um dos experimentos que teimou em ser rebelde com ele.

Na parte cinco do texto original Herbert e seu parceiro sem nome vão até uma zona de guerra, uma vez que seria mais fácil achar material bruto para os seus experimentos, com a pequena diferença de tempo, obviamente, já que no conto a ação se dá na Primeira Guerra Mundial, sabiamente adaptada para um momento mais próximo dos anos 1980.

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Franquias de terror mais sérias são preocupadas com amarras cronológicas, mas essa não parece ser a prioridade de Yuzna em fazer seu filme. Se investe muito mais em visual, com o acréscimo do especialista em maquiagem e efeitos práticos Screaming Mad George, fato que favorece a naturalidade na composição tanto dos ressuscitados quanto nos momentos de body horror.

Dan e Herbert retornam a universidade e a desculpa dada é que todos os registros foram apagados. A fala oficial é que entre um evento e outro se passaram poucos meses, tempo suficiente para que West tenha aprimorado sua formula, mas não o suficiente para acalmar o coração enlutado de Cain a respeito de sua amada morta.

Há um conceito mais filosófico a respeito da morte. O cientista louco que é West não crê no conceito de alma dentro do texto original, mas aqui ele afirma que as partes separadas de um corpo podem gerar vida independente do corpo, até com fragmentos de sentimentos.  Por mais mórbida que seja a conclusão, se percebe que a crença a respeito da complexidade da alma humana é digerida por ele.

A carga de humor é bem maior nesta segunda parte, há um claro escracho na construção das experiências de ressurreição. A mais marcante nesse quesito é a fusão que West faz entre um olho humano a a dedos, que são despertados através de seu soro maldito de reanimação.

Outra demonstração desse caráter envolve o cientista desavisado Dr. Graves (Mel Stewart), que ao ter acesso ao soro, começa a utilizar em morcegos mortos, sendo que claramente eles eram brinquedos mal animados.

O filme apesar de ter ótimos efeitos visuais de gore, mortes e bizarras misturas de corpos, sabe brincar consigo mesmo, ao fazer rir em vários de seus sub plots. A dramaticidade não é nem um pouco levada a sério.

West usa o fato de ter conservado o coração de Meg, a amada de Dan no outro filme, para seguir subornando o colega. Toda a ideia de reconstruir a namorada do rapaz é bizarra, não faz qualquer sentido e mesmo os dois sendo cientistas, não se faz nenhum apelo a razão. Nenhum deles deveria acreditar que o coração garantiria a personalidade ou pensamentos da mulher morta.

O músculo que bombeia sangue para o corpo não tem em si o conjunto de sentimentos dos humanos, e falar isso pode soar tolo, mas simplesmente não é digerido por Cain - West pode obviamente estar só utilizando seu mau caráter para manipular o amigo.

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Mesmo com todos esses absurdos, nada supera o retorno de David Gale batendo asas de morcego e voando como uma cabeça louca. O seu Doutor Hill retorna manipulando Graves, chegando ao cúmulo de fazer com que ele fosse desacreditado até por subalternos, já que se negava a falar para pessoas que não fosse o próprio sujeito que o trouxe de volta.

Yuzna pôde enfim prosseguir em sua jornada rumo a exploração bizarra do horror corporal iniciada em A Sociedade dos Amigos do Diabo e posteriormente em Natal Sangrento 4: A Iniciação, filmes produzidos na mesma época que este longa analisado.

Se esta segunda parte não tem o mesmo peso de clássico de Stuart Gordon, ao menos há a um humor assumidamente escrachado. O filme sabe que não deve se levar a sério, as experiências são esdrúxulas em um nível inacreditável. A Noiva do Re-Animator pode não possuir a mesma genialidade suja do clássico, mas seu visual característico, o uso de efeitos práticos ainda mais intenso e a dedicação do trio Jeffrey Combs, Brian Yuzna e Screaming Mad George faz com que esse seja uma peça obrigatória dos fãs de horror B, pois brinca com todos elementos que são caros a esses aficionados.

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